quarta-feira, 11 de março de 2009

Carta ao Presidente Lula

Caro Presidente Lula,

Desde o Carnaval venho pensando em escrever para o senhor e depois que li suas últimas declarações sobre o caso do aborto da menina de 9 anos, esta vontade de escrever só fez crescer e agora se efetiva.

Estamos tratando de uma tragédia em cima da outra. De um sofrimento após o outro. Em todos eles nos corta o coração a pessoa humana sendo desrespeitada em sua vulnerabilidade e inocência como é caso da pequena pernambucana, sua conterrânea. Os ânimos e as emoções se acirram e o que há de mais instintivo em nós se levanta e queremos fazer justiça com as próprias mãos. Obviamente este padrasto precisa responder por seus atos imorais e degradantes e sobre este ponto ninguém discorda, nem governo, nem sociedade e nem a Igreja.

Entretanto discordo quando o senhor disse que a Igreja estava tomando uma posição conservadora. E vejo com mais pesar ainda a televisão e a imprensa brasileira fazerem ridículo das posições da Igreja e dos Senhores bispos que muitas vezes parecem meio inocentes e fazem declarações corretas que porém, fora do contexto, parecem absurdas. É o caso da excomunhão. Quem atenta contra a vida se auto-excomunga da comunhão com Deus muito antes de perder a comunhão com a fé católica. Isso está lá no livro do Gênesis, ninguém inventou.
E não sejamos ridículos: todos nós sabemos no fundo da consciência, por mais que ela esteja obliterada por sofismas, desculpas e justificativas, estudos e raciocínios, que atentar contra a vida humana é errado e é desumando. É pecado para usar uma palavra que causa incômodo mas que não deixa de ser a mais adequada. Mesmo que seja numa pobrezinha de uma menina de 9 anos, ela mesma uma vítima atroz de uma sucessão de pecados e desumanidades familiares, as duas crianças concebidas não são menos bebês por causa da monstruosidade do pai biológico e da imaturidade inclusive biológica da mãe. Que se fizesse tudo para salvar a mãe e as crianças por mais desesperadora que pudesse parecer o futuro desses gêmeos, caso eles sobrevivessem, mas a eles também há que se dar o direito à vida, e não somente à mãe.
A vida não nos pertence Presidente! É um dom de Deus e a Ele daremos conta dela. Eu tenho certeza que o senhor aprendeu isso quando criança, da boca dos mais velhos e simples, seus avós, talvez, pois os humildes respeitam a Deus e O amam mesmo quando sofrem, pois não têm medo de sofrer e resguardam em si a dignidade de serem pessoas humanas, respeitando a vida e a valorizando onde quer que ela esteja.
Para mim quem tem sido conservador ao extremo é o senhor ao distribuir camisinha no Sambódromo, defendendo seu uso indiscriminada e abertamente, mesmo sabendo - porque o senhor é bem informado mesmo talvez não tendo jamais convivido com uma pessoa contaminada pelo vírus da AIDS por causa da camisinha - que a camisinha não é segura! E o pior, ela justifica e promove a promiscuidade sexual, o uso do corpo humano sem nenhuma responsabilidade, sem nenhum freio. Isso é que é ser conservador e antiquado: incentivar os instintos e os impulsos da força maravilhosa da sexualidade humana, outro dom de Deus, aos níveis da compulsão, levando homens e mulheres a andar para trás em suas conquistas de respeito, amor, dignidade, compromisso, responsabilidade, lealdade, ternura, unindo-se sexualmente quando 'dá na telha', como se fossem meros feixes de desejo!
A Igreja é Mãe e se posiciona como Mãe. Ela precisa continuar a dizer que a vida será sempre vida mesmo em condições completamente inesperadas e inconcebíveis, como vimos neste doloroso caso nacional. É como achar que uma flor deixa de ser flor se nasce no meio da mais nojento lamaçal.
Eu fico me perguntando se o desequilibrado e viciado sexual do padrasto da meninna pernambucana, que seguramente precisa ser punido e tratado para voltar a ter um rosto de fato humano, se a primeira vez que ele resolveu bolinar a pequena enteada não teria sido motivado pela proteção da camisinha que recebera gratuitamente no Carnaval, oferecida à rodo pelo Governo Federal com a 'bênção' do Presidente da República!
Não cabe a mim julgar sua consciência, Presidente Lula, e na verdade, escrevo e falo de coração, pois aprendi em casa e na Igreja Católica, a rezar e interceder pelas autoridades constituídas, outro dom de Deus, para que elas exerçam a autoridade com justiça e sabedoria, e continuarei a fazê-lo mesmo achando um absurdo a postura do senhor. Mas confesso que, infelizmente, o relativismo da sua vivência católica-cristã me dá medo e o pior, o sofrimento desta família pernambucana pode ter sido uma boa oportunidade para tentar comover a opinião pública e fazer passar a lei do aborto que pode agradar a muitas pessoas, mas seguramente não agrada ao Coração de Deus e aqueles que sabem que a vida humana é sagrada. E há milhões e milhões de brasileiros que não querem o aborto nem tampouco a promiscuidade, a perversidade, a compulsão sexual como comportamento sadio nem para si, nem para seus filhos, e nem querem ver outras crianças serem vítimas de abuso sexual e suas pérfidas consequências!
Viver é muito complexo! Enfrentar situações extremas como essa que vimos é quase impensável, mas haverá sempre saída onde há vida. A vida é mais forte do que a morte, já nos provou Jesus Cristo! A vida vence a morte já nos provaram todos os sobreviventes de holocaustos e guerras injustas, mas viver fazendo de si mesmo o modelo último - ou o primeiro - da Verdade, é estar fadado a viver o dilacerante inferno.
Que Deus tenha compaixão de todos nós!
Atenciosamente,
uma cidadã brasileira,
missionária leiga em Israel,
Elena Arreguy Sala

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