quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

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Continuo trabalhando na tradução da tese de mestrado do Pe.João Wilkes sobre a Espiritualidade da Comunidade Católica Shalom, e este trabalho tem se mostrado de um prazer inominável já que tenho podido contemplar, no decorrer da leitura e da reescritura, como se dá a intervenção do Senhor na História, quando Ele resolve fazer algo novo no meio do seu povo, para que o Reino permaneça no meio de nós, fazendo acontecer um novo carisma.

Muito interessante ver a história da Igreja do Brasil onde se insere a vida do Moysés, marcada fortemente pelo desejo de justiça e de liberdade após os anos de ditadura, mas ferida pela ideologia marxista que sufocou tantos dos ideais e das verdades sobrenaturais da vida da graça, descritas no Evangelho.

E mais do que uma comunidade de serviço como há centenas que fazem trabalhos maravilhosos no Brasil e no mundo, ressuscitando e fazendo reviver a vida da igreja e das paróquias, em sua dinâmica e vivência sacramental, Deus sopra um carisma e uma espiritualidade novas, que traz profundas marcas na vida apostólica e na via de oração da Renovação Carismática, mas que a ultrapassa.

Amar Jesus Cristo e conhecê-lo pessoalmente como Deus e Senhor, na vida de oração contemplativa, como leigos e leigas, servindo-o em Seu Reino, no mundo e na Igreja, é uma grande novidade do Espírito, que fez brotar uma semente plantada misteriosamente no mundo já desde o Concílio. E assim como leigos consagrados - e nessa categoria se incluem todos os leigos consagrados e não somente os 'shalomitas' - temos feito uma humilde porém determinada quebra de paradigma no mundo. Somos fiéis ao Santo Padre (meu Deus! como têm sido escritas asneiras e inverdades a seu respeito!) e somos fiéis aos ensinamentos da Igreja e aí está nossa alegria. Não há cegueira, há amor. É a paixão que cega, o amor ilumina e alarga também a visão.

Penso que amar o Senhor Jesus de todo coração e com a vida em pleno século XXI, usando todos os avanços da tecnologia e usufruindo de todas as conquistas da Humanidade até aqui alcançadas, é a maior e mais bela das aventuras que alguém pode ter. E isso, sem ter que 'virar religioso'! Nada contra eles, mas o tempo da graça do Senhor está sobre os leigos, homens e mulheres, casados e solteiros, em qualquer e em todas as profissões, também os desempregados e pobres, mais inteligentes e menos preparados, artistas, intelectuais, gente comum, todos os que batalham arduamente pela sobrevivência. É tempo de viver radicalmente o Evangelho do amor e da esperança nas besteiras cotidianas de nossa existência, de nossos amores!

A vocação Shalom tem me ensinado a amar mais, tem me ensinado a rezar melhor. Tudo isso eu fui aprendendo no decorrer da vida e da família, desde criança, e por todos os que me testemunharam e instruiram neste caminho, sempre terei imensa gratidão. Mas o chamado 'à santidade por vocação e não por presunção', como escreveu o Moysés, e a 'difusão aberta e irrestrita do dom da esponsalidade da alma para todos, todos e todos' me atraem sobremaneira! Até há pouco tempo este vocabulário e experiências místicas eram reservada aos carmelitas e monges, alguns poucos eleitos de Deus. Agora, depois do Concílio, parece que o Senhor 'democratizou' ainda mais o Seu Amor e a Sua Presença no mundo.

E conhecer Jesus, a partir de uma experiência de batismo e vida no Espírito, e tornar-se católico de carteirinha, 'militante' é totalmente distinto de se conhecer, amar, estudar qualquer outro grande cientista, pensador, gênio, escritor, seja ele Sócrates, Freud, Picasso ou o Ché Guevarra.

Esta não é uma postura fechada, ao contrário, é abertíssima, é livre, é genuinamente católica e universal, pois como somente Jesus Cristo disse de si mesmo ser Deus, revelando e restaurando em si toda a beleza e integridade da pessoa humana, seja ela homem, seja mulher, quanto mais perto dele estamos, mais vemos tudo e todos como Ele ve! E aí vale a arte, a ciência, a literatura, as ciências humanas é médicas, os esportes, a culinária, a moda, a agricultura, até a política e a economia, sem contar o sexo e o corpo humano...

Bem, acho que acordei feliz hoje por ser quem sou e fazer o que faço, mesmo sabendo que em termos de 'mundo' e de realidade dos fatos tudo ser tão insignificante. Mas cada novo dia que recebemos das mãos do Senhor são construídos por milhões de 'insignificantes'. São atos de vida e de amor, são rotinas, trânsitos, palavras, gestos, pensamentos e sonhos, as vezes dores, agudas dores, olhares... mas o que fazer com o encanto pela vida que nunca termina?

Shalom! Shalom!

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