How lovely is your dwelling place, Lord,
God of hosts. (Psalm 83-84, 1)
Desde que parti em missão tenho dito e partilhado que esta graça que me foi dada deveria ser desejada e buscada por todos da Comunidade Shalom, tanto os consagrados e que fazem parte da Obra, mas também por todos que são católicos, batizados e que participam deste sacerdócio comum dos leigos. Os religiosos, padres e freiras à moda antiga, diocesanos ou não, deveriam redescobrir esta graça também. Partir em missão para doar a vida em pequenos atos de testemunho e de serviço, e outros quem sabe grandes, na experiência comunitária de convivência e oração. Partir, sair de si, arriscar, com fé e certa dose de aventura, com muito amor e por amor.
De certa maneira não deixa de ser um passo radical tornar-se missionário, pois se interrompe todas as atividades humanas ligadas a um contexto e se inicia um outro, da estaca zero e, me parece, que exatamente ali, na estaca zero que se encontra a mola propulsora de tudo o que vem a seguir. E ela, a mola propulsora, tem um nome que não é a segurança de uma transferência de cargo numa empresa multinacional, ou anos de estudo superior em busca de um doutorado: é o carisma que se tem, no meu caso Shalom, abraçado de uma maneira que nos tira de dentro o que se tem de melhor. De fato estes passos mais radicais em Deus nos levam a perder o que precisa ser perdido para ganhar o que vale a pena: um rosto novo, um nome novo, uma liberdade nova, dado por Jesus. Acho que é o que S.Paulo chama de revestir-se do homem novo. Se eu preciso me vestir é porque uma veste velha foi tirada.
Mas creio - e é o que a Igreja ensina muito especialmente depois do Concílio - que não precisa ser consagrado para tornar-se missionário ou estar pronto para a missão. É mesmo uma atitude de abertura, um desejo, a consciência de que é necessário, como aconteceu com Sta.Teresinha, carmelita enclausurada, padroeira de todos os missionarios. Nunca estamos prontos para a missão. É vivendo-a interna e externamente que vamos sendo colocados pelo avesso e a graça de Deus cresce em nós e se enraiza. Missão não é trampolim de carreira, nem mérito, missão é serviço, é desejo de ser e de dar-se por amor a Jesus Cristo por participar do carisma comum dado a todos no batismo. É esta graça espiritual e sobrenatural em Cristo Jesus, que torna irmãos quem não tem laços de sangue. Belo seria se os laços humanos de sangue que temos fossem também alcançados pelos laços do Espírito Santo fazendo duplamente fraternos...
Vejo que a experiência missionária por sua exigência, revoluciona o exterior e o interior de cada um que se aventura e coloca uma ordem nova nas prioridades da vida, e neste fazer novas todas as coisas, Deus mesmo torna-se concretamente, refúgio, consolo, fonte e sentido, fortaleza e providência, aquele que constrói e que também destrói, principalmente sonhos inócuos e fantasias. Ele carrega pesos e arranca correntes e nos revela nuances e cores da vida jamais imaginados quando vivemos somente no mundinho de origem... Usando a linguagem esponsal tão cara aos que partilham do carisma teresiano da contemplação, como é o caso dos Shalomitas, Jesus torna-se o Esposo, o Amado, a fonte e o fim de cada experiência, desafio, desejo e descoberta. Jesus se manifesta vivo e nos faz verdadeiramente vivos, humanos, encarnados, apaixonados...
Penso que talvez uma das maiores batalhas que travamos interiormente diante do Mal no mundo que se manifesta através das pessoas é continuar acreditando na potencialidade humana de ser bom, de fazer o bem, de ser fraterno, de ser dono de si para poder amar o outro em primeiro lugar. É acreditar mais, muito mais na Encarnação e na Ressurreição do que no horror da Cruz nua e crua vista no sofrimento humano, causado pelo pecado.
Hoje lendo este salmo 83, este versículo especialmente, ao fazer laudes no meu percurso para o trabalho, fui tomada de forte gratidão por perceber que este 'dwelling place', este lugar da habitação de Deus, onde Ele vive e se comunica é o coração do Homem. O meu coração é o primeiro de todos os tabernáculos, o Santo dos Santos, a morada onde Deus descansa, o mais estonteante e belo de todos os sacrários do mundo!
E se não fosse a missão, o desconcertante, inesperado, dialeticamente empobrecedor tempo missionário eu não sei se teria tanta consciência de como a vida poder ser bela e livre, transbordante e feliz como ela é. Eu não teria começado a entender com o coração onde se encontra a esperança a respeito do ser humano, a mesma esperança que o Senhor Jesus tem a respeito de cada pessoa...
O que escrevi mais parece uma colcha de retalhos mas é o perfil do meu retrato atual.
Por isso, quem pensa em ser missionário, voluntário, quem sonha em dar-se por alguma causa em favor de Deus, da Vida, da Verdade, da Igreja, da Ciência, da Arte, do Belo, do Bem da Humanidade, da Paz, seja bem-vindo, arrisque-se, junte-se a nós! Não perca mais tempo! Este é um caminho de felicidade!
Um comentário:
Olá Elena!!
Muito bela sua partilha.
Que o Senhor abençoe a sua vida.Peço-te que vc reze por mim, pra que eu possa me abrir a vontade do Senhor sem medo.
Somos felizes!Somos Shalom!
Raiane Petrolina-PE
Vocacionada Shalom na missão de Senhor do Bonfim-BA
www.amigosshalompetrolina.blogspot.com
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