domingo, 31 de agosto de 2008

Copa Shalom de Futebol - parte II



Tem mais histórias interessantes ligados a esta I Copa Católica de Futebol Shalom que mostra como o nosso Deus é incrível e quando chega a hora dele agir, Ele não se faz de rogado. Esta Copa é fruto de seis anos de vida missionária muito cheia de desafios entre os quais o mês de guerra em 2006, entre Israel e Líbano, com direito a bombardeio em Haifa, toque de recolher e medo e insegurança. Também, a missão de Haifa sofreu muito neste processo gradativo de inculturação, que inclui a difícil língua árabe. Para a cultura árabe é muito estranha a presença de leigos missionários, leigos celibatários e ainda morando juntos! Ou seja, os primeiros que enfrentaram todos estes desafios, com humildade e paciência, que podem colher hoje a abertura do Centro de Evangelização e uma Copa de Futebol entre jovens árabes muçulmanos e árabes cristãos, plantaram muitas sementes que hoje dão seus primeiros frutos. Eles fizeram, por exemplo, todo tipo de serviço para o bispo anterior que era, literalmente, o de limpar e cozinhar, morando na Cúria, em situação muito delicada de transição na diocese, marcando presença discreta nas missas da Catedral melquita, plantando muitas sementes escondidas de dor e de amor, de muita oração e outro tanto de sacrifícios de louvor.
Mas voltando ao assunto da Copa, houve algumas outras intervenções de Deus que eu faço questão de relatar sem exagerar um ponto sequer, para dar glória ao Nome do Senhor, que é todo bondade, e que realmente tem o coração de todos os homens em suas mãos. Que esta leitura edifique a fé de quem acessar este blog, e faça arder no coração o desejo de continuar dando testemunho com a própria vida e com as palavras sobre a alegria de se conhecer Jesus Cristo, Príncipe da Paz e Senhor da História.


Na véspera da Copa, o Tennessee que fala bem o árabe, se reuniu com todos os dirigentes dos times de futebol que tinham se inscrito para combinarem os detalhes e explicar qual era o objetivo da Copa. Se inscreveram 5 times muçulmanos (como se fossem as equipes de base dos times oficiais daqui, como se faz no Brasil também com o Flamengo, o São Paulo ou o Fortaleza, por exemplo), e dois times de cristãos saídos dos colégios. Ele falou sobre as regras, horários, valor do esporte, etc, mas principalmente quis explicar para os dirigentes sobre este símbolo acima, criado para a Copa que era cristã, e que tem sua origem num dos Escritos da Vocação Shalom, que fala sobre a pobreza. Nele o Moysés, fundador da Comunidade fala da alegria de ser o feliz terceiro, colocando sempre Deus em primeiro lugar e o irmão em segundo. No desenho o círculo Azul é Deus, sempre no centro de todas as coisas, a Cruz é o símbolo de Salvação, o traço azul maior é o irmão e o traço verde é cada um que quer servir. Em árabe está escrito I Copa Católica Shalom de Futebol.


Os dirigentes acharam o máximo essa coisa de Deus estar no centro e depois da entrega dos prêmios convidaram o Tennessee para ir até a sede dos seus times, território muçulmano, agora em setembro, para falar sobre este assunto: colocar Deus no centro, pois isso é muito importante! Na tarde da tal explicação, quando finalizou, todos os dirigentes foram convidados a abaixarem a cabeça e silenciosamente fazerem um oração ao seu Deus e aí o Tennessee explicou que os cristãos fariam o sinal da Cruz pois era o símbolo de nossa Salvação. Todos concordaram com o maior respeito. Só quem mora aqui e conhece os ataques que os muçulmanos druzi, disfarçadamente apoiados pelos israelenses, já fizeram às igrejas e comunidades cristãs nas vilas de minoria árabe cristã, como aconteceu por exemplo em 2005 na vila de...depois eu confirmo o nome, cujo padre era o Abuna Maher, que trabalha na sala vizinha a minha, sabe o que representa esta abertura milagrosa a um testemunho cristão em 'campo inimigo'.
Deus é bom! Ele é sempre bom e há muitas pessoas boas também entre os árabes muçulmanos, não se pode ter o coração fechado nem vê-los como 'inimigos' em potencial, mesmo se sendo realista. Eu recebi dois comentários muito carinhosos vindos de pessoas de fora do Shalom, dando apoio e se alegrando com esta ação evangelizadora, que repassei imediatamente aos irmãos daqui que ficaram muito gratos e pediram ao menos uma ave-maria para que esta ação de evangelização e muitas outras surjam a partir desta.
Uma já se tem certeza: é que seguramente haverá uma II Copa, já agendada para 2009. A outra é que um time de jovens com mais de 20 anos quis se inscrever para participar. Como estes jovens são mais 'barra pesada', alguns já metidos com drogas, achou-se por bem não se misturar com os jovenzinhos desta etapa, mas para não perder a chance de fazer laços com esses mais velhos vai haver uma atividade com eles até o fim do ano ligada ao futebol e, enquanto se prepara, se reza também para que seja sempre a graça de Deus a ir a frente, abrindo todas as portas, mostrando seu poder e sua bondade, alcançando e preparando os corações, como Ele fez até agora.
E dia a dia a gente vai vendo a primazia da graça de Deus atuar em nós e através de nós, que somos pobres vazos de argila, que carregamos no coração a pérola preciosa e o maior de todos os tesouros: a presença de Jesus, o Shalom de Deus para todos os homens.

sábado, 30 de agosto de 2008

I Copa Católica Shalom de Futebol - Parte 1






Ninguém imaginou que fosse ter tanta repercussão esta I Copa Católica Shalom de Futebol promovida pela Comunidade Shalom, no fim de semana passado, de 22 a 24 de agosto, para os jovens de Haifa e região. Foi uma maneira de atrair os jovens para o convívio saudável entre si e conosco, no Centro de Evangelização, dando-lhes a oportunidade de conhecer Jesus ou quem são as pessoas amigas dele, no caso dos judeus, druzi e muçulmanos, ou de aprofundar seu amor por Ele, no caso dos já cristãos.


A quadra usada para os jogos foi do colégio católico latino, que fica do lado da Paróquia de S.José, bem próximo do Centro de Evangelização. A Comunidade fez divulgação boca a boca entre as pessoas do grupo de oração, fixou alguns cartazes em lugares públicos permitidos, e teve a feliz adesão de alguns jovens, alguns adolescentes e pré-adolescentes com jeito de meninos. Cada time se inscreveu no Centro de Evangelização, pagou uma pequena taxa de adesão e, por idade, os horários das partidas foram definidos pela comissão organizadora. Os árabes também são loucos por futebol e sabendo que nós somos brasileiros ficam ainda mais atraídos pelo assunto. Os jogos foram eliminatórios e na grande final de domingo houve um time campeão de mais velhos e outro dos quase crianças. Um sucesso, graças a Deus! Mais ainda se pensarmos que a grande maioria são de famílias muçulmanas e pela primeira vez na vida, na abertura dos jovens, teriam a oportunidade de rezar junto com cristãos ou, no dia de receber o troféu, entrariam numa capela católica e participariam de um momento de oração e louvor ao Senhor, em árabe, coordenado pelo Tennessee.
Esta Copa foi resultado de um empenho enorme dos irmãos, Tennessee, Viviane, Tales, Duca e Andréa, (e também nosso que ficamos em Isifya, na retaguarda intercedendo e ajudando na medida do possível), e dos jovens e adultos do grupo de oração, que tiveram que enfrentar toda sorte de desafios e contra-tempos, para que esta Copa acontecesse. Um dos principais foi o 'velho companheiro' chamado falta de recursos que tem o dom de nos ensinar a confiar na Providência Divina e a pechinchar sempre! Não podemos esquecer que vivemos em meio à cultura árabe e judaica e isso significa necessariamente saber negociar e barganhar em qualquer transação.


As fotos que estão acima mostram algumas das cenas das entregas dos prêmios e medalhas que aconteceu ontem, dia 29, e não no domingo passado, porque dessa forma havia a alegria do reencontro e da visita e oração na capela do Centro de Evangelização. Não faltou ninguém dos jovens participantes, para a felicidade dos irmãos organizadores, que ficaram muito impressionados com a repercussão do I Copa Católica Shalom de Futebol , que teve até a imprensa de Haifa presente na entrega dos prêmios. Não sei quem convidou, mas havia repórteres por lá.


Bendito desejo ardente e cheio de parresia, desejo de evangelizar e de levar o anúncio da pessoa de Jesus e seu amor, na fé católica, oportuna e inoportunamente, que leva as pessoas à inovarem, a arriscarem, mesmo com pouquíssimo ou nenhum recurso. Isso é a cara do Shalom! Isso é o jeito de ser Shalom!


Muito lindo foi saber que os jovens muçulmanos aceitaram participar do momento de oração e pediram para ganhar um terço também, colocando-o logo no pescoço, como se fosse um colar, pois achavam que era um colar. Que a Virgem Maryam abençoe a cada um e do jeito que só ela sabe e tem o poder de fazer, atraia estes jovens à Verdade, a Jesus, seu Filho e Nosso Senhor. Ele entrou na nossa vida em plena juventude, nós que hoje somos missionários leigos consagrados, e nunca mais deixou nossa vida ser a mesma coisa, felizmente! Nosso trabalho é plantar essas pequenas sementes de mostarda do Reino de Deus sabendo que o Agricultor delas cuidará com sua caridade e sabedoria.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Uma História de Amor



Sabe quem é essa senhora com carinha de vó? É uma santa protestante! É uma senhora luterana francesa, celibatária, que há 41 anos vive na Palestina entre os pobres, na divisa de Belém e Betânia, que se chama Marylene Shultz. O nome dela é bem alemão porque nasceu perto da fronteira e sua família é de origem suíça. Foi parar na Palestina como voluntária, só por um ano, a convite de uma amiga suiça e nunca mais voltou pra França. Tinha 36 anos na época e como estava meio desiludida no trabalho, pediu demissão e aceitou o convite para lidar com crianças órfãs, separadas em duas casas, para meninos e meninas, e mais duas outras casas para crianças 'handicaped' ou especiais como se diz no Português polticamente correto. A Instituição chama-se 'The Four Houses of Mercy', hoje dirigida pela filha da fundadora, uma cristã ortodoxa palestina, que a criou na década de 40, logo após a guerra e na época da criação do Estado de Israel. Tudo começou a partir de um casal de crianças que foi dado a esta senhora por uma vizinha, viúva, que bem jovem morria de câncer. Esta mãe de família, mulher de Deus, muito rapidamente se viu cercada de crianças e de pedidos de outras mulheres e famílias com filhos excepcionais, que conhecendo sua caridade, pediam que ela as ajudasse a criar os filhos. Assim nasce e se sustenta totalmente da Providência Divina, e do trabalho voluntário de bons corações europeus e árabes, esta Casa da Misericórdia.

Estive na casa da Marylene com a equipe de reportagem da Canção Nova que está fazendo uma série de programas sobre personalidades e instituições na Terra Santa, que cuidam dos pobres e dos doentes, de crianças e de idosos, vivendo uma vida missionária de maneira pouco convencional. Como precisavam de alguém fluente em inglês para entrevistá-la, e eu estava de folga passando o fim de semana com eles para conhecer Jerusalém e um pouco dos lugares santos, tive o prazer de ajudar e de conversar com a Marylene e ouvir uma história de vida simplesmente sensacional, bárbara, como diria a Hebe Camargo! Sem brincadeira, depois de tê-la ouvido contar sobre estas décadas servindo como professora e mãe de dezenas e dezenas de crianças, única e exclusivamente por amor ao Evangelho e às crianças, não paro de pensar na força da santidade escondida na vida dos que são bons que, com sua generosidade e vida doasa fermentam este mundo e o levedam sem que a gente saiba, tome conhecimento, ou sequer imagine! A diferença é que pela santidade do amor a Jesus e à Palavra de Deus santificam o mundo e 'atraem a misericórdia' do Senhor, indo muito além do puro voluntariado ou da filantropia. Esta senhora constrói com sua vida o Reino de Deus! Ela é que deveria se chamar 'A Preferida' e ser tema de novela!

Ela nos contou que não quis ir embora depois do primeiro ano porque pensou que não seria bom para as crianças, mais ainda as com deficiências físicas e emocionais, perderem e trocarem a cada ano de referencial afetivo, daí que foi ficando, foi ficando, e mesmo agora, já aposentada há 11 anos, não vê mais sentido nenhum em voltar para a França. Ela não é mais a pessoa responsável pela Instituição, mas quebra todos os galhos e está sempre presente em todos os imprevistos que acontecem no prédio onde as crianças e jovens se alojam (aproximadamente 90). Sempre trabalhou em parceria com voluntários após voluntários, ao lado de sua fiel amiga, suiça, que veio com ela, mas que já voltou para a Europa. Também há mulheres e homens que foram ajudados e criados pela Instituição e que hoje são voluntários e parceiros. Marylene nunca fez questão de ser chamada de 'mãe' pelas crianças pois muitas delas eram deixadas no orfanato só temporariamente por problemas de relacionamento, ou por outras questões, tendo pais e mães biológicos. Mas as crianças eram livres para chamá-la como quisessem, de mãe, de tia e, hoje em dia, de avó. Algumas foram deixadas na Instituição com meses de idade e estas a apresentam sempre como mãe, ainda hoje. Inclusive quando eu lhe perguntei quantos filhos ela tinha ela não soube responder porque o tempo de convívio e a relação com cada criança e jovem, menino e menina, variou muito, mas não deixou de sorrir como boa mãe orgulhosa e me respondeu: 'tenho filhos em vários países do mundo. Também tenho 60 netos e faço eu mesma presentinhos para eles, tipo joguinho de palavras para aprenderem inglês e jogo da memória. Faço-os eu mesma, explicou, para que as mães não tenham ciúme dizendo que comprei um presente mais caro para um do que para outro. Além de mais minha aposentadoria é bem pequena para cobrir os custos de 60 presentes por ano!'.
Por causa da cultura árabe muito rígida ela nunca negou seu Cristianismo, mas criou as crianças dentro das tradições que cada uma tinha, na maioria muçulmana, pois muitas eram órfãs e foram abandonas mas tinham parentes nas vilas palestinas e para se casarem, trabalharem e poderem ser novamente aceitas na comunidade, quando maiorezinhas, precisavam ter a mesma identidade cultural quando pudessem sair de casa. Jamais deixou que uma jovem ou um jovem tivessem que ir embora porque tinham completado 18 anos. Só saíam quando tinham condições de se manterem e sustentarem mesmo que de maneira muito simples como acontece com quem vive a dureza da realidade dos territórios palestinos, dentro de Israel. Daí que, além de saber o árabe Marylene foi aprender as festas e as tradições muçulmanas para vivê-las na casa e ensiná-las aos 'filhos'. Que lição de amor e respeito!
Marylene teve marcante atuação política, pacífica e desarmada, mas aberta e comprometida durante a Intifada do ano de 98, se não me falha a memória da data, quando o exército israelense aterrorizou árabes palestinos, prendendo, matando, torturando. Um dos 'filhos' de Marylene de 14 anos desapareceu numa noite que jogava futebol com uns amigos, logo na hora do toque de recolher e por dois anos, com outras mães, ela procurou em todo o Estado de Israel por este jovem desaparecido. Acionou todos os seus contatos e amigos europeus, denunciando a tortura, mas nunca encontrou o corpo do 'filho'. Ela disse que este jovem mudou a sua vida porque levou-a a se comprometer até o fim, até o fundo na luta pela justiça. Durante dois anos, semanalmente, Marylene e outra mãe ergueram uma faixa pedindo paz e justiça para os jovens palestinos desaparecidos, ficando de pé uma tarde inteira diante da maior delegacia da região, ou coisa que o valha, silenciosamente, protestando. Ela nos contou que foi assim que acabou chegando o mais perto que pôde das informações que confirmaram que realmente seu 'filho' tinha sido preso e torturado, mas ela nunca soube quando e como ele morreu. Seu corpo nunca foi achado. A maior surpresa porém, nestes dois anos, nos contou ela, foi o dia em que o chefão da polícia israelense, uniformizado e coberto de insígnias militares, segurou-a firme pelos braços e olhando-a nos olhos repetiu por duas vezes: 'a senhora não faz idéia de como é importante isso que a senhora está fazendo, esta denúncia pacífica e silenciosa! A senhora não faz idéia'.
Marylene mora numa casinha muito simples e bem pobre. Aos 77 anos é ativa e inventadora de moda. Agora, que tem menos o que fazer, decidiu ensinar às crianças e aos jovens da vizinhança, a jogar xadrez. Não quer que eles fiquem sem ter o que fazer pelas ruas, ou vendo televisão. Quem quiser, pode ir à casa dela nos dias combinados. Mas para que os mais pobres não se constranjam - e há muitos pobres nesta região próxima dos territórios palestinos, onde os cidadãos são tratados como gente de segunda e terceira categoria - não há lanche, nem suco, nem nada. Quem vai lá é para jogar e nada mais. Ela que já estava mais do que na idade de 'descansar' disse que não se sente cansada, só a vista que está pior (passou a entrevista tentando se lembrar onde tinha esquecido seus óculos). E, pelo jeito ela tem 'açúcar' e atrai as pessoas, porque as crianças e os jovens enchem a sua salinha e varanda para jogar xadrez, semana após semana, nos tabuleiros e peças criados, e recortados por ela mesma. Vimos as fotos.
E a palavra de sabedoria, por fim, que me deixou mais boquiaberta foi a que Marylene me deu quando lhe perguntei sobre o futuro, sobre como ela percebia que seria o futuro da Instituição Four Houses of Mercy. Ela sorriu e disse que nunca se preocupou com isso porque o Evangelho ensina para não nos preocuparmos com o dia de amanhã e que ela sempre viveu assim. Que ela não faz a mínima idéia do que vai acontecer no futuro, mas faz sempre o melhor que pode no presente para que o futuro das pessoas seja o melhor possível. Eu nunca vi tanto desapego numa pessoa! Ela não tomou para si nada da Instituição, nenhum direito ou privilégio, nenhuma plaquinha de reconhecimento, e nem acha que mereça. Disse que somente viveu aquilo que achava que era para ela viver. Ponto final. A única coisa que ela tem aos montes são fotos, fotos de muitos dos seus filhos e filhas, alguns mortos, alguns presos, outros bem casados e felizes, outros nem tanto, muitas histórias de uma verdadeira família, muita vida vivida no amor do Evangelho.
Saí desta casa com muita consciência da minha pequenez e com o coração transbordando de alegria e gratidão porque verdadeiramente o Reino de Deus está no meio de nós e foi revelado aos pobres e aos pequeninos!

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Meu Aniversário: Tarde e Noite - Parte 2






Estas foram as fotos da parte 2 do aniversário: a mesa do café da manhã com uma florzinha rosa no meu lugar, depois todos juntos embaixo de mais um cartaz, faltando somente a Duca e a Lorena que estão em Fortaleza e a 'negona de Salvador', a super Andréa, que está em Nazaré.
Esse povo todo junto é a turma de árabes leigos, nós shalomitas brasileiros, dois padres carmelitas, um francês e outro mexicano, as religiosas libanesas donas da casa onde nos reunimos, de segunda a quinta, para uma missa em rito latino celebrada em francês. O Pai-Nosso e algumas músicas são cantadas em árabe - eu ainda não decorei! - e o evangelho também é lido nos dois idiomas. Realmente é uma experiência católica essa nossa. Tiramos a foto por conta do aniversário e porque o padre Vincent volta para Paris esta semana (acho que ele não sofreu nem um pouco com esta transferência...).
Depois sou eu com o bolo de cobertura de chocolate e recheio de geléia de morango de sobremesa, enfeitado com rosas ganhas não sei com quem, e a minha cama com meus lindos presentinhos! A Silvânia pesquisou com a Janice qual seria um prato favorito meu, e junto com a Yara fizeram um delicioso espaguete. Estava tão bom que esqueci de fotografar!
Agradeço por quem conseguiu falar comigo pelo telefone como a Guida, do Rio, a Ana Paula, a Kátia, mamãe, como já tinha comentado, tia Quiquica, Ão do Céu dos EUA, a Lorena de Fortaleza, os irmãos de Nazaré, mais os amigos que me acharam no skype, como a Jan e a Ana Silvia, e por todos os emails que recebi dos amigos da Faculdade Católica, e dos irmãos e amigos de tantos cantos por onde já passei e deixei saudades e laços de amizade. Agradeço pelas orações - recebi todas! - e pelo amor que muitos me enviaram pelas ondas do coração e da Internet. Tem gente que diz que não sabe mais rezar mas, parafraseando o poeta e músico Walmir Alencar, 'a menor intenção de amar já é rezar' pois Deus é amor'.
Obrigada por tudo. Amo vocês!

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Meu Aniversário: Café da Manhã - Parte 1




Vou interromper os relatos sobre as visitas e experiências aos lugares santos deste final de semana, para agradecer por todas as manifestações de carinho que recebi desde cedo, melhor dizendo, desde a meia-noite, pelo meu aniversário. Os irmãos e irmãs, nominalmente, Yara, Silvânia, Viviane, Tales, Tennessee e Leandro, mais a Maria, jovem árabe vocacionada que está passando a semana conosco, me acordaram à meia-noite com uma serenata da porta do meu quarto. Eu realmente já estava dormindo porque, como disse ontem, estava muito cansada da andação no sol de 35ºC em Jerusalém, e o meu braço estava muito inchado. Mas ouvi a musiquinha escolhida a dedo, 'O Palhaço', da Ziza Fernandes, pus meu roupão, e fui me deixar amar pelos irmãos tão queridos. Cantaram e depois cada um falou o verso da canção que tinha mais o meu jeito. Todos disseram que reconheciam a minha liberdade de ser quem eu era, que eu trouxera um ânimo novo à missão, no desejo de me doar radicalmente, sem me poupar, e que sentiam que tudo que eu fazia vinha do coração, no desejo de sempre participar, ajudar, ser um com outros. Que minha amizade e presença eram um dom. Eu me deixei amar pelas palavras de cada um, que eu sei que são sinceras, e abracei a todos, curti a música, os cartazes, as delicadezas. É Deus nos amando através das pessoas.

Deixar-se amar é tão importante...e acolher o que de bom as pessoas vêem em nós, com gratidão e alegria, deixando que este amor traduzido em palavras, música, teatro e gestos gratuitos e simples, curem as feridas de insegurança e desamor, de baixa-auto estima que carregamos dentro de nós. Como me senti grata por estar ali de pé, enfiada no meu roupão japonês (uns acham breguíssimo, outros lindo, eu só acho útil...), junto dos irmãos que comigo vivem e dão a vida nesta missão. Admiro-os profundamente, com seus temperamentos próprios e jeitos particulares, por tudo que já plantaram e doaram de vida, de amor e dor, nesta Terra Santa.

O mais marcante de tudo é fazer esta experiência de aniversário dentro da Comunidade de Vida onde os presentes não são comprados, mas feitos com as próprias mãos ou pela partilha daquele pouco que se tem, ou seja, um cartãozinho, um chocolate, uma canetinha, uma flor colhida do jardim do vizinho, um teatrinho, uma música. Tudo sem consumismo. Eu fico pensando se eu saberia dar aos meus amigos e família alguma coisa que fosse minha, bolada por mim, sem que isso significasse comprar alguma coisa no shopping. Nada contra o shopping e a fazer compras lá, mas é a abertura para se reaprender a dar e a valorizar o que se ganha, resignificando o dar presentes, sinal daquilo que se quer dizer ao outro, sem que necessariamente passe pelo cartão de crédito. É um grande exercício da imaginação e da criatividade voltadas para o amor ao outro, na simplicidade.

Depois que dormi, o que custou a acontecer, acordei para um delicioso café da manhã com a melhor louça da casa, o melhor lugar na mesa, e mais um cartaz no refeitório. Em dia de festa assim, não há a meia-voz da manhã e podemos todos conversar livremente porque é festa. Ganhei uma barrinha de cereal de frutas light e um pudinzinho de chocolate tipo danette para comer depois. Rezaram por mim e não me deixaram lavar a minha louça. Mais cartõezinhos, uma flor branca que deixei aos pés de Nossa Senhora e algumas fotos. Estas que publico aqui no blog são só algumas dos cartazes que estão fixados na porta do meu quanto, e o close saindo para o trabalho, depois do café da manhã, ainda com alguma maquiagem no rosto e os cabelos bem ajeitados. Depois colocarei outras fotos também muito boas.

Às 6:30h fui acordada pela mamãe – para ela meia noite e 30 – que sempre gostou de ser a primeira a me dar parabéns. Fiquei tão feliz! Obrigada mamma, pelo seu amor! A ligação estava tão próxima e nítica que é como se eu fosse encontrar com ela pouco depois para receber o meu abraço e a minha bênção. Me deu as notícias de todos da família e a gente ve então, que não pode deixar de interceder e oferecer nossos pequenos sacrifícios em união com Jesus, para que Ele continue salvando, restaurando e santificando nossos casamentos, sobrinhos, relacionamentos, nos reanimando à vivência do perdão e dos pequenos e diários gestos de amor. É a vida! A gente que sempre repete a jaculatória: 'Jesus, manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso', deveria acrescentar no pedido as outras virtudes do Espírito que a gente não tem, para aprender dele e com Ele, tipo assim: fazei o meu coração pobre, casto, puro, alegre, capaz de perdoar, não endurecido mas de carne, fazei meu coração corajoso, disposto a educar-se para o amor, disposto a servir, simples e descomplicado, sem baixa-estima, mas livre da doença da exagerada auto-estima e sofreguidão por auto-realização, etc, etc, etc. A lista de cada um é a lista de cada um, pois temos nossos pedidos próprios. Foi ótimo ouvir a mamãe e receber sua bênção e seu amor, e por ela o beijo dos sobrinhos, do Bill, Nunu e Aldo.

Assim, cheguei ao trabalho, e fiz logo estas primeiras anotações para poder chegar em casa e, rapidamente, postar fotos e comentários desta primeira parte de um dia de festa que ainda promete. Tenho que abrir ainda os emails de parabéns, ir à missa e comer um bolinho à noite com ou poucos convidados que virão. Mas isso eu conto mais tarde.

Até este momento, bendito seja o Senhor! Seu amor e eleição me ultrapassam e de há muito tempo sua bondade e paciência me constrangem. Ele merece todo o amor do mundo! Só Ele é que sustenta e dá a vida a todas as coisas – inclusive a minha vida, hoje – e sem Ele eu nada poderia ser ou fazer.
Por todas as manifestações de amor, fraternidade e carinho até agora recebidas eu agradeço de coração. Como dizia o Afonso: Deus lhes pegue!

domingo, 24 de agosto de 2008

Jerusalém! Que bonita és!


Estive em Jerusalém este fim de semana, e acabei de chegar em casa. Difícil descrever a emoção que se sente ao se cantar o 'Glória in Exelcis Deo' do Natal, desde a infância, na capela com acústica perfeita erigida sobre uma gruta do tempo do nascimento de Jesus, na vila dos pastores, vizinha a Belém. Difícil explicar as ondas de amor e ternura que sobem do coração quando se beija a estrela de 14 pontas que marca o lugar do nascimento do Senhor tendo ao lado o lugar da manjedoura, ou, ao se entrar e sair do túmulo de Lázaro, em Betânia, onde se visita uma igreja sobre as ruínas do que se crê tenha sido a casa dos amigas de Jesus, Martha e Maria, mais seu irmão. Mais que emoção, é o aumenta do desejo de crescer em amizade e intimidade com o Senhor, aquele que se senta para conversar conosco! Se ao menos as pessoas que dizem ter perdido a fé, se dessem a chance de ir a uma capela onde o Santíssimo Sacramento está exposto e lá fossem conversar com o Senhor, não há como não encontrá-lo e ouvi-lo falando ao coração...


As lágrimas brotam espontâneas quando se abaixa e se beija o Santo Sepúlcro e a pedra onde Jesus Morto foi depositado, ou se reza no Muro das Lamentações, suplicando ao Senhor misericórdia pela Humanidade e Seu Shalom sobre a Terra Santa, ou se sai da tumba do Rei Davi, cantarolando o predileto salmo 50: 'criai em mim um coração que seja puro, nao retireis de mim o vosso Espírito, dai-me de novo um espírito decidido'...E a gruta do Leite, branquinha por dentro, que tem uma pintura de Nossa Senhora amamentando? Quem vai ali e é estéril, pede um milagre e engravida. As inúmeras histórias comprovam que neste lugar gotas do leite de Nossa Senhora pingaram no chao, enquanto alimentava Jesus a caminho do Egito, fazendo desta gruta um lugar especial.


Que gratidão pela lista sem fim de orações e visitas a lugares não tão óbvios, como a capela de Santa Helena onde se encontra o lugar onde a Cruz do Senhor foi encontrada, ou o túmulo de Natanael, ou ainda a capela de Adão que mostra o pedaço da rocha, exatamente abaixo do Calvário, rachada, ja que a terra tremeu na hora que o Filho de Deus expirou e disse: 'Pai, tudo está consumado!'. Cada porta, cada ruela, cada língua que se escuta nas enxuradas de peregrinos, nos rostos e expressões de fé, me encheram a alma da presença de Deus. Conhecer estes lugares santos edificam e comprometem a fé e o amor. Me sinto muito unida a Jesus e ao Seu Reino, num desejo mais profundo e sincero de continuar doando a minha vida para que haja paz verdadeira no mundo.

A emoção e a dor se misturaram também na tensão experimentada diante do 'Muro da Vergonha', construído por Israel e que divide Belém, território palestino e um gueto que isola árabes muçulmanos e árabes cristãos. Senti imensa tristeza diante de cada 'check point' onde se é obrigado a apresentar passaporte a jovens soldados armados.

E no turbilhão de imagens e emoções a serem depuradas e internalizadas da retina ao coração, acima de tudo há muita gratidão ao Senhor que ouviu a intercessão de meus e nossos 'pais adotivos', S.José e Nossa Senhora, e me antecipou este grande presente de aniversário que foi conhecer Bélém, Betânia e Jerusalém na companhia dos irmãos da Canção Nova. Em especial sou grata à Ana Paula, ao Pe. Arlon, à Uni(céia) que me acompanharam todo o tempo. Mas também agradeço ao Thiago, ótimo papo na viagem de ida de Isifya à Belém, e a todos os outros que me receberam em casa com tanta alegria e generosidade. Obrigada por todas as partilhas que nos fazem crescer no conhecimento mútuo dos carismas que o Espírito nos concedeu, e na alegria de sermos irmãos.

Estou cansada, estou grata, estou feliz. Preciso urgente de um banho e de partilhar com os irmãos de casa, que estão chegando, as aventuras destes dois dias. Depois é só jantar, ir à capela, bendizer ao Senhor por tudo e por sua misericórdia que é eterna e dormir. Uma nova semana me aguarda. Amém!

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Dinossauros Urbanos e Assembléia









Não são lindos? Só me fazem lembrar do Lucca, meu sobrinho, que quando pequenino adorava dinossauros! Agora, nas vésperas de fazer 12 anos, não sei se tem ainda o mesmo interesse mas eu não ponho a minha mão no fogo... Se ele visse estas esculturas modernas espalhadas em toda a cidade de Haifa, pelo verão, ia achar o máximo, assim como eu! Se notarem bem, em cada dinossauro há uma pintura-tema, por isso tentei tirar a foto por inteiro e depois um close.
Estes estão ao redor da rotatória em frente ao grande parque Bah'Rai, quase ao lado da Cúria. Na hora que tirei minha câmera da bolsa, uns turistas meio gaiatos que estavam na minha frente subiram num dos dinossauros e fizeram pose para as câmeras. Eu só não fiz o mesmo porque estava em cima da hora para o trabalho e não tinha companhia, mas deixa chegar semana que vem que vou dar um jeito de subir em um. Vou pedir ajuda ao meu amigo Adib!
Daqui a pouco vou para Belém e Jerusalém de carona com os amigos da Canção Nova que vieram a Isefiya filmar o trabalho do Shalom no asilo. Este trabalho dá um perfil todo único e pouco convencional à experiência carismática missionária das Novas Comundades que, na maioria das vezes, se liga às paróquias, à evangelização explícita através dos grupos de oração e trabalhos com a juventude, mas raramente com outras atividades de promoção humana. Mas talvez seja essa uma das características mais marcantes da Comunidade Shalom e do Carisma como tal: servir aonde é chamado - e só se abre missão se houver convite oficial por parte do bispo, a comunidade não se oferece e se impõe a nenhuma diocese - e ela aceita trabalhar naquilo que for necessário, mesmo que isso represente um grande aprendizado e sacrifício para quem esteja na missão.
É o caso deste asilo ou do orfanato imenso no norte do país, se não me engano na Ilha de Marajó, que estão sob a responsabilidade da Comunidade. Ou seja, o desafio é ser Shalom e levar o Shalom do Pai em qualquer realidade humana. Espero que a reportagem seja feliz e consiga captar esta realidade de serviço, de qualquer serviço, como fruto do amor esponsal, núcleo da Vocação.
Quanto à minha viagem, é isso mesmo: vou aproveitar que a Providência Divina me proporcionou esta carona e hospedagem com os irmãos da Canção Nova, que moram em Belém e trabalham em Jerusalém, para conhecer estes lugares santos. Volto só no domingo e estou 'excited about it'! Tenho só o dinheiro da passagem de volta que S.José me providenciou de presente, mas só de poder visitar esses lugares, considero meu verdadeiro presente de aniversário. Vai ser um exercício esta pobreza e não poder comprar nem uma lembrancinha, um pequeno sacrifício a ser ofertado neste novo tempo que Deus me dá a viver, mas também isso se aprende. Ainda estamos em conversação para ver se a Cúria poderá fazer nenhum repasse financeiro para mim, mas pelo menos por enquanto, tudo bem, de verdade. A casa paga meu transporte e já me dá um repasse para meu shampoo e desodorante, e umas bobagens mas eu gastei tudo o que tinha juntado nestes dois meses para mandar umas lembrancinhas para o Brasil através da Lorena que viajou para Fortaleza dia 19. Fiz estas opções e agora estou lisa. Mas beleza! Só de ter podido enviar estes presentinhos para os meus sobrinhos, para alguns diletos irmãos e amigas, já me deixou feliz.
Nas cidades santas prometo rezar por todas as intenções dos amigos, da família, e de quem eu conseguir me lembrar. Muito e principalmente pela Assembléia Geral da Comunidade Shalom que começa hoje para a maior glória do Senhor e para a nossa salvação.
O bom é saber que o olhar do Senhor cobre o Céu e a Terra e que a sua misericórdia é eterna!

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Fotos são sempre bem vindas...





...Mais ainda quando se está muito cansada depois de um dia muito cheio. Hoje é dia de Célula Comunitária, quando se juntam as pessoas da Vida e da Aliança para formação e partilha. Éramos um total de... seis pessoas! Isso porque a Lorena e a Duca partiram ontem para Fortaleza para a Assembléia Geral da Comunidade Shalom (nas comunidades religiosas tradicionais se chama Capítulo Geral, só que a Igreja tem orientado às Novas Comunidades a assumirem esta outra nomenclatura pela novidade que elas trazem da parte do Espírito Santo à Igreja e ao mundo). A Lorena volta daqui a um mês e a Duca só em janeiro de 2009 e, a Andréa, que também é missionária da Aliança como eu, foi para Nazaré substituir a Socorro ou Mary Help, que também foi para a Assembléia. O trabalho na Basílica é ininterrupto e exige demais de quem trabalha lá, com os turistas. Por isso a casa está desfalcada. Na verdade seríamos sete mas o Tales perdeu o último ônibus que sai de Haifa e teve que dormir por lá.
Vamos às fotos, em sentido horário: interior da Igreja Melquita da vila. Reparem que os arcos protegem o altar - como o Santo dos Santos - onde o sacrifício é oferecido e só o sacerdote entra, (se bem que não é mais tão rígido assim porque os acólitos e sacristão vivem passando por trás do altar). Acho que em todos os cantos do mundo o respeito ao sagrado tem passado por certa crise... Os quatro ícones da frente são de Jesus e Maria, do lado esquerdo de Mar Elias e do outro Mar Jorge, ou seja, o profeta Elias e S.Jorge, muito amados e cultuados na Terra Santa. No Líbano o Santo mais conhecido e popular, o S.Francisco ou S.Antonio de lá chama-se S.Charbel. A videira que está acima dos arcos tem Jesus e os doze apóstolos.
Todos os ícones foram escritos pelo Abuna Samir, que é um jovem padre nos seus 40 anos no máximo. Vou tirar uns closes depois e publicar. Eu fico encantada com o bom gosto destes ícones, com a unção presente neles, e quanto mais os contemplo, mais tenho horror daquelas imagens românticas e aguadas de Jesus louro, com cara quase 'andrógina', Deus me defenda como diz no Ceará! Também há certos 'pantocrartos' no Brasil que são duros e rígidos, que não conseguem expressar o Senhorio de Jesus com a Sua misericórdia e amor.
A próxima foto é minha salinha na Cúria onde fica o arquivo e uma papelada sem fim, mais ou menos organizada, porque o bispo se mudou há pouco tempo para Haifa. Ele passou toda a sua vida sacerdotal em Ibillin onde criou o MEEI, Mar Elias Educational Institutions, que hoje tem mais de 5000 alunos, para dar oportunidade de estudo às crianças árabes, sempre tratadas como cidadãs de segunda categoria pelo Estado de Israel. Esta instituição de ensino é uma profecia em Israel porque abriga alunos cristãos, muçulmanos-druzi (este semestre eles representarão a maioria das matrículas, com quase 60%) e já teve algumas dúzias de alunos judeus, convivendo pacificamente em ambiente regido pelas bem-aventuranças evangélicas católicas. Isso é uma profecia!
Já estive lá e é um lugar privilegiado da presença do Senhor pelo esforço de muitas e muitas vidas, nos últimos mais de 20 anos. Coisas de um bispo santo que arregaça as mangas para fazer o Reino de Deus acontecer e a paz ser vitoriosa! A minha mesa na Cúria dá de frente para uma janela que se abre para uma horta onde se recolhem constantemente pepinos e tomates, e manjericão para um bom molho de macarrão.
Depois do escritório, a próxima foto é do meu quarto e mesa, em casa, de onde escrevo neste momento. A porta que se ve dá para uma varanda no fundo da casa e para o quintal onde estão as parreiras que eu já mostrei em outra ocasião. Do lado da porta está o banheiro com a ducha. Tudo muito prático que eu mantenho bem arrumadinho, com direito à faxina semanal aos sábados.
E por último uma foto de três figos quase maduros, da figueira que fica no portão de entrada da casa. Tirei a foto para mandar de presente para a Emmir, que ama figos maduros - mas não em calda ou cristalizados - pois hoje é aniversário dela. Queria muito tirar uma foto de uns bem grandes, mas as crianças e os adultos da vizinhança não deixam! Mandei assim mesmo, para dar água na boca, tanto dela quanto de qualquer outra pessoa que gostar tanto de figos quanto eu!
Para quem não ia escrever, eu até que exagerei. É o prazer que este blog me dá, o prazer da escrita e de contar um pouco da história de um tempo privilegiado que vivo como misssionária.
Que S. Bernardo interceda por nós! Amém.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Retiro no Monte Carmelo

Eu sempre pensei que o Monte Carmelo fosse um monte onde o profeta Elias tinha visto uma nuvenzinha depois de três anos de seca, e profetizando disse que a chuva se aproximava. A chuva veio e foi a salvação de Israel. Com o tempo e a Tradição, a Igreja viu nessa nuvenzinha humilde uma prefiguração de Nossa Senhora que trouxe em seu seio e coração, a salvação de todos os homens, raças e nações, Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim nasceram os Carmelitas e a Ordem de Nossa Senhora do Carmo.
Até aqui está tudo certo quantos às informações que eu tinha, só o que não bate é o Monte Carmelo que é uma cadeia imensa de montanhas, uma região inteira montanhosa ao redor de Haifa, na Galiléia, a região mais fértil de Israel, localizada ao norte do país, e não um monte. Para mim isso foi uma surpresa.
Inclusive porque existem dois lugares dedicados ao Profeta Elias: uma gruta que fica em Haifa, voltada para o mar, onde ele rezava, e de onde mandava um servo ficar a postos, olhando para o horizonte, a fim de ver algum sinal do céu que anunciasse chuva, tão desesperadoramente esperada. Sobre esta gruta há uma igreja construída, aberta ao público, muito linda, (comentei a respeito dela na festa do dia 16 de julho, dia de N.Sra. do Carmo), que faz parte do Carmelo masculino, bem grande, que oferece em seu terreno uma enorme infra-estrutura privilegiada para acolher peregrinos. Quase um hotel e há inclusive padres que ciceronam peregrinos pela Terra Santa. Esta região da cidade de Haifa está localizada num bairro que se chama Monte Carmelo. Só que o Monte Castelo, como comecei a explicar, se estende montanha acima, passa pela vila de Isifiya onde moro e segue até a próxima vila chamada Delya, predominantemente muçulmana-druzi. Nesta vila, há uma outra construção dedicada ao profeta Elias que se chama Murahka que se localiza na parte mais alta de Delya. Também lá, é uma comunidade de padres carmelitas que se responsabiliza pelo lugar santo. O superior, inclusive, padre Alberto, mexicano baixinho, de 38 anos, muito alegre e comunicativo, é grande amigo da Comunidade Shalom, nos confessa a todos e, quando pode, celebra aqui em casa em Português.
Na Murahka há um carmelo de mais cem anos, quando foi dada a posse da terra aos carmelitas - história comprida que não vem ao caso. Neste local de panorama deslumbrante, o profeta Elias desafiou os 400 falsos profetas de Baal e mandou descer fogo do Céu, consumindo de uma só vez as ofertas, provando assim quem era verdadeiramente o Senhor do Céu e da Terra, o Deus Altíssimo. A capela deste carmelo, aberta ao público, é de um bom gosto de tirar o fôlego. As citações nas paredes de pedra, escritas em árabe e em hebraico, contam este episódio descrito no livro dos Reis. E o altar se ergue sobre 11 grandes pedras (o altar é a 12a pedra), simbolizando as tribos de Israel e onde o verdadeiro e definitivo sacrifício da Aliança é celebrado. Os poucos ícones espalhados são a respeito do profeta ou santo Elias, como é amado e venerado nas três religiões monoteístas da Terra Santa.
Foi na Murahka que eu passei o sábado em retiro. Não precisa nem dizer que, no final do dia, a vontade era continuar por mais dois dias, ao menos, aprendendo a silenciar o coração e ouvir o silêncio. Foi muito bom, é o que posso dizer. É um aprendizado a vida de oração, o estar com Jesus e em sua presença, mais ainda descobri-lo e adora-lo vivo em mim.
Talvez o maior de todos os males que nosso século XX viu crescer foi o barulho externo que nos deixa agitados e periféricos, quase que incapazes de parar para ouvir. Ouvir a nós mesmos e a voz de Deus, pelo Espírito dentro de nós. E o resultado dessa barulheira é a quase impossilidade também de ouvir o outro, qualquer outro.
Fotos? Não as tirei, de propósito, se não era ainda mais uma coisa a me agitar os pensamentos e roubar a atenção do que eu necessitava fazer: como Maria, estar aos pés de Jesus. Shalom!

sábado, 16 de agosto de 2008

Olha que vista mais linda!



Gente! Veja que coisa mais linda esta minha primeira foto tirada com minha câmera digital comprada na Dinamarca: as montanhas e o panorama da Galiléia! Esta é a vista que se tem no fundo da casa da Comunidade Shalom em Isefiya. É a região fértil de Israel que se situa ao norte do país que é sempre verdinha e abundante em verduras, legumes e frutas. Os kibbuts não precisaram ser inventados para que houvesse hortaliças e frutas em Israel - os árabes e os judeus que viviam aqui já cultivavam muito bem as azeitonas, as tâmaras, as romãs, os figos e as uvas! Estamos em pleno verão e o sol e o calor são fortes, mas como é montanha - Haifa é que é marítima e está a 465m abaixo - a temperatura é mais amena, principalmente de noite.

Ontem tivemos um grande feriado religioso entre os cristãos pela Festa da Assunção de Nossa Senhora. A cultura árabe ama apaixonadamente a Maryam por ela ser a Mãe de Jesus. Na Basílica da Anunciação em Nazaré, os irmãos de comunidade que trabalham lá, relatam que há até muçulmanos e judeus que vão lá conversar com a Mãe, por ela ser Mãe. Que contam com a intercessão dela, principalmente as mulheres, por causa de seus filhos.

Fomos à missa na Igreja Maronita e, na homilia, o padre contou de uma antiga tradição Oriental que explica o porquê desta Festa também ser chamada de Dormição de Nossa Senhora. É que depois da ressurreição de Nosso Senhor, ninguém mais morre como nos diz S.Paulo, (não consegui guardar o texto exato, precisaria pesquisar, e prometo fazê-lo depois), mas adormecemos no Senhor, pois nossa morte foi vencida definitivamente. A Virgem Maria inaugura assim, em seu corpo e alma, desde o momento de sua dormição, o que acontecerá conosco definitivamente só no final dos tempos: a ressurreição de nossos corpos, e que recitamos a cada domingo no Credo.

E continuava o padre, que na tradição mais uma vez S.Tomé não estava presente na hora da morte de Nossa Senhora e que ao ser informado pelos outros apóstolos ele diz não acreditar que ela tivesse morrido...quando eles correm juntos ao encontro da Mãe, eles vêem que dessa vez Tomé estava certo: ela tinha sido assunta ao céus pelos anjos!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O Deserto e o Lap-Top

A dor de entrar no deserto e enfrentar os meus demônios interiores começou a acontecer. Nunca tive maiores interesses em conhecer a Terra Santa, nao sei porque, mas nunca tive. Tinha vontade de conhecer Nazaré, somente, acho que de tanto ouvir a mamãe e a tia Quiquica falarem a respeito da emoção que sentiram na Basílica. Tampouco sonhei em ser missionária em Israel. Estaria muito mais inclinada a ir para Londres ou Canadá, ou para qualquer outro país de lingua inglesa, (continuo sonhando com isso, mais ainda se for para a Irlanda, quando abrirem uma missão lá). Mas viver mergulhada na cultura árabe ou israelita nunca me passou pela cabeca, e representa uma quebra de paradigmas total.
A fase do deslumbramento com tudo acho que nunca vai passar pois, o meu temperamento é meio deslumbrado, e se encanta facilmente com as coisas e as pessoas, com a natureza, com as expressões artísticas, o novo. Só que agora a rotina da vida se implantou e a crueza das realidades humanas e sociais começam a se descortinar. Tem horas que a gente se sente frágil e com vontade de voltar para casa ou para 'alguma zona de conforto' onde não há o que temer. É o deserto. São os desafios exteriores que põem a prova o que já há ou não há de consistência interior em termos de relacionamentos, responsabilidade, virtudes, trabalho, vida espiritual, amor ao Senhor acima de todas as coisas, louvor, confiançaa, abertura ao novo, ao diferente, vivência, respeito a si mesmo, respeito ao outro, e transbordamento da paz. Paz que é muito mais do que sentimento de tranquilidade.
Entrei no deserto e meus demônios estão se apresentando. As tentações espirituais também nao faltam. Quedas, dores, reflexões. Constatações. A maior delas: quem me trouxe para o deserto foi o Espírito do Senhor a fim de me fazer conhecer e amar o Senhor como nunca acontecera antes. Amar o Senhor, repito e saboreio, me deixando amar e purificar por Ele. Descobrir a beleza Dele que há em mim, recriada por Amor em sua morte e ressurreicao. Encarnar esse amor. Fazer a vida ser mais do que belas e eloqüentes palavras, mesmo que verdadeiras, lançadas ao vento.
Deserto. Solidão. Busca de sentido. Oração. Oração. Busca do Outro, do Tu que vive em mim. Busca de mim. Como dizia Sta. Teresa d'Ávila há quase 500 anos: "A Mim, buscar-Me-ás em ti, e a ti, buscar-te-ás em Mim". Vamos juntos. E no meio do caminho, além da bíblia, da caneta e do caderno de oração, meu laptop me acompanha e testemunha as lutas, as fraquezas, o desejo honesto e a determinação de ir até o fim.
Bendita vida missionária de século XXI!

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Mais relatos, alguns costumes melquitas

Desde a primeira missa que participei na nossa paróquia melquita aqui em Isefiya (só há uma outra igreja católica na vila e é do rito maronita), passei a beber e aprender com as diferenças, me enriquecendo com o culto e fazendo comunhão. Não é fácil. Este lance de pertença à uma comunidade e reconhecimento dos símbolos que guardam o mistério das 'coisas do Alto', passam pela cultura e a cultura daqui é outra muito diversa da nossa, européia latino-americana. Graças ao bom Deus, à catolicidade da fé e à experiência vivida no Espírito em comunhão com toda a Igreja, e não somente nos elementos da razão, mas também com ela, permanece garantida a presença sacramental de Jesus em todas as suas manifestações: seja no sacerdote celebrante, na assembléia de batizados reunidos ao redor do altar do sacrifício da Nova Aliança, seja na Palavra do Senhor e na sua presença real no Pão e no Vinho consagrados.
Alguns novos jeitos próprios do rito melquita e mesmo algumas tradições, me têm alargado a fé e me impelido a uma atitude de abertura perante Deus e as pessoas, que me rejuvenesce.
Relato hoje duas. A primeira é conviver com um padre casado, pai de três filhos que consagra o Corpo do Senhor e prega sua Palavra distribuindo ambos a toda a assembléia inclusive a sua mulher, sogra, pais... Não nos esqueçamos que a estrutura da cultura oriental e muito acentuadamente a cultura árabe é predominantemente familiar, e aí se inclui tanto cristãos quanto muçulmanos. Continuo achando que essa realidade de sacerdotes casados só funciona mesmo para uma comunidade pequena como a daqui da Palestina ou em outras regiões menores com poucas ovelhas. A Igreja Católica de rito romano é sábia em oferecer aos seus sacerdortes o dom do celibato consagrado, mas este é outro assunto. A novidade, porém, de conhecer um sacerdote casado e saber quem é a 'mulher do padre' sem que isso seja um xingamento como era quando eu era criança, eu já sabia que existia nas Igrejas do Oriente, Melquita, Bizantina e Ortodoxa, mas nunca havia convivido e contemplado a sua beleza.
Uma outra tradição melquita muito tocante diz respeito à Palavra de Deus. Na missa católica melquita só há leituras do Novo Testamento, ou seja um trecho de uma epístola e um texto do Evangelho. Na homilia e nos ícones dispostos no interior da igreja se fala do Antigo Testamento, dos profetas - muito especialmente do profeta Elias ou santo (mar) Elias como é cultuado no Oriente - mas leitura de texto não há. Se salmodia durante vários momentos da celebração, mas Palavra de Deus proclamada na celebração eucarística é só Novo Testamento.
E mais. Na hora que o sacerdote se aproxima do ambão para ler o Evangelho as pessoas que querem testemunhar publicamente uma graça alcançada, em sinal de gratidão, se levantam e se aproximam do sacerdote e de cabeça baixa ouvem a Palavra de Deus. É tão lindo! Às vezes vai uma família inteira, outras só uma senhora com jeito de vó, um homem, pai ou um jovem. Emocionante e silencioso: diante desta Palavra, que é o próprio Jesus, eu venho agradecer o que Ele fez em minha vida.
Esta manifestação pública de gratidão perante a Palavra de Deus tem me feito pensar o quanto eu preciso crescer na leitura orante, longa da Palavra de Deus. Gastar tempo. Trocar a televisão e o computador para saborear os textos... Crescer em curiosidade, em estudo longo, sistemático e contínuo dela, como sinal do meu amor ao Senhor. Crescer no desejo de que minha mente e mentalidade sejam cristianizados pelas palavras, sentimentos, jeito de viver e pensar o mundo e as pessoas que Jesus tem. Como é fácil ficar parada e até prostrada, diante das incontáveis palavras de homens e mulheres, muitas vezes ótimas sem dúvida, mas nenhuma delas com peso de vida eterna como a Palavra de Deus...

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Primeiras Reflexões sobre a Paz

De modo geral tenho ficado na descrição dos fatos e experiências, muitas vezes quase como uma 'outsider', observadora somente, sem maiores reflexões a respeito de assuntos mais sérios como se era de esperar para quem mora em Israel, um país que é um barril de pólvora. Mas acho que em se tratando de assunto tão complexo, como é a política e as negociações para se chegar à paz entre árabes e judeus, há que se ter mais informação e ouvir mais de quem entende e vive o problema. Mas resolvi anotar algumas percepções que vão se delineando em meu interior.

Para mim já ficou claro o suficiente, mais ainda depois de ler os livros escritos pelo meu 'bispo e chefe' Elias Chacour, que nesta terra árabes e judeus e cristãos coviveram bem por centenas de anos. O povo palestino - nascido na Palestina - das três religiões, tem vastíssima experiência de tolerância, convivência, amizade e respeito mútuo. Nada que seja cor de rosa ou pura fantasia, mas história real. A partir da criação do Estado de Israel, ou seja, somente há 60 anos atrás, é que pelo desrespeito e usurpação das terras, dos direitos, da cultura dos palestinos que aqui viviam, é que os ânimos foram se acirrando e os partidos políticos, os 'Ramás' da vida foram surgindo levando à insanidade que vemos tantas vezes nos jornais e na TV. O resultado são estas deformidades geradas pelo ódio dos extremistas, tanto árabes quanto judeus. Mas é importante lembrar que mesmo estes extremistas não representam todos, nem mesmo os que estão na Cisjordânia (ou West Bank), ou na Faixa de Gaza.
No dia a dia das cidades, árabes-cristãos (os mais pacíficos de todos! segundo palavras do próprio Ministro de Defesa de Israel), árabes-muçulmanos, judeus comuns e judeus-ortodoxos, mais os druzi (grande 'galho' do Islamismo que povoa as fileiras do exército israelensa), vivem civilizadamente. Não há a menor dúvida de que os judeus, cidadãos de Israel, são elite e recebem todas as vantagens pois são considerados cidadãos de primeira classe. Os demais são de segunda, mesmo que, de modo geral, tenham trabalho, saúde e educação. Só não são respeitados como tão donos e herdeiros da terra como os judeus.

Os pacifistas de coração - aqueles que rezam e oferecem suas vidas para este fim - e os pacifistas de carreira, diplomatas e estudiosos (muitos dos quais também rezam, e desejam viver as bem-aventuranças evangélicas), batalham para que em Israel haja abertura para que passos mais concretos sejam dados na direação da criação de dois estados independentes, um palestino e um judeu, lado a lado, como preconizava as Nações Unidas quando da criação de Israel. Se ao menos as autoridades se dispusessem ao diálogo como tem acontecido na Irlanda do Norte e fizessem sair do papel o desejo comum a todos que é a Paz...

A questão é essa: nem todos quererm a Paz pois para se construir a Paz eu tenho que admitir que a razão não está toda comigo...eu só a construo se der direito ao outro de estar no mesmo patamar que eu e portanto, tratando-o como um igual a mim.
Bendita seja a grande misericórida e paciência do nosso Deus que nos dando o Seu Espírito mais liberdade, inteligência e amor nos move à construção da Paz, como seus filhos e filhas! Que nós possamos ser féis e não deixemos jamais de lutar no trabalho ou 'diante de Deus', para que a Paz em Israel possa acontecer realmente.
Espero que as pessoas que, eventualmente, acessarem esta página, deixem de pensar que todo árabe é terrorista e que todo judeu é vítima, e passem a ter esperança e responsabilidade sobre a construção e a necessidade urgente de Paz em Israel, na Terra Prometida, nem que seja rezando nesta intenção.

sábado, 9 de agosto de 2008

Para os meus Amigos e Amigas!

Recebi este mimo da minha amiga querida a Rocaia, Rocas ou Roquinha de quem só tenho saudade e ótimas lembranças. Ofereço-o de volta a todos os meus amigos e amigas. Talvez essa seja uma das maiores ofertas feitas neste tempo de missão e deserto: não ter amigos antigos para conversar fiado, para partilhar! Até os amigos são novos neste tempo em que 'Senhor faz novas todas as coisas' como está no Apocalipse, e o faz, felizmente, 'porque sua misericórdia é eterna!'.

"Ah, não; amigo, para mim, é diferente. Não é um ajuste de um dar serviço ao outro, e receber, e saírem por este mundo, barganhando ajudas, ainda que sendo com o fazer a injustiça dos demais.

Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou - amigo - é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é."

[Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas]

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Muitas Fotos! Muita Alegria!




Mocinhas mais bonitas e mimosas no que essas não exitem,
nem no Brasil nem em Israel!

Estes guapos rapazes são da Canção Nova
e da Comunidade Shalom vestidos a rigor.

E este par? Elena e Leandro - não é Leonardo! Demos um show!
Bendito seja Deus pela alegria de sermos irmãos!

A alegria de hoje fica por conta da abertura dos Jogos Olímpicos e de ter recebido as fotos tiradas pela Andréa com a câmera do Wyradan, da Festa Junina de uma semana atrás na Basílica de Nazaré. Os mais alegres sem dúvida somos nós, os brasileiros da Comunidade Shalom e da Comunidade Canção Nova. Já estamos pensando na próxima!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Muito trabalho! Santo Abuna!

A Lubna está de férias mas o bispo não está! Bendito seja Deus! Hoje eu trabalhei sem parar meeeeesmo!!! Ele está limpando a mesa dele e... enchendo a minha!

Pouco a pouco vou aprendendo o jeito elegante e rico, quase poético dele usar a língua inglesa, que é sincero e que me parece ser seu grande 'trunfo' ao lidar com as pessoas. O Abuna é pessoal no trato e muito humano, seja respondendo às inúmeras cartas e solicitações, agradecendo aos que mandam doações para o MEEI (Mar Elias Educational Institutions) de Ibillim, ou escrevendo aos voluntários dos 'Rosary Makers' que enchem seu escritório de terços a serem doados à população.

Ele trabalha muito e muito intensamente. É corretíssimo nas questões financeiras e no uso das doações recebidas. Tudo documentado, anotado, profissional e evangelicamente transparente. E isso eu estou falando dos assuntos de língua inglesa, ou em francês e alemão (o francês dá pra ler e ele orienta a resposta, o alemão fica quase na pilha do árabe). O que está em árabe ou hebraico não me atrevo nem a pegar... Volta Lubna! Volta!

Besteira! Deixa a coitada descansar. Eu e a Lama, sobrinha-neta do Abuna que atende a todos os telefonemas em árabe, vamos dar conta. Enquanto isso eu vou aprendendo, inclusive a me aproximar do Abuna.

Deixo aqui um trecho tirado de uma 'newsletter' do Abuna Elias Chacour quando foi feito bispo da Galiléia, que descreve a profundidade de sua consciência do que seja ser bispo, apóstolo de seu 'Compatriota Jesus Cristo', como ele gosta de dizer:

"Is there a better way to offer who I am after so

many years of service and of devotion to the Lord?

You Lord are the Master!

I am just your servant!

I am ready for whatever you decide for me"