quinta-feira, 25 de março de 2010

19, 25 e já estamos em Abril

Hoje é aniversário de morte do Papa João Paulo II que coincide com a Sexta-feira Santa, ou Good-Friday em inglês. É bom que se chama Good porque realmente nela o ápide do amor de Deus em Jesus se revelou e consumou a restauração da nossa filiação divina. Tudo está consumado e nada pode reverter ou desfazer esta união de amor entre Deus e a Humanidade. E quando a gente celebra estas festas e faz memória bíblica afetiva, pessoal e comunitária pensando em todas as pessoas de todos os tempos, a alma se enche de tal gratidão que se entende porque ela é eterna para caber este amor sem tamanho...
Está é minha segunda quaresma e Páscoa em terras de Israel e a consciência é outra. O país está em celebração pois esta semana também é a Páscoa dos judeus celebrando a libertação do Egito e, no país, por uma semana não se encontra pão para comprar pois não há mais maná, (só se for de padaria não judia...) e as sinagogas estão em festa. Mas eles não receberam a Luz e o Salvador que de sua raça, o Filho de Davi, se revelou aos homens cumprindo todas as profecias da Lei e dos Profetas.
A quaresma foi iluminada para mim com as festas de S.José e da Anunciação, ambas solenemente festejadas em Nazaré. Somente estive lá no dia 25 pois esta data é meu aniversário de consagração, felizmente, o que me da enorme alegria pela providencial coincidência. O desejo sincero é continuar ofertando minha vida como grão de trigo, que morrendo e vivendo no Pão da Vida, produza algum fruto.
Esta semana e tempo também foram sombreados pelas calúnias e massiva campanha anti-Igreja Católica, anti-Papa Bento XVI, anti-Cristianismo que chega a chocar. Há muitas pessoas arregaçando as mangas e escrevendo em defesa do Santo Padre contra este laicismo falso que tem tom e ação ideológica mais radical que qualquer terrorismo que se teme do Oriente Médio.
Segue abaixo esta análise excelente escrita por um sociólogo italiano que nem católico é, mas que tem justos critérios de análise, conteúdo intelectual, boa fé, boa vontade, ética e um mínimo de sabedoria que é o dom de alcançar a essência das realidades. Boa leitura! Vale a pena, e que o venerável e muito amado Papa João Paulo II interceda por nós nesta Páscoa. Amém!


Padres pedófilos: um pânico moral
Por Massimo Introvigne

Por que se volta a falar de padres pedófilos, com acusações que se referem à Alemanha, a pessoas próximas ao Papa e agora até mesmo ao próprio Papa? Será que a sociologia tem algo a dizer a respeito ou deve deixar o caminho livre para os jornalistas? Creio que a sociologia tem muito a dizer, e que não deve ficar quieta por medo de desagradar este ou aquele. A discussão atual sobre padres pedófilos - considerada do ponto de vista sociológico - representa um exemplo típico de "pânico moral". O conceito nasceu nos anos 1970 para explicar como alguns problemas são objeto de uma "hiperconstrução social". Mais precisamente, os pânicos morais foram definidos como problemas socialmente construídos, caracterizados por uma amplificação sistemática dos dados reais, seja na exposição midiática, seja na discussão política. Duas outras características foram mencionadas como típicas dos pânicos morais.
Em primeiro lugar, problemas sociais que existem há décadas são reconstruídos na narrativ a midiática e política como "novos", ou como objeto de um suposto e dramático crescimento recente. Em segundo lugar, a sua incidência é exagerada por estatísticas folclóricas que, mesmo não confirmadas por estudos acadêmicos, são repetidas pelos meios de comunicação e podem suscitar campanhas midiáticas persistentes. Philip Jenkins assinalou o papel dos "empreendedores morais" - cujas agendas nem sempre são declaradas - na criação e gestão dos pânicos. Os pânicos morais não fazem bem a ninguém. Eles distorcem a percepção dos problemas e comprometem a eficácia das medidas que deveriam resolvê-los. Uma análise errada não pode produzir senão uma intervenção errada.
Que fique claro: os pânicos morais têm na sua origem circunstâncias objetivas e perigos reais. Não inventam a existência de um problema, mas exageram suas dimensões estatísticas. Numa série de valiosos estudos, o mesmo Jenkins mostrou como a questão dos padres pedófilos talvez seja o exemplo mais típico de um pânico moral. Estão presentes de fato os dois elementos característicos: um dado real na origem, e uma exageração desse dado por obra de ambíguos "empreendedores morais".
Primeiro, o dado real na origem: existem padres pedófilos. Alguns casos são ao mesmo tempo desconcertantes e repugnantes, foram objeto de condenações definitivas e os próprios acusados nunca se disseram inocentes. Estes casos - nos EUA, na Irlanda, na Austrália - explicam as severas palavras do Papa e o seu pedido de perdão às vítimas. Mesmo se os casos fossem apenas dois - e, infelizmente, são muitos - isto já seria demais. Mas já que pedir perdão - apesar de nobre e oportuno - não basta, sendo necessário evitar que os casos se repitam, não é indiferente saber se os casos são dois, duzentos ou vinte mil. E tampouco é irrelevante saber se o número de casos entre sacerdotes e religiosos católicos é mais ou menos numeroso do que entre outras categorias de pessoas. Os sociólogos frequentemente são acusados de trabalhar sobre números frios, esquecendo que por trás de cada número há um caso humano. Mas os números, embora não sejam suficientes, são necessários. São o pressuposto de toda análise adequada.
Para entender como de um dado tragicamente real se passou a um pânico moral é necessário saber quantos são os padres pedófilos. Os dados mais amplos foram coletados nos EUA, onde, em 2004, a Conferência Episcopal encomendou um estudo independente ao John Jay College of Criminal Justice da City University of New York, que não é uma universidade católica e é unanimemente reconhecida como a mais autorizada instituição acadêmica dos EUA em matéria de criminologia. Esse estudo nos diz que de 1950 a 2002, num universo de 109.000, 4.392 sacerdotes americanos foram acusados de ter relações sexuais com menores. Desses, pouco mais de uma centena foram condenados por tribunais civis. O baixo número de condenações por parte do Estado deriva de diversos fatores. Em alguns casos as verdadeiras ou supostas vítimas denunciaram sacerdotes já mortos, ou foram consumados os prazos de prescrição. Em outros, à acusação e à condenação canônicas não corresponde nenhuma violação a qualquer lei civil : é o caso, por exemplo, em diversos Estados americanos, do sacerdote que tinha uma relação consensual com uma - ou mesmo um - menor com mais de 16 anos. Mas também aconteceram muitos casos clamorosos de sacerdotes inocentes acusados. Esses casos foram multiplicados nos anos 1990, quando alguns escritórios de advocacia perceberam que poderiam obter transações milionárias com base em meras suspeitas. Os apelos à "tolerância zero" são justificados, mas também não deveria haver qualquer tolerância com quem calunia sacerdotes inocentes. Acrescento que em relação aos EUA as cifras não se alterariam de forma significativa se somássemos o período 2002-2010, pois o estudo feito pelo John Jay College já observava o "declínio claríssimo" dos casos no ano 2000. Os novos inquéritos são poucos, e as condenações pouquíssimas, graças a medidas rigorosas introduzidas seja pelos bispos americanos, seja pela Santa Sé.
O estudo do John Jay College nos diz que quatro por cento dos sacerdotes americanos são pedófilos? De modo algum. Segundo aquela pesquisa, 78,2% das acusações se referiam a menores que haviam superado a puberdade. Manter relação sexual com uma menina de 17 anos não é certamente "una bella cosa", muito menos para um padre: mas não se trata de pedofilia. Portanto, ao longo de cinqüenta e dois anos, os sacerdotes acusados de pedofilia nos EUA são 958, dezoito por ano. As condenações foram 54, pouco mais de uma por ano.
O número de condenações penais de sacerdotes e religiosos em outros países é parecido, embora em nenhum país se disponha de um estudo completo como aquele feito pelo John Jay College. Cita-se frequentemente uma série de relatórios governamentais na Irlanda que definem como "endêmica" a presença de abusos nas escolas e nos orfanatos (masculinos) administrados por algumas dioceses e ordens religiosas, e não há dúvida de que casos muito graves de abusos sexuais de menores nesse país realmente aconteceram. O exame sistemático desses relatórios mostra, ademais, como muitas acusações se referem ao uso de meios de correção excessivos ou violentos. O assim chamado Relatório Ryan de 2009 - que usa uma linguagem muito dura em relação à Igreja Católica - reporta, no período que investiga, a partir de um universo de 25.000 alunos de escolas, reformatórios e orfanatos, 253 acusações de abusos sexuais de meninos e 128 de meninas, nem todos atribuídos a sacerdotes, religiosos ou religiosas, de diversa natureza e gravidade, raramente referidos a menores impúberes e que, ainda mais raramente, levaram a condenações.
As polêmicas dessas últimas semanas sobre a Alemanha e a Áustria exibem uma característica típica dos pânicos morais: apresentam-se como "novos" fatos que aconteceram há muitos anos ou são - em alguns casos há mais de 30 anos - já conhecidos em parte. O fato de se noticiarem na primeira página dos jornais - com uma particular insistência no que toca à área geográfica da Bavária, de onde vem o Papa - ocorrências dos anos 1980, como se houvessem ocorrido ontem; e de se suscitarem polêmicas violentas, com um ataque concêntrico que anuncia todo dia, em estilo escandaloso, novas "descobertas", mostra bem como o pânico moral é promovido por "empreendedores morais" de forma organizada e sistemática. O caso que - como alguns jornais publicaram - "envolve o Papa" é um exemplo de manual escolar: refere-se a um episódio de abusos na Arquidiocese de Munique, da qual era arcebispo o atual Pontífice, que remonta a 1980. O caso veio à tona em 1985 e foi julgado por um tribunal alemão em 198 6; no julgamento ficou provado, entre outras coisas, que a decisão de acolher na arquidiocese o sacerdote em questão não foi tomada pelo cardeal Ratzinger e não era sequer do seu conhecimento, o que não admira numa grande diocese com uma burocracia complexa. Por que um jornal alemão decide exumar esse caso e publicá-lo na primeira página vinte e quatro anos depois da sentença, isto, sim, deveria ser a verdadeira questão.
Uma pergunta desagradável (...), mas importante, é se ser um padre católico é uma condição que comporta um risco de se tornar pedófilo ou de abusar sexualmente de menores (como se viu, as duas coisas não coincidem, pois quem abusa de uma menina de dezesseis anos não é um pedófilo) mais elevado em relação ao resto da população. Responder a essa pergunta é fundamental para descobrir as causas do fenômeno e assim preveni-lo. Segundo os estudos de Jenkins, se se compara a Igreja Católica dos EUA às principais denominações protestantes se descobre que a presença de pedófilos é - dependendo das denominações - de duas a dez vezes mais alta entre os pastores protestantes do que entre padres católicos. A questão é relevante porque mostra que o problema não é o celibato: a maior parte dos pastores protestantes é casada. No mesmo período em que uma centena de sacerdotes americanos era condenada por abuso sexual de menores, o número de professores de educação física e técnicos de equipes esportivas juvenis - também esses em sua maioria casados - julgados culpados do mesmo delito pelos tribunais americanos atingia os seis mil. Os exemplos poderiam continuar, não só nos EUA. E, sobretudo, segundo os relatórios periódicos do governo americano, cerca de dois terços das doenças sexuais de menores não são transmitidas por estranhos ou professores - incluindo padres e pastores protestantes - mas por familiares: padrastos, tios, primos, irmãos e infelizmente também pais. Dados semelhantes existem em muitos outros países.
Embora seja pouco politicamente correto dizer isto, há um dado que é muito significativo: mais de oitenta por cento dos pedófilos são homossexuais, machos que abusam de outros machos. E - para citar ainda uma vez Jenkins - mais de noventa por cento dos sacerdotes católicos condenados por abuso sexual de menores e pedofilia são homossexuais. Se na Igreja Católica houve de fato um problema, este não foi o celibato, mas uma certa tolerância em relação ao homossexualismo nos seminários, particularmente nos anos 1970, quando foi ordenada a grande maioria de sacerdotes posteriormente condenados pelos abusos. É um problema que Bento XVI está corrigindo vigorosamente. O retorno à moral, à disciplina ascética, à meditação sobre a verdadeira, a grande natureza do sacerdócio são o antídoto definitivo contra as tragédias reais da pedofilia. Também para isso deve servir o Ano Sacerdotal.
Quanto a 2006 - quando a BBC colocou no ar o lixo-documentário do parlamentar irlandês e ativista homossexual Colm O’Gorman - e 2007 - quando [Michele] Santoro veiculou a versão italiana em Annozero [programa televisivo da RAI] - não há, na verdade, muito de novo, exceto a crescente severidade e vigilância da Igreja. Os casos dolorosos de que se fala nestas últimas semanas nem sempre são inventados, mas aconteceram há mais de vinte ou trinta anos.
Ou, talvez, exista algo de novo. Por que exumar em 2010 casos velhos ou muito frequentemente já conhecidos, ao ritmo de um por dia, atacando cada vez mais diretamente o Papa - um ataque, ademais, paradoxal, se se considera a grande severidade do cardeal Ratzinger, primeiro, e de Bento XVI, depois, em relação a esse tema? Os "empreendedores morais" que organizam o pânico têm uma agenda que se revela sempre mais claramente, e que nada tem a ver com a efetiva proteção das crianças. A leitura de certos artigos nos mostra como - às vésperas de decisões políticas, judiciais e também eleitorais, por toda Europa e no mundo, sobre temas como a utilização da pílula RU486, a eutanásia, o reconhecimento das uniões homossexuais, em que a voz da Igreja e do Papa se ergue, quase isolada, na defesa da vida e da família - lobbies muito poderosos tentam desqualificar preventivamente essa voz com a acusação mais infamante e, hoje, infelizmente, também mais fácil: a de favorecer ou tolerar a ped ofilia. Estes lobbies mais ou menos maçônicos manifestam o poder sinistro da tecnocracia, evocado pelo próprio Bento XVI na encíclica Caritas in Veritate e a denúncia de João Paulo II, na mensagem da Jornada Mundial da Paz de 1985 (de 8.12.1984), a propósito das “intenções ocultas" - ao lado de outras "abertamente propagandeadas" - "voltadas a subjugar todos os povos a regimes nos quais Deus não importa".
De fato, esta é uma hora de trevas, que traz à mente a profecia de um grande pensador católico do século XIX, Emiliano Avogadro della Motta (1798-1865), segundo o qual às ruínas deixadas pela ideologia laicista se seguiria uma autêntica "demonolatria" que se manifestaria particularmente no ataque à família e à verdadeira noção do matrimônio. Restabelecer a verdade sociológica sobre pânicos morais em tema de padres e pedofilia por si só não resolve os problemas e não paralisa o lobby, mas pode constituir ao menos uma pequena e devida homenagem à grandeza de um Pontífice e de uma Igreja feridos e caluniados por não se resignarem a calar sobre a vida e a família.
------------------------------------
Massimo Introvigne é sociólogo italiano. O texto original está no site do CESNUR - Centro Studi sulle Nuove Religioni (http://www.cesnur.org/2010/mi_preti_pedofili.html).
Traduzido por Miguel Nagib.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Ele se inclinou

As leituras do evangelho nestes dias mais próximos dos mistérios pascais vão deixando mais claras a necessidade de uma postura minha e de cada um, uma tomada de decisão diante de Deus, da postura de Deus. E a postura de Deus é de abaixamento, de ir ao encontro, é de ternura e resgate, nunca e jamais de acusação.
O inimigo de nossas almas e a deformação causada pelo pecado que há em nós e que transbordou e se encarnou nas realidades humanas e sociais ao nosso redor, fazem com que duvidemos deste amor. Duvidamos de Deus. Duvidamos porque não o conhecemos e buscamos como Ele se revela, mas a partir das experiências de desamor que vivemos. Assim se estabelece a distância, o medo.
Em momentos de rebeldia e busca do meu lugar no mundo quantas vezes também eu achei o Senhor exigente demais como se Ele quisesse cercear minha liberdade, transferindo para Ele, no entanto, com essa atitude, simplesmente a minha experiência humana limitada de filiação? Meu querido pai, tão amoroso e intenso era um homem com neuroses de guerra que o deixaram muito exigente e punitivo, deixando em mim marcas. Explificações psicológicas talvez, unidas a minha própria rebeldia e pecado explicam este medo de Deus que tive, por pura transferência...
Mas a permanência nos caminhos do Senhor, a busca de seu amor em meio à vida com todas as suas implicações de perdas e ganhos, de verdades e mentiras, de angústias e realizações fez toda a diferença. Eu posso dizer que O encontrei, porque fui encontrada. Sou testemunha de que Ele se inclina silenciosamente e vem ao encontro.
Tem tanta delicadeza o Deus todo-poderoso que é quase como se Ele não respirasse para não nos assustar com tanto amor, assim como fazemos quando pegamos uma florzinha mínima nas mãos para contemplar seu contorno e cor. Assim é Jesus. Agachado, escreve no chão como se não quisesse que aquela mulher humilhada publicamente se sentisse mais humilhada. É o texto de João 8. E Ele a ama e olha, afirma e perdoa. Ele lhe dá sentido e futuro. Vá e não peques mais. Eu te amo. Tu és livre. E a florzinha revive feliz.

sexta-feira, 19 de março de 2010

San Giuseppe

Se eu tivesse um filho ele se chamaria Giuseppe porque acho lindo demais, em italiano, o nome do pai do Menino Jesus. Giuseppe. É sonoro. É confiável. Já foi o nome mais popular no Brasil, não deve ser mais. Em árabe Yussef, também especial. Se eu tivesse gêmeos colocaria os dois nomes: Yussef e Giuseppe. Seria como dois irmãos, alunos meus de inglês em determinada escola em SP, que se chamavam Guilherme e William. Os pais não deviam saber que um nome é a versão portuguêsa do outro, ou talvez fossem apaixonados por Shakespeare e fosse eu a ignorante.
Festamos S.José o grande santo amado de Teresa de Jesus, aquele a quem devemos nos confiar e pedir ajuda se queremos nos tornar pessoas de oração, pois, se há alguém que contemplou os mistérios de Deus encarnado e as realizações das promessas todas, de seu pai Davi, do Antigo Testamento, foi José, o justo. Gosto de pensar no justo como aquele que se ajusta, que toma a fôrma e a forma necessárias para que todos os planos do Senhor se cumpram. Assim foi José, deixando que a própria vida e a vida daqueles que lhe foram confiados se ajustassem com perfeição aos planos de Deus. Que obediência e confiança admiráveis... A perspectiva de vida de José partia sempre de Deus, da sua vontade, das suas promessas e palavras e todas as demais lógicas e instrumentos de análise da realidade vinham em segundo plano. Olhando para a vida de José e sua atitude sinto um desejo ainda mais forte de me confiar mais uma vez à sua adoção paternal. Que ele cuide de mim! Que ele cuide de nós, todos os filhos e filhas de Deus em seu Filho, Jesus.
Que neste tempo que vivemos onde se pretende negar a cultura e os valores espirituais herdados do Cristianismo e do Catolicismo no Brasil, na América Latina, na Europa, repetindo o gesto de Herodes que sumariamente manda matar todas as crianças por medo do Rei dos Judeus, O Menino, que acabara de nascer, que seja S.José, mais uma vez, a interceder por nós que não concordamos, nem queremos, nem podemos viver sem Deus. Que ele nos ajude a jamais perder Jesus Cristo e a fazermos tudo, tudo o que for possível, inclusive mudar todos os planos e quantos planos forem necessários refazer, repensar, reajustar para que o Senhor permaneça Vivo no coração dos homens e no nosso mundo. Que o Espírito do Senhor nos de esta mesma disposição de pernas, de braços, de bens de toda ordem, como deu a José para salvar o Senhor e sua presença de Amor neste mundo que tão abertamente quer bani-lo.
Que Ele fortaleça nossa saúde física, mental e espiritual e nos de entendimento sobrenatural de que ao doarmos diariamente a vida em amor, mesmo que seja escondida e insignificante, estamos fecundando o mundo por causa do amor que arde em nós. É o Amor que foi derramado em nossos corações e que os grandes deste mundo se negam a ver porque são inteligentes demais, seguros demais, cultos demais e se esquecem de que o que tem lhes foi dado... Tudo é uma questão de escolha: podemos ser Herodes ou José. Tudo vai depender de como nos apresentamos diante de Jesus, o Mais Belo e Amoroso dos Filhos dos Homens, a Misericórdia Encarnada, o Filho de Deus, o Filho dos Homens como Ele gostava de se apresentar, o Filho de Mariam e de Yussef.

quarta-feira, 17 de março de 2010

O que dizer

Estou com overdose de palavras sem querer dar muitas notícias, mas não posso deixar de partihar.
Fiquei mesmo encasquetada com os filhos de Lucas 15 e quão saudáveis ou não eles são, que movimentos interiores são esses que temos e tenho de rebeldia e retorno, de fugir de casa e voltar para casa. Gostei do que o Santo Padre comentou sobre a parábola falando concretamente das gerações que afastaram-se da Igreja e da fé católica na juventude em busca da pessoal e verdadeira liberdade, perdendo-se porém no ateismo, perdendo a perspectiva do Pai. Ah! O Pai! E é Ele que precisa ser novamente lembrado por nós... é dele e de sua Presença e Ternura que temos saudade, seu amor quase sufocante que cobre de beijos e nem escuta até o fim o pedido de perdão e o arrependimento. É esta a maior graça que peço para meus amigos e parentes ateus: o reconhecimento de que são filhos pessoalmente amados por um Deus desconcertante amoroso e às vezes desesperadamente respeitador da liberdade dada. Ele não se impõe, não sufoca, não fala demais, não se deixa manipular e espera e espera e espera com sua paciência mais que histórica, salvífica. O Pai. Nós sabemos onde Ele está. O movimento de espera é dele e o nosso é de voltar para casa pelo único caminho...
O Presidente Lula esteve aqui mas não houve maiores comentários. Somente soube que ele visitou o Museu do Holocausto em Jerusalém e que pediu mais diligência na resolução do conflito Israel - Palestina. O que melhorar a relação das duas nações afeta para melhor todo o conflito e tensão no Oriente Médio e os extremistas muçulmanos. Estes dois últimos dias houve confrontos entre palestinos e a Polícia de Israel na área árabe de Jerusalém. Mas assim como o resto do mundo estas notícias não nos atingem e só são vistas pela televisão. Aqui em Haifa tudo é bastante pacato e rotineiro.
No sábado teremos a missa de 40 dias pela morte do Edmond Rohana mas não temos obrigação de ir e enquanto não formos oficialmente visitar a família dele acompanhados pelo padre, é melhor evitar contato por causa principalmente dos jovens amigos. Mas não há nem haverá nenhum tipo de retaliação ou vingança, fiquem todos tranquilos.
De uma próxima vez publicarei o cartaz do Halleluya Israel em árabe. Rezem pela nossa abertura e confiança irrestrita na Providência Divina e para que este evento evangelizador traga a forte marca do carisma Shalom de alcançar o coração da juventude dando-lhes uma experiência viva com Jesus Ressuscitado.

domingo, 14 de março de 2010

A Vez da Alegria

A festa do Pai que cobre de beijos o filho que volta, como descrita no Evangelho de S.Lucas, é sempre uma leitura mais que comovente, é desconcertante. É Deus que me espera sempre e me quer perto de si. Neste Domingo da Alegria de 2010, fica forte em meu coração o entendimento de que os dois filhos desperdiçaram as próprias riquezas, não só o caçula. Os dois não conheciam o Pai. Um por avareza e fechamento, mantendo um coração pesado porque de pedra, incapaz de reconhecer o Rosto e a Intimidade do Pai, sempre ao lado. E o outro por desperdiçar a própria humanidade, o modo como o Papa João Paulo II definiu certa vez o pecado, ou seja, aquilo que afasta da Presença pessoal e amorosa de Deus e me cega para ela.
Estou perturbada porque é deste amor que tenho sede profunda. É nesta Presença que quero viver. É desta Presença que me espera primeiro, que me ama primeiro, que tudo já me deu, que quero falar. Ah! Se eu pudesse diria a cada pessoa que conheço: 'é tempo de cair em si mesmo e voltar para casa! Volta! Volta! Vamos juntos! Eu te ajudo! Um banquete te espera e ele tem gosto de amor gratuito, de perdão sem fim, de alívio da culpa e libertação do medo da morte. Vem, eu te ajudo! Vamos juntos!'.
E para quem pensa ou ficou inquirindo a si mesmo ou aos céus onde estava Deus nas catástrofes e terremotos que este ano assolaram o mundo, respondo com uma pergunta: 'você acredita mesmo que você se preocupa mais ou ama mais qualquer uma das vítimas, mortos ou sobreviventes, do Haiti ou do Chile que o Senhor que lhes deu a vida?'. Esta é nossa maior tentação: pensarmos que sabemos mais, amamos mais, vemos melhor, somos donos do que nos foi dado...o dom da vida e também o dom da morte. O axioma da existência para quem conhece Jesus e toda a Verdade que Ele revela passa a ser eternidade-amor de onde vim, vida neste mundo no Amor e eternidade-amor para onde volto, e não mais nada de onde vim, vida como destino e fatalidade, sofrimento e morte. Não. Também não dá para ser simplista nem Alice no país das Maravilhas, mas dá desejar ser sábio, manso, humilde de coração apostando tudo e aprendendo tudo com Jesus. Penso que esta experiência forte de morte que vivi por causa do acidente tem me levado a reverter e iluminar interiormente o que representa a morte para mim e como a vivo, honestamente.
Voltando ao texto de Lucas, na pessoa do Pai fica a certeza: seu abraço, seus beijos e conversa é sempre pessoal. Ele não nos trata à rodo, aos montes, em bandos. Ele chama pelo nome, espera na estrada, tem saudade de cada um. A dor e o sofrimento humano só podem ser satisfatoriamente abraçados pela chave de leitura que vem do Pai, em Jesus homem-Deus, crucificado e impotente de Amor. Mas para ler este texto só se o Espírito Santo o apresentar, se não é letra morta, é paradoxo inesplicável, é revolta em cima de revolta, é solidão existencial, ou simplesmente é indiferença.
Quisera eu que muitos nestes dias que antecedem a Páscoa pudessem também dizer: 'quero ver! vem Espírito Santo! quero voltar! vem Espírito Santo! quero conhecer este amor! vem Espírito Santo! quero ser beijado e abraçado! quero, quero, quero!'.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Quando a fraqueza bate à porta

O título diz tudo o que tem acontecido nos últimos dias: uma certa fraqueza física, um desejo de ficar quietinha, encolhida, se eu disser em posição fetal vão pensar que é depressão mas não é. Acho que é somente desgaste pela sucessão de fatos que passa pelo acidente e inclui a notícia das transferências e o quadro de erisipela que fiz mais uma vez, no braço direito. Mas vamos às outras novidades mais interessantes.
Para a nossa missão de Haifa chegará o Tiago, D2 ou discípulo de segundo ano da Comunidade de Aliança, de 24 anos, que virá por três anos . Desde 2009 o Conselho Geral da Obra começou a pedir às pessoas que se ofereciam para a missão no exterior, que se dispusessem a oferecer três anos por causa dos desafios de aprender um novo idioma, as questões culturais, de adaptação... Não sei quando o Tiago chega mas sei que ele é bem-vindo, fará compainha ao Leandro e vem de Salvador, na Bahia. Quem volta para lá também baiana, dando uma reviravolta na vida, com a graça de Deus, é a Viviane que após um longo discernimento passará para a Comunidade de Aliança depois de muitos anos como Comunidade de Vida. São os tempos e as obras perfeitas de Deus. Sentiremos falta dela, todos nós...não goste nem de pensar.
A missão sofre também outras mudanças logísticas neste tempo de preparo para o primeiro Halleluya Haifa-Israel que acontecerá no dia 7 de maio de 2010. Desde já peço orações e intercessão. O centro de evangelização que ficava no segundo andar de um prédio de dois andares ao lado da catedral católica melquita, foi transferido para uma velha casa nas mesmas imediações, onde a comunidade já morou há três anos atrás. Em termos de localização não podia ser melhor. Em termos de conservação não podia ser pior. A casa está caindo aos pedaços, porém, com as economias e doações de alguns e a ajuda da Cúria, começamos nesta segunda-feira uma reforma urgente na estrutura da casa - encanamentos e eletricidade. Somente o andar térrreo e o primeiro andar da casa serão usados, por enquanto. Neste espaço temos a capela e algumas salas, mais cozinha e banheiro que darão condições mínimas para reunir os jovens e atender as pessoas e tudo o mais que Deus quiser nos dar. Assim, em breve, teremos outra inauguração do novo centro de evangelização. Ele na verdade, está nas costas da escola católica de Haifa, ligada à diocese da Galiléia, a nossa, melquita, em cujo pátio, que dá para uma movimentada avenida de Haifa, acontecerá o Halleluya. Estamos no coração da cidade, no coração cristão árabe da cidade onde estão a maioria dos colégios e a juventude, em especial os adolescentes.
Não há novidades com relação ao processo que corre na Polícia e na vila o clima é cada vez mais distante do acidente. Domingo vi ao longe a avó do Edmund, a vítima, sentadinha no mesmo lugar, com a mesma fisionomia, toda de preto. Também eu estava de preto e sem maquiagem. Tenho evitado roupa colorida, mais ainda o meu tão querido casaco vermelho, pelo menos neste primeiro mês completado no próximo sábado, 14, para respeitar o forte costume local de manter o luto. Árabes e judeus usam e abusam do preto, e é bom aderir. Não é nem sacrifício pois não há quem não goste de preto e ache-o elegante, iludindo a silhueta como magra...
Fechei o diagnóstico com o homeopata e começo estes dias a medicação. Acho que vai continuar sendo bom porque o Dr.Murad além de longa anamnese me deu a providencial oportunidade de expressar-me longamente inclusive sobre o acidente e suas consequências... Foi um alívio e o sinal de que Deus, que cuida dos pássaros, cuida mais ainda dos filhos.

quinta-feira, 4 de março de 2010

As águas de março


'São as águas de março fechando o verão é a promessa de vida em nossos corações'... cantariam o Tom e a Elis lindamente. Para nós fecham o inverno. Chove e faz frio do jeito que eu gosto. Perdi meu guarda-chuva um dia desses, se eu me lembrasse onde, tentaria reavê-lo. Perdi também o controle de algumas situações. De mãos e olhos mais vazios vejo o que não via antes e posso acolher novos sinais e experiências de amor até então desconhecidas. Novos amigos, novos contatos, velhos amigos feitos novos na partilha da dor. Creio que passo por um processo de pobreza e esvaziamento, como dizem os místicos, para chegar à essência. Dói que só, mas é dor fecunda. Só assim é possível voar o vôo novo e livre de filha de Deus.

Continuo tratando da saúde e o homeopata ainda não fechou o tratamento. Haja conversa! Está quase virando terapia mas tem valido a pena por conta do exercício incrível de expressão e síntese em outra língua, buscando a palavra exata e verdadeira de relato da própria história e sintomas. Ele tem me feito falar sobre o acidente e as consequências do bendito.

Sinto-me um pouco cansada, mentalmente falando, por conta de tantas experiências e impressões novas, inputs, vividos nas últimas semanas. Também me desagrada não manter o ritmo de reposta aos emails recebidos...não tenho dado conta mas agradeço o carinho enorme das pessoas e o rio de orações que me alcançam e me dão o tom e o sabor certo de viver a vida, esta vida que levo hoje, de agora, em confiança, e no amor de Deus que me cerca por dentro e por fora, de todos os lados. Minha alma está em paz.

É quaresma, é tempo de dar atenção aos passos do Senhor que vem e se aproxima mais. E Nele eu sei que 'É promessa de vida em nossos corações!'.
Quanto à foto...é de sábado passado, no Muhrakah, como sempre, quando os dois húngaros da foto, os únicos rostos novos, Simon, ao meu lado e Father Albert nos convidaram para comer um gulash prato típico deles. Juntamente com o Padre José, queriam nos distrair, alegrar e nos proporcionar um lazer depois de duas semanas tão intensas. Foi ótimo, estava uma delícia. Tiramos fotos e conversamos muito, muito como bons amigos fazem, em inglês, espanhol, português, tinha de tudo.