quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Última Semana do Ano - Fotos e Novidades


Dia de Natal em Nazaré do lado do presepinho preparado na capela da casa da Comunidade. O Menino Jesus bem pequenininho era uma homenagem à Silvinha que está bem, graças a Deus, respondendo otimamente a todo acompanhamento que tem recebido no hospital. Silvania cada dia tem uma notícia e um encanto novo a partilhar e já a tomou nos braços várias vezes. A religiosa vicentina diretora do hospital colou com todo cuidado dentro da incubadoura uma medalhinha de Nossa Senhora das Graças. Fico imaginando como será o Natal de 2011 com a Silvinha bem esperta fazendo um aninho e vestida com roupa de inverno... será que eu ainda estarei na missão? Só Deus sabe. Na verdade só Ele que sabe de tudo e confiar em sua direção em nossas vidas gera paz e segurança.


Quem acompanha o blog deve se lembrar que em janeiro de 2010 eu estive na África em missão. Pois tivemos a alegria de acolher em Israel entre 27 e 30 o Pe.Christopher da Paróquia 'Mater Misericordiae' do sul da Nigéria onde estive por nove dias. Ele conheceu a Maria Emmir no retiro mundial de sacerdotes em Ars em 2009 e convidou-a para pregar um retiro em sua paróquia. Como ela não pôde ir, me enviou em seu lugar e agora o padre queria conhecer in loco a Comunidade Shalom. Ficou hospedado na Centro de Evangelização que é também a Casa Comunitária da Comunidade de Vida em Haifa, e assim viu a simplicidade com se vive. Em quatro dias conseguiu descansar e também fazer um monte de coisas: participou das Laudes, da festa de Natal da Obra, foi a Nazaré para a renovação das promessas de alguns irmãos - para mim pessoalmente uma alegria ter mais um irmão testemunhando a renovação das minhas promessas pela terceira vez - fomos ao alto do Monte Carmelo no Muraqa e depois ele celebrou com os carmelitas em Isifya tendo tempo de tirar uma foto da casa onde eu e Viviane moramos, além de visitar rapidamente o asilo e tirar duas lindas fotos com alguns idosos. Duas idosas ainda lúcidas que o viram ficaram impressionadas com este Abuna tão alto e negro, africano. Na foto acima, antes de sairmos para o passeio no Stella Maria e no Muraqa, Pe.Christopher foi conhecer rapidamente o nosso Sayeedna (bispo) Elias Chacour que o acolheu calorosamente e 'pediu' alguns sacerdotes nigerianos para a diocese da Galiléia já que na África as vocações são abundantes, graças a Deus.


 Foto bem linda: Lorena, Lubna, Father Christopher e eu na entrada da Cúria.


Os cinco missionários que renovaram suas promessas temporárias no dia 29 de dezembro: Elena, Soraya, Silvânia, Tennessee e Yara. O principal celebrante foi Pe.Roman, um irmão e grande amigo, polonês, missionário também ele e responsável pela comunidade católica de língua hebraica de Haifa. Ele foi muito feliz na sua homilia sabendo falar da duas dimensões da apresentação de Jesus no templo que era, providencialmente, o evangelho do dia. A tradição judaica dizia que o primogênito deveria ser consagrado ao Senhor mas José e Maria apresentam Jesus, fazem a oferta e o recebem de volta, devolvendo-o depois ao mundo. Os verbos em polonês, italiano ou hebraico falam de apresentação, oferta e resgate deixando evidente esta dimensão de oferta. Também nós, todos, revestidos de Cristo no batismo, dom recebido, e por causa dele e por amor a Ele fazíamos este mesmo movimento de oferta e entrega de vida em resposta. O Padre também ressaltou que nosso primeiro compromisso é o Amor, é vivermos o Amor entre nós para testemunharmos a Luz e, para tal, é bom contarmos com a intercessão contínua da Virgem Santíssima. Que fosse ela a nos apresentar ao Senhor como fez com o Menino Jesus. Somente ela, como criatura ardeu de amor a Deus perfeitamente como uma sarça ardente que não se consome. Lorena também, como Responsável Local, ao nos acolher em nome da Comunidade, mais um ano como consagrados da Vida e da Aliança falou sobre a Providência Divina nos reunir em Nazaré, na escola de Nazaré, sob o olhar e a intercessão de José e de Maria para vivermos este novo tempe de consagração.  


Após lermos nossas cartas e cantarmos o 'Veni Creator Spiritu' recebemos a bênção sacerdotal do Pe.Roman em nome da Igreja.


As suas missões completas e unidas. Na frente: Raquel, Kézia, Viviane e Erick (jovem em missão). Atrás: Socorro, Lorena, Elena, Soraya, feliz por estar do lado do Pe.Christopher, Silvânia, Tennessee, Yara e Beto. De pé na última fila: Pe.Roman, Ana Paula, Leandro e Tiago. Essa foto merece ser ampliada e colocada em porta retrato ou mural de cada casa comunitária. Que o Senhor nos abençoe e ajude a ser tudo o que Ele quer. Como digo sempre para os meus sobrinhos jovens:  o que importa é ser amigo de Jesus e nunca desistir dessa amizade, querendo sonhar os mesmos sonhos do Senhor para nós, pois cada sonho de Deus realizado representa a nossa felicidade. Que a sua graça nos preceda e acompanhe a cada passe e dia de 2011. 


Silvânia e Tennessee com padre Christopher que os convidou a passar umas férias na Nigéria a convite dele assim que a Silvinha tiver condições de viajar... Pense numa aventura para este casal que sempre desejou conhecer a África mesmo antes de se conhecerem... Primeira foto oficial dos dois após o evento paternidade e maternidade na vida do casal e da família. O sorriso não nega a felicidade. Ainda bem que o cansaço do corpo não aparece na fotografia.


Elena ou Adaese e Fr.Christopher. Este foi o nome que me deram no fim da missão na paróquia, na Nigéria, que significa na língua nativa ibo, 'filha do Rei'. Não é princesa, que é somente um título, me esclareceram, mas uma relação, é ser filha do Rei... muito significativo e importante para a minha história de vida.

Para todos verem o rosto dos meus colegas russos, todos eles, que estudam hebraico comigo. Sentada uma das professoras, Anat, que é judia nascida em Haifa. Eu, que em casa sou a veterana, na escola sou a caçula, tudo depende do referencial... Bom feriado, bom ano novo para todos! Em hebraico: hag sameah!

Amanhã escrevo mais! Shalom! Que mais e mais desejemos tão somente a vontade de Deus, principalmente onde ainda nos sentimos fracos, débeis, carentes e cansados, feridos, longe da virtude... mas por causa de Jesus que sempre vem e nunca se arrepende de nos amar ou de nos ter escolhido, é possível ter esperança que não decepciona.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Um amor crescente por S.José

Festa linda da Sagrada Família, nesta data, que vem reafirmar para o mundo que família feita de Pai e Mãe e Filhos está nos desígnios de Deus e é assunto inviolável e eterno! Que conversa é essa de chamar de família o que não é? Ninguém nega a ninguém o direito e a graça que é amar e amar crianças e jovens, velhinhos e doentes, os mais desfavorecidos, seja quem for, mas dizer que duas mulheres, dois homens podem constituir uma família é ser muito iludido com a realidade e concretude da vida humana e dos relacionamentos humanos e uma afronta aos desígnios de Amor de Deus que sabe o que faz. Gente, Deus sabe o que faz! Parece que perdemos o temor do Senhor.

Jesus mesmo teve Pai e Mãe, modelos e ícones, que vivos da eternidade adotaram toda a Igreja, nós, eu e cada você como se fosse Jesus novamente, pois não formamos o Corpo de Jesus no tempo e na História? A gente sofre de solidão porque mantem o olhar por demais centrado no próprio umbigo ou simplesmente porque não sabe do Céu, não sabe de Deus e dos santos, em especial de S.José e Maria Santíssima que nos adotaram como filhos. A vida intrincada que vivemos neste mundo tão desafiador, é permeada da companhia e de amigos do Céu.

O homenageado de hoje em especial é José, o amadíssimo S.José que é pai e protetor, guardião - os Franciscanos gostam de chama-lo assim - de quem o criou. Que grande mistério! Com ele posso aprender a manter o coração firme na Palavra de Deus e na obediência irrestrita a ela, com inteligência e disposição concreta de ação obediente movida por amor e confiança. No texto da liturgia da festa fica o rhema fortíssimo de que por três vezes S.José se muda, muda os planos, refaz tudo, recomeça a vida e a vida de Maria, para salvar a vida do Menino, para salvar Jesus. Quantas vezes forem necessárias também eu deverei mudar tudo para não perder o Senhor e para isso contarei com a intercessão e a presença de José e de Maria. E mais, em Nazaré Jesus se salvou e viveu, tornou-se adulto e foi formado até chegar a hora do Pai de ungi-lo com o Santo Espírito para que Ele cumprisse a sua missão de Salvador da Humanidade. Que reflexo isso tem a ver comigo? Que para salvar Jesus e vê-lo crescer em mim sou convidada a viver na mesma escola de santidade, serviço, contemplação e amor que Jesus viveu em de Nazaré. E isso será obra do Espírito Santo.

Diz S.Teresa que não há melhor mestre espiritual, pai adotivo, amigo e guardião da Providência Divina do que S.José e, na mesma escola de Teresa, quando mais o tempo passa mais me confio à intercessão do Pai adotivo do Menino Jesus, o justo e amoroso, casto e bom esposo de Nossa Senhora. Que ele interceda pelos pais, pelos vocacionados à paternidade e ao matrimônio. Que ele nos ensine a coragem da castidade e da pureza, da obediência e do amor a Jesus acima de todos os outros amores. 'Ah! S.José eu queria ser como tu, homem que agradou a Deus' cantava o Isaías, nosso irmão da Comunidade de Aliança há anos atrás...

sábado, 25 de dezembro de 2010

Diminutivos e Superlativo, Natal de 2010

Merry Christmas! Esta palavra antiga, inglesa, que significa feliz, alegre, talvez só subsista aos tempos modernos por causa do Natal que, graças à Igreja e a fé dos cristãos que a formam, se repete a cada ano como memória e se atualiza a cada dezembro por obra do Espírito Santo nos corações e na vida. Merry Christmas mais uma vez! Mais um dezembro para eu ter chance de conhecer Deus feito homem entre nós que me espera, ama e atrai, como atraiu os pastores e os sábios. O Natal tem essa capacidade de enternecer e gerar amor no coração... 

Por causa da circunstância muito particular da comunidade de termos entre nós uma recém-nascida mínima de dez dias, enquanto celebrávamos e rezávamos ontem na capela, depois da missa solene na basílica da Anunciação em Nazaré, eu pensava no Menino Jesus, no bebezinho, adorado por Maria e José desconcertantemente frágil e pequeno dependente dos homens, sendo Deus sem começo nem fim... Quanto amor! Quanta surpresa! Que inesperada iniciativa muito além de toda razão e imaginação humana! Quem poderia ter idéia tão extraordinária para nos alcançar e atrair sem medo senão Deus mesmo? Quem poderia não temer ser fraco e pobre senão aquele que é o dono da vida e da morte? Enquanto cantávamos uma bela canção adorando o Santíssimo Sacramento eu me deixava tomar pela presença de Deus que estava no altar que é o mesmo Deus conosco, Jesus encarnado, nascido em Belém, e que fez tenda-morada em nossas almas. É Jesus, sempre Ele.

Nestes últimos dez dias venho me cercando de diminutivos por causa da Silvinha que é pequenininha, miudinha, uma bezerrinha, lindinha, que cresce e amadurece devagarzinho, e entre inhas e inhos vejo e experimento um superlativo Amor, o Amor de Jesus. É este Amor que grita através dos mínimos gestos e respiração da  alma imortal da Silvinha que a vida é forte e que ela quer viver a vida que Deus lhe deu através de seus pais, aqui em Nazaré! A vida grita eloquentemente neste bebezinho, mas grita também em mim e em cada pessoa é só dar atenção e saber encontrar a fonte...

Se tivéssemos a coragem de nos abrir, de nos abaixar, de entrarmos numa igreja, de nos confessar como fez Charles de Foucauld no Natal de 1886 mudando a vida radicalmente... Se tivéssemos a disposição de abandonarmos nossas camadas de durezas e certezas e nos voltássemos para Deus pedindo o seu Amor, Ele nos apontaria o presépio. Não é Ele que está longe, somos nós que O tiramos de diante dos olhos e ficamos cegos, tateando sem Luz. O mundo que mata e morre em guerras, corrupção, compulsões e pornografia, desespero e excessos, carências e extremos de dor, precisa somente dobrar a esquina da própria vida e pegar o endereço de Belém, que passa por todas as cidades do mundo onde Jesus pode ser encontrado. Ah se eu pudesse... pegaria cada parente, cada um da família, cada amigo, cada pessoa que eu conheço e que sei que perdeu o mapa ou até rasgou o mapa - hoje seria um gsm - e que sofre sem fé ou nem sofre porque enxerga sem ver e a vida é só o aqui e agora, eu convidaria dizendo com simplicidade: 'vamos juntos? quer ir comigo? eu te ajudo! eu vou com você! eu também já peguei muitos atalhos, também já me cansei, também eu, tem horas, que olho para trás e pergunto será que eu consigo chegar? eu também, tantos dias, me vejo mergulhada na noite e mal consigo vislumbrar a estrela e Jesus parece tão distante... sou como você, preciso de Jesus, vamos juntos, só é possível ir junto, ninguém consegue chegar sozinho, nem tem graça. Os anjos cantaram em coro, os pastores cantaram em coro, até Nossa Senhora e S.José adoraram juntos, então vamos juntos...'. E nesse devaneio intercedo e converso com Jesus.

Muitas vezes eu intercedo por aqueles que perderam a fé ou a deixaram esfriar a tal ponto que não a acionam mais em si mesmos, como se a fé tivesse se tornado um acessório supérfluo... o que eu faço é entregar para o Senhor que é sábio e cuida de cada um para Ele fazer como  quiser, com sua eterna e perfeita sabedoria que dispõe de tudo, com o Seu Amor que tudo pode. No entanto, penso que a nossa pequena colaboração daria uma mãozinha. No caso da fé, seria fazer um caminho novo, um pequeno passo, uma pequena visita em silencio a Jesus numa igreja, arriscar um olhar furtivo de amor e agradecimento diante de uma beleza, seria dar espaço à dúvida de si mesmo para que a fé surjisse e brotasse como uma florzinha no meio do nada árido ou do nada povoado. A fé... ela está em nós e é dom dado e inequívoco no espírito de quem foi entregue  a Jesus na fé dos pais e da Igreja, daqueles que vieram antes.

Se eu disse em tomar um  atalho novo para chegar à Belém, digo também que reencontrar a fé é como virar o gsm de cabeça para baixo, é fazer o inusitado para si mesmo, que no fundo é o mais simples. Outro dia eu estava quebrando a cabeça para fazer encaixar duas peças de um mixer. Mexi, virei, apertei, fiz tudo duas ou três vezes até decidir pedir ajuda. E ouvi a coisa mais simples do mundo de quem sabia mais do que eu e conhecia o mixer: 'por medida de segurança o encaixe é ao contrário'. Neste Natal o Natal da Silvinha enquanto rezava, intercedia e adorava Jesus, junto com os irmãos e toda a Igreja  pedia a ajuda dos anjos e de Nossa Senhora e S.José e pensava: quais são as coisas que estão emperradas em minha vida que precisam somente de um encaixe ao contrário dado pelo Espírito Santo? A Ano Novo vem aí... vamos ver o que virá, é hora de muitos clics, é hora de cair a ficha e se converter, é tempo de voltar e abraçar o novo e não olhar para trás. 

Aos que me amam e que eu amo digo: um Natal santo, feliz, superlativo, amoroso e cheio da presença de Jesus. Mesmo de longe, tão longe me sinto unida em amor a vocês e os tenho em meu coração e orações. Vamos juntos viver um tempo novo de esperança! Deus está conosco e jamais nos abandonará! Ele tem a paz que tanto precisamos para curar nossa dor mais profunda.

E continuemos rezando a agradecendo ao Senhor pela vida da Silvinha. Imagino-a grandinha, um dia, dizendo cheia de orgulho, quando não mais morar na Terra Santa, após seus pais tenham sido transferidos de Israel: 'eu e Jesus passamos a infância na mesma cidade! Além dele ser meu Amigo, meu Senhor, meu Deus, posso dizer que Ele foi também meu vizinho...' E então a Silvinha dará um sorriso bem largo e bonito que com certeza terá herdado da mãe.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Uns chegam outros partem

Graças a Deus a agitação do aeroporto de Tel Aviv nesta segunda-feira com centenas de pessoas viajando para todos os continentes para as festas de fim de ano, não deixaram que a despedida da Cristina fosse muito lacrimosa. Uns dois abraços muito apertados em mim e na Lorena, bênçãos, e ela já entrou apressada para mais uma revista no extremamente meticuloso sistema de segurança israelense, e nós corremos para a plataforma para pegarmos o trem de volta. Meio cochilando, meio rezando, muito pensativa voltei para Haifa matutando sobre a graça de ter e fazer amigos daqueles que Deus nos deu como irmãos e irmãs de vocação. A Cristina foi um caso desses. Era uma desconhecida, irmã de vocação que se fez próxima com o tempo e através das experiências de dor, amor, oração e aventura que fazem da vida missionária. É o grande milagre do amor de Cristo que une e constrói laços onde muitas vezes, jamais haveria. Ela completou dois anos de missão e fazia comigo a dupla da Aliança Missionária em Israel. Vou sentir muita falta dela e hoje quando eu cheguei em casa e encontrei uma cartinha de despedida para mim e Viviane fiquei engasgada. Mas são os ritmos e tempos da Obra do Senhor que vai acontecendo em cada um e através de cada um que constroem o Reino de Deus para além do que podemos imaginar. Assim como eu tive certeza depois do acidente que era para eu continuar mais um ano na missão, a Cris, ao contrário, teve todos os sinais de que era tempo de voltar para o Brasil, e seguir fazendo e buscando na sua terra, no Amapá, a vontade de Deus, o Reino de Deus e a Sua justiça, na confiança de que tudo lhe seria dado em acréscimo. E será. Para a Cris e para mim e para todos nós que temos a alegria de servirmos e amarmos Jesus Cristo, Nosso Senhor, como Igreja e Comunidade Shalom.

Enquanto uns partem e nos deixam emotivos, outros chegam e nos deixam com o coração também balançado de emoção. Por conta de ser a última semana da Cristina em Israel e por todas as obrigações de aula e trabalho não tive como visitar a Silvânia e o Tennessee mais a Silvinha, em Nazaré. Uma pena, uma oferta, escolhas justas que se faz. A Cris não sei quando a verei novamente e a Silvinha terei a graça de ver crescer - como não tive de ver meus próprios sobrinhos e sobrinhas no primeiro ano de vida de cada um -enquanto eu estiver em Israel.

Tenho falado diariamente com o Tenne e a Sil e partilho agora as notícias que eles me deram há pouco: Silvinha tem se desenvolvido dia após dia e já tirou um aparelho que a ajudava a respirar. Já passou a barreira do primeiro quilo e tem mamado, em conta gotas, por uma mamadeira mínima, o leite da Silvânia. Diz ela que a Silvinha já demonstra ter puxado a mãe, uma bezerrinha, que em seis dias de vida já passou de 5 para 10 ml! Três vezes ao dia a Silvânia tira o leite com uma bombinha e a cada dia a 'produção' aumenta, me disse ela, conforme a necessidade da menina. Tudo é Providência! Tudo é perfeitíssimo! Também aos poucos o desconforto pela cesariana vai melhorando e os pontos secando e caindo.

Somente os pais tem acesso 24 horas à incubadora e ninguém mais pode ver a pequenina, mas o Tennessee fez quatro filmes de 1 minuto cada com a câmera digital da missão, para que a família e os irmãos de comunidade pudessem ver a Silvinha e permanecessem rezando e agradecendo pelas graças de cada dia. Ela é bem miudinha, nasceu com somente 38 cm, mas o pé grande, parecido com o do pai, promete jogar um bolão um dia, se quiser aprender a jogar futebol como graças a Deus, passou a ser tão comum entre as meninas de umas décadas para cá, tanto no Brasil quanto em outros países. 

Passaremos todos juntos o Natal em Nazaré, por razões óbvias, mas o nascimento da Silvinha tão antes da hora, parece que nos deu uma alegria antecipada do Natal, do milagre da vida e da vida de Jesus, nos dado pelo Pai como criança no meio de nós. Talvez para mim, a emoção me tome mais profunda e pessoal pois também eu nasci de seis meses e meio como a Silvinha há mais de 50 anos e sobrevivi! Milagre dos mais bonitos! Também eu fui batizada ainda na sala de parto e tenho certeza que o mesmo Senhor que me quis sã e salva e Dele, não medindo amor para me conquistar, cercar e atrair, fará o mesmo e muito mais para esta pequena flor nascida em Nazaré.

Seja para quem parte, seja para quem chega, ou para quem permanece o que importa é amar a vontade de Deus e o próprio Deus, mais e melhor a cada dia, também neste Natal. É olhar para Ele e menos para si. E mesmo que faltem ainda muitas respostas para o nosso pequeno e muito míope coração e que as durezas do mundo e da vida sejam tão gritantes e violentas, é bom fazer como os pastores que deram atenção aos céus e aos anjos e cantaram com eles a Deus e foram alcançados pela Sua paz, a paz que somente Jesus pode dar aos corações.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Ela nasceu!

Não havia passado duas horas do meu último post quando eu soube, pelo telefone, que a Silvânia tinha dado à luz: Silvia ou para nós Silvinha, nasceu em Nazaré, no dia 15 de dezembro, com 970 gr e pouco mais de 6 meses! Foi batizada na mesma hora e está passando bem, graças a Deus. Ficará dois meses no hospital, numa encubadoura, e de ontem para hoje engordou 20 gr, me contou o pai Tennessee, muito emocionado e feliz. Também a Silvânia se recuperará da cesariana durante uma semana e aos poucos tudo se ajeitará no acompanhamento da filha, já que eles são da missão de Haifa. Pessoalmente não pude ver ainda a criança mas o farei o mais breve possível, e se for permitido tirar uma foto a postarei aqui, com certeza, para alegrar os irmãos e amigos da Comunidade que poderão testemunhar, no caso do nascimento desta menininha, uma verdadeira intervenção divina do amor que se antecipa!

Tennessee me pediu que falasse para todos sobre a fidelidade do Senhor que permitiu muitas provas e provações mas esmerou-se em cuidados e providências inesperadas como um verdadeiro e terno Pai, a ponto de chamar atenção de quem está por perto e que não é da Comunidade. As provas de uma gravidez delicada e prematura, de um primeiro médico bastante rude e impaciente com pais de primeira viagem que não falavam hebraico, de um plano de saúde cheio de falhas e mentiras, de um último mês tumultoado por incêndio e trabalhos extras, além das lutas interiores de cada dia para se vencer a si mesmo e para crer na Providência financeira, amadureceram a fé e a confiança de Silvânia e Tennessee. Como marido e mulher, como missionários Shalom da Comunidade de Vida, como filho e filha de Deus, eles foram deixando a obra nova do Senhor acontecer, me disse pessoalmente a Silvânia no domingo passado quando a visitei no hospital, alargando o coração, não com pouca dor, mas seguindo os passos de José e de Maria, tornados tão próximos pela própria na missão na Terra Santa. Como não pensar e se espelhar em S.José e na Virgem Maria quando se tem os planos mudados várias e várias vezes e precisando concretamente confiar na Providência Divina para tudo? E tudo é tudo mesmo: das roupinhas do bebê, ao berço, até o tempo e as forças para deixar tudo arrumadinho, sem contar as incertezas do como e do onde se dará o nascimento, do dinheiro escasso, do número maior de perguntas do que de respostas...

E foi assim que o amor de Deus que prova para amadurecer o amor e a fé, é o mesmo amor que prova que ama pessoalmente, desconcertantemente, enternecendo além de surpreender. Foi assim quando Ele interfere e do nada se antecipa ao dar uma médica, obstetra de Nazaré, católica, competente e terna que passou a dar toda segurança à Silvânia, quando já não se sabia mais como fazer com o médico anterior, o único do plano, nada acolhedor e duvidoso em competência. Depois, quando a gravidez se firma e as medicações se ajustam, na semana passada, dia da consulta, uma inesperada carona leva Silvânia e Tennessee à Nazaré. Sem esta carona o pequeno sangramento que surgira na véspera poderia ter provocado um aborto irreversível se eles tivessem ido de ônibus, como era o previsto. Só Deus sabia disso. Imediata internação no Hospital Francês, onde a obstetra trabalha, e a surpresa de que o hospital não é coberto pelo plano. Não se tem saída. Descobre-se porém, que no hospital há inúmeros corações de boa vontade e Deus intervém mais uma vez. A diretora do hospital ao saber do caso e de quem são estes missionários brasileiros, meio sem eira nem beira, faz o Evangelho se cumprir em sua radicalidade e fidelidade: passa a tratá-los como 'amigos do Rei', visita a Silvânia todos os dias e resolve conceder o maior desconto possível sem que ninguém pedisse! A equipe médica adota o casal e o bebezinho que estava querendo nascer a qualquer instante com um carinho e atenção especiais. Nasce a Silvinha ontem, prematuríssima e o médico que faz o parto mais a diretora confidenciam ao Tennessee que sem dúvida eles eram muito 'especiais' pois as duas mais modernas unidades neo-natais de Israel estão no Hospital Francês de Nazaré, dando segurança e o melhor cuidados que existe no país à pequenina Silvia! Como não ver ação pessoal e direta do Bom Deus em todo este tumulto? Tinha que ser em Nazaré, tinha que ser sob o olhar intercessor de Nossa Senhora e de S.José. Tinha que ser uma criança a unir mais ainda as duas casas e missões da Comunidade Shalom, balançando nossas estruturas e nos convidando a crescer na fé e na gratidão. Ainda precisamos confiar mais e confiar até o fim pois as provas não terminaram, mas estamos todos felizes, muito felizes antecipando em dez dias a alegria que invadiu os pastores quando viram os anjos e foram adorar o Menino Jesus.

Uma menina nos foi dada, uma filha de Deus, fruto do amor de um casal santo e bom que deseja somente fazer a vontade de Deus e dizer com a vida que Deus é Bom, que seu Filho Jesus Cristo é Amor e está no meio de nós, Ressuscitado. Eles são missionários para testemunhar que Jesus continua a dar o Seu Espírito e a comunicar o Seu Shalom transformando vidas. Somente Ele se antecipa para nos amar. Precisamos ter olhos para ver.

A nós, os mais novos tios e tias, algumas quase avós, cabe a confiança seguindo os passos de José e de Maria que de modo especial olham e amam esta menina tão especial, a Silvinha. Seja bem-vinda! E cantemos juntos um glória de gratidão por todas as crianças do mundo e por mais esse coraçãozinho Shalom que Deus nos presenteou.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Uma menina nos foi dada

Faltam somente dez dias para o Natal e novamente a memória traz à tona os Natais vividos anteriormente, principalmente na infância e juventude e as emoções se agregam às lembranças num misto de saudade, ternura, gratidão e amor enorme. Amor pela família, amor a Deus mesmo, amor pela vida. Época de Natal também representava férias, viagem, estar com a família maior em Belo Horizonte ou Brasília - houve os anos de DF quando duas tias moravam na Capital - amigo secreto, compras e presentinhos. Surpresas, declarações de amor, estar junto, pertença.

Este é minha terceira experiência de Natal com frio e na Terra Santa onde tudo de fato aconteceu. É complicado ir à Belém, cidade, mas este ano desejei muito fazer de mim mesma uma Belém para Jesus nascer novamente, encarnar-se mais plenamente, encontrando um lugar mais 'limpinho' e digno, que é meu interior, sua manjedoura por excelência. É no coração que Ele habita e é lá que sua presença deve crescer e brilhar mais.

Na minha casa Natal era tempo de faxina grande, daquelas que troca os móveis de lugar, que limpa cantos e teias de aranha, que dá fim nos entulhos. Era tempo de arrumação dos armários para dar os excessos e começar tempo e ano novo com garra e mais pobreza. Mamãe adorava nos propor uma 'campanha' em prol de alguma virtude, relacionamento, estudo, sei lá o quê que merecia melhorar. Claro que fazíamos milhões de bicos e muxoxos mas obedecíamos e entrávamos na dança. Talvez sem tanta consciência ela e papai nos ensinavam concretamente a viver a graça espiritual que se recebe no Advento: preparar-se para acolher novamente Jesus, amando-o mais, resistindo menos, com mais espaço para Ele falar, transformar, agir, comunicar-nos seu Amor e Paz... 

Como fazer essa faxina interior? Só mesmo a oração e a Palavra de Deus para agirem como espelho que ilumina porque apresenta o amor de Deus total manifestado em Jesus. E quanta distância há entre esse amor gratuito e o meu. Não é escrafunchar pecado, porque esta é uma atitude doentia e nada de Deus, mas é dar tempo para pensar e olhar o mistério do Senhor que desce e vem até mim, até nós. É olhar e amar a Jesus, a Maria, a José, aos pastores, aos anjos e ao Pai doador de tudo isso.

O que atrapalha é que corremos tanto para preparar o Natal que deixamos escapar pelos dedos a alegria da vida que nos chega pelo nascimento desta criança. Este ano posso dizer que não somente um Menino nos foi dado mas também uma Menina, a Silvinha, filha da Silvânia e do Tennessee que está querendo nascer prematura, antes do tempo, só de seis meses e meio... Rezemos e esperemos por ambos: Jesus e nele a Silvinha de cujos lábios e coraçãozinho sobe desde já o perfeito louvor a Deus como diz o salmo 8. Que ela seja sinal do quanto Deus ama pelo simples fato de ser criança, a nossa Menina!

Ah! Antes de terminar, me perguntaram se Isifya e Aissefia são a mesma vila. São sim. A segunda escrita é como se pronuncia, a primeira é como se translitera o nome da vila do árabe. Em hebraico se diz Usfia. É muito nome para tão pouca gente, mas também quem manda ser uma vila do Monte Carmelo! E viva o Natal!

Partilho esta breve mensagem do Papa Bento XVI que fala de Jesus que vem nos dizer: eis-me aqui, vem a mim, eu te amo!

Most of us in the world today live far from Jesus Christ,
the incarnate God who came to dwell amongst us.
We live our lives by philosophies, amid worldly affairs and occupations that totally absorb us and are a great distance from the Manger.
In all kinds of ways, God has to prod us and reach out to us again and again, so that we can manage to escape from the muddle of our thoughts and activities and discover the way that leads to him.
But a path exists for all of us.
 The Lord provides everyone with tailor-made signals.
He calls each one of us, so that we too can say: "Come on, 'let us go over' to Bethlehem - to the God who has come to meet us."
Yes indeed, God has set out towards us.
Left to ourselves we could not reach him.
The path is too much for our strength.
But God has come down.
He comes towards us.
He has traveled the longer part of the journey.
Now he invites us: Come and see how much I love you.
Come and see that I am here. (Pope Benedict XVI)

domingo, 12 de dezembro de 2010

Obra Shalom, o que é isso?

A Obra Shalom é, sem dúvida, um tema, um assunto, um jargão muito próprio da Comunidade e que permeia a vida e a realidade de quem dela faz parte de um jeito ou de outro, como consagrado, mero observador, novato, estreante ou da turma da primeira hora. A Obra Shalom, com letra maiúscula. Mas o que é isso, afinal? Por conta de ter me sido confiado um trabalho com os Estatutos da Comunidde tenho me debruçado sobre cada parágrafo o que tem me obrigado a saborear, observar e fazer descobertas ricas, como sempre acontece quando lemos um texto e buscamos as vozes, os estratos, as intenções, a beleza, o contexto escondidos para além da sucessão de palavras. Se o texto conta então, com um particular toque da graça de Deus capaz de alcançar o coração a fim de transformá-lo, mais importante ele se torna. E este é caso da Obra Shalom.

O parágrafo do preâmbulo dos Estatutos vai dizer que a 'Obra Shalom' é aquilo que Deus opera em nossas vidas e que transborda na Obra Shalom que escorre de nossos dedos em obras de toda ordem, de evangelização, arte, promoção humana, serviços missionários, uns mais evidentes e outros mais apagados ou mais discretos. O que mais me chama atenção é a prioridade que fica evidente no chamado a Ser Shalom antes do fazer. Não há uma Obra sem a outra num movimento contínuo da graça de Deus, e nem tampouco divisão, como se alguém dissesse: primeiro eu quero ser e depois eu faço! O primeiro querer é o querer do Senhor, é o seu chamado encontrando um eco de resposta de cada um daqueles que Lhe pertencem  neste caminho de santidade, chamado vocação Shalom. Por isso o caminho é tão rico e tão desafiador: este ser e fazer em cada um começando no Fundador e na Co-Fundadora e alcançando a todos, cada vez em maior número, são um entrelaçado plano do Pai que só ficará pronto na eternidade.

Fomos feitos família porque fomos chamados a Ser Obra Shalom transbordando a Obra Shalom como irmãos e irmãs, em unidade, sem deixar de entender que cada um tem um ritmo próprio e está numa fase própria segundo a obra de santificação do Espírito Santo. Daí sermos pacientes uns com os outros, daí aprendermos a contemplar a obra do Amor de Deus em si mesmo e no outro, cada outro, daí não desistirmos quanto tudo parece tão lento. Nós vemos muito mal e tendemos a ver somente a aparência e como as aparências enganam. Somente os olhos do amor iluminados pela perspectiva da fé, da vida espiritual, são capazes de esperar e confiar sabendo que Jesus, o Ressuscitado que passou pela Cruz e que dá o Seu Espírito sem medidas, de seu coração vivo, humano e divino, é fundamento da Comunidade Shalom e do Carisma Shalom!

É por Ele que vivemos, é para Ele que vivemos e nos amamos - tentamos sempre! Por causa de Jesus podemos ver que apesar de tudo e exatamente por causa de nossas fraquezas pessoais e comunitárias, o Ser Shalom está tomando forma dentro e fora todo o tempo. Parece que o inimigo e nossas próprias concupiscências nos empurram todo o tempo para o desânimo, para o querer desistir e usando uma palavra que foi muito usada durante anos, para o mitigar e empobrecer o zelo pela santidade. É por isso que ciclicamente a Igreja como Mãe oferece as graças sobrenaturais para começarmos tudo de novo pequeninos, encatados, diante do Menino Jesus para prepararmos a Sua volta, gloriosa como o Senhor do céu e da terra.

Para mim que saio de uma semana de incêndio e entro numa semana de chuva e frio intenso, 8 graus em Isifya neste domingo, de mudanças externas marcantes, fica o entendimento de que a contínua desistalação que vivo como missionária da Comunidade, faz parte da Obra Shalom em meu coração para ele ser mais livre, mais feliz, mais realizado, mais capaz de amar, estando disposto a fazer transbordar a Obra Shalom que através de mim cabe acontecer. Ser e fazer Shalom é um chamado de todos e um dom para todos. Nada de desânimo, nada de tristeza! Corramos até o Menino e depositemos nosso coração pecador, amoroso e frágil e individualmente e como célula, missão, apostolado ou grupo de oração comecemos tudo de novo.

Vem Senhor Jesus! Que bom que é domingo gaudete, o domingo da Alegria pois o Senhor vem, Ele sempre vem!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Bendita Mãe de Deus!

Quando estava no Brasil eu sabia que a festa do dia de hoje falava da concepção imaculada - sem pecado original, herdado de Adão e Eva - de Nossa Senhora, a Virgem Maria, por causa dos méritos da Cruz e Ressurreição de Jesus que a fizeram criatura sem qualquer traço de pecado ou mal. Eu sabia que em Maria não há qualquer divisão interior ou sombra, que tudo nela é perfeitíssima comunhão de amor com Deus pois havia de ser assim o ventre, o corpo e a alma, que gerariam o Filho do Altíssimo, Jesus Cristo, Nosso Senhor. É tão belo crer assim, é tão rica esta fé da Igreja desde sempre, que tenho pena de quem não crê, não conhece e nem quer conhecer.

Mas foi somente aqui em Israel que fui aprender que Maria, Myriam, tem um outro título que a une ao Antigo Testamento e que a torna ainda mais especial: ela é a Arca da Nova Aliança, a Tenda do Encontro que está descrito no livro do Gênesis, o Tabernáculo perfeitíssimo onde o Senhor faz sua morada, prefigurada no livro Êxodo e levada à perfeição em Maria! Por isso é plenitude do tempos como diz S.Paulo quando o arcanjo visita a Virgem em Nazaré... Só de pensar que tudo isso aconteceu nesta terra onde vivo e que Nazaré está a menos de uma hora de onde escrevo neste momento, chega e me tocar o coração. 

Quem sabe inglês pode ler esta explicação mais em detalhes que transcrevo, tirada do site da Pastoral Hebraica, que fala desta Mulher, vestida com o Sol e que traz a própria Luz nos braços. Como não ama-la? Como não entender que quanto mais se conhece e vive uma verdadeira filiação à Virgem mais se conhece o Filho e se vive o que Ele disse? Eu também tenho muita má vontade com devocionismos marianos que não tem nada a ver com a fé da Igreja e com a Palavra de Deus, fruto tantas vezes de ignorância, porém, já me vi pensando que às vezes é melhor amar Maria Santíssima imperfeitamente que não ama-la ou rejeita-la. E ao dizer isso penso não somente nos protestantes e evangélicos 'que não sabem o que fazem', mas em quem projeta sobre a Mãe do Céu os limites de ralacionamentos que teve com a mãe da terra e não se deixa adotar pela Mãe de Jesus.

Na minha vida, confesso, há uma marca incrível de mudança desde Pentecostes de 2006 quando pela primeira vez fiz minha consagração à Maria Santíssima pelo 'método de S.Luiz Grignon de Monfort' e passei a renová-la, desde então, a cada Pentecostes. A mudança se eu pudesse descrever numa sentença, é como se eu tivesse definitivamente no trilho que me leva à 'ordem do Amor', ao Ordo Amoris, da qual fala Santo Agostinho e que passou a ser expressão tão cara e importante da Comunidade Shalom desde que Maria Emmir escreveu o 'Tecendo o Fio de Ouro'. A ordenação gerada pelo Amor fala do desejo de santidade e de liberdade em Deus, é a vontade de buscar a felicidade onde ela realmente está: na amizade com Jesus Cristo. Quanto mais me aproximo de Nossa Senhora e a amo, mais amor experimento, mais amor encontro, mais amor quero aprender a dar, mais amo Jesus, a Igreja, a Palavra, os santos, a vida enfim, tudo o que diz respeito à humanidade.

E não é que Nossa Senhora é capaz de pegar umas criaturinhas frágeis, feias e aflitas como eu (pareço o Flicts do livro do Ziraldo, que se descrevia como o frágil e feio e aflito Flicts) e tomando-as pela mão e pelo coração revelar-lhes a Beleza e o Amor?

Bendita sois ó Virgem Imaculada, Nossa Mãe e Senhora Nossa! Recebe o nosso Amor e o desejo de sermos todos de Jesus como a senhora foi. Tende compaixão daqueles que vos negam e ofendem porque não conhecem o vosso amor incansável e manso, firme e seguro como uma rocha, incansável...Amém!

Feast of the Immaculate Conception - December 8


On December 8 every year, the Catholic Church celebrates the Feast of the Immaculate Conception of Mary. This feast always falls in the period of Advent. What does it mean?

Christian tradition proposes a parallel between Mary and the Ark of the Covenant. The children of Israel received the commandments to build the Tent of Meeting and to place in its midst the Ark of the Covenant. When all had been completed by Moses and the people, it is written in the Book of Exodus: “So Moses finished the work” (40:33). The formulation here reminds us of the end of the Creation of the world in the Book of Genesis: “So God finished the work” (2:2). There is a clear parallel between the Creation as a place where God dwells with humanity and the Tent of Meeting where God dwells in the midst of his people. When all is ready, the cloud covers the Tent of Meeting and “the glory of the Lord filled the Tabernacle” (Exodus 40:34).

When God planned to send his son to us in the fullness of time, he prepared a woman from her mother’s womb in order that she might be a tabernacle for his son. The son, Jesus, was born to a mother of flesh and blood. However, according to Christian tradition, Mary, the mother, was different from the rest of humanity because when her mother, Saint Anne, conceived her, God cleansed the seed in her womb so that the girl that was born was pure from the moment of her creation. This feast takes place nine months before Mary’s birthday, on September 8.


Happy feast!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

The rain fell! Habemus chuva!

Não com pouca alegria vimos a chuva cair neste madrugada de domingo e agora, enquanto escrevo da Cúria, vejo da janela as ruas de Haifa úmidas e umas poucas poças de água remanescentes da chuva da madrugada. A temperatura também refrescou, finalmente. Há possibilidade de que os idosos sejam levados de volta para Isifya ainda hoje para 'libertação de todos' - Viviane e Cristina, especialmente, estão a ponto de ter um colapso - e a saudável volta à rotina. Depende não somente do fim do fogo mas da limpeza do ar pois a chuva de pó químico que é lançada sobre a floresta precisa ser assentada e devidamente assimilada para que alérgicos, idosos e crianças não sofram as consequências. Esperemos até o fim da manhã as ordens oficiais.

Por que as orações de todos, encabeçadas por Nossa Senhora do Carmo e o profeta Elias, não foram atendidas desde a sexta-feira, podemos nos perguntar? Por que a demora aparente? Sinceramente penso que Deus fala através dos fatos. O Senhor está sempre nos querendo revelar a verdade para a nossa libertação. A verdade do amor que tira a venda que cega os olhos e nos faz prepotentes e arrogantes como se a vida e a manutenção da vida não nos tivesse sido dada e fosse um 'direito'. Queira Deus que a prepotência política de Israel tenha sido abalada quando o país se viu necessitado de ajuda internacional do jeito que necessitou. Queira Deus que pelo sofrimento causado pela morte das 41 pessoas os corações se humanizem e se convertam voltando-se para Aquele que vem.

Penso que para mim, para nós, como Comunidade, é tempo de nos voltarmos mais uma vez para Jesus e reoptarmos por Ele, necessitados que somos de seu amor e salvação, de sua presença e perdão, mantendo os olhos fixos em quem nos pode dar a vida e é o Senhor da vida, da História e também da chuva. 

Agradeço a oração de todos, o apoio, os emails. Somos uma grande família de irmãos! Que nada nos impeça de crescer em santidade, na caridade, no desejo concreto de sermos todos de Deus onde quer que estejamos e tivermos sido plantados por Ele. É tempo de endireitar as veredas e começar tudo de novo! É tempo de curvarmos o coração, confessarmos os nossos pecados com arrependimento sincero iluminados pelo amor do Senhor e dizermos, mais uma vez: Vem Senhor Jesus!

sábado, 4 de dezembro de 2010

Sobre o Incêndio

Quando eu escrevi ontem sobre o incêndio, no final da manhã, as notícias ainda eram meio esperançosas porque o fogo estava descendo para o lado do mar, porém foi por pouco tempo e as labaredas, por conta do vento, mudaram de direção e tomaram conta de outros lados da Monte Carmelo, na direção da Universidade de Haifa e até Delya. Milhares de pessoas de Isifya, que só tem tem 12 mil habitantes, sairam da vila. Inclusive um dos sacerdotes que mora lá, Abuna Emile, telefonou para a Cúria no fim da tarde para contar que o Exército tinha orientado que ele e vizinhança evacuassem a área. Ele mora na entrada da cidade, do lado da estrada onde o fogo começou.

Foi em Isifya que o incêndio começou por conta de alguém, não se sabe se por ação criminosa ou total irresponsabilidade, que colocou fogo num tambor de lixo. Bastou uma faisca para alastrar rapidamente o fogo numa terra seca que mesmo coberta por pinheiros bem verdes, não recebe chuva há um ano. O governo tem feito o que pode para debelar o fogo mas até agora sem sucesso porque não dá vazão. Quando um helicóptero derrama uma água química especial para apagar incêndio - eu nem sabia que existia - o fogo já se espalhou para além. Chegaram reforços da Rússia me parece e de outros países. De Haifa a gente vê a nuvem de fumaça. As cenas na televisão são mesmo de assustar.

A Comunidade continua em Haifa, espalhada na casa dos irmãos da Obra e no Tennessee e Silvânia, fazendo um rodízio para dar suporte especialmente à Viviane e aos funcionários do asilo que vieram com ela para cuidar dos idosos. Eles estão sofrendo um bocado, agitadíssimos, sem conseguir dormir, com as mazelas e demências completamente afloradas, estranhando o local apertado que lhes foi designado pelo Governo. Este asilo de Haifa é um prédio que foi transformado em asilo e os idosos de Isifya estão no primeiro andar, sendo que na vila eles vivem numa casa velha, mas espaçosa, ensolarada, limpíssima, que é canto deles, a casa deles onde estão acostumados. 

Peço oração para quem ler este post. Não sabemos até quando ficaremos aqui mas tudo indica que pelo menos mais dois dias. Realmente a situação precisa estar segura e sob controle para podermos voltar. Graças a Deus a fraternidade de todos nos empresta roupa e conosco partilha alimentação e oração. Temos rezado pedindo a intercessão do profeta Elias e de Nossa Senhora do Carmo para o Senhor rico em misericórdia, mais uma vez perdoar as nossas ofensas - quanta violência, injustiça, descaso de Deus e dos homens é cometida em Israel - e olhando a Face de Seu Filho Jesus nos mandar chuva e um tempo novo de graça e conversão já que o Natal se aproxima.

Obrigada por todos que escreveram emails e pediram notícias, das famílias, amigos e Comunidade. Estamos bem mas pedimos oração. Que a vontade do Senhor se manifeste e venha em socorro dos que trabalham de toda a sociedade, para dar fim ao incêndio. Amém! Amanhã se conseguir, voltarei à Cúria como faço agora, para poder acessar a Internet e dar notícias.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Durbak e Fogo no Monte Carmelo

Durbak é o nome do instrumento de percussão que em post anterior vemos o Moysés tentanto tirar um som. Já vi crianças entrando em escolas de música para aprender a tocar durbak, instrumento típico da cultura árabe e que produz um som muito agradável. Na Obra o campeão de durbak é o Ronie.

Passamos por um grande susto ontem, quinta-feira, e até agora esperamos as coisas se assentarem. Não sei ainda qual a origem do incêndio mas no fim da manhã no kibbutz Bet Oren que fica ao lado da vila de Isifya, na encosta do monte um pouco mais abaixo, começou um fogaréu. Perto do kibbutz há um presídio que foi evacuado mas não a tempo de morrerem pessoas. Até agora o número chega a 40. Não pude voltar para casa porque a estrada estava fechada e a vila sem luz ou telefone por medida de segurança. Depois do trabalho fui para casa da Silvânia e Tennesse que estão morando bem pertinho da Cúria. Tive tempo de saber que Cristina e Viviane ficariam no asilo e que estava tudo seguro por lá, pois o asilo tem gerador próprio.

No entanto, por volta da meia-noite, a Viviane telefonou e pediu ao Tennessee que subisse para Isifya pois o fogo tinha voltado e o Exército mais o Ministério de Sáude tinham dado ordens que o asilo fosse evacuado e os idosos transferidos para um asilo em Haifa. Israel está precisando de um novo profeta Elias que interceda pedindo chuva pois há mais de ano não cai uma gota d'água no país e esta, que seria uma época de estação mais úmida, está mais quente do que nunca e tudo ao redor está seco, bem seco. Daí o fogo unido ao vento se espalhar com tanta facilidade. Dois carros particulares mais um caminhão especial do Exército fizeram a mudança. Está tudo em paz, sem feridos.

Viviane deve estar cansadíssima por causa da responsabilidade, e quando tudo voltar ao normal, ela, especialmente, necessitará de um merecido descanso. No momento está com idosos no asilo em Haifa, tendo dormido por lá, acompanhada de uma funcionária de Isifya que pode vir ajudar.  Cristina e outra funcionária ficaram no centro de evangelização. D.Elias Chacour cancelou um compromisso e foi visitar os idosos e dar à Vivi e aos funcionários a segurança de sua presença, a bênção e o apoio necessário. Creio que só amanhã, sábado, estaremos de volta em casa, à noite, voltando à rotina, se Deus quiser, mas ninguém sabe pois o fogo ainda está lambendo o Monte Carmelo. Há um grande aparato lutando contra o incêndio. Rezemos, mas que ninguém que ler este post se preocupe. Escrevo da Cúria, acabei de falar com o bispo e estamos todos instalados e salvos, inclusive os idosos do asilo.
Em tempos de Advento, ao ver e passar por estas surpresas e desinstalações penso que Deus está a me falar sobre desapego, sobre abertura à mudança, sobre pobreza e total confiança no Senhor. Quando Tennessee chegou de volta às 3 da manhã dizendo que estavam todos sãos e salvos mas que os bombeiros e o Exército somente nos permitiriam voltar para casa quando o fogo estivesse realmente debelado, sem querer ser dramática, pensei: 'e se o fogo chegar à nossa casa e a gente perder tudo?'. Não foi fácil dar resposta, pois uma coisa é pensamento outra é a realidade concreta, mas é bom pesar as coisas dentro do coração e ver em que lugar coisas, pessoas, valores estão. 

Com certeza seria dureza perder tudo, mas sei que Jesus me sustentaria, a mim e aos irmãos. O que tenho de mais precioso está guardado dentro de mim, na alma e no coração. E um susto como este, na possibilidade de perder tudo, nem que seja em pensamento, me fez me sentir bem próxima dos exilados, dos imigrantes ilegais, dos sudaneses, etíopes, por exemplo, que via Egito entram ilegalmente em Israel e sofrem horrores. Também a reflexão, até ser vencida pelo sono, me fez crescer em gratidão pelo muito que se tem, pelo tanto que se é protegido e senti vergonha do quanto preciso ainda me comprometer com quem sofre e é pobre, os prediletos do coração do nosso Deus que conhece na carne o que ser humano, pequeno e necessitado. 

Que Mar Elias, o profeta, interceda para que o Senhor perdoe tantos pecados cometidos neste país e mande chuva abundante para Israel e o fogo do seu amor para que os corações de pedra se deixem tocar e busquem o Seu Amor para serem de carne, mais uma vez. Começando pelo meu.