A Vida Comunitária

Sei que é uma graça extraordinária de Deus, sobrenatural, digo, que pessoas com perfis e histórias, de criação e de culturas tão diferentes, na maioria das vezes, possam morar na mesma casa e partilhar de uma fraternidade que vem do Espírito Santo. É claro que os desgastes humanos, a rotina, os sofrimentos ocorrem, mas estes ocorrem inclusive e também com que tem o mesmo sangue, até entre irmãos. Experimento isso pouco a pouco aqui nesta casa, nesta missão. Sei que ainda não deu tempo de nada, no sentido de conhecer cada outro e fazer-me conhecer, mas testemunho somente que é dom do Espírito a fraternidade gerada por um mesmo carisma. E no carisma Shalom há muita alegria e preserva-se a leveza e a simplicidade. Aqui todos correm de um lado para o outro, de uma cidade para a outra e, com isso, são muitos casos para contar, principalmente dos idosos tão sofridos e às vezes das situações engraçadas de comunicação entre eles e quem trabalha lá. Sinto-me tranqüila aqui, sem tensões e cobranças e vejo que se cumpre uma palavra de sabedoria dada pelo Senhor na reciclagem que fiz: que a solidão, (sempre tão temida por todos nós), não é curada pelos estados de vida mas pela vida fraterna, que casados e celibatários encontram na vida fraterna, vivida intensamente, aquela parcela de amor e troca, de enriquecimento mútuo que só os irmãos e irmãs podem e sabem dar. Cada vez mais penso em um dia conhecer mais de perto a realidade da aliança residencial. Deus me livre totalmente de ser uma celibatária para o Reino daquelas bem chatinhas, cheia de manias (e olha que eu corro sério perigo - kkkk), isolada, que vive totalmente para si e para as suas coisinhas...sei que preciso de certa privacidade mas necessito, visceralmente, de me expressar e me relacionar. Quem já ouviu falar em vida espiritual isolada e encimesmada? Se eu fosse supersticiosa batia na madeira três vezes! Hoje foi um dia muito rico de celebração penitencial pelo fim do Ano Jubilar da comunidade, que viveu seus 25 anos e os completa no próximo dia 9. Novas graças serão dadas, é um novo início que se aproxima, é hora de começar tudo de novo com as graças adquiridas na experiência vivida. É assim que a Igreja fala sobre a Comunidade e o Carisma Shalom. A gente até se espanta porque só mesmo Deus indo a frente de povo tão cheio de fraquezas e brechas, fragilidades, mas escolhido e eleito por pura misericórdia.

Vamos a coisas mais prosaicas: recebi comentários do Bill hoje e testemunho aqui que fiquei morta de feliz! Parabéns pelo teatro e por seu coração ter se aberto a esse novo de Deus, sem 'ressentimentos' das dificuldades humanas na comunidade aí. O Senhor sempre reconstrói onde a gente não enxerga mais nada. Muitas surpresas ainda virão e, quando vc puder, assista o dvd do Vivaldelli sobre S.Paulo. Vc vai descobrir qual era o segredo deste apóstolo. Obrigada por deixar a mamãe sempre a par de tudo. Diga a ela que estou me inspirando na perseverança dela para fechar a boca, cortar o açúcar (só vou ceder um docinho por domingo, no final da missa melquita, que é servido para os paroquianos no pátio da igreja para que todo mundo se confraternize, e aí eu não posso fazer feio, não é? Boa desculpa...). Mas continuando, hoje fui andar pelas ruas da cidade em vez de fazer esteira porque é mais interessante. Foram 50 minutos puxados e suados.

No trabalho comecei a responder a mais correspondências em inglês e enquanto o bispo não volta, tudo é muito light. Mas me parece que só em agosto ele vai ficar três semanas inteiras aqui. Coisa de gente importante. Bendito seja Deus. Continuo descobrindo Haifa no longo trajeto até o trabalho e descobri por estes dias que há um número enorme de imigrantes russos na cidade e em Israel, daí que em toda parte a gente ve umas pessoas ainda mais estranhas do que todas as outras, falando uma língua meio dura. Eles tem mil lojinhas tipo meia-boca, tipo lojinha de 'turco' aí no Brasil, que vende de tudo, roupa barata e brega, além de abrirem, em cada esquina uma salãozinho de beleza, ou melhor, de corte de cabelo. Ao observar Isefya às vezes tenho a impressão que estou numa Propriá de Israel. Exagero. Propriá era pobre demais, mas os contrastes são notáveis, é tudo meio sujo pelas calçadas, ninguém parece rico, mas as casas são de ótima qualidade, grandes, todas da mesma cor e do mesmo material, uma pedra cor de areia, mas que não seguem padrão nem de tamanho de terreno, nem de assimetria, são meio emboladas em ruelas que dão em outras ruelas, que sobem os morros da vila. Diferente. Em toda casa tem um ou vários pés de azeitona e mesmo pelas calçadas, no ponto de ônibus. Azeitona aqui é feito cajueiro no Ceará: dá aos montes. Na entrada da casa da comunidade, na 'minha nova casa', tem um pé de figo carregadinho, amadurecendo, mas os irmãos disseram que não dá vasão (será com z?) porque as crianças da rua 'roubam' mesmo, como também todas as maçãs da macieira que fica no quintal. Criança é tudo igual, só que as daqui chamam Eli, Abud, Acran. Quem puder, me de mais notícias e escreva sempre. Estou bem, estou trabalhando, estou adaptada, mas sinto muita saudade de todo mundo!!! Quero saber como estão as férias do Marquito, Lucca e João no Rio e se a Lélis conseguiu se comunicar com a minha amiga Suzi que está em Londres e que vai buscá-la em outubro. Até amanhã se Deus quiser. Acho que hoje não tenho foto para publicar.