sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O tempo passa

É...o tempo passa. Hoje completo oito anos de cirurgia do câncer de mama e já se vão vinte e oito anos daquela sexta-feira de Carnaval que o Papá morreu num enfarte fulminante em casa. Emoções fortes afloram num misto de saudade, gratidão, rostos, vozes e presenças. O tempo cada vez me convence mais de que as pessoas vivem dentro de mim, não importando o quão distantes fisicamente elas estejam. Assim é com o Papai, Papá, melhor dizendo, como o chamávamos em italiano.
O amor por ele e dele, permanece intacto mesmo que muito purificado pela maturidade dos anos e a força do Amor de Deus que ajusta o relacionamento e elimina as arestas, mesmo ele já tendo voltado para Deus há tantos anos... Acho que é o lance do amor e da vida serem mesmo eternos e sem fim... Como acredito nisso, como aposto minhas fichas neste jogo, na certeza de que o que me espera, na hora que receber as cartas para a jogada final é muito mais do que um royal street flash! Neste jogo não há blefe, só surpresas e boas... e o que me espera é a felicidade perfeitíssima em Jesus, na eternidade, onde todos estarão e tudo se fará ver e terá sentido...
Será que ainda sei jogar poker como aprendi na adolescência, nos tempos de Belo Horizonte? Royal Street Flash...de ouros, Street Flash, Sequência do mesmo naipe, dois pares que valem menos que uma trinca e um par...tudo volta à memória... Como hoje é noite de koinonia vou ver se alguém já ouviu falar ou sabe até jogar poker mas tenho minhas dúvidas...se não, aceito ao menos uma partida de buraco. Papá não era viciado mas gostava de jogar cartas de vez em quando, e com ele, tio Chiquinho e tio Pimentel aprendi.
A noite em Isifya muito fria, com chuva forte está bem propícia para uma atividade relaxante. Só as meninas estão em casa e com elas vou tentar me distrair e na simplicidade, agradecer em meu coração mais uma vez o dom da vida que o Senhor me preserva há oito anos desde a cirurgia e o fim do tratamento de quimio e radioterapia. Tivemos missa em casa e agradeci por tudo mas nem comentei com ninguém...
Seria bom que o Brasil fosse logo ali na esquina e que bastasse pegar o ônibus no terminal rodoviário Tietê e chegar no Rio seis horas depois, como fiz vários e vários fins de semana quando morava em Sampa, às sextas-feiras, só para passar o fim de semana em casa.
'Papá, reza por mim! Reza por nós!'. Sei que em Jesus, no mistério da Comunhão dos Santos, o senhor continua cuidando e intercedendo por nós, sua família e por tantos que o senhor aprendeu a cultivar a amizade e o respeito mesmo tendo vivido tão pouco tempo aqui na terra.
Mas sem ser fúnebre, quando chegar a hora da graça final, a gente vai se reencontrar e vai ser bom demais!
Amém.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Chukran Ktir - Muito Obrigada

Este post vai ter jeito de email, mas é porque eu gostaria de começar assim: queridos todos, queridos amigos, tantos irmãos, obrigada por tudo! O amor abundante de vocês chega a me constranger porque é imerecido. Eu sei, eu sei, que Deus me deu o dom de cultivar os amigos, estou sempre escrevendo, gosto de contar todos os casos com detalhes, gosto demais de dar notícias e dar de graça, especialmente o muito que tenho recebido do nosso Bom Deus, para todos, mas tem sido tanto carinho e atenção que eu só posso ser grata.


Fiquei pensando porque escrevo tanto sobre as coisas de Deus... Acho que em vez de ficar gastando meu tempo falando non-sense, porque não usar o espaço virtual para partilhar as alegrias, as descobertas, também as dores deste caminho incrível que é caminho da santidade e da amizade com Jesus, Nosso Senhor? Por que não partilhar este tempo missionário tão especial? Já me vi escrevendo sobre tantas coisas... já me indignei e denunciei, já fiz valer e exercitei meu direito existencial e democrático de liberdade de expressão ao discordar desta ou daquela postura política, novela ou modismo, mas para mim o referencial será sempre Jesus e a Igreja Católica. Esta é a minha praia, talvez a minha missão, com certeza uma paixão. Mas não é obsessão. É somente um transbordamento que flui livre e que me dá o direito de dizer o que penso não porque acho que minha opinião vale por si mesma, mas porque gostaria que o meu testemunho e a minha vida ao menos gerasse nas pessoas e em quem me le neste espaço público, a esperança e o amor concreto que vem de Deus! Eu olho os relacionamentos e as estruturas da sociedade que me cercam e sinto que a maioria das pessoas se perdeu na dureza do relativismo moral, que tem cara de liberdade mas não é, porque perdeu o referencial de Deus. E isso não é frase feita, é real. Sem a noção de transcendência e amorosa transcendência gerada pelo Espírito de Deus em nós que nos comunica um coração verdadeiramente humano e de carne, nos perdemos, eu me perco, tu te perdes. E aí a gente ve o que ve, seja em Israel com a violência, seja no Iran, com as posturas ensandecidas de poder, seja no Brasil com a baixaria humilhante do BBB. Mas não vale só falar do governo do Presidente Lula aprovando o aborto a todo custo na semana do Natal, há que se reconhecer também que certos setores da Igreja se burocratizaram, se enrigesseram, e teimam em se agarrar em resquícios de ideologia marxista e não da Doutrina Social da Igreja, talvez por orgulho ferido. Sem contar a dor e o escândalo da vida dupla de certos consagrados, homens e mulheres... quanta dor meu Deus! Não posso ser dura pois conheço até a medula a minha fraqueza, mas seja nos governos, seja na Igreja, onde for, individual ou coletivamente, nos casamentos, ou nas repartições, se não contarmos com o frescor da presença interior do Espírito Santo, somos cegos guiando outros cegos. Sem a Luz não vemos a luz e muito menos as trevas e sombras que nos cegam... Assim está no Evangelho, assim o Senhor nos disse. Assim é, pois o céu e a terra passarão mas a Palavra de Deus não passará.

Eu estou bem, graças a Deus, estou mais tranquila e medicada. Fui a um bom homeopata na segunda-feira que me pareceu muito confiável e competente. Tem jeito e postura e gosto ocidental na decoração do consultório, pois estudou dez anos na Alemanha. (Nós mulheres somos engraçadas mesmo, parecemos um radar, em cinco minutos damos o diagnóstico do médico pela aparência, só rindo). Interessante que o médico se chama Dr.Murad Assad que se não me engano era esse o nome de um dos cardiologistas que cuidou do papai... só checando com a mamãe que tem memória de elefante para estes detalhes. Comecei um tratamento que acho vai me ajudar a dar uma equilibrada. Semana que vem tem mais uma rodada de conversa para fechar o diagnóstico. Vamos ver, também nisso seja feita a vontade de Deus.
Ainda não fui chamada para outra entrevista na Polícia e nem sei se houve outra testemunha como eles disseram que haveria. Não tenho acesso ao processo. Quanto à questão de advogado, alguém me perguntou, é uma ação pública, não sei se o nome é este exatamente, ou seja, o Estado providencia tudo. Parece filme americano... no entanto, se houver alguma necessidade a Igreja interferirá e ajudará. Por exemplo, o administrador da diocese, Ossama Matta - rezem por ele também! - ficou comigo e com a Lorena, que me acompanhava, nas 9 horas que ficamos entre Polícia e Corte, no domingo que se seguiu ao acidente. E foi ele quem assinou os papeis junto comigo.
A vida segue seu rumo e o tempo é de muita graça pois é quaresma e tudo nos aponta para Jesus. Que em tudo e para sempre se cumpra a sua vontade.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Uma Semana

Há exatamente uma semana aconteceu o acidente e nesta hora eu estava chegando do hospital, ainda completamente assustada. Acho que o susto ainda continua só que aos poucos vai se assentando. Resolvi dar notícias genéricas no blog porque tenho recebido muitos emails extremamente carinhosos, recheados de amor e de oração, de apoio irrestrito e de amizade sincera que não tenho dado conta de responder por conta das circunstâncias, mas o farei aos poucos, um a um, prometo, e por isso resolvi usar este espaço público virtual para contar como as coisas estão. Antes porém, quero agradecer a cada pessoa que me escreveu um email ou deixou uma post no blog. A presença de vocês comigo não é menos presente porque virtual, pois há que se lembrar que antes de se tornar corriqueiro o contato virtual entre as pessoas, já existia a experiência espiritual da comunhão dos santos, verdade maravilhosa da nossa fé católica, que nos põe juntos e unidos no Amor partilhado em Jesus Cristo Nosso Senhor. Como eu tenho me sentido amada e protegida por tantas pessoas! E esse amor gratuito vem de Deus mesmo... Que seja Ele a abençoar em dobro a cada um. Bendita comunhão dos santos alimentada pelo satélite e pela tecnologia!
Esta semana foi bastante cansativa e rica na inculturação árabe, pois temos experimentado a solidariedade e a presença na hora da dor, segundo a cultura árabe, pelo menos a árabe cristã. Tivemos visita todas as tardes e todas as noites dessa semana! E as pessoas trazem não somente a bênção e a alegria por estarmos vivos, mesmo pesarosos com a morte do rapaz, mas também bolo, docinhos, suco, presentinhos e até uma doação financeira recebemos como Comunidade, para as nossas despesas extras. E muitos telefonemas, muitos! A pobrezinha da Viviane que é muito conhecida na vila por causa do seu trabalho e presença no asilo, é o primeiro foco de todas as visitas e está bem...bem cansada. Esta é uma das razões também de meu tempo estar ainda mais escasso para escrever, pois todos também querem me ver. As pessoas querem saber como aconteceu o acidente e sempre dou um jeito de desenhar para esclarecer.
Ontem houve a missa de sétimo dia mas eu e Viviane ficamos em casa. Todos foram e os ânimos estavam tranquilos, mesmo a troca de olhares ser perceptível. Amanhã, domingo, Viviane irá à missa com os demais na paróquia mas eu descerei com Lorena para Haifa para participar da Eucaristia, pois é necessário respeitar a dor da família e dar um tempo, para eles e para mim. Porque me expor a uma situação de tensão e sofrimento desnecessária? Deixa para semana que vem pois o tempo funciona como bálsamo e permite que o amor de Deus aja nos corações consolando e fortalecendo.
O processo ainda está em aberto e após o testemunho dos 5 outros passageiros da van, soubemos que haveria um outro testemunho de alguém que teria visto o acidente. Só então saberei se terei que novamente depor na Polícia. Já conversei e desenhei o acidente para o representante da seguradora e eles vão cobrir a perda total do carro e todas as despesas no hospital. Ele me contou que o pai do rapaz falecido destruiu a moto do filho quando ele começou a correr demais, mas ele comprou outra...
Na linha da Logoterapia de Vicktor Frankl a gente aprende que diante de fatos irreversíveis só cabe dizer e me perguntar, na área da liberdade que me resta e que está presente em mim para além das emoções, o posso fazer agora? E se esta liberdade tem a presença de Deus a pergunta passa a ter um vocativo: o que posso fazer agora, Senhor? Por que escolheste a mim para sofrer e passar por esta situação? Penso que esta começou a ser a minha pergunta, carregada de expectativa e de confiança... Eu haverei de entender. Desde já sei que a intercessão pela salvação do Edmond será uma constante até o dia que nos encontrarmos face a face e tudo ficar perfeitamente esclarecido entre nós.
Ontem também creio ter tido um insight interessante após a comunhão pois tivemos a alegria de uma missa celebrada em Português pelo Pe.Albert, húngaro, meu aluno de inglês. Que mistura de línguas, faça-me o favor! O insight foi o seguinte: que este acidente, mesmo trágico, não representou uma quebra na grande obra de amor de Deus em minha vida neste tempo de missão, como se Ele tivesse se distraído, e o sofrimento então nos atingisse. Não. Há um continuum, há uma sabedoria, há uma perfeitíssima vontade... há que se esperar para ver, há que se querer ver. O cálice pode ser outro, mas é o mesmo Senhor que me serviu na Nigéria com tantas alegrias e surpresas, que me serve hoje. Já consigo perceber que o que vivi na Nigéria de compaixão pela dor alheia que estava fora, se expandiu e tomou um espaço também interior. Mas não dá para explicar muito. É como falar sobre a beleza. Ou a gente conhece ou desconhece.
Não é fácil estar longe, não ter outras pessoas para abraçar do nosso jeito, não ter a sensação de refúgio e proteção que se tem na terra, na cultura, na língua, no jeito de viver e de sofrer que se tem em tudo aquilo que se reconhece como casa. É uma faceta de exílio que faz parte da missão e que fica mais gritante por causa das circunstâncias. Mas existe a graça abundante e presente do Espírito Santo que também impressiona, pois não nos tem faltado a alegria fraterna, o carinho e a coragem, a paz, o shalom mesmo nos corações, mesmo que estejamos fisicamente meio quebrados.
Ontem me deram um ansiolitico para eu dormir melhor, e eu dormi mais de 8 horas seguidas, graças a Deus, e também um remédio para abaixar a pressão que desde o acidente está bem alta. Não vou dizer quanto para não preocupar, mas já estou medicada. Hoje dei um grito de liberdade e consegui ir de carona com meu amigo Simon, voluntário húngaro que veio com o padre, até o Muhraka e passar quase duas horas andando, andando, andando por umas trilhas por trás do mosteiro. O dia ensolarado com cor e temperatura de primavera em pleno inverno, deixou o passeio entre flores, árvores frondosas e tons de verde a perder de vista nas dobras da estrada de terra, muito especial. Cruzei com algumas vacas pachorrentas que pastavam com jeito satisfeito, espalhadas nos grandes espaços abertos, e também com algumas famílias árabes, drusas e alguns jovens judeus que abrigados nas sombras das árvores faziam churrasco e curtiam o fim de semana que para nós é domingo e para eles é shabat. Mas nem humanos nem bovinos perturbaram em nada o meu contato com a natureza, com a beleza e a necessidade que eu estava de andar e sentir-me livre, e mesmo em espaço aberto, protegida.
Na sexta-feira dia 12 eu tinha me comprometido com o Senhor a não fazer planos nesta Quaresma e por isso sei muito bem, que é Ele quem dispóe em Seu amor estas experiências de quaresma. Que meus dedos toquem a ressurreição.
Mais uma vez obrigada pelas orações e comunhão de amor.
Ele está no meio de nós! Shalom!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Converte-te e Crê no Evangelho!

A paciência de Deus, sua longanimidade, usando um termo bíblico que S.Paulo aponta como fruto da ação do Espírito Santo nas vidas das pessoas, me encanta! Ele sempre espera, Ele sempre convida, Ele atrai com sua beleza e bondade indizíveis... Quando eu era criança ficava muito impressionada com as imagens da paróquia de Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado, Rio de Janeiro, cobertas com longos panos roxos em sinal de recolhimento por conta da Quaresma. Acho que por isso o roxo sempre foi a cor que mais rejeitei em minhas escolhas. O efeito visual porém, contribuiu para que eu entendesse no decorrer na vida e por obra do Espírito Santo a quem a gente vai abrindo a inteligência, os afetos e a liberdade, que por trás do símbolo do recolhimento das imagens havia o chamado para entrar em mim mesma, no que sou e faço para deixar-me novamente pautar pelo amor incansável e desconcertante do Senhor manifestado em Jesus.

Como Deus é amável e amante! Como Ele respeita como ninguém o dom da nossa liberdade! Como conhecê-lo e busca-lo dá sentido à existência da maneira como Deus mesmo pensou e quis que vivêssemos como filhos. Como deve ser doloroso para o Senhor quando o tememos, quando dele fugimos, quando nos deixamos enganar pelos relativismos todos - nossos e alheios - e pautamos a vida muitas vezes ética, correta, com valores de consciência e de bem viver mas longe desta comunhão e amizade pessoal com Ele, indiferentes às realidades espirituais que nossa alma grita sedenta e árida.
Mas é melhor dar notícias... Agradeço às pessoas, amigos e família, irmãos antigos e novos, que têm me escrito com um carinho enorme por conta do acidente. Obrigada pelas orações e o desejo de me consolar, a mim e a todos da Comunidade missionária em Haifa. Nada tem sido fácil mas não me sinto só, nem os de casa. Ontem as entrevistas na Polícia foram longas e cansativas, com suas pitadas de graça por conta do tradutor policial-detetive Ariel judeu-argentino cidadão de Israel que já virou nosso chapa... gente boa, motoqueiro também, que já não aguentava ouvir a mesma história e não entender as mesmas palavras: testemunho, rua. Ainda não recebi a resposta se terei e quando será meu segundo depoimento. Não tivessem os irmãos e Ariel contado com a tradução interna português-espanhol e vice versa que a Lorena fez, até o depoimento sair em hebraico, escrito e falado, só Deus sabe que hora todos teriam saido de lá.
Ontem e hoje voltei ao trabalho pois a rotina sempre ajuda e os meus colegas da Cúria, todos, foram super gentis e demonstraram felicidade e louvor a Deus por estarmos todos vivos, mesmo lamentando o sofrimento pela morte do Edmond Rohana. As visitas em casa não param pois a cultura árabe é assim e todos são e se comportam como uma grande família. Meio cidade do interior de antigamente. Todo mundo traz lanche, café, fala a mesma frase de saudação agradecendo a Deus pelo dom da vida... O centro das atenções é a Viviane que ficou machucada mas todo mundo quer saber se eu estou bem, e haja chá, conversa, suco, bolo... é uma grande escola de fraternidade concreta, é mais uma experiência forte de inculturação.
Hoje voltei do trabalho com o bispo que me deixou em casa e foi visitar a família do jovem falecido. O acompanharam três abunas (padres). Um deles foi quem intermediou o encontro pois a fofoca estava comendo solta que a família não queria receber o bispo porque as palavras dele sairam do 'esperado e do tradicional' e foram consideradas duras... mas ele veio assim mesmo. Depois todos passaram aqui em casa e disseram que houve maiores escalrecimentos e, sem dúvida, o amor, a autoridade espiritual e a bênção que a presença de um bispo, como pai traz, é muito importante, tanto para os Rohana, quanto para nós.
Eu estava tensa que só pois toda esta situação tem me causado um tremendo desgaste. Hoje me deu uma tristeza enorme pensar que saí do Brasil para ser missionária para doar minha vida e, de repente, na sabedoria ainda nebulosa do Senhor, Ele permite que através de mim e, indiretamente, de toda a Comunidade este sofrimento tão irreversível aconteça... Dá uma vontade meio infantil de voltar pra casa, de voltar para um canto protegido, mas estas realidades todas existem fora mas começam dentro. É preciso viver aqui e agora este cálice de dor. Meus irmãos tem sido bons, generosos e não me acusam ou culpam um momento sequer. Há quem já tenha dado a entender que foi imperícia minha... me dói como uma facada porque esta dúvida sempre vai existir, mesmo que as perícias e a logística provem o contrário. Há uma palavra que não me sai da cabeça, que teria que checar mas que acredito esteja no livro da Sabedoria e que diz: 'aceita tudo o que te acontecer...'. Sei que este sofrimento acolhido e vivido no abandono carrega um mistério de participação no sofrimento do Senhor que começamos a meditar e a mergulhar hoje, quarta-feira de cinzas, e que acaba numa experiência de ressurreição. É assim a minha esperança.
Na sexta-feira haverá a missa de sétimo dia e o bispo quer que todos nós participemos, melhor, vai nos levar com ele, inclusive eu e aí teremos que encontrar com a família. A primazia da graça de Deus é toda a minha súplica e sei que ela será nosso escudo e fortaleza.
Virgem Santíssima, S.José, intercedei por nós!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Sábado de Carnaval

Era sábado de Carnaval se o calendário fosse brasileiro e mais um simples shabat, para Israel. Voltávamos para casa. Estou ainda sobre o forte impacto do acidente que aconteceu conosco sábado passado, por volta das 21h quando entrávamos em Isifya. Mas vou contar por partes, acho que preciso falar... hoje já é segunda-feira e ainda estamos recebendo visitas de condolências...vamos ao que aconteceu.
Voltávamos de Haifa depois de um dia muito extenuante de mudança do centro de evangelização para outra casa, com todos os imprevistos e pequenos revezes que sempre acontecem para nos fazer crescer na paciência, na fé e na experiência fraterna. Éramos seis (este é título de um livro trágico lido na minha adolescência) e estávamos muito cansados mas bem humorados, como graças a Deus, é a tônica da nossa casa comunitária, e decidimos parar no supermercado rapidamente. No dia seguinte teríamos um dia de Formação junto com a casa de Nazaré e faltavam os últimos itens que nos cabia levar para o lanche comunitário.

Pela manhã descemos todos para ajudar na mudança em Haifa mas eu voltara na hora do almoço com Lorena porque participaríamos da festa de 100 anos da Embutros, senhora muito querida do asilo em Isifya. Lá estavam Viviane e Kézia. O almoço foi festivo, emotivo, com bom número de parentes, comidinha deliciosa, nada sofisticada, como é a tônica da cultura. A alegria e o orgulho dos filhos, dois senhores de quase 80 anos, era contagiante pela vida da mãe, viúva muito jovem que, como costureira, educara os três filhos homens primorosamente. Um deles não estava presente porque mora no Canadá e por conta da nevasca não conseguiria vir para Israel para a festa, mas telefonou na hora do almoço... o que me encantou é que a festa verdadeiramente girou em torno da mãe e não a cansou ou foi longa demais. Muitas fotos, algumas músicas, bolo de chocolate. Lorena substituiu a Viviane no asilo no horário da tarde.

Após o almoço desci de carro para ajudar da segunda fase da mudança, fui para a Pastoral Hebraica onde me encontrei com a Viviane que descera de carona um pouco mais tarde com os parentes da Embutros, e participamos na missa das 18h. Tomamos nosso chá após a missa, como de costume, conversando com o Pe.Roman, o Victor, a Myriam e outras pessoas que participam da Pastoral e, por volta das 20h no mesmo bat horário de todos os sábados, voltamos para casa. Eu estava muito atenta e Viviane estava ao meu lado. Sei que estava atenta por causa do cansaço o que me deixa duplamente concentrada . Atrás estavam Yara e Tennesse e no último banco Silvânia e Leandro.
Já na frente do supermercado cruzei a pista para esquerda para entrar no estacionamento quando aconteceu a tragédia. Uma motocicleta que vinha na direção contrária em vez de seguir em frente seguindo sua rota, quis me dar um olé e vencer o próprio limite de velocidade, me ultrapassando pela frente, e não conseguiu. Mesmo eu estando totalmente fora da pista o motorista da moto, em altíssima velocidade acendeu o farol alto, acelerou e não conseguiu fazer sua manobra arriscada e suicida. Bateu violentamente na altura do espelho acima da roda dianteira direita, na coluna do carro, e morreu na hora, sendo jogado longe, ele e a moto, para trás do nosso carro. Com o impacto o carro parou, os vidros da frente se espatifaram e eu e a Viviane fomos cobertas de vidro. Ela estava meio de lado e não viu que a moto se aproximava. Sofreu o impacto, um corte mais profundo na testa o que lhe cobriu o rosto de sangue, mas graças a Deus nada mais sério. Ela está com alguns hematomas no corpo, os olhos e o lado direito do rosto inchados, com algumas escoriações, mas internamente nada foi afetado e nem pontos precisou levar. Ficará esta semana de repouso para que o organismo se recupere do fortíssimo impacto. Os demais estão todos bem, sem qualquer escoriação. Todos foram protegidos pelos cintos de segurança e o encosto da cabeça que amortece o impacto da nuca. As dores sentidas no corpo domingo e segunda tem mais a ver com o transporte da mudança do que com o acidente em si.
Eu fiquei todo o tempo dentro do carro, muitíssimo assustada, acudindo a Viviane e rezando, chorando, pedindo ao Senhor que salvasse o jovem... mas ele já estava morto. Não sei muito o que dizer. Estou sofrendo agudamente com a morte deste rapaz cuja direção suicida conhecida de todos da cidade e comentada abertamente, o levou à morte. Entretando isso não diminiu meu sofrimento por ele ter morrido num acidente onde eu dirigia, mesmo objetivamente falando eu não ser culpada ou responsável pela imperícia dele. Edmond Rohana tinha 23 anos, era de família cristã e seus piedosos avós, paroquianos dos mais fiéis.
Passei o domingo na Polícia dando longas horas de depoimento. Lorena me acompanhava, mais o Administrador da Cúria, Ossama. O nosso bispo, Elias Chacour, não somente veio à Isifya no sábado a noite, ver cada um dos irmãos que foi trazido para casa pelos vizinhos e amigos que em minutos chegaram ao local do acidente, como também foi ao hospital ver a mim e à Viviane. Ele nos prestou paternal apoio e sua presença fez muita diferença. Fomos levadas de ambulância e atendidas por excepcionais para-médicos. Minha pressão deu uma subida violenta, a dor de cabeça também foi forte mas fui medicada e dormi em casa. Tentei dormir, quer dizer, porque o impacto e a cena voltam como flashes na memória. Não me feri fisicamente, graças a Deus.
Enquanto prestava depoimento na polícia o velório do rapaz acontecia em Isifya. Tennessee, Silvania e Leandro discretamente representaram a Comunidade e foram também eles rezar. O bispo veio ao velório e deu uma palavra fortíssima de consolo e de exortação para os jovens presentes e para os pais a respeito da cultura da adrenalina, do vencer os limites irresponsavelmente, da cultura de morte que não vem de Deus... Sua presença também nos protegeu, me protege.
Sinto-me muito assustada. Sofrendo demais quando penso na dor da família. Sem dúvida um dos maiores exercícios é o da aceitação da irreversibilidade dos fatos e da confiança irrestrita no amor do Senhor que conhece toda a dor humana e todas as dores, neste novo patamar e experiência de dor que vivencio. Benditos sejam todos os teus caminhos Senhor compassivo e cheio de amor! Eu estava dirigindo, eu era responsável...poderia ter sido diferente? Nem eu mesma posso dizer. Fiz o que melhor sabia e estava atenta e alerta, ciente de tudo o que acontecia ao nosso redor. Só não podia imaginar que a moto tomaria aquela direção suicida que poderia, por questão de poucos centímetros, ter atingido a porta do carona em cheio e matado a Viviane e a mim, ou sabe Deus quem mais... Chega a dar um arrepio na espinha, mas foi exatamente o que o policial nos disse ontem, quando se despedia de mim e da Lorena. 'Vocês tiveram sorte, muita sorte...', ele repetiu. É claro que há gratidão e consciência de que nossas vidas foram poupadas pela misericórdia do Senhor em cujas mãos todos os tempos da vida de cada pessoa, está depositada.
Não consigo crer que fosse perfeitíssima vontade de Deus que este jovem morresse do jeito que morreu mas confio que Seu Amor acolheu Edmund Rohana e este mesmo amor sustentará seus pais, irmã e irmã e avós. Peço orações por eles. Dentro de mim há uma imensa dor e um misto de sentimentos... Peço orações por mim também. Peço também que ninguém se assute pois estou bem, mesmo sabendo que preciso chorar e chorar para desafogar a dor, o susto, o sofrimento por tudo que aconteceu. Não tenho me atormentado nos pensamentos apesar do sofrimento e do desgaste. É o Esposo que me une a Ele de um jeito novo, às vésperas da Quaresma para me ensinar sobre o Amor escondido na dor, sobre o mistério da morte e da ressurreição... mas não tem sido dias de muitas palavras, ao contrário, é o silêncio que tem imperado, mas eu sei em quem coloquei minha esperança.
Por favor rezem por nós, como missionários, por mais este desafio a ser enfrentado. Rezem por mim, repito. Rezem pela Viviane. Rezem pelo jovem que faleceu e por seus familiares neste tempo de perda e morte. Amanhã todos os outros cinco que estavam no carro terão que dar testemunho e o processo continuará seu curso. Rezem também por este intenção. Rezem pelos jovens para que possam conhecer o Senhor e o Seu Amor dando sentido verdadeiro à vida. Rezem por todos os que trabalham com a juventude. Enfim, rezem e coloquem estas intenções nas Eucaristias que participarem.
Minha carteira de motorista está suspensa e por três meses estou proibida de sair de Israel. Se tiver que fazê-lo por alguma emergência somente com autorização expressa e especial do Departamente de Polícia. Mas pela internet posso escrever, desabafar, dar notícias, pedir oração e fazer a inigualáve experiência de 'comunhão dos santos'.
Amanhã darei mais notícias, se Deus quiser. Shalom!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Mais Histórias da Nigéria

À esquerda da foto está a Tchitchi e a de boina branca é a Ifii que junto com a Mônica foram meus anjos da guarda que, diariamente, iam à casa dos padres para preparar minha comida especial com saladinha e fruta. Também foram elas que providenciaram os dois vestidos de festa que eu trouxe, levando a costureira para tirar as medidas, e me ensinaram a amarrar o pano como um turbante bem grande como se vê numa foto abaixo. Duas nigerianas especiais, comprometidas com a comunidade, amigas, com seus sofrimentos também... Também lá toquei de perto a realidade doída das mulheres - e também dos homens, por incrível que pareça - que querem encontrar um grande amor e constituir família e que, de decepção em decepção, vão se sentindo diminuídas e sentem a vida se esvair sem sentido por que não se casaram. Assim como acontece na cultura árabe, também na Nigéria as jovens solteiras sofrem agudamente com a perspectiva do não matrimônio. Como gostaria de ter tido tempo de partilhar mais sobre o chamado e a realidade da vocação celibatária, como opção e não como falta de opção, grande descoberta e dom que a vida comunitária e a vocação Shalom me proporcionou... Deus tem seus tempos, caminhos e surpresas... Quem sabe não haverá uma próxima vez?


Ninguém nunca me viu tão extravagantemente chique, nem eu mesma! Totalmente Adêze, mais que Elena. Este vestido eu trouxe, saia e blusa na verdade, e não vejo a hora de ter uma oportunidade e a meia estação chegar para eu desfilar à la Nigéria. Sem turbante, claro, porque aí já é querer demais. A experiência de inculturar-me, um pouquinho que fosse, gerou tanta alegria em mim e nas pessoas que eu mesma me surpreendi. Fui às missas de domingo para convidar para o retiro e no domingo seguinte voltei, à caráter, como na foto acima, e arrisquei duas frases em Ibo, a língua nativa: Otitô Deri Jessu que corresponde ao nosso Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo, e Afuro Guinanha que traduzindo significa: eu amo vocês! Foi um delírio só! Deus é muito bom e manifestou de maneira impressionante o Seu Shalom, a Sua Paz nos dias de retiro. Não que os problemas foram resolvidos magicamente mas, a experiência do amor concreto do Senhor marca para sempre o coração de quem o experimenta e Ele sempre permanece, sempre está no meio de nós como dizemos a cada Eucaristia, pelo menos no Protuguês, e é da Sua Presença que nossa alma tem sede e fome, existencialmente falando.

Esta menina foi a primeira criança por quem rezei, ainda meio sem jeito, buscando as palavras, tentanto entender o que a estava deixando tão angustiada (ela tinha abraçado o padre e mal conseguia falar), em meio ao seu inglês tão novo para mim... mas o amor foi à primeira vista e à primeira oração. Ela participou e trouxe a mãe para todos os dias do retiro e ela fazia parte da população pobre da paróquia, mas ela sabia que tinha acesso a me dar quantos abraços quisesse.

Esta foto eu vou imprimir. Não era desfile de moda, mesmo parecendo...foram algumas senhoras no final da missa das 10 que quiseram se despedir de mim, branquela no meio delas, com uma foto especial. Ficou linda mesmo! Entre tantas impressões humanas e espirituais que vi e toquei nesta missão o não padrão ocidental parisiense e milanês ou nova-iorquino de beleza entre as mulheres, foi libertador! As mulheres são lindas e gordinhas! Não ouvi uma sequer pedir para eu rezar porque precisava emagrecer, ou falar de regime, ou reclamar de gordurinhas extras nas coxas, na barriga, nos braços... que felicidade por serem o que são! Lindas! Elegantes em seus vestidos nativos ou em roupas mais ocidentais e livres!

É ou não é uma Madonna negra? Jovem mãe com uma filhinha apaixonante. Não resisti e pedi para tirar uma foto. A mãe, meio tímida baixou o olhar, o que a deixou mais naturalmente bela ainda. Que o Senhor as abençoe!
Estas mulheres negras e belas, fortes, que não mostram a idade e nem tem cabelo branco me lembraram o Brasil e o quanto devemos e somos africanos em nossa cultura. Eu já tinha ouvido falar, a gente le uma coisa aqui outra acolá, mas constatar in loco uma das fontes da cultura brasileira me fez entender o quanto somos negros na música, na cor, no colorido, na ginga...dizem que também na preguiça para trabalhar, na corrupção, mas não quero entrar neste mérito porque nada é tão somente branco ou preto...
E esta lembrança só os da família vão entender: que gratidão, saudade e amor pela Tia Nenê, pela Dorcelina, pela Teresa...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Minha Festa

Father Christopher, pároco que convidou a Comunidade Shalom para dar o retiro de princípio de ano da paróquia de Mater Misericordiae, eu e uma família à caráter no fim de uma das três missas que acontece a cada domingo. Estamos em Port Hacourt, sul da Nigéria, cidade com aproximadamente 3 milhões de habitantes. O lenço da cabeça bem charmosinho, já falei a respeito em email anteriores, é que as mulheres não andam com a cabeça descoberta em sinal de respeito.

Dá pra perceber a multidão saindo da igreja? Pois é... Neste prédio à direita há um grande salão paroquial, onde acontece uma missa só para as crianças e adolescentes, também lotada, simultaneamente à missa das 10:30h, pois não cabe todo mundo na igreja principal. Graças a Deus a paróquia conta com 5 padres, todos nigerianos, da Congregação dos Padres do Espírito Santo, francesa, com mais de 300 anos, que tem fortíssima atuação e vocações na África. Bem disse o Santo Padre que na África a Igreja põe muito da sua esperança.

Algumas notícias breves: estou de volta em casa, Israel, com clima mais ameno e ritmo mais normal. Às 5 horas da manhã de hoje, terça-feira, graças a Deus me pegaram na estação de trem em Haifa e pude chegar em casa e dormir algumas boas e tranquilas horas de cobertor! Na hora do almoço pude partilhar um pouco com os irmãos de casa como tinha sido a semana, e combinamos que na próxima koinonia, ou convivência comunitária, no sábado, o tema será a missão e a experiência na África com direito a fotos e mais casos. Só que quis adiantar no blog algumas fotos especiais para a família e os amigos verem.

O divertido da hora do almoço é que fizeram questão que eu me apresentasse à caráter, como nigeriana, com um dos dois vestidos de festa que me deram. As meninas enlouqueceram com as cores! Que coisa linda, que coisa mais linda, repetiam... Até o turbante cheio de nós eu consegui fazer! Na Nigéria eu conheci o berço de nossas baianas brasileiras... Um dos vestidos já virou comunitário, com certeza, pois todo mundo tem mais ou menos o mesmo corpo. Vamos ver quem vai ser a primeira a ter uma festa ou celebração a participar, e vai ter a coragem de se vestir com algo menos preto e branco como acabam sendo a maioria de nossas roupas.
Este colorido me impressionou! É tanta vida, cor, som! A África é com certeza um continente de vitalidade e esperança, onde tudo transborda: cultura variada, muita música, belíssima musicalidade e corporeidade, gente, milhões, sons, cheiros e muita esperança e potencialidade. Também os problemas e os sofrimentos que me levaram a meditar em algum lugar tranquilo dentro de mim em meio a maratona que foi a semana, no mistério da convivência do trigo e do joio, como fala o Evangelho. Nos sofrimentos e lágrimas que toquei com meus dedos vi quão profundas e antigas são as raizes do joio. No sorriso fácil e franco, na alegria, na vontade de viver e de crescer, no desejo de amar a Jesus e de experimentar em todas as fibras do coração a Sua Presença, toquei a força do trigo. Este trigo que vira pão e vira Pão. Sempre é o Senhor da vinha a nos alimentar. E foi Ele quem me alargou o coração estes dias...
E por que chamei esta postagem de minha festa? Porque hoje celebramos a festa da Apresentação de Jesus no Templo e é o dia consagrado a todos os consagrados, religiosos ou leigos do mundo e, portanto, é festa minha também! Rezemos uns pelos outros e agradeçamos, mesmo aqueles que, eventualmente, estiverem longe da Igreja e dos sacramentos seja lá por qual motivo, por todos os homens e mulheres de Deus, sacerdotes e religiosas que em momentos importantes de nossas vidas nos ouviram, amaram, ajudaram, aconselharam, nos ministraram os sacramentos e amor do Senhor em tantas situações. Talvez possam ter nos decepcionado também...mas isso torna o amor de Deus ainda mais surpreendente que faz servos seus quem é frágil como qualquer um, e nos dá a certeza de Sua misericórdia e perdão que cobrem o céu e a terra e são eternos.
Até amanhã e parabéns!