Esta da foto a quem abraço com tanto carinho é Irmã Trindade Campos, serva do Espírito Santo, uma das primeiras brasileiras religiosas líderes da Renovação Carismática, que tanto marcou a minha vida espiritual e que voltou para a casa do Pai no domingo dia 8 de julho. A Trinity, como seus muitos amigos e filhos espirituais próximos a chamavam, fez a experiência do batismo no Espírito Santo em 1971 e esteve presente no primeiro Congresso Mundial da RCC em 73 representando o Brasil. Ela era uma memória viva dos primórdios do derramamento do Espírito Santo no nosso país e, junto com Pe.Jonas Abib, Dom Cipriano Mendes e Pe.Edward Dougherty, entre outros, como Doris fundadora da Comunidade Bom Pastor no Rio de Janeiro, foi da liderança da RCC e levou os carismas e jeito novo de amar Jesus e Sua Palavra no Espírito por esse Brasil afora. Lembro-me bem do carinho e do respeito que o Moysés e a Maria Emmir sempre tiveram por ela e de como a Ir.Trindade ficou impressionadíssima quando conheceu a Comunidade Shalom em Fortaleza, ainda nos anos 90. Me lembro de seu comentário: 'vi na Comunidade o frescor, a alegria, a exuberância e a vivência concreta do Evangelho que toda Congregação Religiosa da Igreja sonha viver... até a minha!', e abriu um largo sorriso emoldurado por seus olhos azuis.
Por anos a Trinity viveu no Rio de Janeiro, depois foi para Belo Horizonte e por fim viveu muitos anos em Brasília trabalhando na Rádio Nova Aliança até já idosa e com problemas de saúde mais graves, ser transferida há aproximadamente dois anos para a Casa das Idosas de sua Congregação, a casa de Sant'Anna em Santo Amaro, São Paulo, onde tive a alegria de visita-la por um fim de semana, ano passado, quando de férias no Brasil. Esta foto foi tirada pela enfermeira, no quarto dela, pouco antes de me despedir e ir para o aeroporto. Tínhamos conversado um pouco sobre a vida missionária - e ela sentia enorme alegria e orgulho por sua filhota missionária que vivia em Israel - e sobre o amor de Deus, e a vida de oração, sua mais última paixão, no sentido de querer crescer na vida de oração e intimidade com Jesus, o Amado de sua vida. Lembro-me bem de como descrevia sua dificuldade em ser 'contemplativa' como ela tanto desejava, até entender que seu carisma de vida era mais ativo que místico e que o Senhor lhe pedia somente o amor, a aceitação daquilo que Ele lhe permitia ser e viver, nos limites próprios da idade. E assim ela viveu este último tempo de sua vida, até o último domingo, com alegria de ser quem era - amada do Pai do Céu sempre repetia - contemplando Deus em si mesma e ao seu redor, no mistério das pequeninas coisas que tecem a malha da vida de todos nós.
'A Trindade foi para o Céu, foi viver seu Pentecostes definitivo, como serva do Espírito Santo que era'. Assim recebi a notícia por email sobre a sua morte, e muito me comovi. Que gratidão senti por esta tão grande mulher de Deus em minha vida! Com ela aprendi a rezar carismaticamente, a rezar por cura e libertação, a deixar-me usar nos dons de serviço do Espírito, línguas, profecia, interpretação, a cantar no Espírito. Que bela voz a Trindade tinha! E como era marcante ve-la cantar no Espírito e levar uma assembléia de oração a fazer o mesmo... Creio que se a Trindade tivesse nascido depois - ela estava com 80 anos - seria da Comunidade Shalom porque poucas vezes vi uma pessoa com tanto carisma com a juventude! No Colégio Imaculado Coração de Maria onde estudei, em 1975, no Méier, Rio de Janeiro, quando ela fundou um dos primeiros grupos de oração do Brasil, o Água Viva que ainda existe, a víamos sempre cercada de jovens, rapazes e moças, às vezes causando um certo incômodo às demais irmãs, mas ela mesma jamais se envergonhava de nossas roupas e jeitos rebeldes... parecia nem notar e simplesmente nos amava e nos levava para Jesus, rezava conosco e perto de nós, fazendo discípulos. Quantas vezes tive oportunidade de viajar com a Trindade e sem qualquer competência prévia rezar junto, fazer junto, servir junto e aprender que o Espírito Santo precisa de servos e não de doutores. É o serviço e o espírito de serviço que pode nos levar a ser doutores um dia se assim o Espírito do Senhor quiser e não o contrário. Jesus mesmo fez discípulos que viviam com Ele e aprendiam com Ele, pela palavra e pela ação e parece que os amigos e as amigas de Jesus, em toda a História, repetem essa didática do Senhor sempre guiados pelo Espírito Santo.
Essa é uma estátua de madeira da capela do Convento da Santíssima Trindade em São Paulo onde a Trinity morava. É Nossa Senhora como Serva do Espírito Santo, a cheia dele, em postura de oração, louvor, de olhos fechados... mais católica e carismática, impossível, e mais modelo de tudo o que a Trindade sempre quiser ser e viver também é difícil achar. Meu sonho era tirar essa foto e jamais tive oportunidade nas visitas anteriores que fiz ao convento nestas décadas de convivência com a Trindade. Que bom que em 2011 deu certo e eu posso agora publicar.
Trindade querida na sua salinha do computador de onde mandava para a sua lista de contatos muitas mensagens que seus fiéis amigos encaminhavam para ela diariamente. Desse jeito, mesmo com toda a limitação visiual, ela mantinha contato com o mundo exterior e mais uma vez falava eloquentemente com a vida, mais do que com palavras, a não desisitirmos nunca diante dos desafios...e sempre em espírito de louvor pois Jesus é o Senhor. Talvez tenha sido essa a oração que mais vezes saiu de seu coração: Jesus é o Senhor! Ela sempre se dizia uma meninona de coração mole, porém tinha uma coragem e uma simplicidade diante de Deus que era virtude e obra de quem se deixou amar e transformar pelo amor de Jesus.
Eu entrava no taxi na porta do convento para ir para o aeroporto quando pedi essa última foto. Tenho confiança que ela me esperará na porta do Céu quando chegar a minha vez de ir para lá. Confio-me demais à sua intercessão para que os sonhos que há no meu coração de viver plenamente a vontade de Deus se cumpram. Jamais me esquecerei que foi com ela que eu aprendi a confiar mais nas pessoas, sempre, com o olhar de Jesus que sempre acredita, mesmo quando tudo diz que não. Foi dela que recebi um abraço enorme uma vez, grande e rochonchudo de mãe e mulher casta, cheia de Deus, inesquecível, que ao me abraçar disse: te amo incondicionalmente, confio em você... Eu também Trinity, te amo incondicionalmente! Obrigada por tudo! Reze por mim, eu me confio à sua intercessão. Amém.
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