'Santa Luzia passou por aqui com seu cavalinho comendo capim'... era assim que a mamãe acarinhava e massageva qualquer joelho ralado ou pancada que a gente desse quando era criança, repetindo este versinho, meio cantarolado. Santa Luzia que protege os olhos, lá em casa protegia e curava todo tipo de dor. Hoje é dia dela, 13 de dezembro, também aniversário da Laura Beatriz, do Pe.Elia e da Daisy, a Daisy Lúcia da Silva Monteiro. Memória antiga é incrível, não falha, em compensação a atual anda precisando de vários estímulos para funcionar em potência maior. A Daisy na glória de Deus já viu Santa Luzia face a face e sabe como ela é...
Se fosse o papai a nos consolar, o refrão e a melodia eram outras, em dialeto milanês: 'guarin guará, siguiris minguinqui guarirá dumã', que traduzindo significa mais ou menos isso: 'vai curar, vai curar, se não curar hoje, curará amanhã'. Acho que é a primeira vez na vida que eu tento escrever esta frase de tradição oral em minha família. Que sensação interessante de resgate de traços absolutamente singulares do meu núcleo familiar: duas línguas, o português e o italiano, a música e a presença religiosa. Grandes dons de Deus, do nosso Bom Deus que permanecem presentes na geração que segue à minha, nos sobrinhos e netos.
Acho que a nostalgia de hoje se dá pela proximidade do Natal, mas não me sinto triste, de verdade. Me sinto distante e com um certo pesar de não poder participar na casa da mamãe, com todos, das festas de fim de ano, principalmente do Natal, mas sinto-me interiormente muitíssimo mais ligada a eles e a todos do que em anos interiores.
Os verdadeiros espaços e presenças são os interiores, tenho aprendido. Do lado de fora tentamos às vezes sem muito sucesso, traduzir ou disfarçar o que trazemos por dentro. É Natal. É a festa da presença de Deus manifestada em Jesus, de carne, osso, coração, alma de Deus e de Homem, no meio de nós. Como me sentir distante se a maior de todas as distâncias que era o abismo que o Homem criou para si mesmo foi coberto pelo Amor?
Santa Luzia, depois do seu cavalinho ter comido capim, reza por nós para que nosso coração de pedra amoleça e possamos entender e viver um pouco sincera e internamente o dom do Natal. Mas isso não é pra qualquer um, é só para quem tem ouvidos e coração de pastorzinho...
Um comentário:
Eninha, querida.
Sinto-me meio parecida com você (que novidade) e seu post me emocionou de verdade, às lágrimas. Para minha felicidade, poderei estar com minha mãe e irmãos no Natal, ainda que rapidamente. Sentiremos saudades daquele último Natal que passamos juntos, cantando com alegria verdadeira.
Beijo, Habibti!
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