A festa da Transfiguração começou a ser celebrada de véspera, dia 05, como liturgicamente acontece, e após as oração na Catedral fomos diretamente para a Cúria, para nos encontrarmos como Comunidade Shalom com o arcebispo Elias Chacour. Eu trabalho com ele diariamente e, aos poucos, venho construindo um relacionamento de respeito e amizade que inclui a esfera profissional, mas estarmos todos juntos como família, como filhos espirituais, estava sendo programado deste a vinda do Papa em maio, mas nunca dava certo, e nesta noite graças a Deus, aconteceu.
Assim que chegamos nos sentamos ao redor da mesa e conversamos enquanto comíamos figos e uvas verdes, fresquinhas e docinhas, colhidas em Ibillin, o refúgio de D.Elias onde ele viveu por mais de trinta anos como pároco até transferir-se para Haifa como arcebispo da Galiléia. Uma delícia, as frutas, a atmosfera, o tempo passado junto.
Alguns irmãos que estão na diocese há mais tempo como Lorena (7 anos de missão) e Viviane e Tennessee (5 anos) o conheciam ainda como Abuna, antes de tornar-se bispo, e pelos muitos anos vividos na diocese podemos considerar que eles sabem da realidade cultural e humana da Galiléia em seus meandros e nuances. Os demais irmãos sabem menos pois são missionários aqui há menos tempo e falam pouco o árabe ou o hebraico.
Foi uma noite excepcional pela simplicidade e pela comunhão entre nós. Valeu a pena a espera e a carga de intercessão para que este encontro fosse uma verdadeira partilha, marcada pela alegria do Espírito e o desejo de crescer em comunhão, em fidelidade e conhecimento mútuo. Houve também algumas surpresas. Ele nos contou sobre as nada tranquilas reuniões que antecederam a vinda do Santo Padre em busca de verdadeira comunhão entre os vários ritos católicos, e como no fim venceu a vontade soberana de Deus, que é sempre a unidade e o perdão.
Marcou-me o detalhe do arcebispo nos contar de como foi unânime a constatação de que as palavras e discursos de Bento XVI cheias de sabedoria e paz, calaram os adversários, reconfortaram os desanimados e geraram novo ânimo e ardor em todo o rebanho cristão, das ovelhas aos pastores, que formam o povo de Deus em Israel. E mesmo quem a princípio era contra a vinda do Santo Padre por temer que não fosse a hora certa, teve que admitir o contrário.
Vou postar fotos tiradas no fim da noite, onde se constata no rosto a satisfação de cada um. De certa maneira é a transfiguração causada pela vida missionária, pela vida aparentemente perdida e conscientemente doada. Nos disse o Abuna Chacour numa breve homilia espontânea, enquanto assistia conosoco o video caseiro da semana de festas que antecederam o casamento da Sil e do Tenne, que os Padres da Igreja Oriental ensinam que a Festa da Transfiguração fala mais dos apóstolos e de todos nós do que de Jesus. A eles foi dado ver o que os olhos puramente humanos não conseguem perceber: a glória do Filho de Deus. O mesmo o Senhor quer fazer conosco por ação do Seu Espírito: se revelar a nós como Ele é, em todo o seu Amor e Grandeza. A nós cabe desejar, desejar aquilo que Jesus mais do que qualquer outra coisa quer nos dar, que é o conhecimento de Si, a amizade, a salvação, a sua Paz. Dois desejos, um único amor. Só assim dá para entender o desejo de S.Pedro de permanecer no Monte Tabor, tamanho o fulgor, a beleza, a presença do Senhor.
Só que é necessário descer do Monte, o Abuna nos explicou, ao concluir, não é possível alcançar a glória da ressurreição diretamente sem percorrer o caminha humano da existência permeada pela dor e pela cruz. Não se pode fugir da Cruz e ela tornou-se a nossa Tenda, onde encontramos consolo, refúgio e sombra, só lá o Amor é absoluto e sem medidas.
Depois de marcante, voltamos para casa cheios de gratidão pelo bispo que temos, pela experiência singular comunitária de vivermos e por servirmos em comunhão plena com o rito greco-melquita. Enfim, a alegria de sermos Shalom aqui, na Terra Santa.
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