sexta-feira, 30 de julho de 2010

Amigos de Jesus

A Festa de Santa Martha, quinze dias depois da Liturgia de domingo nos ter oferecido o texto de Lucas que fala das duas irmãs que recebem Jesus em casa, me fez pensar ainda mais sobre o presente de se ter amigos e amigas, de acolhê-los, e de manter esta presença mútua acesa, alerta, viva. Fantástica é a tecnologia e os meios virtuais que ajudam amigos reais a permaneçerem próximos, e propiciam que outras amizades tão reias quanto sejam feitas, mesmo que as pessoas nunca tenham se encontrado pessoalmente. Novos paradigmas da amizade, sem dúvida! Às vezes eu penso como será o dia em que eu der um abraço real, forte e sorridente nas pessoas com quem tenho me comunicado e feito amizade via internet, blog, nos caminhos surpreendentes e ricos das relações humanas. Há pouquíssimo tempo atrás só havia duas opções: ou ao vivo ou por carta, para quem sabia escrever, e nada mais. Acho que as pessoas sofriam bem mais da dor da saudade do que sofremos hoje.

Marta ou Maria? Assim como o joio e o trigo que crescem juntos até a hora da colheita, o intercâmbio entre as duas irmãs será uma realidade interior constante para quem tem vida espiritual e entendeu que a base da vida é um trato de amizade entre a pessoa e seu Senhor, como diria Teresa de Jesus. Dá vontade de saborear demoradamente esta realidade, este convite: ser amiga de Jesus, tê-lo como amigo, confidente, e aprender a estar com Ele todo o tempo, mesmo quando não se está sentado, rezando... Este me parece um aprendizado constante de priorização, de estar aos pés, buscar em Deus a sabedoria para a vida, para ama-Lo, ouvi-Lo, e receber o Amor e a afirmação que tanto precisamos. Mas como é desafiador ser fiel ao que é essencial, como Jesus mesmo apontou! Tudo nos dispersa, agita, e nos dividimos em mil atividades, a maioria delas legítimas e muito, muito facilmente dispensamos a oração pessoal, a busca do silencio... É um exercício contínuo acolher de fato o hóspede que vem ao encontro ficar conosco. É interessante pensar que Jesus fazia a opção de estar com os três irmãos e amigos, Lázaro, Marta e Maria, que Ele foi quem tomou a iniciativa de visita-los e de estar junto... Ele faz o mesmo hoje e eu preciso me afastar das pessoas para estar com Ele.

Diz Santa Teresa num de seus livros, orientando as irmãs no século XVI, (o conselho porém permanece atualíssimo), que o fato de Jesus ser o hóspede e de estar presente na casa, no carmelo, é que é si o mais extraordinário! Esta presença é a fonte de toda alegria e merecedora da atenção e da atração de todas as Martas e Marias, dos Lázaros também... 

terça-feira, 27 de julho de 2010

A semente que me deu esperança

Passei o fim de semana tentando acompanhar algum show do Halleluya em Fortaleza, mas só deu certo uma musiquinha aqui, outra acolá por causa do fuso horário e das atividades no dia seguinte que me impediam de ficar a madrugada toda acordada. Os videos oferecidos no portal da Comunidade Shalom serviam de consolo no dia seguinte, e eram o assunto das refeições. Os dados do Halleluya são exuberantes, e como disse o Moysés numa entrevista coletiva, somente mostram o dom de Deus, sua presença que é de fato a mais exuberante de todas as graças e que dá sentido ao que se experimenta e vive no local do evento que, bem-humoradamente tem a sigla de C.E.U. Centro de Espiritualidade Uirapuru.  Aproximadamente 800 mil pessoas é o público que participa dos cinco dias do Festival, que apresenta o que há de melhor em música entre os artistas católicos brasileiros. Este ano a novidade ficou por conta do espaço dado para artistas cearenses, e trazer de volta o Pe. Fábio de Melo, agora celebridade nacional mas que até o ano de 2004 quando participou do Halleluya pela última vez, era somente um sacerdote, um artista, escritor, um amigo com quem se podia ir à praia do Futuro comer carangueijo. Mas Deus sabe muito bem o que fazer com aqueles que são seus e como prepara-los para serem os profetas de cada tempo. O Pe.Fábio de Melo é um desses que em sua humanidade e transparência não teme enfrentar discursos não religiosos, e que com sua alma de cristal alicerçada em formação consistente, leva a presença, a Palavra, a pessoa de Jesus Cristo. Você é um sacerdote da misericórdia lhe disse o Moysés num misto de profecia e confirmação do ministério específico, ao se despedir do Pe. Fábio no Halleluya. Que ele venha em 2011. Quando eu vi na internet a entrevista de três blocos do Pe.Fábio no Jô Soares, notei no fim um pequeno e siginificativo detalhe: o Jô lhe pediu a bênção...

Quando vi o evangelho da segunda-feira falar da parábola do Reino de Deus comparado ao mínimo grão de mostarda pensei, imediatamente, que o Halleluya é um exemplo atual e eloquente deste mistério de crescimento e expansão a partir do pequeno, da pequena fidelidade diária, como quem água a plantinha, esperando que ela cresça até tornar-se árvore. Acho que Deus faz assim conosco, até nos tornar verdadeiramente pessoas Nele, ou seja, santos. Em muitas missões muitas sementes já foram plantadas, umas até com o nome de Halleluya, cabe a mim e a nós perseverar, confiar e não temer esperar para ver crescer. O exemplo de toda a parresia, beleza e organização de Fortaleza no Halleluya 2010 levou 28 anos sendo construído.

Temos todos os motivos para também ter este olhar de esperança sobre nós mesmos e sobre aquilo que Deus quer construir através de nossas mãos e vidas.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A Igreja que sofre e a Política

Estamos em pleno Halleluya juntando 80 mil pessoas já na primeira noite segundo dados da Polícia que faz a segurança do evento no C.E.U. em Fortaleza onde o festival acontece, e eu pensando em falar do sofrimento da Igreja...mas é isso mesmo. Tenho tido tanto contato com cristãos e católicos que passam por vários tipos de sofrimento e desrespeito por causa de sua fé que não deixo de valorizar ainda mais o grande dom de Deus que é a liberdade religiosa ainda reinante no nosso país, que nos permite fazer um Festival do tamanho de um Halleluya. A possiblidade de expressar a fé e o amor a Jesus Cristo e à Igreja Católica é um dom único e valiosíssimo! Até quando durará?

Por estes dias enquanto jantava sozinha, rapidamente, após chegar da aula assisti a um programa na EWTN contando sobre a grande ressurreição da fé católica na Ucrânia, especialmente entre a comunidade de rito católico-melquita, após 40 anos de perseguição comunista. O mais bonito e emocionante foi ouvir o testemunho de pessoas bem idosas que preservaram a fé, os cânticos, as leituras, os textos, as festas e dias santos, a cultura, a tradição, os paramentos, o amor ao Senhor, à Sua presença e a confiança Nele de que um dia o pesadelo terminaria e que a liberdade de amar a Deus à luz do dia poderia ser novamente vivida. E venceu a esperança. Eles estavam certos e por décadas ensinaram às crianças e aos jovens e as gerações que se sucediam, o que era ser católico e pertencer a Jesus Cristo.

Um único padre desta geração mais antiga conseguiu sobreviver todos estes anos e, na entrevista, mal se ouvia a voz do idoso encurvado . Não guardei o nome mas guardei a informação de que ele, assim que percebeu o perigo, tomou a radical decisão de morar nos fundos de uma casinha mal iluminada, perdida num vilarejo e, literalmente, trocar o dia pela noite. Somente saía para atender as pessoas e celebrar a Eucaristia nas casas das famílias na calada na noite e nunca era visto à luz do dia fazendo com que cressem assim, que tivesse morrido. Ninguém conhecia o rosto do sacerdote e ele manteve os sacramentos vivos como canal da presença e da salvação de Jesus anos a fio para as pessoas. Uns gatos pingados sobreviveram. Após a queda do comunismo e nova abertura política, mesmo que gradativamente, foram estes poucos e esta pequena comunidade de fiéis que voltou a oferecer esperança e cura espiritual às pessoas, desacreditadas e feridas pelos anos de falta de liberdade e de aridez espiritual. E o resultado de duas décadas, aproximadamente, da retomada das atividades religiosas mais básicas e simples, que é o que se pode esperar de uma vila no interior da Ucrânia, são vocações religiosas, sacerdotais e monásticas crescentes e manifestações populares de fé, como peregrinações e caminhadas à santuários e igrejas, antes fechadas ou destruídas. E a reportagem mostrava uma grande procissão do povo, com famílias inteiras, cantando e rezando até um santuário dedicado à Mãe de Deus. Esta igreja do século XII tinha sido destruída e foi reerguida em mutirão com doações literalmente de centavos doados pelos cristãos da Ucrânia. O programa me causou tanta emoção e gratidão, mais ainda pelo número grande de rostos jovens nas cenas filmadas... Uma ressurreição gerada pelo Espírito de Deus nos corações das pessoas cansadas de ideologias ou vítimas delas, gente que entendeu na pele e na vida que a maior de todas as pobrezas é o desconhecimento de Deus.

E aí a gente desliga a televisão e vai saber notícias do Brasil e da América Latina e vê o Hugo Chavez na Venezuela afrontando o Cardeal de Caracas, perseguindo a Igreja Católica em nome de uma insanidade egolátrica que mais parece um retrocesso ao que o mundo viveu e sofreu na Europa no que diz respeito ao comunismo, seja na Ucrânia, na Rússia, na Hungria ou na Polônia. Desses países posso falar pois tenho amigos e conhecidos de cada um deles aqui em Israel e o que eles contam não está nos manuais do socialismo. E o pior é ver o Presidente Lula na mesma direção em nome dos pobres...

Que o Espírito de Deus tenha misericórdia da América Latina e do Brasil e nos ajude a acordar e ressurgir para um novo tempo e uma nova política mais humana, mais ética e mais genuinamente convertida ao Evangelho e à cultura da vida. Do mesmo jeito que sempre tive horror do discurso religioso-católico que não condizia com a vida, pérfido e hipócrita, também rejeito a empáfia do pt e de todos os partidos e políticos que se arvoram em salvar as pessoas, a população brasileira, os pobres, apoiando uma cultura de morte que descarta Deus. Esquecem que o exercício da política é um dom de serviço dado por Deus. 

O quanto ainda teremos que sofrer para entender que sem a luz e o amor do Espírito de Deus somos cegos guiando outros cegos?

terça-feira, 20 de julho de 2010

Partilha

Hoje é o dia internacional do amigo e eu nem me lembrei. Acho que nem sabia, mesmo sendo tão ligada aos meus amigos e amigas, que são tantos, graças a Deus, cultivados nas estradas da vida que já somam quase cinco estradas, nem acredito. Mas este é assunto para o mês de agosto.

Falei com a Soraya Borges que teve a sorte de me achar no msn enquanto eu estudava hebraico, fazendo tarefa de casa. Estudava em casa porque dia 20 de julho é festa do grande profeta Elias e foi feriado. E entre Elias e o dia internacional dos amigos, este segundo fica esquecido. Elias, o profeta que foi tão humano e tão escolhido de Deus, capaz de ter medo e de sofrer tristeza enquanto em sua alma o zelo pelo Senhor o consumia. O zelo que é o amor esponsal, o segredo de todo relacionamento com Deus. É um profeta que atrai. Dia 21 é dia do profeta Jeremias, outro também especial.

Participei com a Comunidade Shalom da missa celebrada para todos os Elias no Stella Maris, convento Carmelita mãe de todos os carmelos, que foi erguido sobre uma das grutas onde o profeta rezava, segundo a tradição, e que no dia de hoje atrai judeus e cristãos de todo o país. A primeira missa foi no rito melquita - e haveria outras para os maronitas e os latinos - em especial homenagem ao nosso bispo Elias Chacour e a outros dois sacerdotes da diocese também Elias, e depois da missa fizemos uma horinha até a hora do almoço. Foi tão bom almoçar fora! Fiquei pessoalmente satisfeita por nossa casa ter sido toda convidada e não somente eu por trabalhar na Cúria.

Completei dois anos de Cúria e de missão no dia 20 de junho há exatamente um mês e algumas pessoas começaram a me perguntar se eu volto para o Brasil, quando volto, como vai ser... Confesso que não sei. Sei somente que ao buscar o direcionamente, perscrutando a vontade de Deus, que é o que me interessa em primeira e última instância fazer, não pude deixar de entender que os sinais externos me apontam para permanecer na missão. Como o processo na Polícia por conta do acidente ainda está em aberto sem data ou previsão de término, e isso implica na minha proibição de sair de Israel, eu só posso entender que aqui continua sendo o meu lugar. Vim por dois anos, mas renovarei meu pedido de permanência por mais um ano, confiando que o Senhor continuará manifestando o que Ele quer para mim e de mim. Já estive mais aflita mas agora estou em paz, sinceramente. Não deixa de ser um sacrifício e uma renovação de oferta de vida, mas Deus que me conhece e me ama, arranjou um jeito de não me deixar sair prematuramente da missão, desta missão, ou do centro da sua vontade neste tempo de grande obra nova em minha vida. A vida missionária fez de mim outra pessoa, mas a obra deste tempo ainda está acontecendo e não fechou o seu ciclo, disso tenho convicção. Por isso fico, por isso abraço mais este tempo, por isso ergo meu sacrifício de louvor, com sinceridade de coração.

Preciso novamente contatar as pessoas que caridosamente guardaram as minhas caixas de livros e alguns poucos pertences em Fortaleza para ver como vai ser, mas tenho certeza que encontrarei uma solução amigável e pacífica.  Tomara mesmo. As saudades sempre existem, mais ainda às vésperas do Halleluya Mãe que é o de Fortaleza mas com a tecnologia a gente consegue acompanhar ao vivo pela internet e tudo fica mais acessível, próximo! Só não conseguimos ainda dar um jeito para ludibriar o fuso horário de seis horas. Para acompanhar o Halleluya é madrugada adentro...

Hora de deitar. Hora de dizer laila tov, boa noite! E também Rak Elo'him Yode'a! que significa só Deus sabe. Só Ele sabe de nós.

Abraços para os leitores do blog que são todos amigos e amigas e sempre as minhas orações. Rezem por mim também!

Bom Halleluya! A festa que nunca acaba! A força que faz viver! 

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Aniversários e Sínodo

Aniversário da mamãe que nasceu na véspera da festa de Nossa Senhora do Carmo que, no Brasil, eu nem me dava conta mas que em terras santas é festança para todos os católicos, em especial os Carmelitas. E chegando na igreja, que é simples e bonita, a gente sente logo que o antigo e o novo testamento se encontram quando se ve a gruta do profeta Elias e a suave e bela imagem da Virgem. E no altar as alianças se plenificam e renovam por causa de Jesus, o Senhor. Os corações de Maria e de Elias ardiam de zelo, de amor por Ele e é assim que meu coração deveria arder também...

Estou com muita saudade da minha mãe e ela anda sumida e eu imagino o porquê: quando ela pensa em ligar para mim e se dá conta da hora lembra-se que para mim já é madrugada, lamenta-se e deixa para o dia seguinte. E assim as semanas passam. Vou tentar ligar para ela depois da festinha que faremos para a Viviane que também nasceu no dia 15 só que algumas décadas depois.

Começaram as trocas de comentários, de estudo sério e discussão entre bispos e patriarcas, preparando o Sínodo para a Igreja Católica no Oriente Médio em outubro próximo, em Roma. O documento que orienta e prepara o Sínodo chama-se 'Instrumentum Laboris' e foi entregue em junho para os mesmos patriarcas e bispos reunidos com o Santo Padre em Chipre. Eu estava lá e vi! Também representantes não cristãos tem acesso ao documento e tem dado seu ponto de vista. Na verdade o IL pode ser acessado no site do Vaticano e pode ser lido por qualquer pessoa. 

Este Sínodo é mais um passo importantíssimo no contínuo esforço e dedicação de Bento XVI em promover o diálogo e o amor autêntico entre as partes que compõem o Corpo de Cristo, sejam as igrejas da Reforma, sejam os ortodoxos. Isso sem contar a aproximação e o diálogo com os Judeus, os primos mais velhos, que é de vital importância para se crescer no diálogo visando a unidade. Fazendo a nossa parte o milagre da Unidade, que é dom do Espírito Santo, pode acontecer, é bom lembrar disso.

O Sínodo tem muita importância porque tratará da realidade cristã nas sociedades do Oriente Médio que são sociedades predominantemente muçulmanas onde os cristãos são minoria, como acontece no Irã e Turquia. Da mesma forma em Israel. Um outro assunto sério, delicado e sempre necessário que será tratado é a relação interna entre os católicos de diferentes ritos. 

No site da Pastoral Hebraica (http://www.catholic.il/) há um comentário importante do Pe. David Neuhaus, sj, salientando que o aprofundamento do diálogo entre católicos e judeus beneficia os judeus católicos de Israel, que são um pequeníssimo rebanho. A maciça maioria dos cristãos do Oriente Médio é composta de árabes de cultura e raça vivendo em ambiente árabe. Em Israel, porém, o contexto de conflito entre árabes e israelenses e entre palestinos e israelenses, torna as relações entre cristãos e judeus bastante problemática e ainda mais delicada.

O diálogo e o crescimento no amor através do conhecimento e da aproximação mútua é a única saída e a parte humana para se construir a unidade - e isso inclui a unidade em nossas casas comunitárias, comecei logo a pensar - segundo o bispo Kurt Koch, suiço, eleito por Bento XVI em 1 de julho como o novo presidente do Dicastério que cuida da Unidade entre os Cristãos. A unidade em si é milagre de Deus.

Segundo Pe. David a importância do 'Instrumentum Laboris' também se deve aos dez importantes parágrafos (p.85-94) que orientam sobre o diálogo entre Judeus e Católicos. Nós como Comunidade Shalom na Terra Santa, renovamos nossa oferta de vida no desejo de morrer para que o fruto da paz e da unidade brotem do jeito que só Deus pode e sabe fazer. Sabemos que o que importa é nos darmos por inteiro, sempre, e mesmo sendo só uma pequena sementezinha maior é o Pai, o Agricultor em cujas mãos perfeitas estamos. 

Peço orações para o Sínodo e pela Paz e a Unidade em Israel e na Igreja. Daqui nós rezaremos pelo Halleluya e por todos os eventos evangelizadores que alimentam a nossa confiança e fé no Senhor que a Seu tempo faz o Carisma Shalom florescer onde ele foi plantado.

Parabéns Mamãe, parabéns Vivi!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Rapidamente

E não é que a Espanha levou a Copa? Eu estava torcendo para a Holanda mas sem muita convicção de nada pois fora Ghana nenhum não tece Por conta das aulas a minha semana está mais intensa do que nunca. Viajo agora de domingo a domingo entre Isifya e Haifa, entre trabalho, aula e pastoral hebraica que é meu 'apostolado' na missão. Ainda tento encontrar um horário para estudar e estou de caderno e livro na bolsa todo o tempo. O desafio no aprendizado leva-me a sentir-me criança novamente: a alegria do contato com o novo e a insegurança que ele desperta. Entre desesperar e enfrentar com humor e paciência, tenho optado pela letra b consciente que a idade traz limites mas imprime serenidade no enfrentamento dos medos. O difícil é o medo do ridículo, esse é duro de enfrentar. Narrom, narrom, certo, certo, diria uma das professoras, Maya, quando incentiva os alunos. Com ela tive natural empatia. Existe também o abandono na graça de Deus que não falha e capacita na mesma medida que apresenta um desafio. 

Com certeza vivo um tempo novo de desafios e perspectivas novas, pessoais e comunitárias, que precisa ser abraçado com fé e confiança. Para é tempo de seguir em frente, permanecendo na missão, sem ficar paralisada pelas perguntas estéreis. Isso se tornou claro para mim após a partilha de vida do Moysés que ouvimos na quinta-feira, véspera da festa da Vocação Shalom. Interessante porque ele falava sobre o estado de vida e não sobre missão, trabalho, mas vou intuindo e entendendo que se o estado de vida é abraçado e desejado em sua inteireza parece que todo o resto flui, as portas se abrem, e um sopro de vida afugenta a paralisia, a melancolia, e até a língua se solta... Espero para ver e testemunhar mais uma obra de Seu Amor por mim...

Não posso deixar de comentar uma cena urbana desta manhã. Sentei-me ao lado de uma moça com jeito de judia ortodoxa. A gente sabe disso por causa do lenço colorido cobrindo a cabeça, preso atrás com um nó próprio mais a saia comprida e blusa também de manga comprida. A indumentária é discreta mas não precisa ser preta ou azul marinho como das pálidas drusas. Havia uma sentada atrás de mim, descendo para Haifa. Quando sentei-me e peguei meu terço para rezar notei, coincidentemente, que a judia pegou um livrinho de orações e começou a ler movendo os lábios. Quase movia o corpo como se faz diante do Muro das Lamentações. E lá estávamos as três, mulheres, entretidas, cada uma em seu universo. Duas conscientemente conversavam com seu Deus. Senti uma alegria profundíssima por conhecer Jesus e desejei que elas também o conhecessem cristãmente, mas não tive dúvidas que éramos igualmente amadas. 

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Protesto e Parabéns

Hoje é festa na Comunidade Shalom! 28 anos de vida alcançando milhares de vidas que descobrem o Amor de Deus! É um misto de gratidão, alegria e desejo de continuar e ser tudo o que Deus quer... Assim me sinto hoje e se escrevo pouco é por correria e falta de tempo. Estaremos todos juntos em Nazaré, junto da Virgem, para celebrar a Eucaristia pedindo que Ela nos ajude como filhos, como missões na Terra Santa e como Carisma a viver mais plenamente a vontade de Jesus. Tudo vem dele, tudo volta para Ele e sem Ele nada podemos fazer.

Mesmo correndo sugiro aos leitores do blog que entrem neste endereço e vejam a apelação que a empresa DuLoren fez para vender langerie. Precisamos nos manifestar nossa indignação! Eu já escrevi ontem a convite de minha amiga de SP, a Berenice, que está sempre ligada. Abaixo do link segue a resposta que ela recebeu. Eu também entrei no site da empresa ontem e protestei, dizendo entre outras coisas que pediria as mulheres minhas amigas e parentes que boicotassem a DuLoren. Estou no aguardo da resposta, depois comentarei.

A paz é dom de Deus, é fruto da Cruz do Senhor e obra do Seu Espírito! O que eu mais desejo é que minha vida ofertada possa atrair pessoas para esta experiência de conversão e de amor que é o encontro com Jesus. Agradeço e louvo o Senhor pelo SIM que o Moysés, primeiramente, e depois Maria Emmir deram e continuam dando e, a partir deles, que tantos e tantas passaram a dar para que o Reino de Deus se espalhasse e firmasse através deste sonho do Espírito Santo chamado Carisma Shalom. Ele está no meio de nós! Seu Amor é Real e Sua Misericórdia é eterna! Mesmo com todos os desafios não dá mais para voltar atrás nem viver longe desta família que também recebe hoje o meu SIM renovado e comprometido.

Parabéns! Mabruk! Congratulations! Mazal Tov! Sobre as aulas de hebraico, comentarei noutra ocasião... Adianto que estou perdidinha que dá gosto...


Cara Berenice,

A Agnelo Pacheco agradece seu contato, pois a sua opinião é de extrema importância e contribuição para nosso trabalho. Com 25 anos de mercado, a Agnelo Pacheco é uma agência que em parceria com empresas e instituições muito sérias, busca no desenvolvimento de suas campanhas, conscientizar e auxiliar a sociedade em questões pertinentes ao seu desenvolvimento e bem-estar. E ouvir o que o público tem a dizer a partir da publicação de cada campanha é essencial para que nossas mensagens sejam cada vez mais úteis e efetivas.

Aproveitamos para adiantar que tiramos a campanha do ar.
Um abraço,

Agnelo Pacheco Comunicação

terça-feira, 6 de julho de 2010

Novidades

Acho que minha inquietação destes dias tem uma única razão: quero aquilo que tomo mundo mais deseja que é liberdade e amor. Quero mais liberdade, quero mais amor. Mas voar e amar se aprende aos poucos e lentamente. E eu não tenho paciência nem comigo nem com os outros e como Deus é todo Ele Liberdade e Amor e é Ele quem me treina e ensina, é Ele também que define os ritmos e os treinos, os exercícios, os duros exercícios. Não adianta brigar em minha petulância ou desânimo. As aulas de asa-delta de Deus são nos ventos que Ele soprar e no tamanho das asas que Ele quiser. Estou impaciente e sofrendo também. Caem por terra as máscaras daqueles que voam e treinam ao meu lado e somos todos necessitados. Difícil é admitir isso para mim mesma, e admitir para os outros quase impossível. Tememos a rejeição quando vistos em nossa miséria e mais, em nossa dor e vulnerabilidade. Temo eu, teme tu. Somos todos desprovidos de asas verdadeiras...

Penso que os santos, são aqueles que não temem mais serem vistos naquilo que são ou não são e por isso se tornam leves. Suas energias são gastas não mais tentando esconder-se em discursos religiosos - estou tão cansada dos meus discursos - mas em voar e amar com simplicidade e alegria, seja como um beija-flor seja como águia, aceitando as asas que lhes dá Jesus, a medida perfeita de cada pessoa. A dureza é aceitar aquilo que se é. A dureza é aceitar que ninguém muda ninguém. Mas o maior de todos os desafios é aceitar e querer de verdade voar o vôo livre dos filhos de Deus, como pessoas individuais e como corpo comunitário, sabendo que muitas vezes nossas asas vão se esbarrar. Das duas uma: ou a gente cai e se esborracha e desiste ou rememda as asas e continua treinando. Acho que estou remendando minhas asas.

Eu disse que tinha uma novidade e tenho. Finalmente, em minha quinta tentativa nestes dois anos, consegui uma vaga para estudar o Hebraico no curso oferecido pelo estado de Israel para imigrantes e estrangeiros que se chama Ulpan. O curso que comecei no fim de 2009 foi meia boca demais... Mesmo tendo perdido uma semana de aula, a professora ontem, muita segura e com jeito competente de quem sabe o que faz - viva a diferença de se encontrar um bom professor - me tranquilizou de que tudo vai dar certo. É sempre uma experiência prazerosa e infantil sentar-se pela primeira vez numa sala de aula. Um bando de adultos escondendo ansiedade de criança diante do novo. Maya a professora, montes de Tatianas e Ludmilas, alguns Wladimir no ambiente esmagadoramente russo, uma filipina e eu, brasileira. Vamos ver no que vai dar este ritmo de aulas até dezembro, quatro vezes por semana, das 5 às 8 da noite, pelo qual já passaram antes de mim Viviane e Cristina com ótimos resultados. A diferença são os quinze anos de memória muito mais usada que a delas, mas Deus é mais e como meu anjo da guarda me acompanha alguma coisa há de entrar.

Se alguém quiser dar parabéns diga: mazal tov!

domingo, 4 de julho de 2010

Quando o Evangelho se Concretiza

E o Brasil voltou para casa e a Argentina também... Agora é torcer para o Uruguai, pois é time latino-americano, mas eu acho que quem leva a Copa é a Alemanha. Tem um lado bom neste fim da euforia, as pessoas voltam a se preparar melhor para as eleições porque voltam à real. Mas é de outro assunto que eu quero falar.

Estes dias me caiu a ficha de que tenho feito uma experiência incrível e muito concreta do Evangelho, provando que a Palavra de Deus é viva e real, mais uma vez! É o texto que fala das promessas para aqueles que derem a vida por amor a Jesus e ao Reino de Deus. Os três evangelhos sinóticos falam deste assunto: Mateus 19, 29, Lucas 18, 29-30 e Marcos 10,28-30 e nos três é Pedro quem pergunta a Jesus o que receberiam eles, os primeiros apóstolos e discípulos, por terem largado tudo e seguido o Cordeiro de Deus.

Todos os textos falam do cêntuplo já nesta vida e no fim, a vida eterna. O que já é uma senhora promessa, pois tantas vezes nos esquecemos que nossa vida é um sopro. Viemos da eternidade e para lá voltaremos. Mas voltando aos evangelistas, Marcos é bem preciso na lista que apresenta apesar de ser o mais sintético dos evangelistas. Ele descreve com exatidão aquilo que se perde e o que se ganha: casas, irmãos, irmãs, pais, mães, filhos, terras. O que é singular vira plural, como no caso de casa, terra, pai e mãe e o que era plural, é multiplicado por cem no caso de irmãos, irmãs, filhos e filhas. O sabor do Reino fica por conta das perseguições e incompreensões, que nos fazem viver na Cruz e a partir dela como discretamente fala S.Paulo na epístola aos Gálatas 6, leitura da Liturgia de hoje. Ele se gloria na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, não da Cruz como objeto externo e temido. As perseguições nos empurram à dinâmica do sofrimento que salva e esconde o maior Amor e nos fazem conhecer Jesus de um jeito mais íntimo.

Não tenho dúvida de que por misericórdia e fidelidade de Deus tenho conhecido outros pais e outras mães que no mistério da comunhão dos santos fazem este papel e me protegem, escutam e me apontam e desafiam a continuar crescendo na dinâmica libertadora da vida no Espírito, crescendo em santidade, nas virtudes, no perdão, no louvor e na alegria, no não medo do sofrimento e das perseguições... São pessoas incríveis! Mesmo com todos os limites impostos pela missão e as circunstâncias que me cercam em Israel, o Senhor tem me dado pessoas para quem sou filha e para quem aos poucos aprendo a ser também mãe e irmã. É uma belíssima e viva ação do Espírito que me dá gratidão e coragem para enfrentar as dores e perseguições que mesmo tendo a companhia do próprio Senhor Jesus, não deixam de doer um bocado. Tem doído um bocado mas também elas me fazem ser testemunha assim, de que a Palavra de Deus é viva e eficaz.

Me perguntaram outro dia se eu voltaria para o Brasil, e se eu voltasse o que faria? Respondi que sinceramente não sabia, mas pensando bem, acho que sei. Sei que posso esperar a Palavra de Deus se cumprir integralmente no que diz respeito a casa, terras, ou seja ao que diz respeito a sustento e ao futuro, pois tudo vem do Senhor e para Ele volta, e Ele é fiel. Como não cuidará de mim e de cada um que deu a Sua vida por amor a Ele? 

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Um pouco de consolo

Perdoem-me o silencio, amigos do blog mas tem sido difícil escrever. Não sei se falta assunto ou sobra assunto. Com certeza preciso rever o meu tempo e reajustar as prioridades. O verão me deixa mais susceptível à dor de cabeça e ao desânimo. O calor forte dá nos nervos além de outras coisas. As ondas do lado melancólico do meu temperamento tem se feito ver, acho que é isso também. No escritório estou sozinha porque a Lubna minha amiga foi realizar um sonho e conhecer Medjugorje. Para atender os telefonemas árabes veio a La'ma, sobrinha neta do arcebispo, que fica na Cúria das 9 até a hora do almoço que é a hora do pico das ligações. Ela me faz sentir saudade das minhas sobrinhas nos seus 18 anos e celular cor de rosa.

Talvez o consolo destes dias meio desanimados de volta à casa tenha sido falar com a minha avó, em Milão, nonna Lena, mãe do meu pai que no dia 29 de junho fez 96 anos! Ela está começando a embaralhar as coisas mas é forte a italiana, e bem humorada. Ela me disse, quando nos encontramos ano passado pela última vez, que a única oração que ela sabia de cór era essa: Gesù, Giuseppe e Maria, guarda l'anima mia. No telefone depois de ficar emocionada finalmente convencida de que era eu mesma quem falava com ela, me disse que estava cansada desta vida tão longa e que agora passara a rezar assim: Gesù, Giuseppe e Maria...portame via! Mas ela mesma completou: Mi sembra che non cè ancora posto... Eu não me contive e dei uma gargalhada. Prometi rezar por ela e que o Senhor a venha buscar em Sua Paz na hora perfeita que Seu Amor determinar.

Por fim não há como não comentar sobre o futebol. Sei que no Brasil, pelas notícias da internet as pessoas andam muito insatisfeitas com o futebol da seleção do Dunga temendo a Argentina na final. Mas se puxo da memória é sempre esta a minha recordação quando é época da Copa do Mundo: estamos sempre insatisfeitos com o técnico e os jogadores até o último instante quando eles ganham a Copa. Não foi assim com o Filipão em 2006? Crítica em cima de crítica até que o penta veio. Entre os contatos e amigos este é o trato: se o Brasil perder a ordem é torcer pela Alemanha. Argentina jamais! Minha religião não permite! É como ter a descoragem de virar muçulmano, que Allah me defenda!