domingo, 28 de setembro de 2008

Lorena, a Terrorista e o Ursinho de Pelúcia


A Lorena, responsável local da missão em Haifa e Isifya, voltou do Brasil, depois de 34 dias fora, participando da Assembléia Geral da Comunidade Shalom em Fortaleza, emendados com duas semanas de merecidas férias, chegando em casa na 5a feira passada. Todos a aguardavam com saudade e cartazes pois ela é uma pessoa muito querida. Só fui vê-la de noite porque ela estava muito cansada e tinha passado por uma aventura completamente inusitada: tinha sido detida como suspeita de terrorismo.

Explico-me e conto a história, que de cômica não tem nada, mas que também não foi trágica, graças a Deus, mas não deixa de ser triste e de nos chamar à oração constante por aqueles que trabalham e se dedicam para que haja paz na Terra Santa.
A Lorena foi de Fortaleza para S.Paulo e de lá para Paris onde tinha horas de espera na conexão e troca de vôo, que a traria a para Tel Aviv. Neste tempo em Paris, em vez de ficar de bobeira no aeroporto, teve a feliz idéia de ir visitar o Santuário da Medalha Milagrosa, na famosa Rue du Bac, que ela não conhecia. Veio com itinerário, metrô e mapinhas todos prontos do Brasil. Ao voltar da sua visita ao Santuário, fez o check in, passou pela alfândega, por queles detectores de metal, e foi convidada para seguir para uma outra sala. Foi aí que ela notou que o aeroporto, e especialmente a área de embarque, estava lotada de policiais militares armados de metralhadora. Soldados israelenses. Inocentemente pensou que alguma autoridade muito importante estivesse chegando à Paris. Mal sabia ela - e na verdade só veio a descobrir isso na 6a feira quando foi divulgado na Internet e seus pais ligaram apavorados de Fortaleza - que havia um boato de terrorismo e de bomba no avião que ela ia pegar, e ela era a suspeita!
Passou por três horas de interrogatório e de revista, e teve todas as suas três malas - uma era minha, só de roupa de frio e alguns livros que eu tinha deixado para trás - mais a mochila e bolsa pessoal, minuciosamente checados, abertos, cheirados, vasculhados, e todos os verbos da invasão de privacidade e da suspeita que cada um quiser dizer. Ela nos contou que até a sua carteira de dinheiro foi aberta e todos aqueles pepeizinhos, bilhetinhos, santinhos, fotos dos pais, dos filhos que todo mundo guarda na carteira, foram abertos um por um! Eles queriam saber tudo dela e perguntaram sobre cada livro que estava na mala, sobre os amigos, o trabalho, porque ela tinha escolhido ser voluntária logo na Terra Santa, em Israel, porque isso, porque aquilo, porque tudo.
Eram três homens e uma mulher. Cansaram de perguntar se ela tinha algum presente, se alguém lhe tinha entregue alguma coisa, até se depararem com um ursinho de pelúcia que reza o Pai-Nosso, que um tio dela lhe dera na hora do embarque, e que ela enfiara ainda no papel de presente, dentro da mala. Este mesmo que está na foto acima. Aí foi o caos: os guardas cismaram com o bichicho e apertaram a Lorena dizendo que ela mentira já que tinha ganho sim um presente, e levaram o ursinho de pijama cor de rosa para uma sala ao lado de onde a Lorena estava, para também ser revistado. A pobre da Lorena então, pensou: 'pronto! vão dar fim no meu ursinho porque vão rasgá-lo e abri-lo para ver se tem bomba dentro. E o pior, daqui a pouco eles vão achar o segundo ursinho idêntico a este que está na mala da Elena, que pela maior das coincidências também ganhou um de uma amiga, que o envia de surpresa'. Mas esperou para ver no que ia dar. Foi então que teve até vontade de rir pois só ouvia o ursinho rezando o Pai-Nosso uma vez atrás da outra, de tanto que os oficiais apertavam as mãozinhas e corpo do brinquedo a fim de acharem algum coisa estranha. No fim desistiram e a oficial mulher trouxe-o de volta, inegavelmente encantada com a gracinha que o ursinho é, devolvendo-o inteiro à Lorena. Quis saber se ela tinha filhos e deixou o assunto morrer.

Como a Lorena é 'macaca velha' ficou tranqüila e não mencionou uma vez sequer, durante o interrogatório que tinha qualquer contato com os árabes, como temos nas pastorais onde a Comunidade trabalha, nem falou em árabe, só em inglês, e disse que trabalhava como volutária a serviço do arcebispo católico da igreja melquita, o que é a mais pura verdade, e deu como endereço de residência a Cúria em Haifa. (Antes de trabalharem no asilo em Isifya teve um tempo que a Comunidade morou e serviu ao bispo interino anterior, que exerceu o cargo somente por dois anos, até a eleição do Abuna Elias Chacour).
No fim do interrogatório, para que a Lorena não perdesse o vôo, eles deixaram que ela embarcasse só com a bolsa de mão e o passaporte, e disseram que até sexta-feira toda a sua bagagem seria entregue no endereço que ela tinha dado. Escoltaram-na como uma terrorista até a poltrona do avião - que humilhação meu Deus! - e ela veio para casa. Nem uma explicação, nem um pedido de desculpa, nada, absolutamente nada.

Quando os irmãos encontraram-na na chegada levaram o maior susto pela ausência de bagagem e aí, durante o dia, o mistério se desfez. Na véspera da chegada da Lorena o sempre Beatle Paul Mac Carteney pisou no solo de Israel pela primeira vez na vida (os Beatles jamais receberam autorização do governo de Israel para entrarem no país), para fazer um show em Tel Aviv no dia seguinte, ou seja na 5a feira. Por conta disso, por terem se sentirem traídos, já que o músico tinha decidido vir fazer um show aqui, radicais extremistas muçulmanos do Irã e de outras regiões como a Síria, países inimigos de Israel, lançaram boatos de ameaças de terrorismo e de bombas a qualquer hora. E aí a pobre da Lorena, cujo último trecho da viagem seria feito em empresa israelense e não em outra, de nome internacional, tipo Alitalia, Air France, etc, foi escolhida como suspeita.

Graças a Deus no fim deu tudo certo, inclusive fui eu mesma que na sexta-feira recebi as malas, na Cúria, e todos os volumes estavam em perfeito estado (só o conteúdo, pois as malas estavam com as alças danificadas). Eles telefonaram e fizeram exatamente como disseram que fariam. E tanto o meu ursinho quanto o da Lorena chegaram intactos e continuam rezando o Pai-Nosso quando lhes apertamos as mãozinhas.

Só não sei quantos Pai-Nossos ainda teremos que rezar e quantas pessoas terão ainda que lutar e dar a sua vida para que nesta terra haja paz, e não mais muros, terrorismo, cidadãos desrespeitados e este clima de pavor. Haverá o dia em que a Terra Santa será dividida entre todos aqueles que são filhos de Deus - verdadeiramente o dono da terra e Pai de todos, Pai dos cristãos, dos judeus e dos árabes. Amém!

3 comentários:

Anônimo disse...

Apesar de todo o transtorno que a Lorena passou, graças a Deus tudo foi resolvido. E o ursinho finalmente chegou. Nossa a lorena passou um sufoco, eu no lugar dela tinha chorado. :( Bendito seja Deus, que ela chegou em paz.
Queria te agradecer pelo presente que recebi, é lindo !
Aproveitando, quero mandar um beijo pra lorena e todos da casa.
De sua sobrinha emprestada, Katia.
Beijos!

Anônimo disse...

Nossa !! Que história.Graças a Deus, tudo terminou em paz. Não imaginei que a Lorena que havia me telefonado, fosse essa Lorena. Eu a conheço a muito tempo e como ela não se identificou com maior intimidade, eu fui meio fria. Peça, por favor, desculpas a ela por mim, ok? Adorei tb o meu presente. Ele está comigo a todo momento. Amo-te. Rocas

adriana disse...

Que aventura louca! Graças a Deus acabou tudo bem! Vocês são loucos mesmo! Loucos de amor por Jesus! Beijos