segunda-feira, 21 de julho de 2008

Cenas Urbanas

Quisera já ter conseguido comprar minha câmera digital, para ilustrar um pouco o que resolvi comentar hoje aqui no blog sobre as pessoas que vejo diariamente no trajeto do ônibus que pego por volta das 8 horas para Haifa. Aqui na vila sobem alguns jovens que estudam na Universidade de Haifa e que fica há poucos minutos de Isifiya, bem no limite dos municípios. Estes se parecem com todos os jovens do mundo de hoje: calça jeans, os rapazes de camiseta e tênis, e as meninas, algumas de barriga de fora e blusinhas diversas, algumas baby-look, muitas com as alças do sutian aparecendo ou alças de silicone (não tem coisa mais feia para mim do que alça do sutian aparecendo!), sandálias e muita, muita maquiagem. As moças árabes são geralmente morenas de cabelo castanho e preto, muitas têm olhos verdes ou esverdeados como os rapazes. Traços fortes, narizes marcados, um conjunto agradável, muita gente bonita. Aqui eu nem sinto que o meu nariz é bem grandinho... Não noto ninguém usando grife, ao contrário os 'modelitos' são bem comuns. Talvez quem use grife tenha carro e não ande de ônibus, mais ainda porque os carros aqui são relativamente baratos comparados com os preços do Brasil. As moças judias e os rapazes são mais clarinhos, muitos louros e algumas ruivas. Eles mais parecem americanos que judeus no jeito de ser e de se vestir. Com certeza é a inegável influência dos EUA na cultura. Tenho visto rostos muito bonitos.
Sem dúvida os celulares são um vírus mundial e todos, de todas as raças, rostos e idades atendem e falam no celular alto e à vontade no ônibus, em árabe ou em hebraico. De vez em quando até os turistas se soltam no inglês. Outro dia tenho certeza que tinha um brasileiro no ônibus, com camisa da seleção brasileira e uma cara bem da gente, que só se percebe que existe quando vemos e comparamos com outros traços e feições. Nós brasileiros temos um jeito próprio nosso, mesmo que ele possa ser bem diversificado se compararmos um sulista com um nortista. Mas com esse brasileiro do ônibus não tive jeito de puxar conversa. Eu geralmente aproveito esta hora e pouco do trajeto para olhar, observar e rezar o meu terço diário, inclusive nas intenção dessas pessoas que estão comigo, pois o Senhor as ama e mesmo que não saibam ou não creiam, ou o chamem de Alá ou de Adonai, foram 'adotados' por Nossa Senhora aos pés da Cruz. Isso é o que importa.
Há muitos idosos, muitos mesmo, a maioria judeus. É que o ônibus passa nos bairros altos de Haifa onde estão as pessoas mais abastadas e as casas mais luxuosas da cidade, e aí a terceira idade desce em peso para o centro da cidade, para fazer compras ou sei lá o que. As mulheres todas têm o cabelo pintado - entre as jovens e adultas há muita tinta no cabelo também - e aqui é mais um país onde a Loreal tem freguesia garantida. Inúmeras as loiras artificiais e as de cabelo vermelho, laranja, quase vinho...dá de tudo. Cachorros aqui só andam de coleira e são rigorosamente vigiados. Pela manhã há alguns que saem com seus donos, na maioria idosos, para passear, mas nada que se assemelhe, por exemplo ao que a gente vê em Copacabana, em número de donos e de cães. Os árabes gostam demais de gatos e há muitos perambulando onde moro, mas já os vi também em casas perto do trabalho, do trecho curto que ando entre o ponto de ônibus e a Cúria.
Parece que há algumas pessoas idosas - vejo sempre um senhor e uma senhora em pontos diferentes - que se sentam ali mais para puxar uma conversa ou ver as pessoas, se distraírem, do que mesmo para irem a algum lugar. A conhecida experiência da solidão humana que pede um dedo de prosa e atenção, seja aqui ou acolá, em qualquer cidade do mundo, em todos os idiomas. Mas estamos em área judia. Os árabes culturalmente cuidam mais de seus idosos - não quero dizer com isso que não haja solidão - e só alguns vão para o asilo, isso porque eles moram juntos, em casas que mais parecem prédios de dois andares, muito boas, nada de 'puxadinho' ou uma edícula, como se diz em SP. Os pais, ao verem suas filhas ficando moças 'na idade de casar', já constroem o andar de cima da casa para ela(s), e assim as gerações vão ficando juntas, vivendo e passando as tradições, os segredos culinários, os afetos e os desafetos, mas sempre juntos. Árabe é gregário e é família. Isso acontece tanto com os árabes cristãos com quem tenho mais contato como também com os Druzi, que são uma seita muçulmana muito forte em Israel, responsável pela maioria dos que formam o seu exército.
Há lindos jovens judeus, rapazes e moças, que de uniforme, alguns até carregando metralhadora, diariamente, pegam ônibus comigo e descem num mesmo ponto que vai para algum lugar que eu ainda não descobri qual é. Talvez um quartel ou coisa do gênero. Mas fora esta juventude judaica, quem engrossa as fileiras do exército de Israel são druzi, muçulmanos, cuja 'religião' apregoa uma grande fidelidade às autoridades do país onde estão. Eles se vestem de maneira particular, principalmente os adultos. As crianças são 'livres', mas as adolescentes já tem que andar de saia comprida - mesmo que seja jeans e tênis All Star - e blusa de manga comprida e cabeça coberta com um véu branco. Os druzi ortodoxos andam de roupa totalmente preta. As mulheres com um camisolão e o véu branco e os homens de blusa branca e uma calça preta bem largona do joelho pra cima, cheia de pregas, que mais parece um fraldão. Eles usam um chapéu redondo branco sem aba, ou um gorro branco, todo o tempo. Da mesma maneira muitos judeus vestidos à ocidente também não dispensam o 'quipá' que é aquele gorro minúsculo, redondo, que eles colocam no alto da cabeça, às vezes só cobrindo a coroa da careca e que eu morro de curiosidade de descobrir como é que eles fazem para não cair com o vento!
Depois dos druzi vestidos de preto e andando pra cima e pra baixo neste calor imenso, sobram as figuras mais estranhas de todas, que até hoje eu só tinha visto em filme americano ou na televisão, que são os judeus ortodoxos, homens obviamente. Há um bairro que é exclusivo deles e aí basta fazer uma curva e se passar ao lado de uma grande escola rabínica para se ver aqueles figuras de chapéu preto alto, com abas, de longas barbas, pretas ou já prateadas, camisa branca e um paletó também preto e longo. As meias e os sapatos são pretos e, o mais divertido, as calças pretas cortadas no meio das canelas - é tão engraçado, para não dizer ridículo. A primeira vez que eu vi um grupo deles, além de achar interessantíssimo, lembrei logo daqueles personagens do filme 1 do Senhor do Anéis que são os bobits. Acho que é esse o nome. Umas figuras estranhas, descertantemente diferentes de tudo o que eu jamais tinha visto, muitas vezes baixos e com aquelas calças curtas... Tutti buona gente, diriam os italianos contemporizando. Às vezes são pais levando seus filhos para o colégio e indo à padaria, gente como todas as pessoas só que judeus ortodoxos, que significa isenção da vida militar, serem pagos pelo governo para estudarem a Torá, e se vestirem desse jeito.
E assim sigo eu dia após dia, bastante alienada das conversas porque não compreendo nem o árabe nem o hebraico, mas talvez por isso mesmo, tendo condições de observar tantas pessoas e ao admira-las, pensar que cada uma delas também é amadíssimo e amadíssima do nosso Bom Deus, o Pai de todos, que deixa misteriosamente que permaneçam no mundo por causa de sua paciência e misericórdia, o joio e o trigo presentes em cada coração e em cada raça e rosto que vivem nesta Terra Santa. Amanhã escrevo mais! Shalom a todos!
PS - Várias pessoas têm me escrito emails perguntando se eu sei o que elas têm que fazer para conseguir postar um comentário. Eu não sei! Se vc que me lê, souber, por favor me explique para eu divulgar. 'Brigadin!'

2 comentários:

Unknown disse...

Achei óti!
Inclusive os 'BOBITS' - que naverdade são Hobits - hehehehe

Beijos Enita!

Anônimo disse...

Saudades!!!
Beijos Ena!