sexta-feira, 20 de julho de 2012

Uma grande serva do Espírito Santo!

Esta da foto a quem abraço com tanto carinho é Irmã Trindade Campos, serva do Espírito Santo, uma das primeiras brasileiras religiosas líderes da Renovação Carismática, que tanto marcou a minha vida espiritual e que voltou para a casa do Pai no domingo dia 8 de julho.  A Trinity, como seus muitos amigos e filhos espirituais próximos a chamavam, fez a experiência do batismo no Espírito Santo em 1971 e esteve presente no primeiro Congresso Mundial da RCC em 73 representando o Brasil. Ela era uma memória viva dos primórdios do derramamento do Espírito Santo no nosso país e, junto com Pe.Jonas Abib, Dom Cipriano Mendes e Pe.Edward Dougherty, entre outros, como Doris fundadora da Comunidade Bom Pastor no Rio de Janeiro, foi da liderança da RCC e levou os carismas e jeito novo de amar Jesus e Sua Palavra no Espírito por esse Brasil afora. Lembro-me bem do carinho e do respeito que o Moysés e a Maria Emmir sempre tiveram por ela e de como a Ir.Trindade ficou impressionadíssima quando conheceu a Comunidade Shalom em Fortaleza, ainda nos anos 90. Me lembro de seu comentário: 'vi na Comunidade o frescor, a alegria, a exuberância e a vivência concreta do Evangelho que toda Congregação Religiosa da Igreja sonha viver... até a minha!', e abriu um largo sorriso emoldurado por seus olhos azuis.

Por anos a Trinity viveu no Rio de Janeiro, depois foi para Belo Horizonte e por fim viveu muitos anos em Brasília trabalhando na Rádio Nova Aliança até já idosa e com problemas de saúde mais graves, ser transferida há aproximadamente dois anos para a Casa das Idosas de sua Congregação, a casa de Sant'Anna em Santo Amaro, São Paulo, onde tive a alegria de visita-la por um fim de semana, ano passado, quando de férias no Brasil. Esta foto foi tirada pela enfermeira, no quarto dela, pouco antes de me despedir e ir para o aeroporto. Tínhamos conversado um pouco sobre a vida missionária - e ela sentia enorme alegria e orgulho por sua filhota missionária que vivia em Israel - e sobre o amor de Deus, e a vida de oração, sua mais última paixão, no sentido de querer crescer na vida de oração e intimidade com Jesus, o Amado de sua vida. Lembro-me bem de como descrevia sua dificuldade em ser 'contemplativa' como ela tanto desejava, até entender que seu carisma de vida era mais ativo que místico e que o Senhor lhe pedia somente o amor, a aceitação daquilo que Ele lhe permitia ser e viver, nos limites próprios da idade. E assim ela viveu este último tempo de sua vida,  até o último domingo, com alegria de ser quem era - amada do Pai do Céu sempre repetia - contemplando Deus em si mesma e ao seu redor, no mistério das pequeninas coisas que tecem a malha da vida de todos nós.

'A Trindade foi para o Céu, foi viver seu Pentecostes definitivo, como serva do Espírito Santo que era'. Assim recebi a notícia por email sobre a sua morte, e muito me comovi. Que gratidão senti por esta tão grande mulher de Deus em minha vida! Com ela aprendi a rezar carismaticamente, a rezar por cura e libertação, a deixar-me usar nos dons de serviço do Espírito, línguas, profecia, interpretação, a cantar no Espírito. Que bela voz a Trindade tinha! E como era marcante ve-la cantar no Espírito e levar uma assembléia de oração a fazer o mesmo... Creio que se a Trindade tivesse nascido depois - ela estava com 80 anos - seria da Comunidade Shalom porque poucas vezes vi uma pessoa com tanto carisma com a juventude! No Colégio Imaculado Coração de Maria onde estudei, em 1975, no Méier, Rio de Janeiro, quando ela fundou um dos primeiros grupos de oração do Brasil, o Água Viva que ainda existe, a víamos sempre cercada de jovens, rapazes e moças, às vezes causando um certo incômodo às demais irmãs, mas ela mesma jamais se envergonhava de nossas roupas e jeitos rebeldes... parecia nem notar e simplesmente nos amava e nos levava para Jesus, rezava conosco e perto de nós, fazendo discípulos. Quantas vezes tive oportunidade de viajar com a Trindade e sem qualquer competência prévia rezar junto, fazer junto, servir junto e aprender que o Espírito Santo precisa de servos e não de doutores. É o serviço e o espírito de serviço que pode nos levar a ser doutores um dia se assim o Espírito do Senhor quiser e não o contrário. Jesus mesmo fez discípulos que viviam com Ele e aprendiam com Ele, pela palavra e pela ação e parece que os amigos e as amigas de Jesus, em toda a História, repetem essa didática do Senhor sempre guiados pelo Espírito Santo.

Essa é uma estátua de madeira da capela do Convento da Santíssima Trindade em São Paulo onde a Trinity morava. É Nossa Senhora como Serva do Espírito Santo, a cheia dele, em postura de oração, louvor, de olhos fechados... mais católica e carismática, impossível, e mais modelo de tudo o que a Trindade sempre quiser ser e viver também é difícil achar. Meu sonho era tirar essa foto e jamais tive oportunidade nas visitas anteriores que fiz ao convento nestas décadas de convivência com a Trindade. Que bom que em 2011 deu certo e eu posso agora publicar.

Trindade querida na sua salinha do computador de onde mandava para a sua lista de contatos muitas mensagens que seus fiéis amigos encaminhavam para ela diariamente. Desse jeito, mesmo com toda a limitação visiual, ela mantinha contato com o mundo exterior e mais uma vez falava eloquentemente com a vida, mais do que com palavras, a não desisitirmos nunca diante dos desafios...e sempre em espírito de louvor pois Jesus é o Senhor. Talvez tenha sido essa a oração que mais vezes saiu de seu coração: Jesus é o Senhor! Ela sempre se dizia uma meninona de coração mole, porém tinha uma coragem e uma simplicidade diante de Deus que era virtude e obra de quem se deixou amar e transformar pelo amor de Jesus. 

Eu entrava no taxi na porta do convento para ir para o aeroporto quando pedi essa última foto. Tenho confiança que ela me esperará na porta do Céu quando chegar a minha vez de ir para lá. Confio-me demais à sua intercessão para que os sonhos que há no meu coração de viver plenamente a vontade de Deus se cumpram. Jamais me esquecerei que foi com ela que eu aprendi a confiar mais nas pessoas, sempre, com o olhar de Jesus que sempre acredita, mesmo quando tudo diz que não. Foi dela que recebi um abraço enorme uma vez, grande e rochonchudo de mãe e mulher casta, cheia de Deus, inesquecível, que ao me abraçar disse: te amo incondicionalmente, confio em você... Eu também Trinity, te amo incondicionalmente! Obrigada por tudo! Reze por mim, eu me confio à sua intercessão. Amém.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Evangelizando na Piazza di Spagna

Depois de um mês de sumiço por conta de problemas tecnológicos - tem coisas que só errando a gente aprende - e de um ritmo de vida muito intenso, novo e quente nesta Roma que mais parece Quixadá, no Ceará, às três da tarde, eu volto a escrever no blog. Estava com saudade. Sou eu quem sente mais falta da partilha com os amigos e leitores, da vida missionária, sempre rica e cheia de novidades. Não vou tirar o atraso porque seria impossível mas vou tentar escrever com mais frequência.

Só sei que hoje é aniversário da minha mãe, D.Glória, que vive no Rio de Janeiro e com quem conversava há poucos minutos até a ligação cair, e semana passada foi aniversário de 30 da Comunidade Shalom. Em homenagem a ela que foi a primeira pessoa a me ensinar a amar e conhecer Jesus, e à Comunidade Shalom onde vivo a vida de consagração e de chamado à santidade como alma esposa, leiga no mundo sem ser dele, ofereço este post e estas fotos de um dos dias mais especiais vividos em Roma. 

Era sábado à tarde e nós como Comunidade Shalom missão de Roma, como consagrados da Comunidade de Vida e da Aliança, nos unimos a pessoas de outros movimentos da Igreja na igreja que fica atrás da Piazza di Spagna chamada Trinità dei Monti, e nos preparamos para evangelizar. Ouve uma breve orientação de como deveria ser a aproximação e o que deve ser dito e o que não deve ser dito, e a confirmação de que todos com quem conversássemos poderiam ser convidados a participar da oração de vésperas com a Fraternidade de Monges que cuidam da paróquia, seguida de um lanche grátis para todos nos jardins da paróquia. Cada evangelizador recebeu uma bênção de um sacerdote presente e saimos para a nossa hora e meia de evangelização em uma das praças mais famosas de Roma que é point turístico e também point da juventude romana. Era a primeira vez que eu evangelizava via mímica e foi uma experiência sensacional porque lida com o teatro, com a curiosidade, com a leveza de quem faz coisa importante através da arte. Éramos cinco mas na foto acima só estamos quatro, da esquerda para a direita, Fabiana (CV), Maria (CA), Elena (CA) e Marco (Postulante romano da CA). A Maria com mais experiência guiava a brincadeira evangelizadora e de quem deveríamos nos aproximar. Centenas de pessoas sentadas na escadaria, como se ve na foto abaixo, turistas do mundo todo, mas demos prioridade aos de lingua italiana porque é possível se dar uma orientação e um acompanhamento mais eficaz. Como apoio havia três irmãos que depois da nossa aproximação mímica e lúdica vinham dizer quem nós éramos e davam de  presentinho do versículo bíblico enroladinho num papel que a pessoa podia escolher entre dezenas. Uma breve palavra sobre o amor de Deus a partir do texto bíblico escolhido - sempre promessas do novo testamento, dos salmos ou dos profetas - e o convite para a oração de vésperas, ou uma palavra de aconselhamento na igreja caso quisesse e um lanchinho free no final de tudo. 

Me marcaram duas experiências: duas muçulmanas londrinas, mãe e filha, que vieram ao nosso encontro para fotografar e no fim entraram numa igreja católica pela primeira vez na vida e participaram de tudo, mesmo sem entender quase nada. Mas quem disse que a alma delas não entendeu? Pois a alma sempre reconhece onde há a Verdade, onde há a Palavra de Deus, onde Jesus está... muito lindo porque era aniversário da jovem e pudemos cantar para ela na hora do lanchinho. Elas expressaram várias vezes a alegria e a surpresa daquele encontro vespertino.

A segunda experiência foi com um jovem italiano meio taciturno, desconfiado, que custou a desarmar-se e a sorrir mas que acabou acolhendo o que tínhamos a dizer. Porém, na hora de pegar um papelzinho com a Palavra de Deus disse uma coisa surpreendente: eu acho que não sou digno porque sou católico mas não praticante. E esse ato de humildade me tocou profundamente o coração: ele se reconhecia indigno de receber a Palavra do Senhor e disse: vou levar então para a minha namorada. Não sei bem se ele disse isso por culpa ou por arrependimento, isso só Deus sabe medir, porém para mim foi uma grande chamada. Nós porém, insistimos e falamos do amor e do perdão do Senhor e pedimos que ele pegasse não somente para a namorada para também para ele e ele aceitou e guardou na carteira. Ainda hoje eu me lembro dele e peço ao Espírito Santo que faça brotar em sua alma essa semente de vida...

Na foto abaixo a praça como nós a deixamos quando acabou a hora da evangelização propriamente dita, tendo a igreja da Trinità dei Monti ao fundo e a esperança que chegue logo setembro quando este trabalho mensal de evangelização retoma suas atividades porque com o calor de 40 graus e o abafamento que se tem em Roma no verão não há evangelização à tarde que resista, tinha que trocar de horário, mas isso já não depende de mim.