segunda-feira, 25 de abril de 2011

O Senhor está vivo, Ele ressuscitou!

Em Jesus temos toda esperança! Ele é a minha esperança! Passei desde ontem com o coração ligado em todos os que estão em grande sofrimento nestes dias ao redor do mundo e num misto de alegria e tristeza, de enorme gratidão e renovação de oferta irrestrita da minha vida e sofrimento pelo sofrimento da Humanidade, passei esta Páscoa. Só sei que tudo me aponta Jesus, o Cordeiro imolado, seja a dor seja o amor. Talvez a simplicidade das palavras do Santo Padre Bento XVI sejam as mais humildes e verdadeiras, as quais partilho assumindo-as para mim: 

"No nosso coração, há alegria e sofrimento; na nossa face, sorrisos e lágrimas. A nossa realidade terrena é assim. Mas Cristo ressuscitou, está vivo e caminha conosco. Por isso, cantamos e caminhamos, fiéis ao nosso compromisso neste mundo, com o olhar voltado para o Céu. Boa Páscoa a todos!”

Partilho aqui as palavras da homilia do Pe.David Neuhaus, sj, proferidas hoje na celebração pascal com todas as comunidades de católicos de língua hebraica que anualmente nesta data, em Jerusalém. Quem não souber inglês, que use o google translator e viva este tempo pascal saboreando as quatro palavras que ele escolheu como aquelas que traduziriam o tríduo pascal e o domingo de Páscoa, e que me pareceram sábias e bem apropriadas: quinta-feira santa AMOR, sexta-feira santa, REPARAÇÃO, sábado santo, SILÊNCIO e domingo de páscoa, ALEGRIA.

Four words for the Easter season

Sunday, 24 April 2011 06:13

Father David proposes a reflection on four central words connected to the celebration of the central mysteries of the life of Christ, celebrated in the Church during the Triduum and on Easter Sunday.
 
Holy Thursday: love
 
The central experience on this day is to participate in the Eucharist and experience Jesus’ love as he gives us his body and blood. During the last supper that Jesus shares with his disciples, he gives them bread and wine to eat to nourish them with his very life, his body and his blood. The act of feeding is one of the most intimate acts of love as can be seen when a mother nurses her child. Israel experienced this in the Wilderness with the gift of manna, God coming to nourish His own in a place of nothingness. Jesus comes in the last supper to feed the disciples with his own life, a life poured out for them. This gift of love is for them despite the fact that they are weak, confused and afraid. One of them will betray him, one of them will deny him and all will abandon him, and despite his knowledge of their fragile humanity, he pours out his life for them on the eve of the violent taking of his life by others.
 
This gift of love, the gift of his life, is complemented with his stooping down to wash their feet. They are clean as they sit down to eat but their feet must be constantly washed by him as they tread on in their world of darkness and fragility. In his stooping down, Jesus reaches deep into the reality of his all too human disciples and seeks to lift them up with him into the Kingdom of his Father.
 
In Gethsemane, that same night, Jesus gives perfect expression to his willingness to do his Father’s will, to lead his Father’s children back home.
 
Good Friday: atonement
 
The central experience of this day is to contemplate the Crucified one. The people of Israel were commanded to celebrate a day of Atonement once a year, when the high priest made sacrifices to expiate his own sins, the sins of the priests and those of the people and thus renew the covenant with God.
 
Jesus’ life is taken from him with cruel violence and yet it is a life he has already given of his own free will, a life given for all. He is put to death because of sinners but he freely sacrifices himself to reconcile us with God. His obedience unto death, a brutal death on a cross like a common criminal, brings us back into the embrace of the Father from whom we have been separated by sin.

Gazing on the Crucified one, I am called to realize that he is hanging there through no fault of his own. I must awaken to the stark reality that is for my sins that he hangs there. It should be I hanging there in his place. As I gaze on him, I mourn not only for him but for myself and for all humanity, submerged in darkness, sin, fear and death. We have chosen death over life.
 
We have put him to death. It is this fundamental awakening to who I am, to who Jesus is, to who God is, who so loved me that He sent His only son, that brings me back to the embrace of the Father. Jesus’ saving act is his awakening me from my slumber. I together with all sinners who believe in him are born anew in the blood and water that gush from his wounded side. This is the at-one-ment with God that Jesus realizes in his death on the cross.

Holy Saturday: quiet

The central experience of this day is quiet, the quiet that comes from the end of activity, the quiet that anticipates new beginnings. As Sabbath approaches, Jesus is laid in a tomb. Silence descends with the Sabbath and yet this is a Sabbath under the shadow of death. Is this the end of the story? Has death swallowed up once again the hope that good will triumph? Holy Saturday is spent in prayer and silence, reflecting on the story until now. This is the day in which the Church experiences a real “Shabbat”, the quiet and calm which are foundations of the spiritual life.
 
On this day, we must reflect on the image in which we were created – God’s own image. This image destines us to be children of God the Father. We must reflect on how He led us out of slavery into freedom, out of darkness into light, out of nothingness into life. On this day we can reflect on how the “image of God” is what unites us with all His children, called to be one people in a Kingdom of peace, His kingdom. This God of Creation, this God of Salvation… surely He will be victorious over death and raise His son from the tomb… Surely this will be a Saturday of light…
 
Easter Sunday: joy

The central experience is the discovery of the empty tomb and the experience of amazement that transforms into joy. There is an “after”… ! Despite the human logic that leads to a dead end – an end in darkness, sin, fear and death, God’s fidelity assures that there is an “after”. God does not accept the end that our human weakness imposes on the story of our lives. God opens up the story again in order to accomplish the promises that he has made.
 
Death has been vanquished through Jesus’ obedience unto death. Sin has failed and fear is no more. Jesus is risen, the sure sign of God’s fidelity and ultimate victory!
 
The joy that characterizes Easter Sunday is the joy of new beginnings. This is the eighth day, the first day of a new creation in which slavery, sin, fear and death have no place. With Christ’s rising from the dead, his disciples stand at the portal of the new reality of the Kingdom.

The next seven weeks of the Easter season will be a time to prepare to receive the Spirit that Jesus will bestow on his Church at Pentecost.

Que não falte AMOR = a própria presença do Espírito Santo, Ele que ressuscitou Jesus dos mortos, no nosso coração!

Hamashiah Kam! Be emet Kam Halleluya!

(Em hebraico = o Senhor ressuscitou! verdadeiramente ressuscitou Aleluia!)

sábado, 16 de abril de 2011

JMJ - WYD - Eu estava lá!

Estava vendo as notícias no www.h2o,news esta semana, e um dos videos fazia uma retrospectiva sobre a Jornada Mundial da Juventude e o Papa João Paulo II. Muito emocionantes as imagens e a revolução que representou cada JMJ em cada país onde ela aconteceu. De repente me caiu a ficha de que eu participei da primeira Jornada Mundial da Juventude - que ainda não tinha esse nome - em 1985 em Roma! Meu Deus! Eu estava lá! E como um filme de final de feliz com partes de suspense e muitas experiências de fé, eu me lembrei de tudo e resolvi contar aqui no blog, com muita emoção e gratidão, como testemunho.

1985 foi o Ano Internacional da Juventude criado pelo Papa João Paulo II após seu primeiro grande encontro com os jovens em Roma no ano anterior, 84, no seu grande afã de ir ao encontro dos jovens para anunciar-lhes Jesus e desafia-los à santidade feliz. Uma geração de santos de calça jeans! Que imagem mais fantástica e apropriada. Nesta época eu morava no Rio de Janeiro com a família - mãe e irmãos pois meu pai havia falecido em 82 - e trabalhava como professora de inglês e de religião para crianças. Frequentava o grupo Bom Pastor, hoje Comunidade Bom Pastor, na paróquia de Nossa Senhora de Copacabana. Esta era a minha vida e eu era completamente engajada na vida da igreja e do grupo de oração. Também namorava o Afonso Marra, pessoa muito especial que também participava do grupo de oração e de todas as atividades evanfelizadoras comigo. Éramos muito amigos além de namorados. 

Não sei exatamente em que mês surgiu o convite para que as paróquias e as comunidades brasileiras mandassem os jovens para participar deste encontro mundial em Roma, que contaria com palestras, um encontro com o Santo Padre e uma oportunidade ímpar de ver gente do mundo todo. Seriam cinco dias em setembro, ou uma semana, não tenho mais certeza. Porém, como ir? Mesmo timidamente eu e mais duas pessoas do grupo - Laura Beatriz e Margarida - ou simplesmente Laurinha e Guida,  começamos a nos movimentar e a desejar ir, fazendo contas e planos... parecia impossível. Não havia dinheiro que desse conta nem quem nos ajudasse. Me lembro que rezamos e que a Palavra de Deus nos apontava com clareza que o Senhor abriria as portas. Mas como Deus parece ser especialista em roteiro de thriller - com todo respeito -  quando tudo parece enrolado e sem saída e a gente só tem mesmo a fé na Sua Palavra, Ele manifesta a Sua Vontade e inebria os corações com Sua fidelidade. Me lembro bem, faltavam somente duas semanas para a viagem quando todas as portas se abriram. O Fernando (que da eternidade deve se lembrar disso com alegria) mais o Hugo, dois grandes irmãos e amigos da Comunidade Bom Pastor, resolveram adotar a nossa causa quando souberam que não havia mais saída e moveram as pessoas do grupo de oração a nos ajudarem já que nós éramos servas e representaríamos todo o grupo Bom Pastor e a juventude católica do Rio de Janeiro. Nosso desejo de participar não era um capricho e nossa ida representava um testemunho da vitalidade da Igreja do Brasil. Estas palavras simples mas cheias de sabedoria atingiram o coração das centenas de pessoas que a cada segunda-feira há 35 anos lotam a paróquia e, de doação em doação, a soma foi alcançada. E mais: ainda nos deram um dinheirinho extra para uns presentinhos. Muito lindo é que a Guida conseguiu a doação da passagem pela Alitália e o funcionário que lhe entregou a passagem em nome da empresa aérea era latino americano - argentino? mexicano? - e se chamava Jesus! Nós quase morremos de tanto rir. Assim é Deus, tem alegria e bom humor.

A viagem em si foi inesquecível e não me lembro bem do número mas éramos aproximadamente 200 jovens. Uma das impressões mais fortes foi a experiência de catolicidade, de universalidade, da Igreja, do povo de Deus, ao ver tantos belos rostos humanos diferentes do meu em cores e jeitos. Na missa de encerramento, na hora do Pai-Nosso me emocionei tremendamente pois a minha frente, me lembro como numa fotografia registrada na memória, estava um africano, atrás de mim um asiático, japonês, à minha direita uma irlandesa ruivíssima e à minha esquerda uma peruana de cabelos negros e jeito indígena. E era o amor de Jesus, o batismo em Sua morte e ressurreição que nos fazia um só corpo e uma só coração. Era Ele a fonte do nosso amor e de nossa unidade na mais bela e desconcertante diversidade. 

Uma outra pessoa que foi nos visitar foi o Cardeal Josef Suenens amigo pessoal do Papa João Paulo II e pessoa chave no Concílio Vaticano e nos primórdios da Renovação Carismática. Um velhinho adorável de olhar sorridente, magro e alto que passeou no meio dos jovens com a maior simplicidade e nos falou expontaneamente sobre a Igreja e a vida da fé. Não me lembro mais da ordem das palestras, me lembro bem do efeito que este retiro, congresso, encontro, aventura, desafio, um pouco de cada coisa, deixou em mim. Os fatos se entrelaçam mais pelo efeito causado do que pela cronologia com que aconteceram. Também estava lá o José Prado Flores um dos primeiros leigos líderes da Renovação Carismática a estudar teologia, mexicano, que nos deu o testemunho sobre vocação e estado de vida, de como o Senhor o guiou até o matrimônio certo impedindo que ele se casasse com a pessoa errada. Causou-nos forte impressão ele contar sobre a simplicidade de seu casamento e por ter preferido à festa com muito glamour, ir à Caná em Israel e casar-se na presença dos pais dele e da noiva mais o sacerdote, como testemunhas.

Lembro-me do rosto de alguns outros brasileiros que compunham a comitiva mas não me lembro dos nomes. Era gente de Foz do Iguaçu. Tinha gente de S.Paulo também. Havia um padre de Campinas. Não posso deixar de contar que no avião, sentado exatamente atrás de mim estava o primeiro shalomita que conheci: um jovem bem magro e tímido representando os jovens católicos cearenses e a Comunidade Shalom ainda embrionária. Não era o Moysés. Era o Carmadélio, que saía do Brasil pela primeira vez e se encantava com tudo que via. Me lembro demais desse nosso primeiro contato. Este grupo de brasileiros resolveu juntar os trocados, alugar um ônibus e ir à Medjugorje quando acabasse o Congresso. Para tal façanha o primeiro passo era guardar todos os pães italianos e frutas - peras e maçãs - que nos serviam no café da manhã para servir de jantar e termos que pagar somente uma refeição por dia. E assim fizemos. Alugamos um ônibus e fomos de Roma até Pescara onde pegamos um navio destes enormes que transporta automóveis e ônibus, atravessamos o mar Adriático em plena tempestade a noite inteira - pense numa aventura! -e chegamos à antiga Iugoslávia. Passamos dois dias inteiros em Medjugorje e fomos a primeira peregrinação de brasileiros a esta vila visitada por Nossa Senhora. A vila era simplesmente uma vila sem qualquer infraestrutura e nos hospedamos na casa de uma família comum que por telefone contatamos pedindo acolhida. Graças a Deus as pessoas em Medjugorje falam italiano e por isso a comunicação foi possível. Conhecemos os videntes ainda bem jovens e só fizemos rezar e rezar e rezar. A atmosfera de santidade do local e das pessoas era contagiante e os testemunhos que nos contaram das famílias onde ficamos hospedados também era notável. Muita piedade, muita oração, jejum e vidas reconciliadas. Havia uns 60 padres do mundo todo celebrando a eucaristia, uma atrás da outra, alternando somente a língua. Testemunhamos a libertação de uma jovem mulher italiana atormentada pelo demônio que foi impressionante. Os padres que estavam na nossa excursão, um brasileiro e um panamenho, é que tiveram que intervir por conta da experiência de oração de libertação que tinham pela realidade de seus países. Eu, a Guida e outros brasileiros ficamos na porta da sala da sacristia onde acontecia a oração de libertação rezando o terço e afastando as crianças curiosas e espantadas com a cena. Vimos depois da oração esta mulher confessar-se e comungar e rezar com fisionomia transfigurada de amor e gratidão pelo que Jesus tinha feito. Estávamos presentes na missa das 18h - que era a hora das aparições - e me lembro que que a experiência era como se o tempo tivesse parado. A igreja lotadíssima em adoração profunda diante do mistério de Deus manifestado na presença da Santíssima Virgem. Como éramos jovens deixaram que sentássemos nos degraus ao lado do altar e a gente só fazia chorar inebriados de mir. A palavra Mir que é Paz lavava os corações de todos os presentes. Vale notar que coincidentemente quem estava em Medjogorje peregrinando nesta mesma data e que cantaram lindissimamente à capela uma música de ação de graças nesta missa especial, para Jesus e para Nossa Senhora foi o Gen Rosso, dos Focolare. Que missa inesquecível!

Me lembro que na primeira manhã que eu e a Guida saímos da casa onde estávamos hospedadas, pegamos uma ruela na direção errada e nos perdemos. Quem serviu de anjo da guarda e nos encontrou na estrada e nos fez voltar para a direção certa foi um jesuíta, Pe. Robert Faricy que fazia parte da delegação do Vaticano que estudava, ou estuda ainda, só Deus sabe, a veracidade das aparições de Medjugorje. Até hoje não sei se ele também se perdera como nós ou simplesmente estava caminhando e rezando contemplando os campos verdes enfeitados de árvores enormes com folhas alaranjados de outono, verdadeiramente lindos, da região onde estávamos. Sei que nessa aventura quase chegamos à Dubrovinik. Por causa da presença do Pe.Robert pudemos assistir em inglês a uma palestra com direito a perguntas como numa entrevista sobre as aparições marianas, sobre a postura prudente da Igreja e o porquê de cada coisa. Foi mais um presente de Deus. Sem contar que este mesmo jesuíta também estivera no Congresso de jovens conosco em Roma tendo sumido no último sem ninguém saber o que tinha acontecido. Nós descobrimos.

Em Roma as noites eram livres com temas culturais e os jovens de cada continente faziam uma apresentação artística. Não precisa nem dizer que os brasileiros deram show e fizemos todo mundo dançar, cantar, louvar, sair do lugar... Foi neste Congresso que pela primeira vez ouvi os mexicanos cantarem a música 'Los Animalitos' que fala da Arca de Noé que anos depois o Pe.Marcelo Rossi ia traduzir e fazer o Brasil inteiro cantar.

Uma das primeiras atividades culturais que tivemos, todos os jovens do Congresso, foi visitar Assis que era ainda bem simples sem tantos aparatos turísticos que passou a ter depois da década de 90. A turma de brasileiros conseguimos sem saber direito como, celebrar uma missa em português na tumba de S.Francisco. O fato de ver seus amigos e primeiros discípulos enterrados todos juntos, ao seu redor, bem próximos me deu forte experiência de amor fraterno, do chamado ao amor fraterno sincero. Para mim além da Porciúncula, da beleza da cidade, da vista, e do sobressalto tememdo dar de cara com Francisco quando virasse a esquina daquelas ruas de pedra medievais, o convento de Clara e rezar diante do Crucifixo que falou com Francisco me marcaram a alma. Na época eu havia aprendido uma versão em inglês de uma célebre oração do Poverello e quando me ajoelhei diante do Crucifixo, estava baixei os olhos e achei a oração escrita em todas as línguas para que os peregrinos rezassem. Nem precisa dizer que eu chorei para me acabar e cantei baixinho a música que até hoje sei de cor que diz assim: 

Most High and glorious God, bring light to the darkness of my heart,
give me right faith, certain hope and perfect charity,
oh Lord give insight and wisdom
so I might always discern your holy and true will 

E o encontro com o Papa João Paulo II? Aconteceu ou não? Logo no segundo dia recebemos a triste notícia de que ele não poderia mais nos encontrar por causa de um sério problema no sul da Itália - creio que na Sicília, por conta da Máfia, que estava no auge daquela operação conhecida como Mãos Limpas - que o obrigaria a viajar. Todo mundo murchou. No dia seguinte, porém, mais um recado: no último dia do congresso o Santo Padre nos receberia em sua capela privada, dentro do Vaticano, para a missa das 6 horas da manhã. Quase ninguém dormiu de tanta ansiedade. Quem tinha roupa típica foi à caráter, quem não tinha, vestiu-se o melhor que pôde. Passamos por segurança e revista rigorosa, um a um, e nos sentamos numa capela linda, em silêncio, com muita reverência pelo inusitado e pelo privilégio do convite. Quase que se ouvia os corações baterem de emoção e de ansiedade para ver o santo Padre de pertinho. Ele entrou pelo lado e celebrou a eucaristia com a maior serenidade e concentração. Profunda interiorização. Não sei dizer se havia outros padres co-celebrando pois nossa atenção era toda em João Paulo II. Sei, porém, que dois jovens seminaristas de SP, que trabalhavam com o 'Fradão' na recuperação de aditos de drogas, foram escolhidos para servir o altar. Eles quase enfartaram de tanta alegria. Fico me perguntando onde eles estarão hoje em dia... Um se chamava irmão Wagner.

No fim da missa para a nossa surpresa e delírio, João Paulo II se levantou e antes de sair resolveu nos dirigir umas palavrinhas espontaneamente em italiano. Foi bem curtinho, mas jamais vou me esquecer de duas coisas: primeiro que ele nos disse que rezava diariamente pelos jovens do mundo todo pois sabia que nos jovens estava a esperança e o futuro da Igreja, que nós então tivéssemos certeza de que estávamos presentes em sua oração e em seu coração. Se era assim quando ele estava no mundo, deve continuar do mesmo jeito no Céu! E, em segundo lugar, o Santo Padre nos fazia um convite pessoal: se queríamos nos comprometer com ele na evangelização do mundo. Foi uníssona e audível a resposta - a essa altura já não havia mais tanto silêncio - e todos nós levantamos a mão. Foi então que alguns assessores nos distribuíram um presente pessoal do Papa: uma cruz de metal, prateada, cópia do seu báculo, que mostra Jesus como uma seta apontando para ser lançado ao mundo, que nós erguemos segurando-a firmemente na mão, selando nosso compromisso com a evangelização do mundo!

Enquanto escrevo isso sinto forte emoção e gratidão pois esta cruz me acompanha todos estes anos. Enquanto escrevo tenho-a diante dos olhos. Como me arrependo pelo tempo da minha vida que eu esqueci do meu compromisso ou deixei-o em segundo plano e como amo a Deus por Ele jamais ter me 'demitido' da missão! Este Ano Internacional da Juventude aconteceu há 25 anos atrás, bodas de prata portanto, e se eu pouquíssimo ou nada fiz até agora, diferentemente de outros jovens, agora adultos que têm dado sua vida na Igreja e para a Igreja, peço ao Senhor que as bodas de ouro sejam comemoradas com as mãos menos vazias...

Também preciso testemunhar que ao ouvir a longa e muito boa entrevista dada pelo Moysés, Fundador da Comunidade Shalom ao Professor Felipe Aquino na TV Canção Nova no princípio de abril deste ano, me ocorreu uma pergunta importante: se eu saberia dizer quando o carisma shalom me havia sido comunidade por graça do Espírito Santo. Fiquei seriamente em dúvida já que minha história de salvação e de missão é marcada por várias etapas, mas vejo que Deus veio em meu auxílio e ao me levar a fazer memória das Jornadas Mundiais da Juventude e ao me lembrar deste encontro e desta missa com o santo Padre, Beato João Paulo II, eu constatei e entendi que foi em Roma, em setembro de 85 que a semente do carisma foi plantada em meu espírito e de lá nunca foi arrancada porque os chamados do Senhor são irrevogáveis, porque Ele é fiel e jamais volta atrás em suas eleições.

Se eu vou a JMJ em Madri em 2011 comemorar as Bodas de Prata e testemunhar o ardor e o amor pela evangelização? Seria bom demais, mais ainda se o Carmadélio também fosse, ambos agora de cabeça branca e o coração mais jovem do que nunca, sempre de jeans... Mas fora a brincadeira, seria um sonho mas estou na mesma situação de anos atrás, quando tudo começou, precisando de um milagre. O que importa é a vontade de Deus e Ele querendo tudo pode acontecer. Que o Beato e amado Papa João Paulo II interceda nesta intenção e por estes quarentões e cinquentões que o conheceram e se comprometeram com a evangelização do mundo na JMJ. Qie ele nos ajude a cumprir até o fim aquilo que prometemos. Que ele também interceda por todos os jovens que estão se preparando para ir à Espanha sem medir esforços. Que a presença de todos os que forem seja um grito forte de amor que acorde o mundo para a realidade e presença de Jesus Cristo! Amém! Shalom! Beato João Paulo II, rogai por nós! 

terça-feira, 12 de abril de 2011

Entendendo melhor a Vigília Pascal

Quem foi e é filho ou filha espiritual de D.Elia Volpi aprendeu bem a participar e a reverenciar com o coração inteiro o Tríduo Pascal e em especial a Vigília Pascal do Sábado Santo exultando de alegria em Deus, o Salvador.

Claro que como tudo na vida a gente vai amadurecendo e da fase de achar as nove leituras longas demais, passa a não ver o tempo passar e a se deliciar por se ver inserido tão gratuitamente na história da salvação.

É a bela conquista de amor e obra do Espírito Santo que sinto que me leva a mim e milhões de pessoas cujas vidas tem sido alcançadas pelo sopro renovador de Sua presença a viver no mundo sem ser dele e a viver no kairós mais do que no kronos.

O mundo está marcado por sofrimentos atrozes e muitos que são de Jesus têm sofrido muito também. Estas realidades para mim são como um sinal de que Jesus continua sendo crucificado no seu Corpo que é a Igreja e toda a Humanidade e que somente a santidade de cada um buscando fazer a vontade do Senhor pode ser antídoto para o Mal e para todos os males. Quanto mais formos do Senhor e estivermos unidos a Ele em amor e transbordando em serviço segundo a Sua vontade, mais a vitória sobre todo o pecado e morte será experimentado e menos medo da morte teremos.

Nunca me esquecerei de uma homilia do Pe.Elia em Petrópolis no Mosteiro da Virgem das Beneditinas, nos idos de 80 quando ele dizia que somente o Pai e o Espírito, acompanhados da noite e do silêncio testemunharam o mais glorioso de todos os momentos quando Jesus ressurgiu dos mortos depois de ter visitado a mansão dos mortos onde estava Adão e Eva e toda a Humanidade. E eu acrescento com toda a fé e confiança do meu coração: a Morte eterna estava vencida, o Mal tinha sido destruído e novamente o Homem era livre para amar e viver em comunhão perfeita com Deus, com seu semelhante.

Esta é a herança que recebemos da noite das noites, da Páscoa do Senhor. Se vivemos assim, no Espírito ou na carne, como Jesus ou como Adão é outra história, mas ainda há tempo, ainda há esperança, há muito o que fazer. Que Deus nos de a graça de viver bem as cerimônias litúrgicas e de renovar com a alma toda nossa oferta de vida. Uma pergunta se renova neste tempo: a quem desejo pertencer? nas mãos de quem desejo que minha vida esteja? E não há melhor coração e lugar mais seguro e libertador do que pertencer e desejar pertencer total e integralmente a Jesus, o Ressuscitado que passou pela Cruz e que nós dá o Seu Espírito e a Sua Paz. 

Ó noite bem-aventurada


“Só tu, noite bem-aventurada, soubeste a hora

em que o Cristo da morte ressurgia;

e é por isso que de ti foi escrito:

A noite será luz para meu dia”. (Exultet)


Quarenta dias de penitência, jejuns, orações, esmolas... Quarenta dias de preparação para celebrar o fundamento de toda a nossa fé, o mistério inefável da páscoa: Cristo morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação (cf. 1Cor 15,3-4; Rm 4,24). Se é difícil contemplá-lo, quanto mais falar ou escrever sobre ele. O coração estremece, a mente se desconcerta, as mãos tremem.

A melhor forma de entender tal mistério é participando da grande e solene celebração da vigília pascal, mãe de todas as vigílias. Portanto, pedirei que você me acompanhe “espiritualmente” nela. Use sua imaginação e deixe-se conduzir pelo Espírito.

Estamos fora da Igreja, é noite, formamos um grupo compacto de irmãos na fé que dão espaço para o sacerdote iniciar a celebração.

Nosso coração estremece diante da beleza dos símbolos e da profundidade do mistério que celebramos.

O fogo abençoado lembra que Cristo é a luz do mundo que deve abrasar e iluminar nosso coração. O círio, preparado, abençoado e aceso a partir do fogo novo, é símbolo de Cristo Ressuscitado. Em procissão entramos na Igreja escura, iluminada unicamente pela luz do círio, cantando: “Eis a luz de Cristo – Demos graças a Deus”. Do círio acendemos nossas velas e na terceira aclamação todas as luzes da Igreja são acesas. A luz de Cristo passa a refulgir nos nossos corações e em toda a Igreja.

O que significa tal procissão?

Esta procissão mostra que “somos o povo de Deus, nascido da Páscoa: peregrinos, seguimos Cristo Ressuscitado (...) através do deserto da vida em direção à pátria celeste”[1].

Então de pé, segurando a vela acesa pela chama do círio, ouvimos o canto da solene proclamação da Páscoa ressoar com uma tonalidade que somente o Espírito pode dar:

“Ó noite em que Jesus rompeu o inferno,

ao ressurgir da morte vencedor:

de que nos valeria ter nascido,

se não nos resgatasse em seu amor?


Ó pecado de Adão indispensável,

Pois o Cristo o dissolve em seu amor;

Ó culpa tão feliz que há merecido

A graça de um tão grande Redentor!” (Exultet)

Apague sua vela e se sente para ouvir atentamente as nove leituras da liturgia da Palavra. Através delas você vai percebendo como Deus preparou este grande mistério, como Ele o realizou e o que significa para nós. Depois de cada leitura entoa-se um salmo e faz-se uma oração, é a Igreja que responde ao apelo do seu Senhor com a própria Palavra e com a oração.

Após a sétima leitura, a última do Antigo Testamento, nos levantamos e com júbilo entoamos aquele canto que foi omitido durante quarenta dias: “GLÓRIA A DEUS NAS ALTURAS”. Para salientar ainda mais nossa alegria da “passagem” da morte para a vida e do Antigo para o Novo Testamento tocam-se sinos neste momento.

Sentados ouvimos uma leitura do Novo Testamento, um Salmo e a solene aclamação ao Evangelho, com o canto do aleluia, também calado por quarenta dias. ALELUIA é a palavra que melhor expressa a alegria e o louvor a Deus pela Ressurreição de Cristo. Finalmente podemos cantá-la!

De pé, ouvimos a proclamação do Santo Evangelho e sentados ouvimos a grande homilia.

“Caros filhos, para entendermos o mistério que celebramos, precisamos conhecer suas raízes históricas e religiosas que se encontram no Antigo Testamento.

No Antigo Testamento existem dois significados para a Páscoa. Em Ex12, 26-27, ela é apresentada como a “passagem de Deus”: “é o sacrifício da Páscoa (Pesach) para o Senhor, que passou (Pâsâchti) diante das casas dos filhos de Israel no Egito, quando golpeou o Egito e libertou nossas casas”. Deus “passa”, “salta”, “poupa” as casas dos israelitas que estavam marcados com o sangue do cordeiro imolado, mas não poupa os primogênitos dos egípcios. Esta explicação da Páscoa tem como protagonista o próprio Deus.

No tempo de Jesus esta é a visão que predomina na Palestina. A Páscoa apresenta um forte aspecto ritual e sacrifical. Consiste numa liturgia concreta, que tem como momentos essenciais a imolação do cordeiro no templo, na tarde de 14 de Nissan, e a sua consumação por família no decurso de uma ceia, na noite sucessiva.

Em Dt 16, temos a outra maneira de ver esta festa judaica: a atenção é voltada para a saída do Egito que é vista como a passagem da escravidão para a liberdade. O protagonista passa a ser o homem.

No tempo de Jesus, esta interpretação era predominante no judaísmo da Diáspora. O evento histórico central comemorado era a passagem do povo através do Mar Vermelho. Seu significado alegórico era o da passagem do homem da escravidão à liberdade, do vício à virtude.

Esta dúplice e complementar visão da Páscoa, também influenciou o cristianismo. Alguns padres da Igreja apresentam a Páscoa cristã como a grande imolação de Cristo, a sua Paixão. A morte de Cristo, porém, é vista sobretudo como força de salvação, “morte da morte”. Como dizia Melitão de Sardes: “Graças ao Seu Espírito (de Jesus) que não podia morrer, matou a morte que matava o homem” (Melitão, Sulla Pasqua, 66). Outra tradição cristã viu a páscoa sobretudo como passagem do vício à virtude, dando continuidade à teologia judaica da Diáspora. Nesta perspectiva, toda a vida do cristão e da Igreja é vista como um êxodo, que começa com a fé e termina com a saída deste mundo. A verdadeira páscoa será aquela que celebraremos sem símbolos nem figuras, na pátria beata.

Esta dúplice e complementar visão da Páscoa cristã caminhavam de forma paralelas e, às vezes, até concorrente. Foi preciso a intuição de Sto Agostinho para fazer uma síntese que explicasse melhor o rico significado deste mistério. Ele parte do cap. 13 do Evangelho de João que diz: “Antes da Páscoa, sabendo Jesus que a sua hora tinha chegado, a hora de passar deste mundo para o Pai...” (v. 1). Esta passagem une de forma íntima Paixão e Ressurreição e mostra que é através da Paixão que Cristo chegou à glória da Ressurreição. A Páscoa cristã é uma passagem através da Paixão.

“Paixão e Ressurreição do Senhor: eis a verdadeira Páscoa” (Agostinho, De Cat. Rud. 23, 41; PL 40, 340).

Em Jesus, os dois protagonistas da Páscoa, Deus e o homem, se tornam um só, porque nele a humanidade e a divindade são uma mesma pessoa, autor e destinatário da Salvação se encontram. Mas Jesus não “passa” só. Nós também que somos seu corpo místico, passamos juntamente com nossa cabeça. A nossa passagem se dá na fé (de onde obtemos o perdão dos pecados), na esperança da vida eterna e no sacramento do nosso Batismo. Mas devemos passar também na realidade da vida quotidiana, imitando a sua vida e sobretudo o seu amor. Se não passamos a Deus que não passa, passaremos com o mundo que passa. Páscoa é passar àquilo que não passa.

Deus nos conceda cumprir esta passagem ao fim da qual veremos a sua Face e nos saciaremos da sua Presença para sempre”[2].

Finda a homilia, o sacerdote e os ministros se dirigem ao Batistério para dar início a liturgia batismal, também chamada liturgia do “sacramento pascal”, “sacramento da paixão de Cristo”, “Sacramento da ressurreição” (cf. Bergamini, p. 367). “A Fonte Batismal é o lugar onde a páscoa de Cristo se fez nossa no sinal da água e na profissão da fé Trinitária. A Fonte (...) é ao mesmo tempo túmulo do pecado e ventre materno de onde nasce a vida. ‘No mesmo instante, morreste e a mesma água santa tornou-se para vós sepulcro e mãe’”[3].

Na Igreja Primitiva, os catecúmenos que tinham se preparado de forma mais intensa, nos últimos quarenta dias, por meio da oração, penitência e escrutínios, recebiam o batismo nesta noite tornando-se assim filho de Deus como nós. A Igreja retornou a esta antiga tradição e hoje teremos dois adultos que serão “sepultados com Cristo para ressuscitar com Ele” (cf. Rm 6,3-4).

Rezemos a ladainha. Não, não fique de joelho, estamos na páscoa, Cristo Ressuscitou, “levantou-se”, “ergueu-se”. Para refletir esta realidade e a de que um dia ressuscitaremos também, ficamos de pé. O sacerdote agora abençoa água.

Veja, ele agora mergulha o Círio na água e diz: “Nós pedimos, ó Pai, que por vosso Filho desça sobre toda esta água a força do Espírito Santo. E todos os que, pelo batismo, forem sepultados na morte com Cristo, ressuscitem com ele para a vida”. Isso mostra que a graça do Batismo não brota da água enquanto elemento material, mas do Espírito Santo que a santifica[4].

Agora cada catecúmeno renuncia ao demônio, faz a profissão de fé e é batizado. Fiquemos em silêncio contemplando o mistério pascal que se realiza neles.

Agora de pé, com as velas acesas, renovemos as promessas do nosso Batismo.

Continua a missa normalmente com a liturgia eucarística. Como você já a conhece bem lhe deixarei só. Contemple a beleza dos símbolos e do mistério e preste atenção no prefácio:

“Na verdade, é justo e necessário,

é nosso dever e salvação dar-vos graças,

sempre e em todo o lugar,

mas sobretudo nesta noite em que Cristo, nossa Páscoa, foi imolado.

Ele é o verdadeiro Cordeiro, que tira o pecado do mundo.

Morrendo, destruiu a morte, e, ressurgindo, deu-nos a vida.”

(Escrito por Pe. Emilio Cesar Porto Cabral)

[1] A. Bergamini, Cristo, festa da Igreja. O ano Litúrgico, (Paulinas: São Paulo 1994), p. 358.

[2] Esta homilia foi uma adaptação e tradução realizada por mim de um texto de Frei Raniero Cantalamessa: I Misteri di Crsito nella vita della Chiesa (Ancora: Milano 19922), p. 395-408.

[3] Cf. A. Bergamini, Cristo, festa da Igreja. O ano Litúrgico, (Paulinas: São Paulo 1994), p. 368.

[4] Cf. A. Bergamini, Cristo, festa da Igreja. O ano Litúrgico, (Paulinas: São Paulo 1994), p. 368.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O Amor de Deus

Não foi com pouco emoção e grande alegria espiritual que recebi por email este texto, antes mesmo de lê-lo no Zenit.com, da segunda homilia que o Pe.Raniero Cantalamessa, ofm, que foi dada para a Cúria Romana estando presente o Santo Padre Bento XVI no dia 1 de abril. Se este é o dia da mentira conhecido internacionalmente como tal, o que ele pregou é a mais bendita e necessária de todas as verdades: Deus é Amor! Não posso me cansar de mergulhar e de amar e de me deixar consumir por esta verdade que é a essência da natureza de Deus e de sua vontade para mim e para cada uma das pessoas deste mundo e para o mundo. A verdade do amor de Deus precisa ser pregada e experimentada na ação particular do Espírito Santo nos corações mais e mais e mais para que as violências e descontroles deste mundo não nos massacrem e roubem a esperança com suas mentiras que é, em última ou em primeira instância, o que o Maligno deseja: que duvidemos da realidade e do amor de Deus, Nosso Senhor, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Duvidamos muitas vezes porque conhecemos pouco, entendemos pouco, rezamos pouco com a Palavra de Deus. É fácil se deixar levar pelos sentidos e pelas experiências humanas de limites e de pecados em nós mesmos, no pequeno mundo comunitário familiar que nos cerca, e no mundo em geral. Basta olhar o massacre Líbio ou na Costa do Marfim na luta por poder ou sentirmos dor pelos extremismos terroristas para ficarmos abalados. Digo isso pensando no que aconteceu em Israel na segunda-feira, quando um conhecido ator ativista da causa palestina que trabalhava com a mãe, judia, portanto também ele judeu, e pai árabe, cristão, mas todos envolvidos na mesma causa, ser assassinado a queima roupa por cinco rapazes...palestinos. Um senhor amigo do nosso bispo chegou na Cúria na terça-feira tão arrasado, 'devastated' como se diz em inglês, com a situação pérfida e desconcertante que teve que conversar com D.Elias para ver se conseguia alguma consolação.

Neste caso e nos casos que nos deixam de boca aberta, vemos o ódio e pecado em todas as suas facetas alimentando as ações das pessoas. Isso é fruto do mal  uso da liberdade que não conhece a Verdade e da ação do Maligno conjugado numa trama complexa de situações históricas e sociais que tornam ainda mais necessário o anúncio de Jesus Cristo e de sua Salvação e do Amor que Ele veio revelar para o Homem, sobre o Homem, sobre a Humanidade. A gente sofre, a gente se rebela contra o Mal, mas também reza e age, buscando o que Deus quer. E Ele sempre quer o Bem, a Salvação, a Liberdade, nos apresentar a filiação divina.

Daí não podermos desanimar, nem parar de fazer aquilo que nos foi confiado, por pequeno e mínimo que seja diante dos Golias desse mundo. O Espírito do Senhor estava com Davi e está com a Igreja e com aqueles que são Seus e que compõe o Reino de Deus, este Reino que ultrapassa os limites das instituições. Daí não podermos abandonar jamais nem o que fazemos e somos e nem a vida de oração, a oração que são lâmpadas, milhões de luzinhas a aquecer este mundo, refletindo o Amor e Aquele que é a Luz do mundo...

Se há uma coisa que o Maligno investe pesado é nos tirar da vida de oração, é duvidar de que ela tem efeito e valor, é nos levar a duvidar de que nossas orações são ouvidas. Vamos em frente! Às vezes também sou tentada quando vejo a minha pequenez e impotência humana diante dos problemas do mundo e da Igreja e deste Oriente Médio que me cerca... mas quem disse que eu tenho que ter a resposta e o entendimento de tudo? Eu tenho que fazer a minha parte que me é confiada e confiar tudo todo o tempo Àquele que é Jesus e Senhor, o Ressuscitado que passou pela Cruz, cujo Amor e doação livre da própria vida salvou a Humanidade e todos os homens! Salvou! É pretérito perfeito! Eu sou somente sua serva muito digna por ser alma esposa, diga-se de passagem, eu e milhões de outros, é bom lembrar, mas é Jesus o Salvador do mundo, não eu! 

Como dizem as leituras dessa semana do evangelho de S.João: meu Pai continua agindo, eu continuo agindo, diz Jesus. E a ação de Deus é misteriosa e vai além dos limites da nossa visão periférica e míope. Mas é preciso rezar, é preciso amar e se deixar amar primeiro, é preciso deixar a alma se alargar na confiança olhando para a história do mundo e reconhecendo a presença e as interferências do Senhor no passado e que acontecem no presente e sempre acontecerão. Ele está no meio de nós!

Creio a bondade de Deus a cada ano nos apresenta e reapresenta os mistérios da salvação através do ano litúrgico para fazermos memória do mistério e fazermos presença do mistério atualizando-o, encarnando-o, vivendo-o em nossas entranhas, relacionamentos, ministérios, vocação, trabalhos, alegrias e tristezas. Por isso evangelizar, por isso contemplar, por isso não arrefecer no exercício de composição da unidade fraterna, por isso ter um coração missionário que quer dar tudo, viajar para todos os lugares, inclusice para a China - quem me dera! -, para a África - quem me dera mais uma vez! -, para as Américas, para onde Deus quiser. Por isso o desejo de falar de Jesus a todos os homens, de rezar por todos os que sofrem sem a consolo e a presença do Espírito Santo, por isso a sede enorme de fazer a vontade de Deus desejando que ela se manifeste em mim e através de mim em todos os aspectos e na vida de todas as pessoas criadas à imagem e beleza de Deus, criadas por amor e para o amor... Enfim, acho que fui atingida pelo virus de Santa Teresinha e para este virus não quero cura nem antibiótico, quero é propaga-lo do jeito que Deus permitir em minha grande limitação mas em meu sincero amor e intercessão.

Abaixo um presente para todos os leitores do blog, em inglês e em português, um dos mais belos e completos textos que li sobre o amor de Deus. Que ele restaure nossa fé, nos encha de gratidão e de parresia, cure mais profundamente nossas dores e rejeições e nos revele a beleza de nosso rosto e dignidade de filhos e filhas amadas do Pai! Shalom! 

PE. RANIERO CANTALAMESSA: DEUS É AMOR
 
Segunda Prédica de Quaresma ao Papa e à Cúria

DEUS É AMOR

O primeiro e fundamental anúncio que a Igreja tem a missão de levar ao mundo, e que o mundo espera da Igreja, é o amor de Deus. Mas, para terem como transmitir esta certeza, é preciso que os próprios evangelizadores sejam intimamente permeados por esse amor, que tem que ser a luz da sua vida. É para esta meta que, pelo menos em mínima parte, a presente meditação pretende se dirigir.

A expressão “amor de Deus” tem duas acepções bem diferentes: uma em que Deus é objeto e a outra em que Deus é sujeito: uma que indica o nosso amor por Deus e a outra que indica o amor de Deus por nós. O homem, mais propenso por natureza a ser ativo que passivo, mais a ser credor que devedor, sempre deu precedência ao primeiro significado, àquilo que nós fazemos para Deus. A pregação cristã também seguiu esse caminho, falando, em certas épocas, quase só do “dever” de amar a Deus (“De diligendo Deo”).

Mas a revelação bíblica dá a prevalência ao segundo significado: ao amor “de” Deus, não ao amor “por” Deus. Aristóteles dizia que Deus move o mundo “porque é amado”, ou seja, é objeto de amor e causa final de toda criatura [1]. Mas a bíblia diz exatamente o contrário: Deus cria e move o mundo porque ama o mundo. O mais importante do amor de Deus não é que o homem ama a Deus, mas que Deus ama o homem e o ama “primeiro”: “Nisso está o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas Ele quem nos amou” (1 Jo 4,10). Disso depende todo o resto, incluída a nossa própria possibilidade de amar a Deus: “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4,19).

1. O amor de Deus na eternidade

João é o homem dos grandes saltos. Ao reconstruir a história terrena de Cristo, os outros tinham se atido ao seu nascimento de Maria; ele viaja para muito antes, do tempo para a eternidade. “No princípio era o Verbo”. E faz o mesmo a respeito do amor. Todos os outros, Paulo inclusive, falaram do amor de Deus manifestado na história e culminado na morte de Cristo; João vai além da história. Não nos apresenta só um Deus que ama, mas um Deus que é amor. “No princípio era o amor, o amor estava junto de Deus e o amor era Deus”: assim podemos destrinchar a sua afirmação “Deus é amor” (1 Jo 4,10).

Sobre ela, Agostinho escreveu: “Se não houvesse, em toda esta carta e em todas as páginas da Escritura, nenhum elogio do amor além desta única palavra, que Deus é amor, não precisaríamos de nada mais” [2]. Toda a bíblia não faz senão “narrar o amor de Deus” [3]. Esta é a notícia que sustenta e explica todas as outras. Discute-se, sem fim, e não só de hoje, se existe Deus. Mas eu acho que o mais importante não é saber se Deus existe, mas se Ele é amor. Se, por hipótese [4], Ele existisse mas não fosse amor, teríamos mais a temer do que a nos alegrar com a sua existência, como ocorria nos primeiros povos e civilizações. A fé cristã nos assegura justo isso: Deus existe e é amor!

O ponto de partida da nossa viagem é a Trindade. Por que os cristãos crêem na Trindade? A resposta é: porque crêem que Deus é amor. Onde Deus é concebido como Lei suprema ou Poder supremo, não é preciso, evidentemente, uma pluralidade de pessoas, e, portanto, não se entende a Trindade. O direito e o poder podem ser exercidos por uma só pessoa. O amor não.

Não há amor sem que seja de algo ou de alguém, como, segundo o filósofo Husserl, não há conhecimento que não seja de algo. Quem é que Deus ama, para ser definido amor? A humanidade? Mas os homens só existem há poucos milhões de anos! Antes, a quem Deus amava, para ser definido amor? Ele não pode ter começado a ser amor a um certo ponto do tempo, porque Deus não pode mudar a sua essência. O cosmo? Mas o universo existe faz poucos bilhões de anos. Antes, o que Deus amava para poder-se definir amor? Não podemos dizer: amava a si mesmo, porque amar a si próprio não é amor, mas egoísmo, ou, como dizem os psicólogos, narcisismo.

E eis a resposta da revelação cristã que a Igreja recolheu de Cristo e explicitou no seu credo: Deus é amor em si mesmo, antes do tempo, porque desde sempre Ele tem em si um Filho, o Verbo, a quem ama com amor infinito, que é o Espírito Santo. Em todo amor há sempre três realidades ou sujeitos: um que ama, um que é amado e o amor que os une.

2. O amor de Deus na criação

Quando este amor-fonte se derrama no tempo, temos a história da salvação. A primeira etapa é a criação. O amor é, por natureza, “diffusivum sui”, tende a comunicar-se. Como “o agir segue o ser”, Deus, sendo amor, cria por amor. “Por que Deus nos criou?”: esta era a segunda pergunta do catecismo de antigamente, e a resposta era: “Para conhecê-lo, amá-lo e servi-lo nesta vida e desfrutá-lo na outra, no paraíso”. Resposta parcial. Ela responde à pergunta sobre a causa final: “para quê, com que finalidade fomos criados por Deus”; não à pergunta sobre a causa causante: “por quê, por qual motivação, fomos criados por Deus”. Esta pergunta não tem como resposta “para o amarmos”, mas sim “porque Ele nos ama”.

Segundo a teologia rabínica, citada pelo Santo Padre no seu último livro sobre Jesus, “o cosmo é criado não para existirem múltiplos astros e tantas outras coisas, e sim para haver um espaço para a aliança, o sim do amor entre Deus e o homem que lhe responde” [5]. A criação existe para o diálogo de amor de Deus com as suas criaturas.

Como é distante, neste ponto, a visão cristã da origem do universo da visão do cientificismo ateu recordado no Advento! Um dos sofrimentos mais profundos para um jovem é descobrir, um dia, que ele está no mundo por acaso, não querido, não esperado, talvez por uma falha dos pais. Um certo cientificismo ateu parece empenhado em infligir esse tipo de sofrimento à humanidade inteira. Ninguém saberia nos convencer melhor que Santa Catarina de Sena de termos sido criados por amor, numa sua fervente prece à Trindade:

“Como criaste, então, ó Pai eterno, esta tua criatura? [...] O fogo te obrigou. Ó amor inefável! Embora em tua luz previsses toda as iniquidades que a tua criatura cometeria contra a tua bondade infinita, agiste como se não visses, e pousaste a vista na beleza da tua criatura, da qual, como louco e ébrio de amor, te enamoraste e, por amor, a extraíste de ti, dando-lhe o ser à tua imagem e semelhança! Tu, verdade eterna, declaraste a mim a tua verdade: que o amor te obrigou a criá-la”.

Isto não é só ágape, amor de misericórdia, de doação e de descida; é também eros em estado puro; é atração pelo objeto do próprio amor, estima e fascínio pela sua beleza.

3. O amor de Deus na revelação

A segunda etapa do amor de Deus é a revelação, a Escritura. Deus nos fala do seu amor sobretudo nos profetas. Diz em Oseias: “Quando Israel era um menino, eu o amei [...]. Eu ensinei Efraim a caminhar, conduzindo-o pelos braços [...]. Eu o atraía com laços humanos, com vínculos de amor; era, para eles, como quem retira o jugo e lhes dava docemente de comer [...]. Como poderia abandonar-te, Efraim? [...] O meu coração se comove inteiro dentro de mim, todas as minhas compaixões se acendem” (Os 11, 1-4).

Achamos esta mesma linguagem em Isaías: “Acaso uma mulher esquece o filho e não se comove pelo fruto do seu ventre?” (Is 49,15). E em Jeremias: “Efraim é o filho que amo, meu pequeno, meu encanto! Toda vez que o repreendo recordo-me disso, comove-se o meu âmago e cedo à compaixão” (Jer 31,20).

Nestes oráculos, o amor de Deus se expressa ao mesmo tempo como amor paterno e materno. O amor paterno é feito de estímulo e solicitude; o pai quer o filho crescido e levado à plena maturidade. Por isso o corrige e dificilmente o louva em sua presença, por medo que se ache pronto e não progrida mais. Já o amor materno é feito de acolhida e de ternura; é um amor visceral; parte das profundas fibras do ser da mãe, onde a criatura se formou, e ali enraíza toda a sua pessoa, fazendo-a “estremecer de compaixão”.

No âmbito humano, esse dois tipos de amor –viril e materno– são sempre, mais ou menos claramente, repartidos. O filósofo Sêneca dizia: “Não vês como é diferente a maneira de amar do pai e da mãe? Os pais acordam cedo os filhos para estudarem, não os deixam ociosos e os fazem derramar suor e às vezes lágrimas. As mães os embalam no colo, querem mantê-los por perto e evitam contrariá-los, fazê-los chorar e fazê-los cansar-se” [6]. Mas enquanto o Deus do filósofo pagão só tem pelos homens “o ânimo de um pai que ama sem fraqueza” (são palavras dele), o Deus bíblico tem também o ânimo da mãe que ama “com fraqueza”.

O homem conhece por experiência outro tipo de amor, do qual se diz que é “forte como a morte e suas centelhas são centelhas de fogo” (cf. Ct 8,6), e também a esse tipo de amor Deus recorreu, na bíblia, para nos dar uma ideia do seu amor apaixonado por nós. Todas as fases e vicissitudes do amor esponsal são evocadas e usadas para esse fim: o encanto do amor no estado nascente do namoro (cf. Jer 2,2); a plenitude da alegria do dia do casamento (cf. Is 62,5); o drama do rompimento (cf. Os 2,4) e, por fim, o renascer, cheio de esperança, do vínculo antigo (cf. Os 2,16; Is 54,8).

O amor esponsal é, fundamentalmente, um amor de desejo e de escolha. Se é verdade, então, que o homem deseja Deus, é verdade, misteriosamente, também o contrário: que Deus deseja o homem, quer e aprecia o seu amor, se alegra com ele “como o esposo se alegra com a esposa” (Is 62,5)!

Como o Santo Padre realça na Deus caritas est, a metáfora nupcial que atravessa quase toda a bíblia e inspira a linguagem da “aliança” é a melhor prova de que o amor de Deus por nós também é eros e ágape, é dar e buscar juntos. Não pode ser reduzido a pura misericórdia, a um “fazer caridade” ao homem, no sentido mais diminuído da expressão.

4. O amor de Deus na encarnação

Chegamos assim à etapa culminante do amor de Deus, a encarnação: “Deus tanto amou o mundo que lhe deu seu unigênito” (Jo 3,16). Diante da encarnação, perguntamos o mesmo que nos perguntamos na criação: por que Deus se fez homem? Cur Deus homo? Por muito tempo, a resposta foi: para nos redimir do pecado. Duns Scoto aprofundou esta resposta, fazendo do amor o motivo fundamental da encarnação, como de todas as outras obras ad extra da Trindade.

Deus, conforme Scoto, ama primeiramente a si mesmo; segundo, quer outros seres que o amem (“secundo vult alios habere condiligentes”). Se Ele decide a encarnação, é para que exista outro ser que o ame com o máximo amor possível fora dele mesmo [7]. A encarnação, portanto, teria ocorrido ainda que Adão não tivesse pecado. Cristo é o primeiro pensado e o primeiro querido, o “primogênito da criação” (Col 1,15), não a solução para um problema levantado a seguir com o pecado de Adão.

Mas a resposta de Scoto também é parcial e precisa do complemento da Escritura quanto ao amor de Deus. Deus quis a encarnação do Filho não só para ter alguém fora de si mesmo que o amasse de maneira digna de si, mas também e principalmente para ter fora de si mesmo alguém a quem amar de maneira digna de si! E este é o Filho feito homem, em quem o Pai “encontra toda a sua complacência” e com quem fomos todos feitos “filhos no Filho”.

Cristo é a prova suprema do amor de Deus pelo homem, não só em sentido objetivo, como penhor inanimado do próprio amor dado a outro, mas em sentido também subjetivo. Em outras palavras, não é só a prova do amor de Deus, mas é o próprio amor de Deus que tomou forma humana para pode amar e ser amado a partir de dentro da nossa situação. No princípio era o amor e “o amor se fez carne”: assim parafraseia um antiquíssimo escrito cristão as palavras do prólogo de João [8].

São Paulo cunha uma expressão sob medida para esta nova modalidade do amor de Deus: “o amor de Deus que é em Cristo Jesus” (Rm 8,39). Se, como dizia da vez passada, todo o nosso amor por Deus deve expressar-se concretamente em amor por Cristo, é porque todo amor de Deus por nós foi antes expresso e recolhido em Cristo.

5. O amor de Deus infundido nos corações

A história do amor de Deus não acaba na Páscoa de Cristo, mas se prolonga no Pentecostes que atualiza e mantém operante “o amor de Deus em Cristo Jesus” até o fim do mundo. Não somos obrigados, portanto, a viver só da lembrança do amor de Deus, como de coisa passada. “O amor de Deus foi infundido nos nossos corações mediante o Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).

Mas o que é esse amor, que foi derramado em nosso coração no batismo? É um sentimento de Deus por nós? Uma benévola disposição de Deus a nosso respeito? Uma inclinação? Algo, enfim, de intencional? É muito mais; é algo real. É, ao pé da letra, o amor de Deus, o amor que circula na Trindade entre Pai e Filho e que, na encarnação, assumiu uma forma humana e agora nos é participado sob a forma de “inabitação”. “O meu Pai o amará e a ele nós viremos e nele faremos morada” (Jo 14,23).

Tornamo-nos “partícipes da natureza divina” (2 Pd 1,4), ou partícipes do amor divino. Encontramo-nos por graça, explica São João da Cruz, dentro do vórtice de amor que flui desde sempre na Trindade entre o Pai e o Filho [9]. Melhor ainda: entre o vórtice de amor que agora flui, no céu, entre o Pai e o seu Filho Jesus Cristo, ressuscitado da morte, de quem nós somos os membros.

6. Nós acreditamos no amor de Deus!

Veneráveis padres, irmãos e irmãs, esta que tracei pobremente é a revelação objetiva do amor de Deus na história. Agora olhemos para nós: o que faremos, o que diremos depois de ter escutado o quanto Deus nos ama? Uma primeira resposta é: reamar a Deus! Não é, este, o primeiro e o maior dos mandamentos da lei? Sim, mas isto vem depois. Outra resposta possível: amar-nos como Deus nos amou! Não diz o evangelista João que, se Deus nos amou, “também nós devemos amar uns aos outros” (1 Jo 4,11)? Isso também vem depois. Primeiro temos outra coisa a fazer. Crer no amor de Deus! Depois de dizer que “Deus é amor”, o evangelista João exclama: “Nós acreditamos no amor que Deus tem por nós!” (1 Jo 4,16).

A fé. Mas aqui se trata de uma fé especial: a fé-estupor, a fé incrédula (um paradoxo, eu sei, mas verdadeiro!), a fé que não sabe entender daquilo em que crê, mesmo crendo. Como é possível que Deus, sumamente feliz na sua quieta eternidade, tenha tido o desejo não só de nos criar, mas até de vir em pessoa sofrer em meio a nós? Como é que isto é possível? Pronto: esta é a fé-estupor, a fé que nos faz felizes.

O grande converso e apologeta da fé Clive Staples Lewis (autor do ciclo narrativo de Nárnia, recentemente levado ao cinema) escreveu uma obra singular intitulada “As Cartas do Coisa-Ruim”. São cartas que um diabo velho escreve a um diabinho jovem e inexperiente, que tem a missão na terra de desencaminhar um jovem londrino recém-retornado à prática cristã. A meta é instruir o diabinho quanto às estratégias para atingir o objetivo. Trata-se de um moderno, finíssimo tratado de moral e ascética, a ser lido pelo contrário, fazendo exatamente o oposto do que é aconselhado.

A um certo ponto, o autor nos faz assistir a uma espécie de discussão entre os demônios. Eles não conseguem entender que o Inimigo (é assim que eles se referem a Deus) ame de verdade “os vermes humanos e deseje a liberdade deles”. Eles têm certeza de que isso não pode ser. Deve haver, necessariamente, uma farsa, um truque. Estamos nos perguntando isso, dizem eles, desde o dia em que o Nosso Pai (é assim que eles chamam Lúcifer), justo por este motivo, se afastou dele; ainda não descobrimos, mas um dia descobriremos [10]. O amor de Deus pelas suas criaturas é, para eles, o mistério dos mistérios. E eu acredito que, pelo menos nisso, os demônios têm razão.

Pareceria uma fé fácil e agradável; mas é, talvez, a coisa mais difícil que exista, até para nós, criaturas humanas. Acreditamos, nós, de verdade mesmo, que Deus nos ama? Não é que não creiamos de verdade, mas pelo menos não cremos o suficiente. Se acreditássemos, a vida, nós mesmos, as coisas, os fatos, a própria dor, tudo se transfiguraria rapidamente diante dos nossos olhos! Hoje mesmo estaríamos com ele no paraíso, porque o paraíso é isso: gozar da plenitude do amor de Deus.

O mundo sempre foi dificultando mais acreditar no amor. Quem foi traído ou ferido uma vez, tem medo de amar e ser amado, porque sabe o quanto dói ver-se enganado. Por isso vai sempre crescendo a fila dos que não conseguem acreditar no amor de Deus; ou pior: em amor nenhum. O desencanto e o cinismo são a moldura da nossa cultura secularizada. No pessoal, temos ainda a experiência da nossa pobreza e miséria, que nos faz dizer: “Sim, o amor de Deus é bonito, mas não é pra mim! Eu não sou digno...”.

Os homens precisam saber que Deus os ama e ninguém melhor que os discípulos de Cristo para lhes dar essa boa notícia. Outros, no mundo, compartilham com os cristãos o temor de Deus, a preocupação com a justiça social e o respeito do homem, com a paz e a tolerância; mas ninguém –ninguém!– entre os filósofos, nem entre as religiões, diz ao homem que Deus o ama, o ama primeiro, e o ama com amor de misericórdia e de desejo: com eros e com ágape.

São Paulo nos sugere um método para aplicar à nossa existência concreta a luz do amor de Deus. Escreve: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? Mas em todas essas coisas nós somos mais que vencedores, em virtude daquele que nos amou” (Rm 8, 35-37). Os perigos e os inimigos do amor de Deus que ele enumera são aqueles que, de fato, ele experimentou na vida: angústia, perseguição, espada... (cf. 2 Cor 11,23). Ele os repassa na mente e constata que nenhum deles é forte o bastante para triunfar quando se pensa no amor de Deus.

Nós estamos convidados a fazer como Ele: olhar para a nossa vida, do jeito que ela se apresenta, e trazer à tona os medos que se aninham nela, as tristezas, ameaças, complexos, aquele defeito físico ou moral, aquela lembrança doída que nos humilha, e escancarar tudo à luz do pensamento de que Deus me ama.

Da sua vida pessoal, o Apóstolo estende o olhar para o mundo que o circunda. “Eu estou certo de que nem a morte, nem a vida; nem anjos nem principados; nem presente nem futuro; nem potestades, nem altura, nem profundidade, nem nenhuma outra criatura poderá jamais nos separar do amor de Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8, 37-39). Ele observa o seu mundo, com as potências que o tornavam ainda mais ameaçador: a morte com o seu mistério, a vida presente com as suas lisonjas, as potências astrais ou infernais que incutiam tanto terror no homem de antigamente.

Nós podemos fazer igual: olhar para o mundo que nos circunda e que nos dá medo. A altura e a profundidade são hoje, para nós, o infinitamente grande e o infinitamente pequeno, o universo e o átomo. Tudo está pronto para nos esmagar; o homem é frágil e só, num universo tantas e tantas vezes maior do que ele, e que se tornou, além disso, ainda mais ameaçador depois das descobertas científicas que o homem fez e não consegue dominar, como a crise dos reatores nucleares de Fukushima está dramaticamente nos demonstrando.

Tudo pode ser questionado, todas as certezas podem nos faltar, mas nunca esta: Deus nos ama e é mais forte do que tudo. “O nosso auxílio está no nome do Senhor que fez o céu e a terra”.

Notas:

1. Aristóteles, Metafísica, XII, 7, 1072b.

2. S. Agostinho, Tratados sobre a primeira carta de João, 7, 4.

3. S. Agostinho, De catechizandis rudibus, I, 8, 4: PL 40, 319.

4. Cf. S. Kierkegaard, Discursos edificantes..., 3: O Evangelho dos sofrimentos, IV.

5. Bento XVI, Jesus de Nazaré, II Parte, Livraria Editora Vaticana, 2011, p. 93.

6. Sêneca, De Providentia, 2, 5 s.

7. Duns Scoto, Opus Oxoniense, I,d.17, q.3, n.31; Rep., II, d.27, q. un., n.3

8. Evangelium veritatis (dos Códigos de Nag-Hammadi).

9. Cf. S. João da Cruz, Cântico espiritual, A, estrofe 38.

10. C.S. Lewis, The Screwtape Letters, 1942, cap. XIX.

[Traduzido do original italiano por ZENIT]



FATHER CANTALAMESSA'S 2ND LENTEN HOMILY

"God Is Love"

The first and essential proclamation that the Church is charged to take to the world and that the world awaits from the Church is that of the love of God. However, for the evangelizers to be able to transmit this certainty, it is necessary that they themselves be profoundly permeated by it, that it be the light of their life. The present meditation should serve this purpose at least in a small part.



The expression "love of God" has two very different meanings: one in which God is object and the other in which God is subject; one which indicates our love for God and the other which indicates God's love for us. The human person, who is more inclined to be active than passive, to be a creditor rather than a debtor, has always given precedent to the first meaning, to that which we do for God. Even Christian preaching has followed this line, speaking almost exclusively in certain epochs of the "duty" to love God ("De Deo diligere").

However, biblical revelation gives precedence to the second meaning: to the love "of" God, not to the love "for" God. Aristotle said that God moves the world "in so far as he is loved," that is, in so far as he is object of love and final cause of all creatures.[1] But the Bible says exactly the contrary, namely, that God creates and moves the world in as much as he loves the world.



The most important thing, in speaking of the love of God, is not, therefore, that man loves God, but that God loves man and that he loved him "first": "In this is love, not that we loved God but that he loved us" (1 John 4:10). From this all the rest depends, including our own possibility of loving God: "We love, because he first loved us" (1 John 4:19).



1. The Love of God in Eternity



John is the man of great leaps. In reconstructing the earthy history of Christ, the others paused on the birth from Mary, but John makes the great leap back, from time to eternity: "In the beginning was the Word." He does the same in regard to love. All the others, including Paul, spoke of the love of God manifesting itself in history and culminating in the death of Christ. He goes back beyond history. He does not present to us only a God that loves, but a God who is love. "In the beginning was love, love was with God and love was God": thus we are able to solve his affirmation: "God is love" (1 John 4:10).



Of this statement Augustine has written: "If there was not in all this Letter and in all the pages of Scripture, any praise of love outside of this sole word, namely that God is love, we should not ask for more."[2] The whole Bible does no more than "narrate the love of God."[3] This is the news that supports and explains all the others. Discussed "ad infinitum," and not just today, is the question of whether or not God exists. I believe, however, that the most important thing to know is not of God's existence, but rather of his love.[4] If, by way of hypothesis, he existed but was not love, we would have more to fear than to rejoice over his existence, as in fact happened with several populations and civilizations. Christian faith assures precisely about this: God exists and he is love!



The point of departure of our journey is the Trinity. Why do Christians believe in the Trinity? The answer is because they believe that God is love. Where God is conceived as supreme Law or supreme Power there is evidently no need of a plurality of persons and that is why the Trinity is not understood. Law and Power can be exercised by only one person, but not love.



There is no love that is not love for something or someone, as philosopher Husserl says, there is no knowledge that is not knowledge of something. Who does God love to be defined as love? Humanity? But men have only existed for millions of years; before that time what did God love to be defined love? He could not have begun to be love at a certain point in time, because God cannot change his essence. The cosmos? But the universe has existed for some billions of years; before that time what did God love to be defined love? We cannot say: He loved himself, because to love oneself is not love, but egoism or, as psychologists say, narcissism.



And here is the answer of Christian revelation that the Church received from Christ and has made explicit in her Creed. God is love in himself, before time, because he has always had in himself the Son, the Word, whom he loves with an infinite love which is the Holy Spirit. In every love there are always three realities or subjects: one who loves, one who is loved, and the love that unites them.



2. The Love of God in Creation



When this eternal love is spread in time, we have the history of salvation. The first stage of it is creation. Love is, by nature, "diffusivum sui," it tends to communicate itself. Just as "action follows being," being love, God creates out of love. "Why has God created us?" Read the second question of the old catechism, and the answer was: "To know him, to love him and to serve him in this life and to be happy with him in the next in paradise." Irreprehensible answer, but partial. It responds to the question on the final cause: "for what purpose, for what end has God created us"; it does not respond to the question on the causing cause: "why has he created us, what drove him to create us." One must not respond to this question: "so that we would love him," but "because he loved us."

According to rabbinic theology, endorsed by the Holy Father in his recent book on Jesus, "The cosmos was created, not that there might be manifold things in heaven and earth, but that there might be a space for the 'covenant,' for the loving 'yes' between God and his human respondent"[5]. Creation is ordained to the dialogue of the love of God for his creatures.

How far on this point is the Christian vision of the universe from that of atheist scientism recalled in Advent! One of the most profound sufferings for a young man or a girl is to discover that they are in the world by chance, not wanted, not awaited, perhaps by a mistake of their parents. A certain atheist scientism seems determined to inflict this type of suffering on the whole of humanity. No one would be able to convince us of the fact that we were created out of love better than the way Catherine of Siena does in one of her enflamed prayers to the Trinity: "How, then, did you create, O Eternal Father, this your creature? [...] Fire constrained you. O ineffable love, even though in your light you saw all the iniquities, which your creature would commit against your infinite goodness, you looked as if you did not see, but rested your sight on the beauty of your creature, whom you, as mad and drunk with love, fell in love with and out of love you drew her to yourself giving her being in your image and likeness. You, eternal truth, have declared to me your truth, that is, that loved constrained you to create her."



This is not only agape, love of mercy, of donation and of descent; it is also eros in the pure state; it is attraction to the object of one's love, esteem and fascination with its beauty.



3. The Love of God in Revelation



The second stage of the love of God is revelation, the Scriptures. God speaks to us of his love above all in the prophets. In Hosea he says: "[w]hen Israel was a child, I loved him [...] "it was I who taught Ephraim to walk, I took them up in my arms [...] "I led them with cords of compassion, with the bands of love, and I became to them as one who eases the yoke on their jaws, and I bent down to them and fed them [...] "How can I give you up, O Ephraim? [...] "My heart recoils within me, my compassion grows warm and tender." (Hosea 11:1-4).



We find this same language in Isaiah: "Can a woman forget her sucking child, that she should have no compassion on the son of her womb?" (Isaiah49:15) and in Jeremiah: "Is Ephraim my dear son? Is he my darling child? For as often as I speak against him, I do remember him still. Therefore my heart yearns for him; I will surely have mercy on him" (Jeremiah 31:20).



In these oracles, the love of God is expressed contemporaneously as paternal and maternal love. Paternal love is made of stimulus and solicitude; the father wants to make his son grow up and to lead him to full maturity. That is why he corrects him and does not praise him in his presence, out of fear that he should believe he has arrived or that he will no longer make progress. Maternal love instead is made of acceptance and tenderness; it is a "visceral" love; it comes from the profound fibers of the mother's being, where the child was formed, and from there grips the whole of her person, making her "tremble with compassion."



In the human realm, these two types of love -- virile and maternal -- are always , more or less clearly distributed. The philosopher Seneca said: "[d]on't you see how different is the manner of loving of fathers and mothers? The fathers wake their children early so that they will start to study, they are not allowed to be lazy and they make them pour out sweat and at times even tears. The mothers, instead, put them on their lap and hold them close to themselves, avoid opposing them, or making them cry or tiring them."[6] However, whereas the God of the pagan philosopher has toward men only "the spirit of a father who loves without weakness" (these are his words), the biblical God also has the spirit of a mother who loves "with weakness."



Man knows by experience another type of love, that love of which it is said that it is "strong as death and that its flames are flames of fire" (cf. Ct 8, 6) and to this type of love God has also taken recourse, in the Bible, to give us an idea of his passionate love for us. All the phases and the vicissitudes of spousal love are evoked and used for this purpose: the enchantment of love in the nascent state of engagement (cf Jeremiah 2:2); the fullness of the joy of the wedding day (cf Isaiah 62:5); the tragedy of the break (cf. Hosea 2:4 ff) and finally the rebirth, full of hope, of the former bond (cf Hosea 2:16;Isaiah 54:8).



Spousal love is, fundamentally, a love of desire and of choice. If it is true, because of this, that man desires God, the contrary, mysteriously, is also true that God desires man, he wants and esteems his love, he rejoices over it "as the bridegroom rejoices over the bride!" (Isaiah 62: 5).



As the Holy Father notes in "Deus Caritas Est," the nuptial metaphor that traverses almost the whole Bible and inspires the language of "covenant," is the best proof that God's love for us is also eros and agape, it is to give and to seek together. It cannot be reduced only to mercy, to a "doing charity" to man, in the most reductive sense of the term.



4. The Love of God in the Incarnation



Thus we come to the culminating stage of God's love, the Incarnation: "For God so loved the world that he gave his only Son" (John 3:16). In face of the Incarnation we ask the same question that was posed for the creation. Why did God become man? Cur Deus homo? For a long time the answer was: to redeem humankind from sin. Duns Scotus deepened this answer, making of love the fundamental reason for the Incarnation, as all the other works ad extra of the Trinity.



God, says Scotus, first of all, loves himself; in the second place, he wants other beings that love him ("secundo vult alios habere condiligentes"). If he decided on the Incarnation it was so that there would be another being that would love him with the greatest love possible outside of himself.[7] The Incarnation would then have taken place even if Adam had not sinned. Christ is the first one thought of and the first one willed, the "first born of all creation" (Colossians 1:15), not the solution of a problem intervened immediately with Adam's sin.



But even Scotus' answer is partial and must be completed on the basis of what Scripture says of the love of God. God willed the Incarnation of the Son, not only to have someone outside of himself who would love him in a way worthy of him, but also and above all to have outside of himself someone to love in a manner worthy of himself. And this is the Son made man, in whom the Father "finds all his delight" and with him all of us are rendered "sons in the Son."



Christ is the supreme proof of the love of God for man not only in the objective sense, in the manner of a pledge that is given to someone of one's love; he is so also in the subjective sense. In other words, it is not only the proof of the love of God, but it is the love itself of God that has assumed a human form to be able to love and to be loved from within our situation. In the beginning was love and "the love was made flesh," according to an ancient Christian writer, paraphrasing the Prologue of John.[8] 



St. Paul; coined an apposite expression for this new way of God's love, he calls it "the love of God in Christ Jesus" (Romans 8:39). If, as we said the last time, all our love for God must now express itself concretely in love for Christ, it is because all love of God for us was first expressed and gathered in Christ.



5. The Love of God Poured into Hearts



The history of the love of God does not end with Christ's Easter, but is prolonged in Pentecost which renders present and operative "the love of God in Christ Jesus" until the end of the world. We are not constrained, therefore, to live only from the memory of the love of God, as something of the past. "[G]od's love has been poured into our hearts through the Holy Spirit who has been given to us" (Romans 5:5).



But what is this love which has been poured into our hearts in Baptism? Is it a feeling of God for us? A benevolent disposition of His towards us? An inclination? Something, that is, intentional? It is much more than that; it is something real. It is, literally, the love of God, namely the love that circulates in the Trinity between the Father and the Son and that in the Incarnation assumed a human form and in which we now participate in the form of "indwelling." "My Father will love him, and we will come to him and make our home with him" (John 14:23).


We become "participants in the divine nature" (2 Peter 1:4), that is, participants of divine love. We find ourselves by grace, explains Saint John of the Cross, in the vortex of love that has always taken place in the Trinity between the Father and the Son, [9] better still: in the vortex of love taking place now, between the Father and his Son, Jesus Christ, risen from death, of whom we are the members.



6. We Have Believed in the Love of God!



Holy Father, venerable fathers, brothers and sisters, what I have traced poorly is the objective revelation of the love of God in history. Now we come to ourselves: what will we do, what will we say after having heard how much God loves us? A first answer is: to love God in return! Is not this the first and greatest commandment of the law? Yes, but it comes after. Another possible answer: to love one another as God has loved us! Does not the evangelist John say that, if God has loved us "we also ought to love one another" (1 John 4:11)? This also comes after; first there is something else to do. To believe in the love of God! After having said that "God is love," the evangelist John exclaims: "We believe the love God has for us" (1 John 4:16).



Hence, faith, but here it is a question of a special faith: faith-astonishment, incredulous faith (a paradox, I know, but true!), a faith that does not know how to equip itself with what it believes, even if it does believe it. How is it possible that God, supremely happy in his quiet eternity, had the desire not only to create us, but also to come in person to suffer among us? How is this possible? Look, this is faith-astonishment, the faith that makes us happy.



The great convert and apologist of the faith Clive Staples Lewis (the author, said incidentally, of the narrative cycle of Narnia, taken recently to the screen) wrote a singular novel entitled "The Screwtape Letters." They are letters that an old devil writes to a young and inexperienced little devil who is determined to seduce on earth a young Londoner who has just returned to Christian practice. The purpose is to instruct him on the ways to follow to succeed in his attempt. It is a modern, very fine treatise of morality and asceticism, to be read the opposite way, that is doing exactly the contrary of what is suggested.



At a certain point the author makes us witness a discussion carried out among the demons. They cannot be persuaded that the Enemy (thus they call God) can really love "the human vermin and desire their liberty." They are sure it cannot be. There must be a fraud, a trick. We are investigating, they say, from the day that "Our Father" (thus they call Lucifer), precisely for this reason, distanced himself from him; we have not discovered it yet, but one day we will. [10] The love of God for his creatures is, for them, the mystery of mysteries. And I believe that, at least on this, the demons are right.



It would seem to be an easy and pleasant faith; instead it is perhaps the most difficult thing that there is also for us human creatures. Do we really believe that God loves us? Not that we do not believe really or at least that we do not believe enough! If we believed, life, we ourselves, things, events, pain itself, everything would immediately be transfigured before our eyes. This very day we would be with him in paradise, because paradise is but this: to enjoy in fullness the love of God.



The world has always made it more difficult to believe in love. Whoever has been betrayed and wounded once, is afraid of loving and of being loved, because he knows how terrible it is to find oneself deceived. So much so that the array of those who are unable to believe in the love of God, more than that, in any love is always increasing. Disenchantment and cynicism is the mark of our secularized culture. On the personal plane there is then the experience of our poverty and misery that make us say: "Yes, this love of God is beautiful, but it isn't for me. I am not worthy."



Men need to know that God loves them and no one better than the disciples of Christ are able to take this good news to them. Others, in the world, share with Christians the fear of God, concern for social justice and respect for man, for peace and tolerance; but no one -- I say no one -- among the philosophers, or among the religions, says to man that God loves him, he loved man first and he loves him with a love of mercy and of desire: with eros and agape.



St. Paul suggests a method to us to apply to our concrete existence the light of the love of God. He wrote: "[w]ho shall separate us from the love of Christ? Shall tribulation, or distress, or persecution, or famine, or nakedness, or peril, or sword? No, in all these things we are more than conquerors through him who loved us" (Romans 8:35-37). The dangers and the enemies of the love of God that he enumerates are those that he had, in fact, experienced in his life: anguish, persecution, the sword (cf. 2 Corinthians 11:23 ff). He reviews them in his mind and says that none of these is so strong as to rule in comparison with the thought of the love of God.



We are invited to do as he did: to see our life, exactly as it presents itself, to bring to the surface the fears that nest in us, the sadness, the threats, the complexes, the physical or moral defects, the painful memory that humiliates us, and to expose everything to the light of the thought that God loves me. He invites me to ask myself; what in my life attempts to depress me?



From his personal life, the Apostle broadens his gaze to the world around him. "For I am sure that neither death, nor life, nor angels, nor principalities, nor things present, nor things to come, nor powers, nor height, nor depth, nor anything else in all creation, will be able to separate us from the love of God in Christ Jesus our Lord" (Romans 8:37-39). Hence, he observes "his" world, with the powers that rendered it menacing: death with its mystery, the present life with its allurements, the astral powers or the infernal ones which struck so much terror in ancient man.



We can do the same thing: we can look at the world that surrounds us, which makes us afraid. What Paul calls the "height" and the "depth" are for us now infinitely great on high and infinitely small below, the universe and the atom. Everything is ready to crush us; man is weak and alone, in a universe so much greater than him and become, in addition, even more threatening, following the scientific discoveries that he has made and that he does not succeed in controlling, as is being dramatically demonstrated by the atomic reactors in Fukushima.



Everything can be questioned, all of our safety measures can fail, but never this: that God loves us and is stronger than everything. "Our help is in the name of the Lord who made heaven and earth."



NOTES

[1] Aristotle, Metaphysics, XII, 7, 1072b.


[2] St. Augustine, Treatise on the First Letter of John, 7, 4.


[3] St. Augustine, "On the Catechizing of the Uninstructed," I, 8, 4: PL 40, 319.


[4] Cf. S. Kierkegaard, "Upbuilding Discourses in Various Spirits, 3: The Gospel of Suffering," IV.


[5] Benedict XVI, "Jesus of Nazareth Part II," Libreria Editrice Vaticana (in Italian), 2011, p. 93.


[6] Seneca, "On Providence," 2, 5 f.


[7] Duns Scotus, "Opus Oxoniense," I, d. 17, q. 3, n. 31; Rep., II, d. 27, q. un., n. 3.


[8] "Evangelium Veritatis" (of the Codes of Nag-Hammadi).


[9] Cf. St. John of the Cross, Spiritual Canticle A, Strophe 38.


[10] C.S. Lewis, "The Screwtape Letters," 1942, Chapter XIX.