quarta-feira, 30 de julho de 2008

Frutas e Títulos

Quem já pegou fruta no pé sabe a delícia que é saborear atas, mangas, cajus, muitas jabutucabas, colhidas bem fresquinhas e doces, em temperatura ambiente. Por ter vivido toda a minha vida em metrópole, no Rio, esta experiência só a tive, praticamente, na vida adulta, mas nem por isso ela deixa de ter menos sabor de infância.

Dessa vez, aqui em Israel, as frutas mudaram, tornaram-se menos tropicais: agora são figos e uvas verdes dos pés que temos no quintal de casa! Ontem, ao chegar da camihada, estendi a mão e peguei dois pequenos e maduros figos que me esperavam no galho que ultrapassa o portão de ferro da entrada da casa, e fica exposto ao gosto do primeiro freguês que dele se aproxima, ao passar na calçada. As crianças não deixam passar um, mas ontem fui eu quem vi primeiro! Na hora do jantar, o Leandro, aquele mesmo da foto postada no blog, chegou com um cacho de uvas verdes bem maduras, da parreira que fica no quintal, para sobremesa de todos nós. Maravilha! Frutas e alguns legumes que no Brasil são bem caros, como o pimentão vermelho e amarelo, o tomate cereja e as nêsperas, pêssegos, uvas e pêras, aqui são bem acessíveis. Quem gosta de fruta se farta!

Na segunda-feira fomos fazer uma visita de felicitações a uma senhora, funcionária do asilo, pelo nascimento de mais um neto. É costume, em ocasiões de nascimento de uma criança, oferecer um chá que a própria mãe já vem tomando, e que faz bem para a recuperacão de seu organismo após o parto, e que também é oferecido a todas as visitas que aparecem para conhecer o bebê. O nome do bendito chá eu não guardei, só sei que é uma mistura forte de gengibre, canela, noz-moscada, cravo que fica em infusão por X tempo e depois é servido com nozes. Mesmo achando muito forte eu me deliciei (que novidade!). Minha natureza italiana e minha criação me ensinaram a apreciar e querer experimentar coisas novas. Teve gente lá de casa, da Comunidade, que só de sentir o cheiro ja ficou enjoado e comeu só as nozes que são servidas, picadas, dentro do chá.

A avó, que é a pessoa amiga do Shalom, e a conhecedora dos segredos de como melhor preparara o chá, que remonta a uma tradição bem antiga, se chama MM'Fâda. Por causa de seu nome, eu acabei descobrindo um costume árabe que se extende a todo o Oriente Medio, bastante interessante, e que tem sido um pouco abandonado pelas gerações com menos de 40 anos. Mesmo assim ainda permanece muito presente na cultura. Quando uma mulher se casa ela só se torna Sra. Fulana de Tal quando nasce seu primeiro filho homem. Se ela tiver somente filhas mulheres, ela será sempre chamada pelo seu primeiro nome. Ter só filhas mulheres é considerado uma grande tristeza pois, lembremo-nos, quando as filhas se casam elas passam a 'pertencer' mais à familia do marido do que a sua familia de origem. É como se a mãe fosse fadada a envelhecer sozinha com o marido. Nao sei se é bem assim que acontece atualmente, mas essa é a lógica. Quando o primeiro filho homem nasce, a mãe passa a ser chamada MM' e o nome dado ao filho, ou seja 'a mãe do fulado', e isso corresponde a ela passar a ser conhecida como Sra.Fulana de Tal.
No nosso caso, a senhora teve seis filhos, três homens e três mulheres, mas é chamada de Mãe do Fâda, ou MM'Fâda. E mais, o nascimento do primeiro filho homem muda também o nome do pai que passa a ser chamado de AbuFâda. A Comunidade tem um amigo, um senhor, sogro da Lucy, aquela que já esteve no Shalom em Fortaleza, no Jubileu de Prata, que se chama AbuAcran, ou seja, o pai do Acran que, coincidentemente é o marido da Lucy.

Nao é super interessante? Fiquei pensando que a mamãe se chamaria MM'Marco e o papai AbuMarco. A Emmir seria MM'Regis e a tia Nair só teria mudado de nome e se tornado uma senhora depois da sexta gravidez, e passaria a se chamar MM'Moysés. Tenho certeza que ela nao se importaria nem um pouco com esse novo titulo, e não lhe seria nem um pouco penoso, não é mesmo?

Como é que ficaria o nome da sua mãe?
Deus abençoe a todos os abus e a todas as MM que, eventualmente, lerem esta mensagem. Ah! e é claro, abençoe os solteiros, celibatários e mães de somente meninas, sem contar os pais e as mães espirituais!

terça-feira, 29 de julho de 2008

Lembrete para quem vive com outros

Recebi esta mensagem da minha amiga e ex-colega de mestrado, Angela, e achei-o divertido e pertinente para quem vive em família ou em comunidade, trabalha em equipe e sabe o que é o desafio de partilhar tarefas e obrigações, nas diferenças familiares e de educação. Que em tudo exercitemos o perdão do Evangelho de domingo passado e cultivemos a alegria de cada dia. Mais tarde escrevo mais:

"Não é comigo"

Esta é uma estória sobre quatro pessoas: o TODOMUNDO, o ALGUÉM,
o QUALQUER UM e o NINGUÉM

Havia um importante trabalho a ser feito e TODOMUNDO tinha certeza de que ALGUÉM o faria.

QUALQUER UM poderia tê-lo feito, mas NINGUÉM o fez.

ALGUÉM zangou-se porque era um trabalho de TODOMUNDO.

TODOMUNDO pensou que QUALQUER UM poderia fazê-lo, mas NINGUÉM imaginou que TODOMUNDO deixaria de fazê-lo.

Ao final, TODOMUNDO culpou ALGUÉM quando NINGUÉM fez o que QUALQUER UM poderia ter feito.

Autor desconhecido.

domingo, 27 de julho de 2008

O Pão, a Henna e outras coisinhas

Realmente a escrita virtual ou hipertextual é sensacional! Ela exige uma capacidade de síntese e uma clareza imensas - se escrevemos para ser lidos até o fim - e é um veículo inigualável de comunicação entre as pessoas. Como me sinto satisfeita por este despretensioso meio que me leva ao exercício delicioso da escrita, como modo de fazer memória e de contato. Escrever é um dom valiosíssimo! Fico feliz e me sinto lembrada quando encontro um comentário ou fico sabendo de alguém que andou dando uma olhadinha no blog: Ney, Evelyn, Trindade, Mercedes, Iúta, Zezé, Vania, Bill, Pe.Marcos, tanta gente do Shalom...
Hoje estou muito cansada. Resolvi dar uma força mais total na cozinha este fim de semana e juntando com as duas noites mal dormidas por conta de tentar acompanhar o Halleluya via internet, madrugada a dentro, fiquei quebrada. Tipo sofrimento pós Fantástico que muita gente passa no Brasil, pensando que amanhã tem trabalho. No meu caso o problema não é o trabalho, mas levantar às 6:15! Vou dormir mais cedo, é a solução. Só estou escrevendo porque não posso nem quero deixar de fazê-lo. Na cozinha tentei fazer a velha e conhecida receita de pão de batata mas o forno elétrico - diferente para mim - e o fermento vencido - que eu não sabia, claro - nos deixaram a todos com gosto de 'que pena!'. Fiquei frustrada. Todo mundo da casa arriscou comer aquela coisa dura, mais parecendo pão italiano, para aproveitar a tão esperada 'manteiga de verdade' que eu comprei para o 'evento', dizendo que estava uma delícia... mas não passou de pura caridade. Mas faz parte de quem se aventura na cozinha. AInda bem que o molho do cachorro-quente de ontem saiu 'tudo de bom'! Só não me peçam para repetir a receita que é capaz de não sair igual.
Como disse num email há pouco, para uma amiga, talvez essa decepção culinária-fraterna, faça parte da salutar fase que comecei a viver. Realmente a fase da novidade, como se tudo 'fossem férias e que eu voltar para casa' já passaram. As coisas, as pessoas, o trabalho, a vida comunitária cada vez menos têm beleza e feiúra fantasiosas, e vão adquirindo seu brilho e desafio devidos. É exatamente isso que tem acontecido, graças a Deus. De festa em festa, de casamento em casamento, de idas e vindas para o trabalho e convívio com os irmãos, vou vivendo.
Da semana passada é importante deixar registrado que comecei a fazer caminhadas de uma hora, no final da tarde, após a missa das seis, quando o sol está mais fraco. Como estamos no verão só escurece por volta das 20h. Emagrecer que é bom ainda não comecei porque os carbo-hidratos e os açúcares são por demais tentadores, mas eu chego lá. Quero chegar a andar ao menos cinco dias na semana, e amanhã começo esta fase.
Como havia comentado, a henna no cabelo deu certo! Vou fazer uma economia e tanto! A Silvânia foi quem passou ontem, sábado, com a maior paciência, nos meus cabelos brancos e o resultado foi jóia! A henna que tínhamos em casa eram dois sachês dados como lembrança do casamento muçulmano sobre o qual falei há alguns dias. Vou começar a semana parecendo que fiz luzes. Quem quiser repita a idéia: dar henna de lembrancinha de casamento!
Amanhã escrevo mais. Como falei, estou cansada. Preciso dormir mais cedo. Hoje não tem Halleluya. Espero que a palavra do Evangelho deste domindo, que falava sobre o perdão - pelo menos é o texto usado na igreja melquita - possa ser colocado em prática por todos nós, com a graça de Deus e a nossa abertura de coração. E ainda por ontem, 26 de julho, para quem é e tem: feliz dia dos avôs e das avós!

sábado, 26 de julho de 2008

A Saudade

Que vontade de dar um abraço e ouvir a voz das pessoas mais próximas, mais queridas, mas também, que vontade de ouvir português na televisão, na rua, nas lojas! Que vontade de comer carangueijo na praia - de preferência com minhas amigas Rocaia e Jan, que são aficcionadas -, dormir de rede, tomar guaraná diet, ir à livraria Siciliano no Shopping! Que saudade dos sons e das cores do Brasil, do rosto e do jeito brasileiro de ser que em mim é um mosaido carioca, paulista e cearense, mais o familiarmente mineiro. Saudade do mar de Fortaleza. Saudade da missa latina no Shalom da Paz e de todos os irmãos e irmãs. Saudade dos amigos da Faculdade em Quixadá e do ótimo tempo do mestrado. Saudade da pressão gerada pelo estudo com data, hora e prazo. Que vontade de ver tantas pessoas e abraça-las somente e sairmos para tomar uma cerveja, um sorvete, uma comida japonesa. Saudade do real - o dinheiro - e de dirigir. Hoje meu coração acordou no Brasil e nas pessoas do Brasil. Ele nem precisou viajar tantas horas como eu para chegar ou partir, bastou a memória visita-lo e meu coração abrasileirou geral! Verde, amarelo e azul. Flamengo. A Derci que morreu. O Halleluya abarrotado de jovens e adultos. Movimentos interiores e a paz de quem busca acima de todas as coisas uma vida coerente. Hoje eu acordei querendo ser a 'Jenny é um gênio'. Quem se lembra dela? Beijo a todos!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Almoço e outra festa!

Só para deixar registrado que hoje, na Cúria, celebramos os 43 anos de ordenação sacerdotal do arcebispo que a gente continua chamando carinhosamente de abuna, que significa nosso pai em árabe, e que é a maneira como todos os padres são chamados, inclusive os casados! O Abuna Elias Chacour estava feliz e recebeu de Deus algumas boas notícias que o deixaram muito feliz. Uma delas é que as irmãs que cuidam da cozinha, libanesas, Melanie, Emily e Denise (este último nome não tenho muita certeza porque ela é, das três, a religiosa mais tímida e a que não sabe uma palavra sequer em inglês), receberam visto definitivo de Isreal e podem transitar livremente nos dois países. Para quem não se lembra, Isreal cortou ligações diplomáticas totais e definitivamente com o Líbano, desde a guerra de 2006, e esta liberação dos vistos representa uma vitória diplomática. O sayeedna, que significa bispo, estava feliz e grato ao Senhor também, pelo chamado ao sacerdócio. Deu sua bênção muito calorosa e disse palavras de gratidão a cada funcionário - ele é verdadeiramente um homem extraordinário! - e nos convidou a todos para almoçar com ele. É claro que ninguém recusou :). Não preciso nem dizer que hoje eu acrescentei alguns bons metros à minha caminhada! Que o Senhor sustente a saúde e a santidade deste homem de Deus, e o use sempre mais corajosamente para construir pontes de paz nesta Terra Santa!
Preciso comentar mais sobre ele numa próxima oportunidade, e o que tem significado para mim trabalhar naquele escritório. Parabéns, abuna! Todo o Shalom do Pai seja derramado em seu coração! Amém.

Mais festa! Quem é que aguenta?

Só para dar continuidade ao assunto de ontem, pois as meninas aqui de casa voltaram entusiasmadas, um pouco mais sobre o jantar do casamento! A festa continuava sendo da noiva, e da família dela, só que ontem o noivo foi trazido nos braços pelos amigos e familiares, em determinado momento, já da metade para o fim, depois do jantar, para dançar com a noiva em frente de todos, selando assim, mais um passo do compromisso. Nesta hora que o noivo chega, ela veste uma roupa de beduína (?!), só com os olhos de fora, disseram que linda, preta bordada de vermelho, com um véu lindíssimo até a cintura. Até então ela estava vestida de noiva e em meio à roda dançava para todos e em frente a todos aquelas melodias bem árabes, que para os nossos ouvidos ocidentais, soam muito estranhas. O vestido de noiva será usado novamente amanhã, 6a feira, na cerimônia religiosa, que é a mais discreta e que acontece na casa do noivo. Também aqui o noivo não deve ver a noiva de vestido branco antes da hora. Além de dançarem juntos, há um segundo ritual que sela a união do casal e que gera a maior choradeira na própria noiva, mãe, irmãs, avó, toda a parentela: uma determinada pessoa unge as palmas da mãos da noiva com henna e ela dança perante todos mostrando as mãos, como sinal que daquele momento em diante ela está marcada para ir para a outra família e romper com a sua. Isso é simbólico e significativo porque quem traz a bandeja com a henna a ser aplicada, selando a noiva, são os amigos e parentes do noivo no mesmo momento que o trazem no colo. Eu estou contando todos estes detalhes do jeitinho com que me contaram...não sei se a gente, que não é parente e é cristão, poderá participar do ato religioso final, mas eu prometo que conto depois, mais ainda que a tecnologia também beneficia estas tradições centenárias árabes: tudo foi e será filmado!
Ao pensar e relatar esta semana de casamento, o tempo de noivado que o precedeu, e todas as características da cultura árabe e palestina que permeiam as religiões daqui, fico pensando na fé de Nossa Senhora e no amor de S.José. Que pureza de corações e que retidão diante do Deus de Abraão! Engravidar antes... que loucura! A fuga dele para protegê-la, pelo menos um pouco...! E a soberana vontade do Senhor que decidiu que aquele dia e aquela hora era a plenitude dos tempos e não no mês seguinte, como a gente, em nossa pouquíssima confiança, tantas vezes sofre, quando os nossos tempos não combinam com os tempos de Deus. E a vontade dele para nós e o que Ele faz e o quando faz, sempre correspondem à plenitude dos tempos para a nossa vida! Fácil falar e nem tanto viver, mas não deixa de ser fantástico!
Que o Senhor nos sustente a fé e o amor, e nos ensine a viver a confiança e o abandono, descomplicando a vida. Que Ele nos ensine a viver intensamente cada hoje interior e exterior que temos para viver, assim como Maria e José, abandonando o passado e o futuro nas mãos daquele que é Senhor e soberano, e que tudo disporá para o nosso bem, porque nos ama!
E para terminar, com essa história toda, acabei descobrindo que é facílimo encontrar henna aqui, de ótima qualidade, para tingir os cabelos. Já vou fazer esta experiência no próximo sábado, lembrando dos meus anos em SP, com os cabelos brancos cobertos de henna vermelha! Ficava tão lindo que muita gente pensava que eu fazia luzes! Sem dúvida é uma 'lambrequeira' só na hora de aplicar, mas o resultado... se der certo eu prometo uma foto! Fui! Shalom!

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Casamento Muçulmano

Ontem fomos convidados, todos nós da Comunidade, para um casamento muçulmano, da filha de uma das funcionárias do asilo de Isifiya. Só que na verdade era somente uma das festas, pois um casamento árabe dura a semana inteira. Bem do jeito que a gente vê nas Bodas de Caná. Hoje, por exemplo, tem o jantar oficial do casamento, para o qual foi distribuído um convite que trazia anexo um envelope para os convidados doarem dinheiro para os noivos. Ao chegarem no jantar as pessoas devolvem o envelope recheado com as suas doações. Como esta realidade para a Comunidade fica inviável, somente três pessoas, Lorena, Duca e Viviane se emperequetaram e estão lá, se divertindo. Mas foram for 'free', à convite especial da mãe da noiva.
A cerimônia religiosa do casamento será somente na sexta-feira, mas durante uma semana há festas na casa da noiva e do noivo. Para ela as festas são meio de despedida já que na cultura árabe a família do noivo que ganha uma filha, enquanto que a da noiva, perde.
As rodas nas festas são separadas e homens e mulheres não se misturam, nem conversam. Ontem, quando chegamos os 'meninos' do Shalom já foram chamados a se unir à rodinha dos homens. A comilança é para todos e aí, ai meu Deus, mais uma vez, que fartura: um charutinhos de folha de uva, do tamanho de um dedo, simplesmente deliciosos, tabule fresquíssimo perfumado de hortelã, e uns salgados de batata, assados, em formato de rolinho primavera de restaurante chinês. O que mais me impressiona é que é tudo feito em casa, em quantidade, e a comida é por demais saudável! Nada de gordura! Depois ofereceram uns grãos amarelos, que parece grão de bico mas não é, e que se come como se fosse aperitivo, tipo amendoim ou castanha. As bandejas de fruta correm livres e como estamos no tempo das uvas e dos figos (só me lembro da mamãe!), havia abundância destas frutas, mais peras, maçãs, nêsperas e pêssegos. Nada de banana ou manga, nem abacaxi ou laranja, que seria nossa bandeja tropical.
A hora dos doces é que foi a perdição: frescos e crocantes, cheios de nozes e mel, alguns com pistache que eu amo, sem contar um que eu nunca tinha experimentado que é uma tâmara aberta no meio recheada de nozes. Dá pra acreditar que há irmãos que detestam este docinho? Também serviram uns mini-sorvetes, do tamanho de um bombom Garoto, chocolate por fora recheado com sorvete de baunilha (este é o predileto de todas as gerações e religiões!). Na grande roda onde todos se sentam, havia o grupo das amigas da noiva, e outro de parentes de todas as gerações. Entre as amigas, vimos uma das moças pegar como se fosse um atabaque pequeno e começar a cantar canções de 'boa-sorte' para a noiva. Tive a impressão que estas canções são meio tradicionais.
Depois uma priminha, de uns 11 anos, começou a fazer uma 'saudação musical típica', de linha melódica conhecida, mas livre, rimada e espontânea nas palavras, que eu compararia com um 'repente' nordestino. Me parece o mais próximo se comparado com a nossa cultura. Todo mundo acompanhou batendo palmas e aí ela foi convidada a dançar. Uma graça total! É de berço que se aprende a dança do ventre. É natural se saber aquele molejo das 'cadeiras' como as crianças brasileiras arriscam sem pestanejar um samba no pé, ou o molejo do forró. Eu fiquei encantada, por essa experiência árabe de casamento, mais ainda que por ser a família muçulmana, havia mulheres religiosas vestidas à caráter, de véu e bata longa, preta, de manga comprida, cercadas por um outro tanto de mulheres acidentalizadas e cristãs. Só não havia judias.
Foi uma noite muito especial e eu espero que o amor deste casal seja abençoado pelo Senhor! E para terminar com um pouco de graça, não há uma só fez que a Comunidade participe de alguma festa familiar como a de ontem que, ao terminar, na hora da despedida, nós, as mulheres solteiras, principalmente, não recebamos os mais entusiasmados votos de um bom casamento para breve! Inshalá! Deus permita, como se costuma responder em bom árabe. E entre nós há muitas que ainda têm esperança e aceitam a bênção de bom grado!

terça-feira, 22 de julho de 2008

Ainda mais fácil como deixar um comentário

Para ajudar quem é menos experiente no uso da tecnologia e que me pediu ajuda, tipo a minha querida Trinity, pois achou a explicação do Felipe ainda meio difícil, fiz a seguinte tradução. Eu mesma acabei de testar e não tem como errar. Não vou comentar o que não interessa, ok?

1 - Quando vc acaba de ler o que escrevi, no fim do texto da data que vc estiver lendo, tem assim: postado por Elena a tal hora e do lado a palavra comentário (às vezes terá zero se ninguém comentou nada ou o número de postagens feitas). Vc vai clicar em cima da palavra comentário(s).

2 - Uma nova janela vai se abrir. Nesta nova janela, do lado direito tem escrito em preto faça um comentário, e um espaço para vc escrever. Escreva e assine.

3 - Assim que terminar, abaixo deste quadrado onde vc escreveu, vc terá que copiar, num quadrado pequeno, umas letras não uniformes - geralmente em azul - que aparecem. Copie com atenção do mesmo jeito que elas aparecerem: minúsculas e maiúsculas. Isso existe para proteger o usuário de um doença virtual chamada spam.

4 - Depois, em laranja, tem uma instrução de vc escolher uma identidade. Para ficar mais fácil para vc: assinale o último item que é anônimo (pois eu te reconhecerei pois vc terá assinado a mensagem deixada).

5 - A seguir mande postar a mensagem (que é a opção escrita em laranja).

6 - Pronto! Eu receberei todos os seus comentários.

Espero que tenha ficado mais fácil. Ninguém vai ter que chamar ninguém para ajudar e explicar novamente porque seguramente vai dar certo! Um beijo!

Como postar um comentário

Amigos,
o meu amigo Felipe, que trabalhava comigo na Faculdade Católica em Quixadá, me enviou as dicas de todos os passos necessários para se enviar um comentário. Para quem não sabe, siga as instruções abaixo e escrevam sempre! Até depois :)
Tutoria para postar comentário :D-
No final de cada post tem o link dos comentários. Ao clicar nele, vai abrir uma nova página com os comentários do post e com um formulário para um novo comentário.
Depois q a pessoa escreve o comentário, tem um campo pra digitar aquelas letras chatas distorcidas que aparecem em uma imagem (a verificação anti-span captcha).
Logo abaixo tem a opção pra selecionar uma identidade.
1. Usuário bloger (se a pessoa estiver logada com a sua conta do google, basta comentar e enviar que o nome ja vai ser inserido automaticamente.)
2. OpenID. Eu não vou saber explicar isso, simplesmente não use =D
3. Nome/URL. Se a pessoa não tem conta no google/blogger e nem open ID, ela vai escolher essa opção pra digitar o nome e site (se tiver) pra servir de identificação no comentário
4. Anônimo. Esse eu não preciso explicar...
Depois disso é só clicar em Postar comentário, ou se preferir, visualizá-lo antes.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Cenas Urbanas

Quisera já ter conseguido comprar minha câmera digital, para ilustrar um pouco o que resolvi comentar hoje aqui no blog sobre as pessoas que vejo diariamente no trajeto do ônibus que pego por volta das 8 horas para Haifa. Aqui na vila sobem alguns jovens que estudam na Universidade de Haifa e que fica há poucos minutos de Isifiya, bem no limite dos municípios. Estes se parecem com todos os jovens do mundo de hoje: calça jeans, os rapazes de camiseta e tênis, e as meninas, algumas de barriga de fora e blusinhas diversas, algumas baby-look, muitas com as alças do sutian aparecendo ou alças de silicone (não tem coisa mais feia para mim do que alça do sutian aparecendo!), sandálias e muita, muita maquiagem. As moças árabes são geralmente morenas de cabelo castanho e preto, muitas têm olhos verdes ou esverdeados como os rapazes. Traços fortes, narizes marcados, um conjunto agradável, muita gente bonita. Aqui eu nem sinto que o meu nariz é bem grandinho... Não noto ninguém usando grife, ao contrário os 'modelitos' são bem comuns. Talvez quem use grife tenha carro e não ande de ônibus, mais ainda porque os carros aqui são relativamente baratos comparados com os preços do Brasil. As moças judias e os rapazes são mais clarinhos, muitos louros e algumas ruivas. Eles mais parecem americanos que judeus no jeito de ser e de se vestir. Com certeza é a inegável influência dos EUA na cultura. Tenho visto rostos muito bonitos.
Sem dúvida os celulares são um vírus mundial e todos, de todas as raças, rostos e idades atendem e falam no celular alto e à vontade no ônibus, em árabe ou em hebraico. De vez em quando até os turistas se soltam no inglês. Outro dia tenho certeza que tinha um brasileiro no ônibus, com camisa da seleção brasileira e uma cara bem da gente, que só se percebe que existe quando vemos e comparamos com outros traços e feições. Nós brasileiros temos um jeito próprio nosso, mesmo que ele possa ser bem diversificado se compararmos um sulista com um nortista. Mas com esse brasileiro do ônibus não tive jeito de puxar conversa. Eu geralmente aproveito esta hora e pouco do trajeto para olhar, observar e rezar o meu terço diário, inclusive nas intenção dessas pessoas que estão comigo, pois o Senhor as ama e mesmo que não saibam ou não creiam, ou o chamem de Alá ou de Adonai, foram 'adotados' por Nossa Senhora aos pés da Cruz. Isso é o que importa.
Há muitos idosos, muitos mesmo, a maioria judeus. É que o ônibus passa nos bairros altos de Haifa onde estão as pessoas mais abastadas e as casas mais luxuosas da cidade, e aí a terceira idade desce em peso para o centro da cidade, para fazer compras ou sei lá o que. As mulheres todas têm o cabelo pintado - entre as jovens e adultas há muita tinta no cabelo também - e aqui é mais um país onde a Loreal tem freguesia garantida. Inúmeras as loiras artificiais e as de cabelo vermelho, laranja, quase vinho...dá de tudo. Cachorros aqui só andam de coleira e são rigorosamente vigiados. Pela manhã há alguns que saem com seus donos, na maioria idosos, para passear, mas nada que se assemelhe, por exemplo ao que a gente vê em Copacabana, em número de donos e de cães. Os árabes gostam demais de gatos e há muitos perambulando onde moro, mas já os vi também em casas perto do trabalho, do trecho curto que ando entre o ponto de ônibus e a Cúria.
Parece que há algumas pessoas idosas - vejo sempre um senhor e uma senhora em pontos diferentes - que se sentam ali mais para puxar uma conversa ou ver as pessoas, se distraírem, do que mesmo para irem a algum lugar. A conhecida experiência da solidão humana que pede um dedo de prosa e atenção, seja aqui ou acolá, em qualquer cidade do mundo, em todos os idiomas. Mas estamos em área judia. Os árabes culturalmente cuidam mais de seus idosos - não quero dizer com isso que não haja solidão - e só alguns vão para o asilo, isso porque eles moram juntos, em casas que mais parecem prédios de dois andares, muito boas, nada de 'puxadinho' ou uma edícula, como se diz em SP. Os pais, ao verem suas filhas ficando moças 'na idade de casar', já constroem o andar de cima da casa para ela(s), e assim as gerações vão ficando juntas, vivendo e passando as tradições, os segredos culinários, os afetos e os desafetos, mas sempre juntos. Árabe é gregário e é família. Isso acontece tanto com os árabes cristãos com quem tenho mais contato como também com os Druzi, que são uma seita muçulmana muito forte em Israel, responsável pela maioria dos que formam o seu exército.
Há lindos jovens judeus, rapazes e moças, que de uniforme, alguns até carregando metralhadora, diariamente, pegam ônibus comigo e descem num mesmo ponto que vai para algum lugar que eu ainda não descobri qual é. Talvez um quartel ou coisa do gênero. Mas fora esta juventude judaica, quem engrossa as fileiras do exército de Israel são druzi, muçulmanos, cuja 'religião' apregoa uma grande fidelidade às autoridades do país onde estão. Eles se vestem de maneira particular, principalmente os adultos. As crianças são 'livres', mas as adolescentes já tem que andar de saia comprida - mesmo que seja jeans e tênis All Star - e blusa de manga comprida e cabeça coberta com um véu branco. Os druzi ortodoxos andam de roupa totalmente preta. As mulheres com um camisolão e o véu branco e os homens de blusa branca e uma calça preta bem largona do joelho pra cima, cheia de pregas, que mais parece um fraldão. Eles usam um chapéu redondo branco sem aba, ou um gorro branco, todo o tempo. Da mesma maneira muitos judeus vestidos à ocidente também não dispensam o 'quipá' que é aquele gorro minúsculo, redondo, que eles colocam no alto da cabeça, às vezes só cobrindo a coroa da careca e que eu morro de curiosidade de descobrir como é que eles fazem para não cair com o vento!
Depois dos druzi vestidos de preto e andando pra cima e pra baixo neste calor imenso, sobram as figuras mais estranhas de todas, que até hoje eu só tinha visto em filme americano ou na televisão, que são os judeus ortodoxos, homens obviamente. Há um bairro que é exclusivo deles e aí basta fazer uma curva e se passar ao lado de uma grande escola rabínica para se ver aqueles figuras de chapéu preto alto, com abas, de longas barbas, pretas ou já prateadas, camisa branca e um paletó também preto e longo. As meias e os sapatos são pretos e, o mais divertido, as calças pretas cortadas no meio das canelas - é tão engraçado, para não dizer ridículo. A primeira vez que eu vi um grupo deles, além de achar interessantíssimo, lembrei logo daqueles personagens do filme 1 do Senhor do Anéis que são os bobits. Acho que é esse o nome. Umas figuras estranhas, descertantemente diferentes de tudo o que eu jamais tinha visto, muitas vezes baixos e com aquelas calças curtas... Tutti buona gente, diriam os italianos contemporizando. Às vezes são pais levando seus filhos para o colégio e indo à padaria, gente como todas as pessoas só que judeus ortodoxos, que significa isenção da vida militar, serem pagos pelo governo para estudarem a Torá, e se vestirem desse jeito.
E assim sigo eu dia após dia, bastante alienada das conversas porque não compreendo nem o árabe nem o hebraico, mas talvez por isso mesmo, tendo condições de observar tantas pessoas e ao admira-las, pensar que cada uma delas também é amadíssimo e amadíssima do nosso Bom Deus, o Pai de todos, que deixa misteriosamente que permaneçam no mundo por causa de sua paciência e misericórdia, o joio e o trigo presentes em cada coração e em cada raça e rosto que vivem nesta Terra Santa. Amanhã escrevo mais! Shalom a todos!
PS - Várias pessoas têm me escrito emails perguntando se eu sei o que elas têm que fazer para conseguir postar um comentário. Eu não sei! Se vc que me lê, souber, por favor me explique para eu divulgar. 'Brigadin!'

domingo, 20 de julho de 2008

S.Charbel e S.Elias - Um mês de missão

Infelizmente nesta foto houve quem ficasse na sombra, mas aí estão todos os que moram em Isifiya comigo. Cheguei há exatamente um mês e, coincidentemente pude participar hoje de uma grande festa na vila e em todo o mundo cristão oriental, pois dia 20 de julho é dia de S.Charbel, monge libanês, muito importante para os cristãos da tradição maronita e de Mar Elias ou Santo Elias (o profeta do Antigo Testamento), importante para todas as tradições. Inclusive muçulmanos e judeus o respeitam e veneram. Na missa pela manhã, na igreja de rito melquita, havia um ícone belíssimo representando o profeta.

Neste mês já vivi tantas coisas... sinto-me grata e em paz, mesmo sabendo que a missão mal começou. A vida comunitária entre os irmãos corre tranqüila porque como somos todos mais adultos e, portanto, mais amadurecidos, inclusive na experiência de vida em comum, no exercício das virtudes, no respeito dos limites e na responsabilidade dos deveres de cada um, ninguém deixa a peteca cair - pelo menos por enquanto. Não deixa de ser fruto também de uma graça sobrenatural que é a experiência de partilha de uma mesma vocação, gerada e vivida na fragilidade humana - somos vasos de argila - mas regada na oração e sustentada pela concretude do amor de Jesus, vivo e ressuscitado em nós e no meio de nós - o tesouro guardado nestes vasos. Não dá para explicar muito, dá para viver, dá para ver. O bom da vida comunitária é a alegria, é a companhia, é a correria. Todos trabalham muito, mais ainda porque vivemos todos em Isifya mas a maioria trabalha em Haifa e por isso é um tal de sobe e desce de cá para lá e de lá para cá, que é uma loucura. Em Haifa temos os irmãos da Obra, árabes, paroquianos, jovens, adultos e casais, que são acompanhados e freqüentam o grupo de oração e o Centro de Evangelização (o que foi inaugurado dia 9 de julho). Também em Haifa há a pastoral com os judeus que fica por conta da Viviane que foi a única que estudou hebraico até agora. Aqui na vila temos o asilo que mescla recursos do Estado e da Diocese e que está sob a responsabilidade da Comunidade. Há os profissionais das áreas médicas, de terapia ocupacional, cozinheira, motorista, etc, mas quem faz companhia, resolve todos os problemas e coordena tudo é o Shalom. Como todos sabem, em missão fora do Brasil, não há nenhuma 'tia' para nos ajudar a cozinhar, lavar roupa, passar roupa, fazer faxina na casa. Todos fazem tudo. Daí estarmos semre ocupados, e isso é muito bom. Ninguém tem tempo de 'implicar' com ninguém... Há momentos de lazer comunitário - vimos no computador uma comédia ótima no sábado - e há momentos livres também, como é o meu agora 'pendurada' no computador, mas acho que o segredo de tudo mesmo é a graça da vida de oração pessoal e comunitária que transborda numa convivência salutar. O rapaz da foto acima com blusa meio alaranjada, o Camilo, despediu-se ontem pois saiu de férias e depois segue para a Tunísia, na África, onde será aberta uma nova missão no mês que vem. Como ele já fala razoavelmente o árabe, foi escolhido. Vamos sentir falta dele. Que o Senhor o abençoe! E que S.Charbel e S.Elias intercedam para que ele faça com perfeição e alegria a vontade de Deus.

Por fim queria lembrar a alegria de ter ouvido o Evangelho de hoje, a parábola do joio e do trigo, que crescem paralelamente por causa da paciência de Deus, que sempre espera que seus filhos se voltem para Ele. Que despertem de uma vida simplesmente funcional e periférica e se lembrem de seus corações, de suas almas, e do amor revelado aos homens, por Deus Pai, na pessoa de Jesus. Deus é tão simples, a vivência do próprio batismo é tão simples, correr de volta para a casa do Pai é tão simples...mas não deixa de ser mistério porque acontece no interior do coração de cada pessoa e este momento do 'toque do Senhor' é suave e é uma graça particular, cuja metodologia não se repete. Shalom!

sábado, 19 de julho de 2008

Um Bom Conselho



Nesta foto estamos Profa. Iúta e eu, em 23 de julho de 2006 na UECE, no dia da minha qualificação de mestrado. Tive o presente de Deus de ser orientada por pessoa tão competente que se tornou também, amiga.

Cada dia aqui é tão intenso que se a gente não escreve um dia, no dia seguinte já ficou antigo. Hoje recebi da Iúta, minha amiga e professora e ex-orientadora de mestrado, um sábio conselho: que na linguagem virtual, neste blog eu 'tomasse cuidado com a minha intimidade, com esse momento de necessidade de expressão, pois o que se diz fica registrado (...). O blog é seu, assim como as impressões, mas cuide-se para não se expor (...). É bom a gente divulgar bem o bem. Se cuida'. Gostei demais dessa última frase divulgar bem o Bem que eu optaria por colocar em maiúscula.


Talvez o Espírito do Senhor, que sopra onde quer, esteja querendo me ensinar a interiorização e a discreção, pois mesmo sendo a respeito de assuntos muito diferentes foi mais ou menos sobre a realidade de calar mais é que eu conversei com Pe.Leonel, carmelita colombiano que veio celebrar aqui em Isifya na quarta-feira. Guardar-se por respeito à sacralidade da vida e da história que se tem, seja ela qual for. Somos solo sagrado do Senhor e é assim que Ele nos trata e nos ve e da mesma forma deveríamos nos tratar e tratar cada pessoa. Divulgar bem o Bem.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Dia de N.Sra. do Carmo, Manicure e Imigrantes





Nesta foto estamos eu e meu amigo artista Wanderley, na festa de despedida em Fortaleza. Lembro-me demais dele por causa da fartura iconográfica belíssima que se tem nestas bandas daqui do mundo. Tantas coisas belas escritas em ícones das cenas evangélicas e do profeta Elias! Só para se ter idéia, todos os ícones da igreja melquita que freqüento, e olha que são muitos, foram escritos pelo próprio abuna Samir, e estamos falando de uma vila de somente onze mil habitantes. Que me perdoem os artistas 'modernos', cujas obras de arte muitas vezes 'enfeiam' as igrejas latinas com imagens e símbolos que não tem nada a ver, que não enlevam a alma de ninguém, não levem ninguém à oração e ao recolhimento e que são de um tremendo mal gosto. Talvez seja eu a ignorante... Assim que eu tiver minha câmera digital vou registrar bem direitinho a beleza e o bom gosto dos ícones de Isifya. Bendito seja Deus!

Mudando de assunto: em meio a tantos presentes e mimos que a gente vai recebendo a cada dia, como diz Sta.Teresa de Ávila, alguns bantante espirituais como poder celebrar o dia de Nossa Senhora do Carmo na Igreja do Monte Carmelo cujo altar fica sobre a gruta do Profeta Elias, a gente vai se deparando, simultaneamente, com as realidades mais prosaicas da vida e as necessidades mais humanas da natureza. Que falta está me fazendo a Cristina, minha manicure em Fortaleza que dava conta das minhas doloridas unhas encravadas como ninguém! Agora sou eu que terei que me virar, sem me ferir com o alicate e só no sábado, quando o tempo fica mais flexível, para tornar meu pés mais apresentáveis outra vez. Um mês, completará amanhã, que fiz as unhas, nas vésperas de viajar. Cristina, vem para cá! Olha que deve ser uma profissão que se pegar as ricaças judias deve dar para juntar um bom dinheirinho.

Há uma imigração legal feita para Israel que é a de filipinos, que vem para cá fazer certos trabalhos 'menores' como serem cuidadores de idosos, e outros trabalhos braçais pesados ou de menor valor social. Além dos russos que dominam um certo mercado paralelo de bugigangas com os próprios árabes, que entram ilegalmente ou são judeus russos, a bola da vez são os filipinos. A maioria é católica. A ponto da Comunidade 'em parceria' com os franciscanos, está pensando em oferecer uma missa em inglês para eles na Basílica em Nazaré em algum horário alternativo. Também estes pedem uma evangelização renovada e uma experiência nova com o Espírito Santo, principalmente porque o sacrifício de virem para cá, mesmo que legalmente, se dá na maioria das vezes para juntar uns bons dólares. Falando em dólar, o dinheiro daqui chama-se shekel e é desvalorizado. Um real vale dois shekel. O salário mínimo daqui, porém, equivale a 3.500 shekel e a hora mínima que se paga para qualquer serviço é de 19 shekel. Todas as pessoas vivem bem e não vi um pobre na rua até hoje. Só em Nazaré vi um cego e uma mulher com uma criança pedindo esmola, mas eram muçulmanos.

Também por estes dias se completou um mês desde a minha última confissão. Mas depois, amanhã, eu continuo esse assunto pois preciso dormir, mais ainda porque amanhã levantarei uma hora mais cedo para trocar de 'shift' com a Duca pois estamos fazendo vigília, a casa toda, nas grandes intenções da Comunidade neste tempo que precede a Assembléia Geral. Shalom a todos que eventualmente continuarem acessando e lendo o blog, mesmo sem deixar um comentário sequer (:. Beijo grande!

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O Profeta Elias, os Baales e Nazareth

Não tirei nem uma foto para contar história do que foi este fim de semana inesquecível: minha primeira visita à Nazaré (a uma hora de ônibus saindo de Haifa) e ao monte Carmelo onde o profeta Elias venceu os profetas de Baal que está descrito no livro dos Reis. (Fica bem na vila vizinha a Isefya, a uns 15 minutos de carro). Acho que foi providencial não ter uma câmera para não ficar tão preocupada em registrar imagens à 'la turista', e me concentrar na emoção bíblica de estar pisando e conhecendo lugares santos onde o Bom Deus se revelou ao seu povo e se fez homem como nós, e que só foram preservados porque houve quem O amasse acima de todas as coisas, geração após geração.
Este pensamento de gratidão e de interpelação me acompanhou durante estes dois dias: todos os homens e mulheres que deram sua vida por amor ao Senhor, para que a sua misericórdia e perdão pudessem alcançar o coração de mais e mais pessoas, e a pergunta: será que eu não faço parte de uma geração que hoje perpetua, como pedra viva, a presença do amor do Senhor neste mundo tão ateu e secularizado?
Foram muitas emoções estar diante daquele Monte e ver o mesmo horizonte que o amadíssimo Santo Elias, o profeta, teve ao desafiar os falsos profetas a invocarem Baal para que a oferta fosse consumida, com insucesso, fazendo o fogo descer do céu quando o Nome do Deus Altíssimo foi invocado. O Nome de Deus. O Amor de Deus. O Espírito do Senhor que cobre o céu e a terra e tudo o que neles há, que destrói todos os baales, e que cobre a bela Virgem de Nazaré e concebe nela o Filho do Deus Altíssimo, Jesus de Nazaré. O Espírito Santo de Deus que se manifesta em poder, em fogo mas também em sombra, escondimento, no silencio de uma gruta perdida na Palestina. Nazaré significa em árabe 'botão de flor', bem Nossa Senhora. Fiquei extremamente comovida ao entrar naquela basílica silenciosa e poder me aproximar daquela gruta e, ajoelhada ali, pensar e contemplar o mistério que S.Paulo descreve na sua carta aos Gálatas: na plenitude dos tempos a Virgem concebeu o Filho de Deus, Jesus. Plenitude do Todo-Poderoso em lugar pobre e discreto. Plenitude de Deus na plenitude da alma e do corpo de uma jovem concebida sem pecado e sem mácula, que ao mesmo tempo era só e tão somente uma jovem de dezesseis anos, igual a todas as demais, Maria.
Rezei muito e por longas horas, graças a Deus. Mas não se sente, não se faz força. A atmosfera e a santidade do lugar e de tudo que ali se encerra sobre o mistério da Encarnação do Verbo de Deus é que te alcançam. Senti profunda gratidão ao Senhor por poder estar ali e poder finalmente 'conhecer e experimentar Nazaré'. Na procissão de sábado à noite com velas, animada pela Comunidade - benditos irmãos - e outras pessoas que são paroquianos da Basílica, voluntários e membros de outras comunidades novas que moram em Nazaré, vi tantos turistas-peregrinos chorando, rezando, cantando. Em procissão reza-se o terço sendo cada mistério 'puxado' numa língua e respondido por todos os presentes em sua língua materna. Circula-se a Basílica e no fim, na Salve-Rainha já estamos de volta, na frente da gruta e aí, em fila, se reverencia e beija, quem quer um ícone belíssimo da Anunciação, com a Virgem e o Arcanjo Gabriel. Pensei demais em meus amigos, colegas de trabalho, primos e primas que pelas circunstâncias da vida e opções pessoais, foram se afastando da prática da fé, da vida de oração, da sede de Deus e se deixaram cegar pelas luzes do mundo, do intelectualismo, do super-ativismo e passaram a olhar a vida da fé e a própria Igreja como instituição humana somente. Não ultrapassaram a crise de fé e de sentido da fé herdada, tão necessária na juventude, para chegarem à experiência pessoal de encontro com Jesus, com sua Palavra e com seu Espírito. Ficaram na crise e não saíram dela. Sou testemunha que alguns vivem muitos valores do Evangelho que ficaram impregnados em suas consciências e valores, mas deixaram de se relacionar com a própria Boa Nova, com o Evangelho mesmo, que é Jesus.
Não julgo ninguém, nem poderia, pois também eu, tão cega que sou, estaria na mesmo relativismo, se não fosse a mais absoluta gratuidade do Senhor que me chamou desde a minha juventude a conhecê-lo mais de perto. Foi o Espírito Santo o grande causador desta diferença, foi Ele quem me fez querer rezar e buscar os sacramentos em todas as minhs crises humanas, afetivas, emocionais, relacionais, existenciais. Foi o Espírito Santo quem me convenceu sempre da Verdade e me ensina a sair da culpa e a viver no Amor de Deus, revelado em Cristo Jesus. Foi e é o Espírito Santo quem nunca me deixou abandonar a Igreja, a fé, a missa, os sacramentos, a oração. Foi e é o Espírito Santo quem me apresentou a Bíblia como palavra que me transforma e cura, como Palavra viva de Deus. Ao escrever isso meu coração se enche de gratidão por tanta misericórdia e me convence, mais ainda, que meu papel é rezar, oferecer minha frágil vida e intercessão por todos estes amigos, parentes Sala ou Arreguy, e tantos outros colegas de trabalho, do passado, de SP ou do CE, gente rica e gente mais humilde, cujos corações foram esfriando e que passaram a dar mil e uma desculpas para viverem longe de Deus. Há de chegar a hora da abertura, que muitas vezes acontece em meio a dor, em que cada um poderá chamar pelo Senhor e, como o Bom Ladrão, dizer: lembra-te de mim, Jesus! e conhecer então este amor que tudo pode, que tudo preenche, que tudo perdoa, que tudo alegra e que dá a Paz, o bendito Shalom de Deus! E para isso que eu acho que eu vivo, e é para isso que eu rezo.
Mamãe e tia Quiquica a vida inteira relataram a emoção que representou verem a plaquinha indicando que 'aqui o Verbo de Deus se fez carne', quando foram à Nazaré há anos atrás e nesse fim de semana eu entendi do que elas estavam falando.
Amanhã comento mais coisas. Deus abençoe a cada um. Saudade de todos, especialmente da mamãe que faz aniversário hoje.

sábado, 12 de julho de 2008

Trabalho e Fraternidade

Tenho escrito pouco sobre o trabalho. Talvez é porque tudo ainda seja muito novo e eu só consiga mexer com os arquivos em inglês e escrever em inglês. Na verdade o Abuna (Sayidna que significa bispo em árabe) Chacour faz questão de responder pessoalmente - ou seja, assinar e não mandar assinatura eletrônica - a todas as pessoas, por exemplo, que mandam doações para o Instituto de Educação que ele fundou (já é uma faculdade), sejam 75 ou 5.000 dólares, ou ainda para todos os líderes de igrejas protestantes, ortodoxas, sei lá mais quanta gente, que escreve para ele. Eu 'sinto', pelo que entendi até agora e pelo que já fiz, que meu papel é responder a estas cartas. Ele me dita algumas idéias e eu as coloco no papel. É claro que existe control C, control V e a gente le e aproveita o que já foi escrito anteriormente, mas me parece que ele preza sobre todas as coisas, manter relações humanas pessoais com cada indivíduo que ele conhece, daí as respostas terem um toque pessoal. Já fiz algumas e até agora as que lhe apresentei passaram no teste. Tem muito material atrasado a ser respondido porque a quantidade de serviço diário, de solicitações, emails, pessoas que querem ir até Ibilim, onde fica a instituição de ensino, e todos os assuntos da Cúria, dos abunas (padres), paróquias de toda a arquidiocese são tratadas no escritório onde estou. Bendito seja Deus pela Lubna, sua assistente há quase nove anos e que, além de ser uma pessoa muito competente é, acima de tudo, uma mulher de Deus, do Caminho (Neo-Catecumenato), o que faz com que ela imprima um caráter de missão ao trabalho tão exigente que faz. Temos nos tornado boas amigas e a espiritualidade e o amor ao Senhor que temos faz com que nosso relacionamento seja construído em bases sólidas. Eu trabalho seis horas direto, de 9 às 15. Não é tão rígido assim, nem a chegada nem a saída, porque eu não estou na Dinamarca e sim em território árabe que tem muito a ver com o jeito meio brasileiro-italiano de não rigidez, que faz com que o ônibus não seja pontual nem na ida nem da vinda. Mas todo mundo sabe dessa realidade - até o bispo, talvez ele mais do que todos. Portanto as 9 horas pode ser 8:45 ou 9:30, vai depender do horário do ônibus e do tráfego em Haifa que nas horas do rush é sempre pesado.
O desafio da língua é inegável e há que se ter coragem para arriscar a falar o mínimo de frases que se sabe, sem se sentir abobalhado, e começar a estudar sistematicamente, o quanto antes. E haja disciplina! Eu, como professora de inglês, sei bem o empenho exigido para se aprender bem um idioma e creio que este conhecimento e experiência me ajudam. Ainda está em discernimento por causa de horário, grana, etc, o que vou estudar primeiro, se o árabe ou o hebraico. Está nas mãos de Deus. Seja como for, o hebraico será só a partir de 1 de setembro quando o ano letivo começa. Enquanto isso já me foi entregue hoje o Assimil do árabe - sem os cds que foram surrupiados - para começar a encarar o alfabeto, nushkorala (graças a Deus)!
Outra coisa que pouco comentei e que vale a pena lembrar, hoje, dia que toda a comunidade fez memória das grandes graças recebidas nesse ano jubilar, é a graça da Fraternidade. Não tenho dúvida que muita água ainda vai rolar debaixo da ponte, e que muito sal ainda precisa ser comido junto, como diz o provérbio árabe, para que estes irmãos com quem moro atualmente, se tornem verdadeiramente mais íntimos, ou seja, que as máscaras caiam. No entanto, há uma graça de fraternidade gerada pela comunnhão no mesmo batismo e no mesmo carisma que é sobrenatural! O que nos une é mais forte do que a morte, mesmo quando as arestas se tocarem. Tenho aprendido a amar e a conviver, brincar e observar os rapazes: Leonardo, Tales, Tennessee e Camilo (que daqui a 10 dias viaja para ser da turma de desbravadores que começam a missão na Tunísia, na África), e as moças: Silvânia, Andréa, Viviane, Lorena e Duca. Gente boa esse pessoal! Deixo aqui registrada a minha amizade crescente por cada um deles, a minha gratidão pela fraternidade vivida nas pequenas coisas da rotina tão intensa que cada um leva, e meu testemunho de sentir-me em paz, construindo relações abertas de ponte onde agora vivo, e que se torna 'minha casa e minha família'. Creio que existe uma graça própria quando se é missionário em terras distantes: fica mais evidente a unidade e a necessidade de que ela seja experimentada em concretude e na alegria. O Shalom de Haifa e de Isifya são assim. Obrigada irmãos por toda acolhida! Que juntos plantemos muitas sementes de mostarda (leitura do Evangelho de hoje no rito melquita), que escondam em seu núcleo a Paz do Senhor, o Shalom. Que essas sementes plantadas pelos quie já passaram por aqui e por nós que aqui chegamos e continuamos, se transformem, por milagre e graça do Espírito, em árvores frondosas onde muitos possas se abrigar e encontrar o amor do Pai. Um beijo para cada pessoa que visitar o blog. Que o Senhor abençoe a cada um! Amanhã tem mais novidade. Aguardem!

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O nome dos padres que celebraram a missa de inauguração!

Descobri o nome dos padres que celebraram a missa de inauguração do Shalom em Haifa. Quem me deu a informação foram os repórteres da Canção Nova, Thiago e Ana Paula, que estiveram conosco todo o tempo. Grandes irmãos, gente boa! Transcrevo abaixo trecho da reportagem que está completa no site da CN com ótimas fotos - inclusive eu apareço! Vale a pena conferir o que são fotos amadoras comparadas com as profissionais! Deus seja louvado! Valeu a minha boa vontade e do Camilo. Depois eles, da CN, ficaram de nos passar os arquivos que, para nós, da Comunidade, têm muito valor.
Confiram o que eles colheram das entrevistas enquanto nós, do Shalom, servíamos as visitas e os amigos de suco, refrigerante, salgados e docinhos:

'O evento teve início com uma Missa presidida por Padre Agabius Abu, Salvatoriano Melquita. Na ocasião, Padre Agabius entronizou o Santíssimo Sacramento na nova capela. O espaço, que pertence à Paróquia de Santo Elias, contará com grupos de oração e acolhida aos cristãos da cidade. Segundo a responsável pela missão da Shalom em Haifa, Lorena Gadelha, "futuramente serão feitos inventimentos em jogos juvenis, como meio de evangelização". Um dos concelebrantes da missa inaugural, o padre carmelita, Lionel Fernandes, falou sobre a possibilidade de evangelização dos cristãos de Haifa como o novo local: "Vemos, com muita esperança, este novo espaço, pois é mais uma lugar que os cristãos têm para orar. Confiamos na Comunidade Shalom, que trabalha com o Arcebispo de Haifa, Dom Elias Chacour, e está bem integrada à paróquia". O evento prosseguiu com a bênção da área, que além da capela, conta com uma recepção e uma sala onde são realizados os grupos de oração'.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Chegou o grande dia: Inauguração da 'Casa da Paz', nome que o Centro Católico de Evangelização Shalom recebeu em Haifa, Israel

Padre Melquita da Catedral, celebrando na sala que se transformou em capela, no primeiro Centro de Evangelização Shalom de Israel e da Terra Santa, em Haifa, na Galiléia, em 9 de julho de 2008, festa de 26 anos da Vocação Shalom!
O texto que fala sobre esta foto segue abaixo. Sem querer eu deletei a foto e agora voltei a postá-la mas, como já é muito tarde, é melhor deixar os acertos para o fim de semana. O importante é que a 'A Casa da Paz' foi inaugurada com celebração eucarística com três padres! Bendito seja Deus por seu amor!


Neste momento, no final da missa, vemos alguns irmãos da Obra e amigos do Shalom, cantando e agradecendo ao Senhor pela alegria do Centro de Evangelização, finalmente inaugurado em dia tão especial, 9 de julho, aniversário da vocação! Bendito seja Deus por sua fidelidade em favor de seus filhos nestes 26 anos, e louvado seja o Senhor por todos aqueles missionários, irmãos de vocação, que já estiveram aqui, plantaram muitas sementes de dor e de amor, que agora brotam e que ainda darão muitos frutos! Obrigado irmãos!
O prédio da 'Casa da Paz', como o Centro Católico de Evangelização Shalom 'deve' ser chamado aqui no mundo árabe, dentro de um país judaico, fica num prédio de três andares, do lado da Catedral Melquita de Haifa, que é bastante simples e pequena, diga-se de passagem. Localiza-se no terceiro andar e, ao longo de um corredor, há quatro salas. A primeira, como uma recepção-livraria, dá passagem para a sala onde foi celebrada a missa ao lado, que pela presença do sacrário tornou-se capela. As duas salas seguintes servirão para os grupos de oração. E no fim do corredor se encontram duas pias e um banheiro. Vou ver se depois vou postando fotos de todos trabalhando para fazer com que o prédio, a escada e todo o ambiente se transformassem em lugar agradável, limpo, claro e acolhedor para as pessoas e digno da presença de Jesus e dos filhos de Deus. Um padre Franciscano que veio com os irmãos de Nazaré, se não me engano, e que este, na foto ao lado que mostra o braço de paramento branco, entusiasmou-se ao ver as salas bem 'ajeitadinhas', pintadas de azul, para acolher as pessoas que queiram receber oração, ou partilhar, para pequenos grupos. Dizia ele para a Lorena, que é isso que a igreja precisa, de lugares como aqueles, pequenos e acolhedores para onde as pessoas pudessem voltar e rezar, se recolher e conversar. Inshalá! Queira Deus que isso se espalhe por várias paróquias. Nesta foto acima, a primeira, vemos o padre Melquita da Catedral celebrando na salinha que virou capela. Dizem que a homilia dele foi belíssima (e enorme! a missa durou mais de 1 hora e meia, igual as missas de cura do Pe. Antonio), pois ele se entusiasmou falando sobre a paz que vem do encontro com a Palavra de Deus. Sei e ouvi todas as pessoas rindo, que ele gostou demais daquele espaço para a oração, e que ele mesmo prentendia voltar ali, contando que 'consertassem o ar-condicionado'! Realmente o calor estava assustador, mas nada de quem mora no nordeste do Brasil já não tenha experimentado. Reparem na foto a beleza dos paramentos e do cálice e da patena, e que o pão consagrado não é como as nossas hóstias, fininhas, mas é pão com mais cara de pão.

Esta foto já foi no fim da festa de inauguração do Shalom em Haifa, entre amigos: Leandro, Tennessee, os únicos da casa fora eu, cercados pelos amigos Tiago da Canção Nova, que veio registrar o acontecimento, e Socorro, Iara, Marquinhos e Francisco (para mim, Wiradan, da 'minha célula, Rei da Glória'. No meu colo está o Eduardo, Dudu, um árabezinho de 4 anos que, como o irmão Nur, de 8, já ficou meu amigo. Na verdade, a paixão aconteceu por causa do meu relógio de pulso cujo ponteiro é um carrinho vermelho, um fiat palio, que, obviamente se movimenta. Paixão à primeira vista! Só não consegui aprender como se diz carro vermelho em árabe, mas sei já, responder a um cumprimento de como vai vc e bom dia! E dizer obrigada e muito obrigada.
Quem acaso esteja acompanhando o blog e tenha se preocupado comigo pelos meus comentários meio aflitos e angustiados de domingo para segunda-feira, eu peço perdão por não ter sido discreta...tem coisas que a gente guarda para si. Agradeço porém, todo apoio, carinho e orações que recebi. As mudanças são todas grandes demais e elas me chegam de todos os lados, sem exagero, mas tenho também tentado viver o hoje da existência. Viver no futuro ou no passado tem valia pouca e gera muita angústia. Eu me preparei para vir em missão e isso dá também paz e segurança. Devagarzinho sei que as coisas vão tomar seu rumo certo e mostrar sua dimensão correta. Entrei no deserto e penso que lá me depararei com todas as 'feras interiores', os silencios prolongados, as perguntas mais difíceis, com provas e tentações, assim como Jesus no deserto, levado pelo Espírito Santo. A diferença é que Ele vai comigo e em mim, no meu coração, e só isso já é a revolução mais absoluta que pode existir. Que eu viva esta fé e esta certeza quando a angústia, a saudade, os temores me assaltarem novamente, principalmente o temor de que os mais queridos da minha vida não encontrem a salvação, não porque ela se esconda, mas porque seus corações estão distraídos e sofridos, enganados pela dor, fascinados pelas coisas do mundo, esquecidos de reconhecer a sede de Deus que tem. Mas aqui de longe, 'piano, piano', vou aprendendo a confiar, a abandonar nas mãos do Senhor estes todos habibs e habibtis do meu coração, da família e dos amigos. Eu também preciso crescer na fé e na confiança de que é Deus quem mais ama estes que amo e por quem rezo e me preocupo. E por fim, guardem esta lindura: em árabe se eu quero dizer 'muito querido, muito amado', eu digo habibi, e se for 'muito amada, muito querida', habibti. Lindinho, não? Um beijo! Fiquem na paz e na luta de cada dia.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Parabéns e breves notícias

Hoje falei rapidamente com o João, que faz nove anos e sempre fico contente com a possibilidade de falar com os de casa. No domingo foi a mamãe e o Bill e os demais sobrinhos cearenses. Amo-te! Adoro-te! Nossa senha, foi usada. Desde ontem, segunda, o trabalho começou firme com o bispo, e a tensão subiu às alturas. Não por ele, que é tranqüilo e, como eu disse, não mete medo, mas toda a circunstância, a cúria, os processos, as línguas, as pessoas, tudo, absolutamente tudo é novo e exigente. Ontem caí em mim que não estou de férias e que não vou voltar para casa. Estou mexida e tem horas que me bate uma saudade aterradora, não sei nem bem de que, nem de quem. São emoções fortes e lembranças boas e ruins. O que é mesmo que eu estou fazendo aqui? Por quem e para que. Passei o dia buscando as raízes em mim para estas perguntas que remetessem àquilo que já é rocha de Deus em mim. Sua face. Sua Palavra. Seu amor. Sua verdade em mim. Novamente foi sua palavra que me sustentou e pacificou, e melhor ainda, a palavra da liturgia latina (que alegria!) em francês que se celebra nas casas de umas irmãzinhas libanesas - francesas que moram aqui perto, e que são verdadeiro consolo e bálsamo. Ele me pediu tudo e só agora eu me vejo tomando consciência da nova vida que estou levando. A comunidade ontem e hoje me salvou porque ela, nos seus membros, meus irmãos, me obriga a sair de mim, a trabalhar, a brincar, a servir. No entanto não quero viver de aparências. Na hora certa, fazer-me ver nas minhas saudades e inseguranças, como gente, como todo mundo. O que mais quero é poder olhar para dentro de mim mesma e sentir-me livre e segura de que sou isso hoje, abracei livremente esta missão e que ela corresponde exatamente àquilo que o Pai quis para mim quando me desejou e criou. Eu sei que estou nesta estrada de retorno para o Pai e com Ele já convivo, mas como o filho pródigo, o mais difícil e o que mais leva tempo é tirar o mundo, a idolatria de pessoas e coisas - e da própria vontade e fantasias a próprio respeito - de dentro do coração. É querer e deixar-se quebrantar para que as pedras do coração se transformem em carne viva capaz de amar. É comecei a sofrer... bendito seja Deus! Estou saindo das nuvens e isso é bom. A vida é maravilhosa, inclusive nas missões, porque pressupõe dias também sombrios. Este foi um deles. Que ninguém se preocupe, só rezem por mim.
Até amanhã quando darei mais notícias, tanto do Centro de Evangelização Shalom, Casa da Paz, que será inaugurado bem no dia 9 quando se encerra o Ano Jubilar e também sobre as conversas com o Abuna Elias.
Beijo e saudades, lágrimas e muitas orações. Sempre a esperança, sempre o amor do Senhor que está junto e perto e faz a sua obra por inteiro. Amém. Espero amanhã estar mais lightezinha. I love all of you. Ena

domingo, 6 de julho de 2008

O Noivado, as fotos e muita festa!

Esta foto é só para todos saberem como se parece o arcebispo melquita Elias Chacour, com quem vou ter a graça e o desafio de trabalhar junto, como secretária. Ele tem essa roupa preta, meio estranha, mas tem um jeito profundamente paternal com todos e 'não mete medo' de jeito nenhum. Todos dizem que ele é muito paciente, educado, um homem de oração profunda, de inteligência brilhante, cultura vasta e muita consciência do que Deus espera dele nestes tempos e nesta Terra Santa, que é de todos e não somente de árabes ou judeus. Na foto eu já estou sem batom e maquiagem, mas queria que todos vissem o meu rosto de hoje. Bendita tecnologia que nos aproxima! Conto verdadeiramente com a graça de Deus e com a oração dos irmãos na minha nova missão e prometo dar o melhor de mim. E para que eu de conta, é melhor deitar porque amanhã às 7:30 devo estar em Haifa para participar da missa com o bispo, tomarmos café na Cúria e anotar tudo o que ele vai querer de mim (e da Lubna) nestes quinze dias que passará na Austrália. Até amanhã. Ah! Fiquei feliz demais por ouvir a voz da mamãe e dos sobrinhos 'de Moraes Sala'. Valeu! Deus abençoe e até amanhã, quando postarei mais fotos. Mas as principais seguem abaixo:

Louvo e bendigo o Senhor por este dia de alegria na Comunidade e na vida do casal que finalmente noivou! Foi uma trabalheira imensa preparar todos os pratos para o jantar (super caprichados principalmente porque estávamos servindo árabes que comem muito e muito bem!), deixar a casa e o jardim brilhando e impecáveis, sendo que ambos são grandes, sem deixar de dar conta de todas as tarefas rotineiras que incluem, principalmente, o trabalhoso e exigente 'asilo' e as 'obras de restauração' das salas que serão o Centro de Evangelização, a ser inaugurado dia 9, próxima quarta-feira, se Deus quiser. Mas deu tudo certo e mesmo com o cansaço de todos saindo pelos poros, estávamos felizes e ainda deu tempo de improvisarmos uma 'quadrilha' com um forrozinho ao fundo quando as visitas sairam. Só que estas fotos ainda não chegaram a mim.


Esta foi a mesa preparada na varanda que circunda a casa para o jantar após a bênção das alianças e dos noivos. Em ordem: eu, Silvânia, Tennessee (já não aguento mais escrever tantas letras duplas!), Lorena, Abuna Elias Chacour, só as cabeças do casal Samir e... (ele o padre melquita da vila, casado é um extraordinário iconógrafo), pe.Leonel, colombiano, muito amigo da Comunidade, que vive no Monte Castelo do profeta Elias onde tem um carmelo masculino e Yossef, um dos sobrinhos do arcebispo que é seu motorista.



Estes são os 'rapazes' da casa ao redor dos quase noivos. Em ordem: Camilo (que deve seguir para a missão a ser aberta ainda este ano na Tunísia, África, e dono da câmera digital), Sivânia e Tennessee, Thales (filho da minha querida irmã de Célula, Maria de Jesus que aguarda um visto pois foi transferido para a Itália, e que já era um amigo em Fortaleza), e o mais jovem e alto da casa, Leandro, do Amapá, sempre alegre e que não vai ser transferido para lugar nenhum!


Aqui estão as 'moças' da missão ao redor do casal, na capela da casa onde a celebração de noivado aconteceu (estávamos tirando fotos enquanto o bispo chegava). Em ordem: Iara (que mora em Nazaré, mas vem transferida para cá daqui a um mês), euzinha, Lorena (responsável local e que fala um árabe exemplar e impecável), os felizes noivos Silvânia e Tennessee, Duca (que aqui é chamada pelo nome, ou seja, Heloísa), Viviane (grande cozinheira, adora tudo de computador e a que estudou hebraico), e Andréa (baiana a quem vim substituir e que caminha para entrar na CVida).


Esta foto é histórica: Abuna Elias Chacour, arcebispo da Galiléia, que veio oficializar o noivado de Silvânia e Tennessee na tarde do dia de hoje. Também compareceram o abuna Samir, padre melquita de Isefya, Samir, com a esposa, muito elegante e mãe de três filhos, mas que ainda não guardei o nome.

sábado, 5 de julho de 2008

Véspera de um grande dia!

Brinquei com os irmãos de casa, hoje, que se minha família e amigos próximos me vissem nestas últimas duas semanas, diriam, seguramente, que eu estou num processo inusitado de conversão pois tenho cozinhado e ido para a cozinha todos os dias e com a cara boa, com toda boa vontade! Já fiz peperonata, hoje, um bolo de cenoura para começar as celebrações do noivado do Tene e da Silvi (que será oficializado amanhã às 17h aqui em casa pelo arcebispo), e uns outros ensopados e arroz bem torradinho à la mineira. Meu repertório culinário é restrito mas meu super livro de receita veio comigo e ele sempre me salvará. Ele e Jesus tão bem pertinho! Quanto mais o tempo passa mais me convenço que preparar os alimentos, pensar nas refeições, estar à mesa e manter uma cozinha funcionando, diariamente, com pouco tempo e com restrições financeiras, seguramente, é fonte de santificação para muitas pessoas, especialmente para as mulheres! A comida, as refeições, o preparo do alimento é meio de agregar as pessoas. Sei que há certas pessoas que têm talento, que fazem da cozinha um hobby, mas há outras que se sentem tensas e sem talentos especiais - acho que esse sempre foi o meu caso - porém, sem dúvida, o ato de pensar na alimentação e de prepara-la com amor é fonte de agregação familiar e de exercício nas virtudes. Meus motivos interiores de arriscar ir para a cozinha e fazer o que sei, não é outro senão participar, estar junto e quebrar um paradigma de incompetência culinária por este nunca ter sido um 'valor' em meu núcleo familiar e porque sempre estive por perto de quem cozinha bem e com talento: na juventude a Nunu e na vida adulta, a Jan. Vivi tantos anos na mordomia, com quem fizesse as coisas para mim - e agradeço a Deus por isso -, mas agora vivo outro tempo e dele também quero tirar o melhor proveito e desfrutar da maior alegria. Só espero que este entusiasmo dure! Só rindo... mas o bolo de cenoura com cobertura de chocolate saiu dez e meu carisma de lavar louça tem sido exercido diariamente. Cada um vai se ajudando e aqui não tem ninguém encostado e malandro não, as equipes funcionam direitinho. Hoje foi um faxinão, por causa do noivado, e isso incluiu o jardim ao redor da casa, tirando todo mato seco, por causa do verão ardente, tarefa que deixou os rapazes bronzeados como se tivessem ido à praia. Amanhã vou postar algumas fotos dos noivos e de nossas atividades de limpeza, já que entre os convidados viraõ alguns padres de Haifa que, acredita-se, bem a jeito árabe, vão querer conhecer toda a casa. Está tudo cheiroso e limpinho. Fora o meu quarto e banheiro, ajudei todo o tempo na cozinha.

Mudando de assunto, fiquei muito contente com as notícias que o Wilde me deu hoje - pedindo inclusive oração por causa da batalha espiritual que representa a preparação do Halleluya - e de todos os amigos que têm me escrito por email - Mercedes, Pe.Geraldo, Rilene, Balisa, Trindade - contando dos acessos feitos ao blog. Realmente sou fã de tecnologia usada como instrumento de aproximação entre as pessoas e da possibilidade de alimentar a saudade com notícias frescas. Digo isso porque se pode sofrer por saudade vazia ou por saudade cheia. A segunda dói também mas tem a cor e a realidade da presença do outro, de suas palavras, afetos, casos, mesmo que esta presença seja imaterial e virtual.

Fomos à missa maronita às 19h (amanhã será no rito melquita) e digo que mesmo sendo muito interessante a quantidade de sinais da cruz que eles fazem, e das leituras não acompanharem o calendário latino, o que nos obriga a levar a bíblia para lermos as 'nossas leituras do dia', o que mais me toca é a hora do sinal da paz, que não é um abraço, mas é a hora de receber o Shalom do Senhor. Os dois acólitos, que até hoje foram sempre dois jovens, recebem do sacerdote o sinal da cruz que é a Paz, feito por uma cruz que ele, sacerdote, carrega nas mãos quase todo o tempo da celebração, e saem distribuindo às primeiras pessoas de cada banco com as mãos unidas. Estas pessoas, por sua vez, transmitem às pessoas vizinhas a paz recebida, repetindo o gesto dos acólitos. Estes caminham por todas as fileiras da igreja, até a última, um à direita do altar e outro à esquerda. O gesto é exatamente aquele da brincadeira de infância chamada passa-o-anel: com as mãos unidas eles depositam em nossas mãos unidas que se abrem na presença da deles, para receber e depois transmitir o Shalom do Pai que desce do altar! Muito simples, quase singelo, mas tão cheio de significado. Acho que nós, no nosso rito latino perdemos muito da simbologia e da profundidade do gesto que fazemos. Nos desejamos à Paz quase como se estivéssemos falando: 'oi, tudo bem, como estão as coisas?', como faríamos num encontro casual em qualquer lugar. Chegamos a dizer: 'Deus te abençoe', como dizemos costumeiramente na Comunidade, mas empobrecemos, a meu ver, a percepção de que naquele momento litúrgico o Shalom nos é transmitido para ser transmitido, ele vem do altar, Ele está no altar e se conseguíssemos resignificar este momento da celebração, talvez muitos de nós seríamos ressuscitados pela Paz do Senhor que já está eucaristicamente em nosso meio, antes mesmo de recebê-lo nas espécies do pão e do vinho. Acho que esse gesto e jeito maronita imprime mais lembrança da realidade espiritual que se celebra e que está acontecendo. Talvez a palavra chave seja resignificar, mais ainda para quem é Shalom. Não vejo a hora de poder entender alguma coisa da celebração podendo dela participar em árabe e não só em pensamento, no português ou sussurando o credo, o pai-nosso e partes das orações eucarísticas.

Passei da metade do livro 1808, do Laurentino Gomes, que fiz questão de trazer, e só posso dizer que conhecendo a corte portuguesa no Brasil de 200 anos atrás, se ri muito de tanta sujeira e de tantas aventuras da corte européia em terras cariocas. Se entende também onde nasceu nosso jeito miscigenado, bem humorado, fazedor de verso e graça sobre desgraças e problemas. Se compreende a gênese cultural do como enganar as pessoas, autoridades ou não, e, infelizmente, se vê que as maracutaias e falcatruas, pricipalmente das autoridades remontam a esse período onde, viver de aparência, era comum. Pouco se trabalhava, não se poupava, e a máquina no governo, desde então, tinha dez vezes mais pessoas do que o número das necessidades reais. O pior, se entende que nossa herança de sermos devedores dos gringos de fala inglesa começou há mais de 200 anos. Mas o livro é bom e não fala só das coisas 'erradas' e meio vergonhosas, espero pois estou só na metade, mas fala muito dos costumes. O que me chama atenção é que olhando para trás é que entende um pouco - ou muito - do que se vive e sofre hoje e que parece e está tão enraizado em nossa cultura tão única e tão especial. Vamos ver o que se segue. Depois comento novamente. Um beijo de boa noite e lembro à família e amigos que amanhã, domingo, é um dia bom de ligar, tipo 4 horas da tarde aí. Amo vocês!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Para o João

Quero só dizer para o João que resolvi dar uma mudada no layout do blog porque descobri que este modelo chama-se...imagine...já descobriu? exatamente aquilo que você esperava encontrar na minha bolsa toda vez que me via: isso mesmo Tic-Tac. Um beijo para todos vocês! Nossa password: amo-te! adoro-te! Deus abençoe.

Emoção

Preciso registrar aqui coisas emocionantes do dia de hoje: a mensagem do Marquito em nome dos irmãos e de todos de casa, lida logo pela manhã, um adeus e um sorriso desconcertantemente lindo de um judeuzinho de uns quatro anos parado no ponto do ônibus, correspondendo ao meu aceno e adeus, um email curtinho do pe.Günter confirmando acompanhar o blog e me dizendo estar, naquele momento, começando o retiro de padres, em Viena, com o pe.Kevin e a Ir.Briege, que também me mandavam bênçãos e hellos. Além disso, terminei de ler a pérola escrita pelo Pe. Raniero Cantalamessa chamado 'Virgindade' que, com unção e clareza extraordinárias, joga luz sobre como viver com liberdade e felicidade as relações de amor humano, como celibatários ou casados, sempre partindo do amor do Senhor, fazendo dele aquilo que Ele é e deveria se tornar para cada ser humano: o primeiro grande amor da vida! Fiquei até com vontade de sair distribuindo cópias para meus sobrinhos jovens, para os adolescentes, jovens casais de namorados e em busca do estado de vida, e também para quem já está mais ferido e cansado, para entenderem o que fazer e porque existe a tal e tão profunda carência humana, que nos leva à dependência e à apropriação das pessoas como se elas fossem fonte de nossa felicidade, ou pior, nos leva pela vida afora amargos, com um 'buraco no peito', à procura de um amor que nos ame para sempre, e que parece nunca acontecer. Há muito de ilusão e fantasia em tudo isso, mas há seguramente um 'longing' (esta palavra do inglês é perfeita para expressar o que quero dizer) do coração humano de ser compreendido e aceito. É a bendita pertença. Mas voltando ao que falava, estes desequilíbrios na sexualidade e na afetividade atingem pais no jeito de se relacionarem com seus filhos, mulheres com maridos e maridos com mulheres, pessoas na sua relação com trabalho e bens, amigos com amigos... Mas foi absolutamente libertador este olhar novo dado pelo autor, com a clareza de quem sabe argumentar e conhece o coração humano, sobre o que é a vivência da pureza, da castidade, o que é natural e da natureza humana, e o que não é verdadeiramente humano. Onde está a escravidão e onde está a liberdade.
Passei a semana lendo o bendito livro, no ônibus, indo para o trabalho, achado meio que por acaso na casa, que se fez um canal do Espírito para confirmar e aprofundar em mim a obra operada na reciclagem 2008, cujo tema 'Belo é o Amor Humano', que fala sobre os estados de vida na vocação Shalom, mas que orienta perfeitamente qualquer batizado que vive pós Vaticano II, e que busca seu estado de vida, que busca encontrar alguém e ser feliz, constituir família, amar e servir a Deus, não ficar sozinho. O título da reciclagem e do valioso livro escrito pela Emmir (por favor, comunidade e povo de Deus, leiam este livro, divulguem-no, ensinem o que está ali!) vem da bela frase do Moysés, que acrescenta que mais belo ainda é o amor humano quando vivido em Deus, quando ele é e se torna o centro da existência. E aí o que é natural na vivência da sexualidade, ao ser preenchido pela castidade e o amor de Deus, torna-se sobrenatural e, portanto, pleno. Por isso, quem anda à procura do grande amor da vida, ou quem já desistiu por traumas, feridas e desconcertos, vale a pena a leitura desse livrinho - agora falo do livro do Cantalamessa. Por conta dele a gente toma prumo e tenência e, é claro, passa a desejar que Deus seja Deus, e a gente seja gente, com consistência interior.
Mas 'on top of that', que foi o término da leitura, para coroar com chave de ouro meu dia reflexivo e de trabalho, onde tentei fazer, com toda a Comunidade um jejum à pão e água nas intenções da Obra e em abertura de coração por aquilo que vem da parte do Senhor, das suas surpresas que estão à caminho, tive a oportunidade de um breve encontro, finalmente, com o Abuna Elias Chacour. Meu Deus! que pessoa mais desconcertantemente intensa! Me acolheu com carinho, pedindo perdão (?!) por estar tão ausente e ainda se justificou pelos próximos quinze dias, na Austrália, a partir da semana que vem. Mas o mais curioso foi perceber que é real aquela impressão que os seus dois livros transmitem: seu interesse por cada pessoa, pelas relações interpessoais como algo muito importante, como o mais importante. Ele conversa olhando nos olhos com uma franqueza de acolhimento penetrante. Quando ele for ao Brasil e tiver oportunidade de encontrar com as pessoas daí, vocês verão o que tento exprimir. Deus permita que possamos em breve traduzir estes dois best sellers que são seus dois livros (na verdade já está no quarto livro, mas só em alemão, e isso não importa agora) e que nos farão entender qual é o nó da questão nestas terras da Palestina, em Israel, Terra Santa de todos.
Bem, voltando ao bispo, depois da breve acolhida e explicações ele me pediu duas coisas bem práticas, mas que revelam suas preocupações e o que espera, de certa maneira, dos missionários Shalom, e que eu peço a Deus cumprir com o coração aberto e humilde: que eu lesse tudo e tentasse me enfronhar sobre tudo do escritório, da Cúria, com a Lubna, para poder entender e captar e penetrar na sua mentalidade, ou seja, no modo como ele pensa como arcebispo, como apóstolo de Jesus, e ve as coisas, as realidades humanas e espirituais que cercam Israel e os cristãos daqui. E em segundo lugar, que eu não somente trabalhasse na Cúria, mas que eu rezasse pelo clero e pela situação dos cristãos da Terra Santa. Fiquei tão profundamente tocada com as palavras que, de coração, me comprometi com aquele santo homem que tem dado todas as suas energias, forças, inteligência, amor e coração para promover os cristãos e a dignidade deles no lugar onde 'tudo começou'.
A gente que está de longe pensa muito nos lugares santos, mas não se lembra tanto que o mais importante são as pessoas santas que fizeram e fazem a Terra Santa se perpetuar não como pó e ruínas, mas como Corpo de Cristo. Prometi rezar e peço que quem por ventura ler também este texto, se lembre dos fiéis cristãos palestinos, reais descendentes de Jesus, que tem sido silenciosamente expulsos de terras, cultura e história, sendo eles os primeiros e legítimos depositários da revelação inefável do Senhor ao mundo. É claro que Jesus era judeu, mas era palestino, e seus descendentes têm sido tratados e vistos como cidadãos de classe inferior, de segunda categoria, confundidos com os extremistas também árabes israelenses, só que muçulmanos ou de seitas radicais enlouquecidas pelo sofrimento e usadas pelos Inimigo de nossas almas. Por estar aqui e ver as pessoas e começar a saber das histórias, o envolvimento e o comprometimento tomam outra dimensão que ultrapassa, em muito, a pena ou somente a emoção. É a vida do Cristianismo mais antigo que está em jogo! É coisa séria! É batalha de vida e morte, daí entender e vislumbrar por causa dos livros lidos auto-biográficos ('Blood Brothers' e 'We Belong to the Land'), e da própria figura, a importância e a santidade do Arcebispo Elias Chacour. Quem me conhece deve estar pensando: 'lá vem a Ena com mais uma de suas paixonites e exageros!', mas não é. Depois de tudo que li nestas duas semanas e de ter falado este pouquinho com o bispo, tão acolhedor, requisitado por Deus e o mundo, tão profeta, e ter lhe prometido a minha oração de missionária, que vive este ano de oferta de celibato pelo Reino, foi se abrindo em mim uma nova percepção humana e espiritual da importância do assunto para o qual o bispo pediu oração. É questão de vida e morte mesmo! E o Senhor Jesus conta é conosco!
Enquanto voltava para casa e remoía os dados de somente 2% da população da Terra Santa ser cristã e que este número só tem diminuído pela imigração em massa na última década (cerca de 26%) principalmente por causa das guerras, violências, falta de emprego e franca perseguição, como acontece no Afeganistão e no Iraque, fiquei pensando na nossa e na minha responsabilidade como Shalom, como católica, ao abraçar esta questão, que não é de menor importância. Alguém já pensou se um dia, no Brasil, não houvesse nem mais um jogador de futebol? Inconcebível, me parece! Que existissem somente os estádios, as quadras de fundo de rua, o Maracanã, as medalhas, os relatos, as fotos, os dvds gravados, os filmes e casos, as testemunhas e os uniformes dos times, mas não houvesse nem mais um jovem, criança ou adulto que soubesse jogar futebol? Dá para imaginar? Seria impensável, não seria, falando-se de Brasil? Da mesma maneira, e com todas as devidas proporções pois estamos falando de realidades sobrenaturais e eternas das quais dependem o futuro eterno de cada pessoa, o Brasil não ter mais jogadores de futebol, é como Fortaleza deixar de ter um consagrado da Comunidade ou um representante do Carisma que fosse da Vida ou da Aliança, ou ainda, pior de tudo, seria não existir mais fiéis vivos do Cristianismo na terra onde Jesus nasceu, viveu, morreu e ressuscitou! Ninguém pensa nisso, mas a gravidade da situação é essa e por isso peço à Comunidade e a quem é cristão, católico, que reze pelo clero e pelo fervor cristão por aqui. Que o Senhor tenha compaixão de nós e em sua misericórdia tome em suas mãos todos os nossos ínfimos pães e peixes ofertados de sacrifício, dor, solidão pelas demoras de Deus, incompreensões e tantas outras realidades humanas, como também aquelas de alegria e consolação, mas sempre tão pequenas, e as transforme, e faça acontecer o milagre que só Ele sabe e pode fazer. Somos teus Senhor para sempre. E a quem me leu até o fim, peço unidade e oferta, amor e consciênca de que estamos juntos nessa luta com Pedro, pela barca do Senhor, para que muitos creiam, também aqui na Palestina, e conheçam Jesus, o Shalom do Pai. Um beijo para cada um. Estou morrendo de sono! (إيلينا ) Elena