Passei esta semana refletindo sobre a Palavra de Deus e a vivência dela, mais ainda porque estávamos às vésperas das eleições de segundo turno em algumas cidades do Brasil, como Rio e São Paulo, e recebi alguns emails meio bravos, denunciando horrores dos candidatos, de um lado e do outro, e me senti impotente. Meu Deus, o que significa odiar o Eduardo Paes, a Martha Suplicy, o César Maia, o Gabeira, o Bush, o Lula, ou amá-los? O que acontece conosoco que quando se trata de discurso político a gente desumaniza, descontrola, perde limites, os bons valores do respeito à pessoa e vira bicho? Por que tanta imaturidade?
Eu sei que sou muito inocente neste universo político partidário, no mundo das negociações e da diplomacia. A gente se assusta e teme, e por isso foge e não se envolve. Vota e pronto, que é o que eu imagino que aconteça com a maioria das pessoas. Sei também que quanto mais extratos vão se sobrepondo nas complexas relações humanas, mais intricadas e cheias de nuances elas ficam. No entanto, sem generalizações simplórias, tendemos a refletir no macro o que aprendeu no micro, mesmo que isso não seja matemático e nenhuma garantia de repetição. O que quero dizer é que enxergamos os 'inimigos políticos', da maneira como aprendeu a enxergar qualquer inimigo, e esse aprendizado primeiro aconteceu no núcleo familiar de onde viemos e onde crescemos. E aí cabe a lembrança do singelo mas profundo artigo da Maria Emmir que publiquei no blog há poucos dias. Na família aprendemos a nos relacionar com as pessoas e com os primeiros 'diferentes' de nós que vão se perpetuar até o fim da vida.
Sem ser romântica, penso que preciso crescer e ver nos 'inimigos políticos', e vê-los no meu coração, para além dos discursos inflamados que tenho a seu respeito, humanizando-os e vendo-os como são: pessoas. Tenho o direito e o dever de discordar completa e honestamente das decisões, discursos e posturas políticas de qualquer figura pública, chegando mesmo a enfrentá-los, se for meu papel, mas jamais me esquecer de que ele ou ela tem a mesma dignidade que eu tenho de pessoa humana e de filho de Deus, se sou cristão! Isso é muito mais fácil de dizer do que de viver, mas não deixa de ser um grande desafio. E impressionantemente, posso testemunhar que vejo o Abuna Elias Chacour agir desse jeito. Se o meu candidato hoje perder, nas eleições do Rio ou de São Paulo, terei coragem de sinceramente e sem fingimento, como me pede a Palavra de Deus, de rezar pelo adversário, vencedor?
É interessante que quando defendemos 'o nosso candidato', o vemos e o descrevemos sempre como alguém, como pessoa, nas suas boas intenções e lutas, superações e atos de coragem e denúncia... quando porém, falamos do 'outro candidato', não o vemos como pessoa, só enxergamos as ações erradas e julgamos as suas intenções, ligando-o ao partido ou à ideologia que defende com a qual não concordamos. Talvez tenha que ser assim mesmo, e eu sonhe com um conto de fadas que não existe.
De uma coisa, porém, tenho certeza, que dar a César o que é de César e dar a Deus o que é de Deus, inclui também nossas escolhas políticas. Agora cito parte do texto escrito pelo Pe.Raniero Cantalamessa sobre o Evangelho deste domingo onde Jesus nos diz: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmo', que não deixa de ser um chamado a ir além, de conversão que me tira da subjetividade.
'Acrescentando as palavras 'como a ti mesmo', Jesus nos pôs diante um espelho diante do qual não podemos mentir: deu-nos uma medida infalível para descobrir se amamos ou não o próximo. Sabemos muito bem, em cada circunstância, o que significa amar a nós mesmos e o que queríamos que os demais fizessem por nós. Jesus não diz, note-se bem: 'O que o outro te fizer, faze tu a ele'. Isso seria a lei do Talião: 'Olho por olho, dente por dente'. Ele diz: 'o que tu queres que o outro te faça, faze tu a ele' (cf. Mt 7, 12), que é muito diferente. Jesus considerava o amor ao próximo como 'seu mandamento', no qual se resume toda a Lei. 'Este é o meu mandamento: 'que vos ameis uns aos outros como eu vos amei' (Jo 15, 12).
Esta caridade do coração ou interior é a caridade que todos e sempre podemos exercer, é universal. Não é uma caridade que alguns – os ricos e saudáveis – podem somente dar e outros – os pobres e enfermos – podem apenas receber. Todos nós podemos fazê-la e recebê-la. Também é muito concreta. Trata-se de começar a olhar com novos olhos as situações e as pessoas com as que vivemos. Com que olhos? É simples: 'os olhos com que quisermos que Deus nos olhe. Olhos de desculpa, de benevolência, de compreensão, de perdão...'
Quando isso acontece, todas as relações mudam. Caem, como por milagre, todos os motivos de prevenção e hostilidade que nos impediam de amar certa pessoa, e esta começa a parecer o que é realmente: uma pobre criatura humana que sofre por suas fraquezas e limites, como você, como todos. É como se a máscara que todos os homens e as coisas têm caíssem, e a pessoa aparecesse como é na realidade'. (Fonte: www.zenit.org.br em 24-10-08)
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