sexta-feira, 4 de julho de 2008

Emoção

Preciso registrar aqui coisas emocionantes do dia de hoje: a mensagem do Marquito em nome dos irmãos e de todos de casa, lida logo pela manhã, um adeus e um sorriso desconcertantemente lindo de um judeuzinho de uns quatro anos parado no ponto do ônibus, correspondendo ao meu aceno e adeus, um email curtinho do pe.Günter confirmando acompanhar o blog e me dizendo estar, naquele momento, começando o retiro de padres, em Viena, com o pe.Kevin e a Ir.Briege, que também me mandavam bênçãos e hellos. Além disso, terminei de ler a pérola escrita pelo Pe. Raniero Cantalamessa chamado 'Virgindade' que, com unção e clareza extraordinárias, joga luz sobre como viver com liberdade e felicidade as relações de amor humano, como celibatários ou casados, sempre partindo do amor do Senhor, fazendo dele aquilo que Ele é e deveria se tornar para cada ser humano: o primeiro grande amor da vida! Fiquei até com vontade de sair distribuindo cópias para meus sobrinhos jovens, para os adolescentes, jovens casais de namorados e em busca do estado de vida, e também para quem já está mais ferido e cansado, para entenderem o que fazer e porque existe a tal e tão profunda carência humana, que nos leva à dependência e à apropriação das pessoas como se elas fossem fonte de nossa felicidade, ou pior, nos leva pela vida afora amargos, com um 'buraco no peito', à procura de um amor que nos ame para sempre, e que parece nunca acontecer. Há muito de ilusão e fantasia em tudo isso, mas há seguramente um 'longing' (esta palavra do inglês é perfeita para expressar o que quero dizer) do coração humano de ser compreendido e aceito. É a bendita pertença. Mas voltando ao que falava, estes desequilíbrios na sexualidade e na afetividade atingem pais no jeito de se relacionarem com seus filhos, mulheres com maridos e maridos com mulheres, pessoas na sua relação com trabalho e bens, amigos com amigos... Mas foi absolutamente libertador este olhar novo dado pelo autor, com a clareza de quem sabe argumentar e conhece o coração humano, sobre o que é a vivência da pureza, da castidade, o que é natural e da natureza humana, e o que não é verdadeiramente humano. Onde está a escravidão e onde está a liberdade.
Passei a semana lendo o bendito livro, no ônibus, indo para o trabalho, achado meio que por acaso na casa, que se fez um canal do Espírito para confirmar e aprofundar em mim a obra operada na reciclagem 2008, cujo tema 'Belo é o Amor Humano', que fala sobre os estados de vida na vocação Shalom, mas que orienta perfeitamente qualquer batizado que vive pós Vaticano II, e que busca seu estado de vida, que busca encontrar alguém e ser feliz, constituir família, amar e servir a Deus, não ficar sozinho. O título da reciclagem e do valioso livro escrito pela Emmir (por favor, comunidade e povo de Deus, leiam este livro, divulguem-no, ensinem o que está ali!) vem da bela frase do Moysés, que acrescenta que mais belo ainda é o amor humano quando vivido em Deus, quando ele é e se torna o centro da existência. E aí o que é natural na vivência da sexualidade, ao ser preenchido pela castidade e o amor de Deus, torna-se sobrenatural e, portanto, pleno. Por isso, quem anda à procura do grande amor da vida, ou quem já desistiu por traumas, feridas e desconcertos, vale a pena a leitura desse livrinho - agora falo do livro do Cantalamessa. Por conta dele a gente toma prumo e tenência e, é claro, passa a desejar que Deus seja Deus, e a gente seja gente, com consistência interior.
Mas 'on top of that', que foi o término da leitura, para coroar com chave de ouro meu dia reflexivo e de trabalho, onde tentei fazer, com toda a Comunidade um jejum à pão e água nas intenções da Obra e em abertura de coração por aquilo que vem da parte do Senhor, das suas surpresas que estão à caminho, tive a oportunidade de um breve encontro, finalmente, com o Abuna Elias Chacour. Meu Deus! que pessoa mais desconcertantemente intensa! Me acolheu com carinho, pedindo perdão (?!) por estar tão ausente e ainda se justificou pelos próximos quinze dias, na Austrália, a partir da semana que vem. Mas o mais curioso foi perceber que é real aquela impressão que os seus dois livros transmitem: seu interesse por cada pessoa, pelas relações interpessoais como algo muito importante, como o mais importante. Ele conversa olhando nos olhos com uma franqueza de acolhimento penetrante. Quando ele for ao Brasil e tiver oportunidade de encontrar com as pessoas daí, vocês verão o que tento exprimir. Deus permita que possamos em breve traduzir estes dois best sellers que são seus dois livros (na verdade já está no quarto livro, mas só em alemão, e isso não importa agora) e que nos farão entender qual é o nó da questão nestas terras da Palestina, em Israel, Terra Santa de todos.
Bem, voltando ao bispo, depois da breve acolhida e explicações ele me pediu duas coisas bem práticas, mas que revelam suas preocupações e o que espera, de certa maneira, dos missionários Shalom, e que eu peço a Deus cumprir com o coração aberto e humilde: que eu lesse tudo e tentasse me enfronhar sobre tudo do escritório, da Cúria, com a Lubna, para poder entender e captar e penetrar na sua mentalidade, ou seja, no modo como ele pensa como arcebispo, como apóstolo de Jesus, e ve as coisas, as realidades humanas e espirituais que cercam Israel e os cristãos daqui. E em segundo lugar, que eu não somente trabalhasse na Cúria, mas que eu rezasse pelo clero e pela situação dos cristãos da Terra Santa. Fiquei tão profundamente tocada com as palavras que, de coração, me comprometi com aquele santo homem que tem dado todas as suas energias, forças, inteligência, amor e coração para promover os cristãos e a dignidade deles no lugar onde 'tudo começou'.
A gente que está de longe pensa muito nos lugares santos, mas não se lembra tanto que o mais importante são as pessoas santas que fizeram e fazem a Terra Santa se perpetuar não como pó e ruínas, mas como Corpo de Cristo. Prometi rezar e peço que quem por ventura ler também este texto, se lembre dos fiéis cristãos palestinos, reais descendentes de Jesus, que tem sido silenciosamente expulsos de terras, cultura e história, sendo eles os primeiros e legítimos depositários da revelação inefável do Senhor ao mundo. É claro que Jesus era judeu, mas era palestino, e seus descendentes têm sido tratados e vistos como cidadãos de classe inferior, de segunda categoria, confundidos com os extremistas também árabes israelenses, só que muçulmanos ou de seitas radicais enlouquecidas pelo sofrimento e usadas pelos Inimigo de nossas almas. Por estar aqui e ver as pessoas e começar a saber das histórias, o envolvimento e o comprometimento tomam outra dimensão que ultrapassa, em muito, a pena ou somente a emoção. É a vida do Cristianismo mais antigo que está em jogo! É coisa séria! É batalha de vida e morte, daí entender e vislumbrar por causa dos livros lidos auto-biográficos ('Blood Brothers' e 'We Belong to the Land'), e da própria figura, a importância e a santidade do Arcebispo Elias Chacour. Quem me conhece deve estar pensando: 'lá vem a Ena com mais uma de suas paixonites e exageros!', mas não é. Depois de tudo que li nestas duas semanas e de ter falado este pouquinho com o bispo, tão acolhedor, requisitado por Deus e o mundo, tão profeta, e ter lhe prometido a minha oração de missionária, que vive este ano de oferta de celibato pelo Reino, foi se abrindo em mim uma nova percepção humana e espiritual da importância do assunto para o qual o bispo pediu oração. É questão de vida e morte mesmo! E o Senhor Jesus conta é conosco!
Enquanto voltava para casa e remoía os dados de somente 2% da população da Terra Santa ser cristã e que este número só tem diminuído pela imigração em massa na última década (cerca de 26%) principalmente por causa das guerras, violências, falta de emprego e franca perseguição, como acontece no Afeganistão e no Iraque, fiquei pensando na nossa e na minha responsabilidade como Shalom, como católica, ao abraçar esta questão, que não é de menor importância. Alguém já pensou se um dia, no Brasil, não houvesse nem mais um jogador de futebol? Inconcebível, me parece! Que existissem somente os estádios, as quadras de fundo de rua, o Maracanã, as medalhas, os relatos, as fotos, os dvds gravados, os filmes e casos, as testemunhas e os uniformes dos times, mas não houvesse nem mais um jovem, criança ou adulto que soubesse jogar futebol? Dá para imaginar? Seria impensável, não seria, falando-se de Brasil? Da mesma maneira, e com todas as devidas proporções pois estamos falando de realidades sobrenaturais e eternas das quais dependem o futuro eterno de cada pessoa, o Brasil não ter mais jogadores de futebol, é como Fortaleza deixar de ter um consagrado da Comunidade ou um representante do Carisma que fosse da Vida ou da Aliança, ou ainda, pior de tudo, seria não existir mais fiéis vivos do Cristianismo na terra onde Jesus nasceu, viveu, morreu e ressuscitou! Ninguém pensa nisso, mas a gravidade da situação é essa e por isso peço à Comunidade e a quem é cristão, católico, que reze pelo clero e pelo fervor cristão por aqui. Que o Senhor tenha compaixão de nós e em sua misericórdia tome em suas mãos todos os nossos ínfimos pães e peixes ofertados de sacrifício, dor, solidão pelas demoras de Deus, incompreensões e tantas outras realidades humanas, como também aquelas de alegria e consolação, mas sempre tão pequenas, e as transforme, e faça acontecer o milagre que só Ele sabe e pode fazer. Somos teus Senhor para sempre. E a quem me leu até o fim, peço unidade e oferta, amor e consciênca de que estamos juntos nessa luta com Pedro, pela barca do Senhor, para que muitos creiam, também aqui na Palestina, e conheçam Jesus, o Shalom do Pai. Um beijo para cada um. Estou morrendo de sono! (إيلينا ) Elena

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