quarta-feira, 28 de abril de 2010

Por trás dos bastidores e o Iraque

Intervalo de ensaio no Centro de Evangelização em Haifa, do 'Canto das Írias' que será apresentado no Halleluya. Praticamente todos de casa entraram na dança e viraram írias, Danko, Verdade... O rapaz de trás, Elias, que é da Obra, fará o papel de Jesus e o Homem será o Maroun, jovem de 17 anos de Nazaré, divertido, agitado, sabe dançar salsa e parece animado mesmo que muito verde e desconcentrado ainda. Me lembrou o Marquito meu sobrinho. Na hora da foto ele sumiu. Depois eu o pego de jeito já que vamos contracenar.


O mesmo lugar, a mesma, somente que dessa vez lembrei de entrar na foto. Qualquer atividade do Shalom tem que ter a hora da merenda!

Esta é a Yara que está se revelando uma grande Diretora de Arte. Ela é cheia de talentos, canta e dança, é magrinha e ágil e tem sido a responsável pela tradução - em ir atrás de nativos que fizessem a tradução das falas e das músicas - e de acompanhar no estúdio a gravação das vozes com os textos em árabe já que ninguém teria condições de atuar em árabe competentemente. Uma coisa é ser simples e ter fé e fazer o melhor que se consegue, outra coisa é fazer papel ridículo e levar as coisas de Deus a serem desacreditadas. Ela tem dado um show de oferta de todos os talentos que tem para que o Senhor os multiplique e alimente a muitos. Valeu Yara! Essa é uma exclamação que ela gosta de usar...


As írias a postos com Jesus atrás, para o começo do ensaio. A concentração é total! Bendito seja Deus! Ainda precisa de muito ensaio...

Falando nele, é neste ritmo que temos vivido, para além de nossas atividades normais de trabalho e oração. Claro que os apostolados estão suspensos e todo tempo livre e os extras possíveis giram em torno do Halleluya, dos ensaios e de correr atrás do que precisa ainda ser feito para tudo acontecer. São tantas pequenas batalhas, são tantas necessidades e o tempo mantém seu ritmo constante que nos parece veloz demais... mas cremos que vai dar certo. Tem muita gente rezando e a oração sempre fortalece quem a recebe.

Sinto aos poucos o efeito benéfico da homeopatia mesmo que ainda haja muita instabilidade no meu ânimo, como ondas que sobem e descem. Nos dias de subida porém, tenho tido boas idéias para melhor trabalhar e enfrentar as misérias de cada dia. Por esta frase dá para perceber que a maré hoje está baixa. Mais ou menos...

Sábado tivemos um evento importante em Ibillin, cidade ao norte da Galiléia onde o nosso bispo Elias Chacour viveu como pároco por 38 anos e fundou o grande complexo de educação chamado MEEI (Mar Elias Educational Institutions). Este evento reuniu as autoridades católicas dos três ritos mas representativos da Terra Santa, melquita, latino e maronita para um dia de solidariedade para os cristãos do Irque que praticamente não existem mais, foram dizimados. Como os cristãos têm sofrido perseguição!

O evento começou com a Eucaristia em rito maronita, seguida de uma sessão de pronunciamentos de apoio e de denúncia, como um grito de socorro para o mundo, para que os cristãos sejam protegidos e respeitados no Iraque. Eles valem mais que todas as baleias e golfinhos e animais em processo de extinção! Foi feita uma coleta entre todas as paróquias melquitas na semana anterior, como também no dia, e foram arrecadados aproximadamente 40 mil dólares a serem enviados pelo Vaticano às autoridades e comunidades católicas, o pequeno, assustado e mirrado rebanho sobrevivente.

Somos um corpo, o Corpo do Senhor, e esta parte do corpo está sofrendo assustadoramente...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Está tudo bem, que ninguém se preocupe. Fiquei uma semana sem computador e por estar às voltas com o Halleluya temos tido muitas atividades extras e aventuras, já que todos da casa estão envolvidos nos preparativos e até nos ensaios e danças do show 'O Canto das Írias' que vamos apresentar, e por isso deixei o blog sem notícias.
Mas o Halleluya promete ser demais, com a graça de Deus. Somos poucos, o tempo voa, os desafios enormes, os jovens desistem, os padres reclamam porque não entendem bem o que é, a Lorena fica presa uma semana no exterior por conta do vulcão que voltou a cuspir depois de 200 anos, enfim, é uma maratona, mas a gente ainda consegue se divertir! Basta lembrar de ontem a noite com a Cristina, Leandro e Viviane aprendendo os passos enquanto a Kézia cortava umas toalhas velhas para fazer o figurino das Írias. É muita coragem e criatividade, dá gosto! É muita vontade de fazer o melhor mesmo que as condições sejam mínimas, sempre na esperança de que quando a Providência Divina quiser ela dará tudo. Talvez seja esta uma das verdades a que tenho me convertido na experiência comunitária como Shalom: para Deus tudo, para Deus o melhor, para Deus todo o amor, mas sem esperar a perfeição humana e todas as circunstâncias favoráveis ou condições financeiras. O pão e o peixe são multiplicados na hora que são distribuidos.
A Yara está em Nazaré num estúdio gravando as falas e as músicas que foram traduzidas para o árabe com um esforço enorme. É uma beleza perceber a generosidade e participação de cada um naquilo que cada um pode dar, mesmo que nos entremeios haja as dificuldades e desistências. O reino de Deus se constrói assim e acaba sendo de todos. O Senhor está no nosso meio e isso a gente toca com os dedos! Domingo tem ensaio geral e depois eu conto qual será o meu personagem.
Peço oração para a Jamaat Salaam (Comunidade Shalom em árabe) e para o Halleluya Israel que acontecerá dia 7 de maio em Haifa, a partir das 15h mas que será um evento para toda a Galiléia. Esperamos que se torne anual, um evento anual de evangelização. O bom é saber que Jesus Ressuscitado nos disse no Evangelho na semana passada que nos predeceria na Galiléia e nós já chegamos, literalmente, e estamos mais uma vez a espera de sua manifestação gloriosa.
Acho que eu agora esnobei!
PS - Acabamos de receber a confirmação do Multimedia Center dos Franciscanos de Jerusalém que eles vão gravar todo o evento para a televisão! Bendito seja Deus! Shalom!

domingo, 11 de abril de 2010

Shalom a todos vós! A Páscoa!

Primeiramente algumas fotos
Domingo da Ressurreição com Cristina e Viviane e todos os membros da Pastoral Hebraica, judeus católicos espalhados em quatro núcleos por toda Israel que se encontram na Páscoa, este ano em Kyriat Yearim, uma cidadezinha perto de Jerusalém. Nesta cidade a Arca da Aliança ficou por algumas dezenas de anos, 1.000 anos antes de Cristo, até ser levada jubilosamente pelo Rei Davi para Jerusalém... mas esta história eu conto outro dia.

Igreja de Nossa Senhora, Arca da Nova Aliança, das Irmãs de S.José da Aparição, uma congregação que eu só vim conhecer aqui.


Esta foto ficou muito fofa: as mocinhas foram batizadas em 2009 e são irmãs. A do lado da Viviane chama-se Daniel (é estranho mas é sem a mesmo), e tem 15 anos, a de vermelho chama-se Elenora, de 13, e a caçula Haddass, de 11, me faz lembrar a Haddass do filme Yentl.


Eu com um dos meus ídolos, diz o povo lá de casa: padre ou Fr. David Neuhaus, jesuíta. Já falei várias vezes dele aqui no blog. É aquele de família alemã judia, fugida na guerra para a África do Sul, que mandou o filho para uma escola rabínica em Jerusalém e o viu convertido ao cristianismo e ao catolicismo na juventude. Ele recebeu o batismo com 26 anos e foi ordenado sacerdote aos 39 anos neste exato local, há dez anos, com o lema da Palavra de Deus tirado do profeta Isaías: "Eis-me aqui, envia-me Senhor!". Nada me tira da cabeça que um dia ele vai ser bispo importante na Igreja. Instrumento de reconciliação e de diálogo, além de caráter de liderança muito evidentes agregados a uma cultura invejável, ele já tem. Que o Senhor o abençoe!




Shalom! É assim que Jesus cumprimenta e surpreende os apóstolos aparecendo pela terceira vez na oitava da Páscoa, dando-lhes o dom do Espírito, como que antecipando Pentecostes, Espírito que é a plenitude de Si mesmo, ou o seu Shalom! Este texto de João 20, 19 e seguintes é o fundamento cristólógico da vocação Shalom e é o fundamento existencial de quem foi chamado por Deus a viver seu batismo nesta vocação específica. É um mistério de amor tão grande e tão maior do que eu compreendo! No entanto sei que participo e contribuo para que ele se expanda, se desenvolva e se firme neste mundo tão assustadoramente mergulhado nas trevas e desejoso de mergulhar nas trevas, o que torna a situação ainda mais dolorosa.
Tenho me tornado cada vez mais uma pessoa de esperança porque tenho aprendido a beber da fonte verdadeira que é Deus mesmo, Ele que é eterno e bom e ama com entranhas de misericórdia cada pessoa e realidade humana. É só olhar para Jesus Cristo e entender, pedir para ter olhos que vejam, coração que ame, inteligência que acolha, vida que experimente. Assim como fez Tomé. Como este apóstolo é importante para nós da Comunidade Shalom! Por que nele nós nos reconhecemos na necessidade de tocar e experimentar e ver e sentir a presença pessoal de Jesus, o toque do seu Amor e da realidade sobrenatural de Deus.
Engraçado que muitas e muitas vezes criticamos a atitude de Tomé mas Jesus vai até ele com ternura, paciência e amizade profundas e o deixa fazer a experiência pessoal da Ressurreição. Jesus o leva a crescer na fé e na visão sobrenatural da vida, e Tomé entende com a cabeça, a alma, os sentimentos, que todas as palavras do Senhor se cumpriram como também todas as do Antigo Testamento. Jesus é o Messias, o Salvador, a fonte perfeita e o próprio Shalom do Altíssimo, revelado em Jesus como Pai.
E quem fez e refez e refaz esta experiência batismal a cada Páscoa não tem outro desejo do que continuar testemunhando e dando a vida para a evangelização, seja formalmente, como é o meu caso, seja vivendo simplesmente (simplesmente?) como ressuscitados, como acontece com milhares e milhares de jovens e adultos, homens e mulheres espalhados pela face da terra, que amam, sofrem, trabalham, lutam, vivem como todas as demais pessoas, sem ser iguais a elas por causa do Ressuscitado que nelas, vivo está.

Minha Páscoa e oitava da Páscoa foram ricas e muito ocupadas. Os funcionários do asilo que são cristãos estavam de folga, e foram os de casa que tiveram que cobrir todos os horários sem contar as subidas e descidas para Haifa, para algumas cerimônias, de ônibus e de taxi, o que representou muito tempo de viagem. É que depois do acidente ficamos sem o carro que pertencia ao asilo e ficava sob a responsabilidade da Comunidade, e transporte agora ou é de ônibus, eventualmente de carona e aos sábados, por conta do Shabat, de taxi, porque não há transporte público.
Eu mesma não fui para o asilo, mas nos alternamos como missão nas celebrações pela manhã na paróquia do profeta Elias em árabe, no rito católico melquita, e à tarde na pastoral hebraica com as celebrações no rito latino em hebraico. Tudo uma grande beleza, se bem que no meu pobre entendimento e sensibilidade, falta um pouco da graça e da unção da piedade, do gozo espiritual de se celebrar vivendo e não simplesmente lembrando... É fazer memória viva. É atualizar a memória para que ela se perpetue e não somente fazer lembrança. É verdadeiramente ser tocado e tocar o coração transpassado do mais Belo dos Filhos dos Homens e ser transportado e inundado de amor, pois Ele está vivo e é real!
Seja como for porém, e para sempre, com toda a corte celeste de anjos e santos, dizemos e cantamos:
El Messih Kam! Rrá Kan Kam!
O Senhor Ressuscitou! Aleluia!
Sim, verdadeiramente ressuscitou! Aleluia!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Pequenas conversas

Foi no dia 25 de março que isso aconteceu. Eu estava em Nazaré celebrando a grande festa da Encarnação de Jesus no ventre da Virgem Maria e também meu segundo aniversário de consagração. A basílica superior estava se enchendo de peregrinos do mundo inteiro e de fiéis e religiosos que vivem espalhados na Terra Santa. Eu cheguei um pouco mais cedo para pegar lugar na ponta do banco, nem tanto atrás nem tanto na frente onde ficam o coral e geralmente as pessoas mais velhas - eu estou quase entrando pra essa turma. Quando começou o canto de entrada apareceu a Ir.Paul (é isso mesmo Paul e não Paula), que é de Isifya da congregação das Carmelitas de S.José onde nós assistimos missa de segunda a sexta, completamente perdida procurando um lugar. Naturalmente dei o meu, e fui me dirigindo para o fundo da igreja quando um casal de irlandeses, descobri no fim da missa, me chamou para ficar do lado deles esprimidinha entre eles e uma senhora. E a celebração corria solta alternando orações em árabe e cantos em latim e a senhora do meu lado com fisionomia de gringa, nos seus 60 anos, acompanhava tudo com jeito de quem sabia ler música com facilidade. De repente, quando começou a oração eucarística, ela se virou para mim, perguntou se eu falava inglês, e me fez uma pergunta inusitada: 'eu já posso ir embora ou ainda tem alguma coisa importante para acontecer?'. Por causa da minha fisionomia surpresa ela emendou: '...eu não sou católica'. Pensei comigo mesma: 'deve ser protestante'. Respondi então, rapidamente, que ela esperasse a consagração e a hora da comunhão, o ápice da celebração, para poder se retirar, e comecei a instrui-la. Na hora da consagração eu me ajoelhei e fiz sinal para ela fazer o mesmo e a resposta que recebi me surpreendeu mais uma vez: 'sou judia, e judeus não se ajoelham...' e permaneceu sentada. Continuo me perguntando até agora o que isso significa. Quando me ergui a senhora explicou-me em breves palavras, que nunca tinha entrado numa igreja na vida, que morava em Jerusalém e que estava ali acompanhando um casal francês, amigos católicos, que peregrinavam na Terra Santa. Eu achei interessantíssimo conhecer uma pessoa que nunca tivesse entrado numa igreja na vida! Mas o mais lindo foi o que se seguiu: eu perguntei se ela sabia o Pai-Nosso e ela disse que já tinha ouvido falar. Então juntas, uma cristã e uma judia, de livrinho em mãos cantamos em árabe na casa de Nazaré, a oração perfeita que o Senhor nos ensinou, pedindo que o Seu Reino viesse. Fiquei profundamente emocionada com um gosto suave na alma, fruto da oração escondida mas não menos efetiva pela unidade e pela paz na Terra Santa. Era já uma antecipação da Páscoa do Senhor!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ele está vivo!

Que mais precisa ser dito além disso, que Jesus está vivo?! Que maior descoberta pode existir senão conhecê-lo pessoalmente? Mais que idéias, palavras, textos, argumentos, conceitos, sínteses e especulações, o segredo da vida plena está nele, Jesus, o Cordeiro, o Amado, o Vivente, o Senhor, que prova de uma vez por todas que é Deus quem vem ao homem e que o ama perdida e eternamente. Nada pode nos separar de Deus e nunca mais estaremos sozinhos!

Se as guerras comem soltas na Turquia ou na Rússia e a violência procura espaço na vizinha Jerusalém e em tantas cidades é porque há poucos corações como o de Madalena que querem encontrar o seu Senhor e continuam crendo que sem a força do Ressuscitado as trevas podem deixar de ser trevas...quanta ilusão!

El Messih Kam! Rrá Kan Kam! Este é o meu grito e a minha mais profunda alegria e gratidão: o Senhor ressuscitou! Aleluia! Sim verdadeiramente ressucitou! Aleluia!