quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Sobre a Guerra

Acabei de perguntar ao bispo Elias Chacour se ele acha que a guerra vai se espalhar para o resto do país como aconteceu em 2006 contra o Líbano, e ele disse que não. Como ele esteve esta segunda-feira numa cerimônia de fim de ano no Knesset, Parlamento de Israel, com Simon Perez e todas as outras grandes autoridades religiosas e civis do país, posso confiar no que ele diz, mais do que dizem os canais de TV.

O Abuna estava abatido pela covardia da guerra pois no hoje que ela acontece, Israel conta com as mais sofisticadas e precisas armas de guerra que a tecnologia pode oferecer e o dinheiro comprar, enquanto os palestinos refugiados em Gaza - cristãos e muçulmanos que têm sofrido privação de tudo, água, luz, comida - têm pedras e pouco ou nenhum armamento. Confesso que tenho muita antipatia e mesmo rejeição aos extremistas muçulmanos e que a tendência primeira é apoiar Israel, mas na verdade, a população de Gaza mais se parece uma ratoeira humana confiscada, humilhada, privada. Para mim, não são estas pessoas e famílias quem têm que pagar o preço da insanidade dos países árabes-muçulmanos que odeiam a política de Israel ou dos EUA. Como disse o Abuna, é tempo do Estado de Israel aprender a negociar com quem guerreia contra ele e não com quem ele tem paz.

O clima em casa está um pouco tenso porque Lorena, Tennessee e Viviane, (a Duca também estava no grupo, mas atualmente vive seu tempo sabático no Brasil e está protegida), sofreram o mês de medo e bombardeio em Haifa, em julho de 2006. Eles tiveram que se refugiar em abrigos, aprender a usar aquelas máscaras horrorosas contra gás, ouvir sirenes e responder imediatamente, ver aviões rasgando o céu da cidade, enfim, sofreram muito, mesmo estando completamente abandonados e entregues nas mãos do Senhor. Mas a possiblidade de uma nova guerra e o que isso implica trás à tona as lembranças de dor, a ansiedade e medo, o que é mais que natural.

Nestes últimos dias, na hora do jantar, nós temos partilhado as últimas notícias vistas na TV, lidas na Internet ou ouvidas de alguém, seja do motorista de taxi, do amigo da quitanda ou dos vizinhos da paróquia latina ou melquita. Acho que eu e os outros que não passamos a guerra estamos meio 'alienados', meio na expectativa, percebendo a tensão, mas tentando crer que tudo vai melhorar... seguramente temos rezado e pedido ao Senhor que de a quem precisa, em especial às autoridades, um coração humano, um coração de carne movido pelo amor do Seu Espírito e não pela estupidez na morte e da vingança, da covardia.

Fico muito sofrida quando vejo as cenas dos civis mortos, crianças, mães aos prantos, principalmente porque estes rostos se tornaram tão familiares, rostos de de traços árabes-palestinos, filhos de Deus...

Com certeza será um fim de ano sem fogos de artifício. Como pequenos shalomitas missionários que somos, temos a oferecer ao Senhor nossa súplica e intercessão por algozes e por vítimas, temos a oferecer nosso coração e nosso amor, muito imperfeito, mas sincero. Só Jesus, verdadeiramente, pode dar à Humanidade aquilo que ela sozinha não conseguiu jamais gerar: a Paz!
Shalom! Salaam!

domingo, 28 de dezembro de 2008

Rumores de Guerra

Todas as notícias que ouvi até agora sobre os ataques de Israel ao grupo terrorista extremista muçulmano Hamás são as mesmas que a maioria das pessoas assistiu pela TV ao redor do mundo. Ou seja, eu não sei nenhuma outra notícia mais 'quente' que não sejam aquelas veiculadas pela CNN e a BBC. Já recebi emails da família querendo saber se corro algum perigo e se estou perto da Faixa de Gaza ou da Cisjordânia (West Bank). Estou bem longe, no norte, a mais de duas horas de carro de Jerusalém e mais longe ainda da Faixa de Gaza que fica ao sul. Não há perigo. Há muita expectativa no ar e certa tensão com o que vai ou pode acontecer, mas ainda não aconteceu para além das áreas de conflito. Rezemos e peço oração para que haja possibilidade de negociação e que os extremistas aceitem sentar para conversar sem querer que mais civis sofram as consequências das insanidades da violência seja de Israel, seja dos palestinos muçulmanos terroristas.
Por favor, rezemos pelos cristãos e por todas as pessoas de boa vontade que sofrem MUITO nestas situações. Que o Senhor tenha misericórdia de nós, por causa de Seu Filho Jesus, Nosso Senhor!
Mas fiquem tranquilos que hoje em casa, passamos um dia normal, com a missa de sempre, almoço, lanche, risos, conversas, fotos e até uma pizza por conta de una amigos do Brasil que estão visitanto a Comunidade. Amanhã darei mais notícias.
Shalom!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O Messias Chegou!

Este Menino Jesus foi entronizado na manjedoura do presépio de nossa casa em Isifya, na madrugada de 24 para 25 de dezembro, depois que chegamos da missa em Haifa, na Pastoral Hebraica, e fizemos um momento comunitário de louvor e adoração na capela. Nosso grande desejo pessoal e comunitário era e sempre será, dar espaço para Jesus entrar, nascer, ficar, manifestar-se como Salvador e Senhor.
Na homilia o padre nos contou que havia sido entrevistado por uma rádio da cidade a respeito do Natal e que, pelas tantas, o jornalista lhe perguntou com muita dureza, como os cristãos tinham coragem de dizer que o Messias já tinha vindo, que o Salvador já estava no meio deles, vendo o mundo do jeito que está, marcado pelo terrorismo, pelas crises financeiras, por guerras e fome, violência e drogas, por tantos horrores? Como Ele já poderia ter vindo?
E aí o padre fez a experiência da unção e das palavras certas inspiradas pelo Espírito Santo, que cala o interlocutor, ao responder, usando a palavra de Deus que nos diz: '...reclinou-o num presépio, porque não havia lugar para eles na hospedaria' (Lucas 2,7). O Messias veio e está no meio de nós, somos nós que continuamos a dizer para Ele que não há lugar e por isso as coisas estão como estão. Somos nós que rejeitamos o Messias e a Luz e preferimos caminhar nas trevas. E a homilia seguiu esta direção: dar espaço para Jesus, acolher Jesus, deixar que Ele seja Deus e Messias, Salvador e Emanuel.


Um close bem dado no delicioso peru temperado
pela Silvâniaservido como uma farofa que só os
brasileiros sabem fazer e apreciar.
Delícia!

Todos juntos na hora da ceia. Na ordem, da esquerda para direita: Tennessee, Silvânia, Lorena, Cristina (a enfermeira, missionária recém-chegada), Yara, Elena e Viviane. Faltava só o Leandro que estava batendo a foto.
Como é bom para irmãos viverem unidos!
Mesmo com todas as diferenças somos amigos e nos queremos muito bem!
Dessa turma só falta a Duca que permanece no Brasil no seu tempo sabático.

Esta foto é do dia 24 às 16h e mostra a vista que se tem da varanda de trás da casa de onde se vê o belo horizonte das montanhas da Galiléia, nessa época cercadas de névoa e chuva pois o frio é intenso.
É uma experiência nova passar o Natal sentindo frio...


Estou do lado do Abuna Elias Chacour, no dia 24,
quando alguns funcionários da
Cúria foram convidados para almoçar com ele.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O esconderijo de Deus

Domingo passado eu quis demais ir à missa do IV Domingo do Advento na Pastoral Hebraica, mesmo sabendo que isso representa uma trabalheira danada, muito tempo gasto em ônibus para ir para Haifa, abrir mão de descansar um pouquinho no único dia de folga, mas, de alguma forma, eu 'necessitava' participar de uma missa latina, do jeito nosso de ser, mesmo sendo em hebraico. Pelo menos a gente sabe as orações de cor e conhece, na razão e na emoção, como a liturgia acontece e se desenrola. Só que Deus tinha uma surpresinha a me falar na homilia do padre David, jesuíta, graças a Deus traduzida e sussurrada pela Viviane.

(Se alguém tiver a curiosidade e souber inglês ou hebraico, talvez russo, e queira de checar mais informações sobre os judeus católicos em Israel, acesse este site: www.catholic.co.il/).

O padre David falou de maneira simples e ungida, e com a autoridade de quem é professor de Bílbia da Universidade de Jerusalém. Ele também é conhecedor da cultura hebraica por ser judeu de nascimento e origem, convertido como Santa Edith Stein quando jovem ao Cristianismo, ao Catolicismo, até se fazer jesuíta. Acho até que já comentei sobre isso antes. Ele falou sobre a morada de Deus. Que o Rei Davi quando se viu protegido e seguro num palácio real, quis construir um templo para o Senhor Deus Altíssimo cuja presença se escondia numa tenda. E assim foi feito até o templo de Jerusalém ficar pronto e ser até hoje, mesmo em ruínas, lugar sagrado e santo.

No entanto, continuava o padre, Deus quis escolher para sua morada o coração e o ventre de uma jovenzinha totalmente desconhecida que habitava numa vila mais desconhecida ainda, tão minúscula que nem no mapa aparecia, chamada Nazaré. A gente conhece bem o relato. O que ele enfatizou na homilia porém, é que em Maria, em Nossa Senhora - gosto de chama-la assim - o Deus Altíssimo criador do Céu e da Terra, se escondeu por inteiro e, partir da Encarnação do Verbo, de Jesus Nosso Senhor, Ele inaugurou surpreendentemente e para sempre o lugar por excelência onde Ele quer permanecer, viver e estar, a sua casa: o coração do homem!

Fala sério: dá ou não dá uma gratidão imedida contemplar, viver e participar de tão grande mistério?

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Algumas mudanças, uma tragédia

Com o tempo - dia 23 completo 6 meses de missão - vou tomando cada vez mais consciência de uma realidade que estando na América Latina, me passava totalmente despercebida: os cristãos da Terra Santa sofrem e necessitam de todo apoio que o mundo ocidental possa oferecer! Seguramente por influência do contato diário com a realidade, com os dados aos quais tenho acesso pelo trabalho com o bispo, entendo como nunca antes, que não podemos nos esquecer dos cristãos-católicos que são da terra, os árabes-palestinos cristãos! Eles moram tanto em Israel, e representam somente 2% da população, aproximadamente 150 mil pessoas, ou se tornaram refugiados nos territórios palestinos, conhecidos como Faixa de Gaza e Cisjordânia, aquelas terríveis áreas de conflito que frequentemente vemos nos noticiários.

Na minha ignorância, que acho que se assemelha à ignorância da maioria da população que se informa via televisão, agregada a uma ou outra leitura ou comentário, eu nunca pensava na Terra Santa como um lugar onde os cristãos habitavam. Terra Santa era um lugar de ruínas e de lugares santos, protegidos e resguardados por centenas de franciscanos, como uma grande vitrine geográfica-histórico-arqueológica dos episódios bíblicos, encravada no Estado de Israel. Este era um país corajosamente construído pelos e para os judeus, espalhados pelos cinco continentes após a diáspora que, merecidamente, haviam voltado para cá depois do holocausto da II Guerra Mundial. Terra Santa era mais ou menos isso. Um lugar que a gente sonha a vida inteira em conhecer e visitar como peregrino. Mais ou menos como uma Meca do Cristianismo...primeiro Roma, depois a Terra Santa, mas não necessariamente nesta ordem.

Só que a realidade de missionária me ensina e me faz acordar para o fato de que havia judeus e palestinos habitantes na terra - a Palestina - antes da criação de Israel! É tão óbvio! E mais: por causa da mídia que apresenta notícias incompletas - me falta agora um termo melhor - eu tinha a tendência é colocar na mesma categoria todos os árabes, como se fossem farinha do mesmo saco. Os árabes-muçulmanos espalhados pelos 20 países árabes que compõem o Oriente Médio, e que são muitas vezes loucos, perigosos, radicais, extremistas, irracionais e devem ser temidos, tipo os que vemos no Irã atualmente, não a mesma categoria dos árabes-palestinos, muçulmanos e cristãos, que por séculos conviveram, brigaram, sofreram, rezaram com os vizinhos judeus que habitavam na Terra Santa!

Com a criação do Estado de Israel esta convivência tomou um outro perfil bastante complexo. Uma sucessão de atitudes injustas e extremistas que geraram mais atitudes extremistas, e assim a bola de neve só tem aumentado. Está mais para rolo compressor do que para bola de neve. Só sei, vejo e testemunho que na atualidade - e isso significa especificamente nos últimos 60 anos - são os cristãos aqueles que mais sofrem as retaliações dos dois lados, seja de judeus, seja de árabes-muçulmanos. Para ilustrar conto dois episódios. Na vila de Mughar há cinco anos atrás, um jovem muçulmano-druzo espalhou na internet uma série de fotos pornográficas de uma jovem muçulmana, dizendo que tinha sido trabalho um jovem cristão, o que gerou uma grande revolta entre os muçulmanos adultos da vila. Resultado: uma semana de ataques violentos e destruição de casas de cristãos e quase a blasfêmia e destruição dos espaços sagrados da igreja local, gerando o êxodo de 40 famílias não sei pra onde... Depois o jovem muçulmano confessou que tinha sido ele mesmo a montar as fotos mas o estrago já estava feito e as famílias não voltaram mais por medo e a comunidade cristã foi reduzida.

O segundo caso aconteceu domingo passado, Domingo da Alegria, Gaudete, na vila de Ikrit, localizada no extremo norte da Galiléia. Esta vila de maioria cristã melquita, foi totalmente destruída entre 1948 e 1951, com outras 460 vilas, quando o exército israelense sionista estava tomando posse da terra e fazendo Israel surgir à força. A cada ano, desde então, a população de Ikrit que passara a viver na circunvizinhança, e seus descendentes, nas grandes festas religiosas, se reune ao redor das ruínas do que sobrou da igreja e lá celebra. Há também quem se case em Ikrit, e os idosos, invariavelmente, pedem para ser enterrados no solo onde nasceram. Na época do Advento, a cada ano, costumam ajeitar a estrada que dá acesso à vila para o Natal. Este ano, assim que as obras começaram, a população recebeu ameaças dos moradores do kibbutz vizinho, que era para interromperem a obra senão eles destruiriam tudo. Os responsáveis pela obra de restauração da estrada e o comitê da 'festa de Natal' de Ikrit foram à Corte de Israel e conseguiram uma permissão oficial para terminarem as obras. Mas em vão: na madrugada de domingo para segunda-feira, 14 para 15 de dezembro, a estrada foi totalmente destruída por máquinas e tratores trazidos do kibbutz.

O bispo (Abuna) Elias Chacour foi imediatamente acionado e consternado foi ver a situação in loco. Lá chegando encontrou a população aos prantos, na beira da estrada, como em vigília, sem saber o que fazer, além de rezar e pedir a Deus a graça do perdão e da sabedoria da ação. Felizmente como o Abuna é muito respeitado e conhecido, recebeu telefonemas de solidariedade e apoio de várias autoridades judias, de ministros e do prefeito de Haifa, só para citar alguns, que vieram pessoalmente à Cúria conversar com ele para juntos tomarem alguma decisão legal e justa. É óbvio que existem pessoas de bem e justas, que querem promover a paz e que são judias. Hoje haverá uma manifestação pública, tipo passeata nos arredores de Ikrit contra o abuso de poder do Kibbutz, exigindo que a estrada seja reconstruída até o Natal (é coisa curta de 1,5km). Vamos ver no que vai dar.

Meu ponto aqui porém, é fazer chegar aos ouvidos e aos corações de mais pessoas, como vivem os cristãos na Terra Santa, e como é nosso dever fraterno como Corpo de Cristo interceder por eles. Estes dois casos ilustram como os cristãos, minoria pacífica, reconhecidos como povo reconciliador pelas próprias autoridades de Israel e pelos muçulmanos comuns, é tratada tanto por judeus extremistas quanto por muçulmanos extremistas. Só que estes cristãos são árabes-palestinos também e não tem nada a ver com os árabes-palestinos de grupos radicais insandecidos extremistas muçulmanos capazes de se fazerem homens e mulheres-bomba matando indiscrimidamente cidadãos inocentes. Estes são terroristas, e tão terroristas quanto os sionistas.
Os árabes-palestinos-cristãos-católicos estão fora dessa categoria. Eles continuam preparando com a vida a Volta do Senhor e O adorando na manjedoura, como o Menino Jesus, o Filho do Deus Altíssimo.

Quem está do outro lado do mundo e que também conhece Jesus, celebra o Natal e quer que a Terra Santa permaneça existindo, lembre-se ao menos de rezar e interceder pelos cristãos que vivem aqui. Também eles precisam do amor e da intercessão, do apoio e de uma grande renovação espiritual pela vinda do Espírito Santo que faz novas todas as coisas. Também eles precisam ser lembrados porque como diz o Abuna: os cristãos são as Pedras Vivas da Terra Santa!

Até agora falei da tragédia. As mudanças a que o título se refere dizem respeito à chegada da Cristina, nova missionária consagrada na Comunidade de Aliança como eu, enfermeira, que veio se juntar ao grupo de irmãos da missão de Isifya cujo apostolado se dá no asilo. Cristina é do Amapá mas já era missionária em Propriá, minha querida Prorpiá, em Sergipe, e de lá resolveu ofertar mais dois anos de sua vida a Jesus e à Igreja, de maneira total. Ela chegou e a Andréia foi viver seu segundo ano de oferta como missionária em Nazaré. Andréia é aquela negra alta, bonitona de Salvador, de quem já falei e a quem vim substituir na Cúria. Por fim, partiu o Tales de volta para o Brasil, depois de muitas lutas, um sincero trabalho de evangelização entre os jovens de Haifa e muito desejo de acertar. Levou alguns sofrimentos interiores e deixou outros... mas assim é a vida.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Estes últimos dias...

Deu certo a apresentação da minha papelada na Embaixada Brasileira para a renovação do meu auxílio-doença. Este benefício adquiri por conta do CA de mama que tive, e que me deixou sequelas no braço direito. Bendito seja Deus! O Ministério da Previdência Social interpreta a solicitação dos médicos especialistas como insuficiente para me dar aposentadoria por invalidez (invalidez no sentido médico que significa o não funcionamento adequado de determinado órgão ou membro do corpo humano), fazer o quê? como dizem os paulistas, mas o mesmo Ministério me permite pedir a renovação do benefício. É sem dúvida uma trabalheira medonha e um pedido inusitado, estando eu fora do país como missionária voluntária, tendo que pedir à embaixada a indicação de um médico para uma perícia em trânsito. Mas até agora deu tudo certo. Bendito seja Deus mais uma vez!
Testemunho que muito cansada dessa lenga-lenga de anos, que sem querer, ou quem sabe até mesmo querendo, faz com que a gente se sinta 'culpada', lesando a Previdência, mesmo não sendo mesmo assim, fui rezar, abrindo meu coração para o Senhor, buscando seu direcionamento e sua Palavra para me orientar. Ele me deu um versículo muito interessante que me levou à ação e me fez não desistir, além de me dar sensibilidade espiritual para perceber os pequenos porém significativos sinais de Sua presença que me acompanha a cada etapa: 'Faze como melhor te parecer' (II Reis 10,5b).
Agora que todos os papéis foram enviados para Brasília para serem verificados, avaliados e espero sinceramente, aceitos, sinto que, mais do que nunca é hora de confiar na ação misericordiosa de Deus que é soberana sobre tudo e todos. Todas as vezes que eu me vejo ou vejo outras pessoas ao me redor em situações como esta em que a gente depende da boa vontade das pessoas para interpretar textos, cartas, pedidos e relatórios, e não se pode fazer mais nada, eu penso nos anjos do Senhor que nos foram dados para nos guardar em todos os caminhos, como está escrito nos salmos, e renovo minha fé e confiança na ação e proteção deles.
Cada pessoa recebeu do Senhor um anjo no seu nascimento, criaturas celestes, espirituais, que sempre nos levam para o centro da vontade de Deus. Eles são incríveis! Eles louvam e servem o Senhor e nos amam e servem por amor ao Senhor. Como deveríamos invoca-los mais vezes e contar com a ajuda deles com mais frequência... A Bílbia está cheia de casos e relatos da interferência e ação dos anjos como mensageiros do Senhor. Agora mesmo, tempo do Advento, às vésperas do Natal, veremos o arcanjo Gabriel anunciando à Nossa Senhora sua missão. No Natal os anjos visitarão os pastores em Betsahur - a cidadezinha a 2 km de Belém, cidadezinha dos pastores - para que estes partam logo a adorar o Menino...
Os anjos, são eles que estão 'trabalhando' para que a perfeita vontade do Senhor se manifeste nesta simples questão da renovação da minha licença. O 'meu' anjo trabalha em consonância com os anjos de todos os funcionários que terão acesso às minhas papeladas no Ministério, e eles só almejam o meu bem e a paz, e a glória de Deus, por isso não há o que temer.
E caso haja algum leitor para o que acabei de escrever, espero que você também faça a experiência de fé bíblica e fé católica na presença e na condução dos anjos neste HOJE da sua vida, tempo de graça, tempo da vinda do Senhor! Peça que eles o ajudem concretamente, peça que eles o ensinem a louvar o Senhor e deixe todos os assuntos em suas mãos.
Shalom! Amém!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Por que sumi?

Festa de Nossa Senhora de Guadalupe, a padroeira das Américas, aquela que soube se inculturar perfeitamente...lembro-me que a primeira vez que ouvi uma longa e comovente explicação sobre o milagre da tilma do índio Juan Diego - hoje em dia santo canonizado, se não me engano - onde Nossa Senhora imprimiu seu rosto e imagem, o detalhe que mais me comoveu foi o fato dela ter se apresentado com a mesma cor de pele e fisionomia dos índios locais. Dessa maneira a evangelização até aquele momento difícil, lenta e 'emperrada', tomou novo fôlego do Espírito e se espalhou rapidamente já que a população local se reconhecia na fisionomia da Mãe do Senhor e, por causa dela, aceitava e aderia a Jesus. Onde Nossa Senhora está sempre o Espírito Santo se manifesta levando os corações ao Senhor.

Estes dias andei sumida resolvendo uma questão delicada de documentação e exames médicos referentes à renovação do meu auxílio-doença junto à Embaixada do Brasil, para ser encaminhada ao Ministério da Previdência. Exercício de paciência e de persistência, de confiança e louvor, mesmo que a pressão da gente até suba...mas não é nada sério, que ninguém se preocupe, mas conto com a oração dos amigos. É que às vezes as orientações que a gente recebe no Brasil não correspodem à realidade local...não quero entrar em detalhes. Na verdade tem gente muito querida me ajudando (essa é prá você Ric) e a Providência Divina tem me surpreendido. Mas o exercício da fé de que o Senhor é também Senhor do tempo, dos prazos, das datas, das burocracias, da má e da boa vontade das pessoas, é um salutar exercício diário neste tempo de AdventoCreio, porém, que vai dar certo e dando certo para mim, aprendo o caminho das pedras e o indico para outras pessoas, como tantas vezes Deus permite em minha vida.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A Obediência

Eu havia prometido colocar a imagem maior do afresco de Pentecostes onde Nossa Senhora reza pedindo o cumprimento da promessa de Jesus de derramar o Espírito Santo sobre a face da terra depois de sua morte e ressurreição. Este afresco está em Jerusalém na Abadia da Dormição onde Nossa Senhora foi levada aos céus pelos anjos. Diz o Abuna Elias Chacour que o Espírito veio como um vento impetuoso, como um vendaval, que varre e cobre tudo...que assim devemos também nós pedir que Ele venha em nossos corações.


Por estes dias li alguma coisa do Pe.Raniero Cantalamessa sobre a obediência, que me esclareceu tremendamente. Para quem não sabe, o Pe.Raniero é um italiano, capuchinho, muito conhecido no mundo católico, grande teólogo porque consegue mesclar conhecimento intelectual penetrado da unção e da graça do Espírito Santo, capaz de tocar e converter os corações. A leitura de tudo que ele escreve é quase obrigatória! Nunca vi nada que não fosse excelente! Para quem nunca teve a curiosidade, vale a pena acessar o site oficial dele, que tem este endereço: www.cantalamessa.org

Falando sobre a obediência ele apontava a questão da atitude interior, a atitude de colocar tudo em oração, primeiramente, nas mãos de Jesus, pedindo a sua orientação, procurando saber a vontade do Pai. Essa atitude é a postura básica de quem quer ser obediente e quer aprender a cultivar a verdadeira humildade de coração que não tem nada a ver com negar a própria inteligência, bom senso e raciocínio. E foi neste ponto que o texto me iluminou. Submeter todos os assuntos, planos, desejos, gastos, convites, compras, relacionamentos, amores e desamores, viagens, férias, presentes, anseios nas mãos do Senhor, não é negar a própria capacidade de escolha e inteligência, de lógica e lucidez, de liberdade e responsabilidade mas é desejar viver tudo isso na mais perfeita comunhão de amor com a Vontade de Deus que é sempre perfeita e boa para nós. Assim Jesus agia, assim Jesus fez, todo o tempo e por isso foi considerado O OBEDIENTE.

Ser obediente então, é uma atitude de abertura interior de quem quer levar à plenitude as próprias potencialidades, cultura, estudo, a própria liberdade e responsabilidade, submetendo todas as realidades interiores e exteriores ao Senhor em oração. Assim Deus fica no centro das ações. Ele age através dos fatos e das pessoas, das circunstâncias, até dos infortúnios porque foi dado a Ele este poder na entrega feita em oração, por amizade e amor. Não é que eu tenho que, por obrigação, nem com 'emburrecimento'. Muito menos tem a ver com comodismo. Ao contrário, quem quer ser obediente quer ver a ação e a presença do Espírito de Deus, que tudo dispõe para o bem, acontecer em si mesmo, em todas as criaturas, pessoas, relacionamentos e ações humanas! É uma parceria! Quem quer ser obediente quer ser amigo de Deus e amigo de todos os homens nas mais simples e singelas atividades de cada dia, ou até naqueles escolhas que dão rumo definitivo à nossa vida e à vida de quem está ao nosso redor.

Que Deus que nos deu o privilégio de viver num mundo tão independente e nos concedeu tantas conquistas de liberdade e autonomia - o que é maravilhoso -, nos livre da pouca inteligência de não sermos totalmente dependentes e obedientes a Ele que é a própria Liberdade, a própria Beleza e todo Amor.


Shalom! Salaam!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A Imaculada Conceição

Esta belíssima imagem de Nossa Senhora em louça encontrei na Pastoral Hebraica em Haifa. O que me encantou foi o rosto totalmente judeu e delicado!
Esta pastoral cuida de judeus convertidos ao Cristianismo e ao Catolicismo de rito Latino, especificamente. Tem judeus de Israel mesmo e alguns judeus poloneses, judeus russos... a missa é celebrada em hebraico e o coordenador é um jesuíta, Pe. David. Ele foi criado na África do Sul de pais judeus alemães fugidos para a África na II Guerra. Quando adolescente se interessou pelo Cristianismo, depois pelo Catolicismo e por fim, aos 18 anos, quando não tinha mais jeito, recebeu a autorização dos pais para receber o batismo. Terminou se tornando sacerdote jesuíta. É uma história linda, que lembra a da Sta.Edith Stein.
Da nossa missão quem trabalha na Pastoral Hebraica como catequista, emprestando sua alegria, boa voz e juventude é a Viviane. Depois eu coloco mais fotos. Hoje o desejo é pedir que a Mãe Imaculada, a cheia de Graça, nos leve para mais perto de seu Filho Jesus, Nosso Senhor.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Fotos Variadas

Há vários meses vinha esperando a oportunidade de tirar umas fotos dos soldados israelenses que pegam ônibus no mesmo horário que eu. Na sexta-feira aconteceu de uma delas - a mais baixinha da foto abaixo, de óculos - puxar conversa comigo e aí eu pedi para tirar as fotos. Conversa vai, conversa vem, descobri que este jovem em primeiro plano na primeira foto, é filho e neto de judeus-brasileiros paulistanos que se mudaram para cá na década de 70. Ele se chama Elad e me disse que o sonho é conhecer o Brasil! Arriscou algumas palavrinhas em português e me garatiu que vai conhecer Ipanema, Copacabana e o Maracanã em 2014, na Copa do Mundo. Resolveu seguir carreira militar e vai passar mais seis anos no Exército, além dos três obrigatórios.
Estas três jovens simpáticas, israelenses, são obrigadas por lei a cumprir dois anos de Serviço Militar. Os rapazes servem por três anos, se a informação que obtive estiver correta.

Finalmente, para quem sempre me pede, uma vista de Haifa. Este mar lindo atrás é o Mediterrâneo. Eu estava subindo para Isifya depois do trabalho, de carona com o Adeeb e resolvemos parar nesta vista panorâmica perfeita, ponto obrigatório de todos os turistas, no grande Carmelo Masculino de Haifa que se chama Stella Maris. É lindo demais a vista que se tem da cadeia de montanhas que forma o Monte Carmelo e do mar. Neste dia frio às vésperas do inverno, o dia estava muito claro e limpo e, felizmente, minha câmera digital estava comigo.

Vista panorâmica de Haifa em Israel. O Líbano está por trás das montanhas que se percebe com esforço.

Este mosaico é o que eu havia comentado, que fica acima do esquife de Nossa Senhora dormindo à espera de ser assunta aos céus, como Jesus, em corpo e alma, na Abadia da Dormição em Jerusalém. O rosto de Jesus é tão sereno, seguro, bondoso, mesmo sendo Senhor, que a gente fica horas admirando a obra de arte.
Bendito seja o Senhor que vem! Bendito seja o Senhor que nos ensina a vigiar e orar! Bendito seja o Senhor que neste tempo do Advento nos chama ao desapego, a fazermos faxinas em nossos corações e em nossas casas. É tempo de jogar luz onde há ranço, chatice e velhice - no mal sentido - e deixar que a leveza, a pureza, a esperança do Menino, nos de fôlego e alegria novas para continuarmos tocando a vida com a dignidade de filhos e filhas de Deus!

Maranathá! Vem Senhor Jesus!

Não faltam assuntos nem fotos nem novidades, o que tem sobrado são imprevistos e muito vento e frio que me fazem não ter condições de escrever longamente no blog como gostaria. Mas está tudo em paz. É advento. É tempo de olhar para dentro de si e se perguntar quanto de desejo de Deus e de sua presença, verdade e amor ainda há em mim. Tempo de saber se meu coração ainda se encanta, comove, enternece e quer crescer em amizade com Jesus...
Hoje li uma frase fantástica, acho que do Papa Paulo VI que diz que 'a paciência é a filha caçula da esperança'...Lindo demais! Continuemos construindo com nossa vida tantas vezes caçula e menor, a paciência e a esperança sobre nós mesmos e sobre o que nos cerca e vemos na TV. Por mais louco que esteja este mundo cremos e temos a nosso favor a História que comprova isso, que Nosso Deus e Pai está sob o comando de tudo, e é o Senhor e consegue tirar um bem daquilo que nos parece somente sofrimento e dor. E mesmo quando só nos restam perguntas e lágrimas, mais do que certezas...
Vem Senhor Jesus!
Por fim, deixo este texto que recebi pela internet, do Pe.Fábio de Melo, que traz uma sábia verdade para este tempo de Advento. É um presente para quem ler o blog nesta sexta-feira:
'Eu não sei se a vida é que vai rápida demais ou se sou eu que estou mais lento. O que sei é que ando me atropelando nos próprios passos. Eu resolvi desacelerar. Eu vou no ritmo que posso. Não é fácil. É sabedoria que requer aprendizado! Eu quero aprender. O descompasso é a causa de todo cansaço. O corpo é rápido, mas o coração não. O corpo anda no compasso da agenda. O coração anda é no compasso do amor miúdo. O corpo sobrevive de andares largos. O coração sobrevive de pequenos passos e de demoras.
Eu já fui e voltei a inúmeros lugares e o coração nem saiu do lugar.

O mistério é saber reconciliar as partes. Conciliar um ritmo que seja bom para os dois. Eu quero aprender. Não quero o martírio antes da hora. Quero é o direito de saborear o tempo como se fosse um menino que perdeu a pressa. Chega de vida complicada. Eu preciso é de simplicidade!'
SHALOM!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Visita a Jerusalém


É uma sensação nova passear em Jerusalém sem se sentir turista. Foi isso que aconteceu comigo ontem ao acompanhar o bispo Elias Chacour até Jerusalém. Enquanto ele participava de uma reunião no Knesset, que é o Parlamento de Israel, eu batia perna pela Cidade Velha. Foi uma experiência única porque pude andar sozinha, sem obrigação de correr, podendo me deter nos detalhes das construções e das pedras milenares..., pude observar o rosto dos turistas, aos bandos, falando sobretudo inglês, polonês e espanhol..., e pude rezar quanto tempo quis diante do que me interessasse.

Me detive longamente na Abadia da Dormição, onde Nossa Senhora foi assunta aos Céus pelos anjos. Tirei lindas fotos. Uma das mais belas foi a de um mosaico de Jesus que está sobre o esquife em madeira representando a Virgem que dorme. Muito bonito, realmente! E a outra pintura, na verdade um afresco, representa Nossa Senhora rezando - ela está de olhos fechados - ladeada pelos doze Apóstolos, na manhã de Pentecostes, esperando que a promessa do Senhor se cumprisse. Cheguei a levar um carão do guardinha pois fiquei tão encantada com o afresco que fui me aproximando, aproximando...me desculpei pela invasão do espaço, mas já era tarde, eu já havia fotografado. Esta foto acima é o detalha de Nossa Senhora rezando, ladeada de S.João e de S.Pedro.

Sem nenhum exibicionismo, já que contar isso na web pode parecer que quero me 'amostrar', rezei longamente neste lugar, junto dos anjos, da Virgem Imaculada, na presença do Espírito, pedindo que o Senhor fizesse novas todas as coisas, mais uma vez, na vida de tantos que guardo no meu coração, no chão deste país, e na vida de tantos que neste mundo sofrem. Sofrem nas guerras, em consequência de catástrofes, sofrem porque não tem nenhuma esperança nem sentido de vida, e sofrem porque são cristãos, porque amam Jesus e amam a Virgem Maria. Acho que nessa hora um grupo de sacerdotes ou seminaristas espanhóis entrou e com um vozeirão muito piedoso começaram a cantar a Salve Regina em latim...não teve jeito: danei a chorar! Parece até que eu nem sou filha da D.Glória e sobrinha da Maria Francisca.
Pode ter certeza que se você se recomendou às minhas orações, ontem em Jerusalém, você foi lembrado. Jerusalém, a cidade de todas as cidades, sobre quem o Senhor chorou...Foi Nossa Senhora, a Mãe das Misericórdias, que apresentou cada uma de nossas necessidades Àquele que vem e que nos ama com amor eterno!