terça-feira, 16 de setembro de 2008

A missão

As pessoas amigas começaram a me perguntar por estes dias, porque eu virei missionária, porque eu fiz uma opção tão radical, como é que eu vim parar numa vila árabe no interior de Israel por dois anos?
Poderia dar explicações baseadas na Palavra de Deus e até no Catecismo da Igreja Católica que nos ensina e lembra, que somos chamados ao testemunho e à missão pelo simples e maravilhoso fato de sermos batizados na morte e na ressurreição de Jesus Cristo, de termos o seu Espírito em nós e de sermos continuamente transformados Nele, pelo mistério da Eucaristia. E por causa desta alegria partimos em missão! Eu poderia dar todas estas explicações e justificativas, nas quais creio verdadeiramente, como acabei de fazer acima, como razão para a minha partida em missão. Porém creio que as pessoas têm curiosidade de saber um pouco mais, e não somente de palavras bonitas pois palavras bonitas não mudam a vida de ninguém.
Tive a alegria de começar a optar por Jesus como meu Senhor, meu amigo, meu Deus quando era uma jovem de mais ou menos 16 anos, no Méier, Rio de Janeiro, no grupo de oração Água Viva... velhos tempos. De lá para cá uma longa caminhada de conversão, de busca, de encontros e desencontros, mudanças mis de cidades e estados, onde sempre esteve presente o desejo de partir em missão para levar o Evangelho de Jesus sem temor. Nestes primórdios a gente tinha muito pouca literatura católica para ler, e acabava devorando todos os testemunhos 'pentecostais' de vida missionária. Seja como for esta semente foi sendo alimentada e ao voltar para o Shalom nesta segunda fase - porque já fui missionária por um ano e poucos meses no interior de Sergipe, na fundação da missão de Propriá em 92-93 - este anseio missionário só fez crescer. Sei que em termos humanos fiz uma loucura sem tamanho: doei minhas coisas, fiquei sem endereço de volta, sem emprego, deixando alguns livros, umas gravuras, toda a família e muitos bons amigos para trás - sempre morrendo de medo que eles se esquecessem de mim. Tive a sensatez de deixar objetos pessoais da minha história, fotos e papéis preciosos na casa de amigos para quando eu voltar, e vim para Israel sem nenhuma segurança a não ser a Palavra de Deus.
Vim porque quis, vim por decisão livre e por um certo gosto pela aventura. Vim para poder cumprir um sonho antigo que guardava no coração e que acredito tenha sido plantado pelo próprio Senhor: o desejo de que muitas pessoas conheçam o amor de Jesus através da minha vida, da minha palavra, do meu testemunho. Vim porque Deus é bom e me escolheu. Vim porque quero amar ao Senhor concretamente. Vim para que meus horizontes se expandissem. Vim para me doar e para me enriquecer. Vim para aprender. Vim porque quero encontrar a minha vida verdadeira, pois é isso que o Evangelho promete para quem perde a sua vida por causa do Reino...
Como vai ser o futuro, como vai ser na volta, onde eu vou morar, não faço a mínima idéia... ainda não é tempo de pensar nisso. O tempo de hoje é ainda de abraçar o presente e aquilo que como mulher, leiga consagrada na vocação Shalom posso dar aqui na Terra Santa, no muito simples serviço que presto. Sem dúvida nenhuma até agora eu recebi muito mais do que dei, mas com o tempo sei que os trabalhos tendem a se multiplicar. Sei que estou no deserto onde Deus fala ao coração e purifica, converte e sobretudo se revela, e é isso que eu espero que aconteça: que as minhas raízes mais verdadeiras de pessoa se firmem em mim mesma na liberdade de ser amada de Deus! E aí ninguém mais me segura! E viva a missão, seja ela onde for! O importante é deixar Deus mexer nas águas profundas do coração e revelar a verdade, a paz, a santidade e o cálice da alegria e da dor que a cada um é reservado beber.
Lembram da música: Pense em mim, chore por mim, liga pra mim? Pois é, só não precisa chorar, prefiro que rezem. Beijão!

2 comentários:

Anônimo disse...

Que bom ver algo escrito do qual eu fiz parte, de pelo menos um tempo.
Que Deus te recompense nessa busca da VIDA VERDADEIRA.
Sempre lembrarei de voce e sempre que puder escreverei.
Que N. Sra. te acompanhe nessa terra distante e te faça fiel e dócil as coisas do Filho dela.
Fique com Deus.
Com saudades.
Carmen Máximo

Anônimo disse...

Acabei de ler o que de mais belo vc já escreveu: um depoimento verdadeiro de disponibilidade e entrega total ao chamado de Deus. Fico com inveja de tamanha abertura ao desconhecido! Não tenha dúvidas de que a recompensa virá dos céus e também da terra, através daqueles que por sua presença e testemunho conhecerão e amarão a Jesus Cristo. Elena, vc é um exemplo vivo do que diz São Paulo: "Pela graça de Deus sou o que sou e sua graça em mim não foi em vão". Que Deus lhe envie muitas bençãos, coragem, forças e fé para seguir em frente. Grande beijo!