domingo, 14 de março de 2010

A Vez da Alegria

A festa do Pai que cobre de beijos o filho que volta, como descrita no Evangelho de S.Lucas, é sempre uma leitura mais que comovente, é desconcertante. É Deus que me espera sempre e me quer perto de si. Neste Domingo da Alegria de 2010, fica forte em meu coração o entendimento de que os dois filhos desperdiçaram as próprias riquezas, não só o caçula. Os dois não conheciam o Pai. Um por avareza e fechamento, mantendo um coração pesado porque de pedra, incapaz de reconhecer o Rosto e a Intimidade do Pai, sempre ao lado. E o outro por desperdiçar a própria humanidade, o modo como o Papa João Paulo II definiu certa vez o pecado, ou seja, aquilo que afasta da Presença pessoal e amorosa de Deus e me cega para ela.
Estou perturbada porque é deste amor que tenho sede profunda. É nesta Presença que quero viver. É desta Presença que me espera primeiro, que me ama primeiro, que tudo já me deu, que quero falar. Ah! Se eu pudesse diria a cada pessoa que conheço: 'é tempo de cair em si mesmo e voltar para casa! Volta! Volta! Vamos juntos! Eu te ajudo! Um banquete te espera e ele tem gosto de amor gratuito, de perdão sem fim, de alívio da culpa e libertação do medo da morte. Vem, eu te ajudo! Vamos juntos!'.
E para quem pensa ou ficou inquirindo a si mesmo ou aos céus onde estava Deus nas catástrofes e terremotos que este ano assolaram o mundo, respondo com uma pergunta: 'você acredita mesmo que você se preocupa mais ou ama mais qualquer uma das vítimas, mortos ou sobreviventes, do Haiti ou do Chile que o Senhor que lhes deu a vida?'. Esta é nossa maior tentação: pensarmos que sabemos mais, amamos mais, vemos melhor, somos donos do que nos foi dado...o dom da vida e também o dom da morte. O axioma da existência para quem conhece Jesus e toda a Verdade que Ele revela passa a ser eternidade-amor de onde vim, vida neste mundo no Amor e eternidade-amor para onde volto, e não mais nada de onde vim, vida como destino e fatalidade, sofrimento e morte. Não. Também não dá para ser simplista nem Alice no país das Maravilhas, mas dá desejar ser sábio, manso, humilde de coração apostando tudo e aprendendo tudo com Jesus. Penso que esta experiência forte de morte que vivi por causa do acidente tem me levado a reverter e iluminar interiormente o que representa a morte para mim e como a vivo, honestamente.
Voltando ao texto de Lucas, na pessoa do Pai fica a certeza: seu abraço, seus beijos e conversa é sempre pessoal. Ele não nos trata à rodo, aos montes, em bandos. Ele chama pelo nome, espera na estrada, tem saudade de cada um. A dor e o sofrimento humano só podem ser satisfatoriamente abraçados pela chave de leitura que vem do Pai, em Jesus homem-Deus, crucificado e impotente de Amor. Mas para ler este texto só se o Espírito Santo o apresentar, se não é letra morta, é paradoxo inesplicável, é revolta em cima de revolta, é solidão existencial, ou simplesmente é indiferença.
Quisera eu que muitos nestes dias que antecedem a Páscoa pudessem também dizer: 'quero ver! vem Espírito Santo! quero voltar! vem Espírito Santo! quero conhecer este amor! vem Espírito Santo! quero ser beijado e abraçado! quero, quero, quero!'.

Um comentário:

paula disse...

Ave Maria..! muito bom!!.. me gusto mucho lo que escribio, muy muy bueno.. que grandes palabras Elena, espero el Señor me conceda a mi tambien ese toque de gracia. Un abrazo