segunda-feira, 4 de abril de 2011

A saúde que Deus me deu

Estou doente há quatro dias com erisipela no braço direito, o que me obrigou a ficar com o braço realmente de repouso a entrar com antibiótico pesado e a sossegar por causa da febre alta. Os staphilococos, que são bactérias oportunistas, atacam o sistema circulatório linfático deficiente da criatura, no caso eu, entrando pela porta de uma ferida, machucado, bolha, sei lá do quê. No meu caso foi uma pequena queimadura no dedo que deixou uma bolha pequenina, causada pelo vapor quente quando tirei a tampa da panela para ver se estava pronta uma peperonata que estava fazendo na terça-feira passada. A peperonata ficou deliciosa mas o meu dedo queimou. 

Geralmente são as pernas as maiores vítimas de erisipela, em mim, porém, é o braço e o antebraço direito por causa da mastectomia sofrida que me retirou todos os gânglios linfáticos em 2002. Como eu há muitas mulheres que se cuidam para não terem erisipelas que acabam alimentando o linfedema, que é aquele inchaço que não tem cura... Eu tomo cuidado e procuro ser atenta mas não vivo em função disso. Eu vivo, simplesmente, com responsabilidade, mas vivo despreocupadamente. É muito chato gente que vive em função de falar de doença... deixa chegar a terceira idade quando este tema passa a ser feijão com arroz muito naturalmente. 

Mas para terminar o assunto, esta não foi a primeira vez, já perdi as contas de quantas vezes tive erisipela, mas havia mais de ano que nada do tipo acontecia. Como eu conheço os sintomas quando senti a febre alta chegando e o calor e inchaço no braço instalados liguei imediatamente para o médico oncologista que a Divina Providência me fez conhecer em Israel, que é brasileiro, e ele me indicou o antibiótico, enviou a receita por fax e pronto: eu estava medicada e devidamente convidada ao descanso por conta da febre. Hoje, metade do tratamento me sinto bem melhor a ponto de tentar escrever novamente no blog, sem querer preocupar ninguém. Está tudo bem mesmo!

Não sei se deveria ter entrado em detalhes assim, como se estivesse escrevendo num diário adolescente... mas agora já está escrito. Também isso faz parte do testemunho missionário, da ordinariedade da vida, da presença de Deus que não nos deixa faltar nada, e dos pequenos sofrimentos a serem ofertados em plena quaresma que é um tempo de tanto amor.

Falando em amor, é amor de Deus, Ele mesmo que continua sendo a eterna novidade, como escreveu certa vez S.João da Cruz. Os textos bíblicos de cada domingo são tão fortes, mostram um Deus tão apaixonado pelo homem, indo ao seu encontro, ao encontro de sua dor e necessidade, que não há alma que não se sinta dilatada e parece que os leio pela primeira vez. Semana passada foi a samaritana surpreendida pela presença de Jesus que a interpela e alcança e lhe diz tenho sede, dá-me de beber! Deus quer de mim, quer a mim, quer se relacionar comigo, quer entrar em minha vida pela porta da amizade, da liberdade, da desconcertante provocação que me leva à Verdade de mim mesma e que me faz entender que estou diante do Salvador do mundo.

A seguir vem o cego de nascença, tocado pela saliva de Jesus e pela terra, elementos ordinários da existência alcançados pela graça do Altíssimo, sinais através dos quais o Senhor curou o cego e ainda continua a me alcançar, a nos alcançar, no tempo, através dos sacramentos. Se nos aproximássemos da Sagrada Liturgia - da Eucaristia, para usar um termo mais latino - com esta expectativa de vencer e iluminar a cegueira, todos os elementos e sinais nos curariam a cegueira, não somente o Corpo do Senhor, mas Sua Palavra, Sua presença visível nas pessoas e sacerdote presente, Sua Presença Real... 

O cego viu Jesus de carne e osso, mas também viu Jesus como Deus e o adorou. Eu gostaria de ver um dia o Senhor curando um cego sem visão física mas continuo desejando ardentemente que Ele cure a muitos, começando por mim, a cegueira do espírito, que nos faz incapazes de nos inebriar do Amor e da Presença de Deus que permea todas as realidades da vida, inclusive e principalmente as desconcertantes realidades de dor, sofrimento e morte. Ele está no meio de nós! Eu quero ver Senhor! Cura-me os olhos do coração!

Esta questão da cegueira tem me perseguido e há alguns posts atrás eu comentei a respeito, falando de um outro cego que Jesus cura que é levado até Ele por amigos. Chega a quaresma e mais um cego. E meditando em minha própria cegueira e incapacidade de ver a Luz e desejo de vê-la para ver Jesus e ver a vida como Ele a vê, me dei conta que a minha cegueira e a de cada pessoa atrai Jesus. Ele vem, Ele estende a mão, Ele guia, Ele nos toma até nós vermos. Sua compaixão não nos deixaria sucumbir, seu amor jamais nos abandona ou abandonaria, Ele está do lado, está perto, sua presença nos atrai. É só prestar atenção e erguer a mão e tomar a mão de Jesus.

Tenho experimentado assim este tempo de quaresma e já por duas vezes recorri ao sacramento da penitência lavando-me na piscina do meu batismo e saindo de lá com esperança e mais convencida de que o amor de Deus é concreto, é real, é encarnado, é apaixonado e apaixonante, e faz um coração bater como coração. Meus olhos tem visto a salvação e o Salvador e por isso sei que a mão estendida está ao alcance de quem quiser. E é por isso que é o Domingo Laetare, da Alegria, antecipando a ressurreição que vem chegando.

Um comentário:

Anônimo disse...

Melhoras Elena. Estarei rezando por ti.

Shalom!

Raiane