quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Desafios novos

Com o outono o frio começou a apertar, e a chuva caiu esta semana depois de uma longa estiagem. Eu gosto demais do frio e acho que 'funciono' melhor nas temperaturas mais amenas. Parece que a 'preguiça' também aumenta e os ritmos internos mudam pela necessidade de mais calorias. Talvez seja esta uma boa desculpa para se comer mais, porém, sinceramente, quando chega a noite, não há quem não 'long for a plate of hot soup' e, na hora de dormir, por um chocolate quente.
O hebraico continua me desafiando e eu não consigo ter a disciplina de estudar em casa como gostaria. Estudo no ônibus na minha viagem de ida para o trabalho, quando estou com a cabeça bem fresca, depois de fazer laudes com o meu 'ofício das horas' em inglês, valioso presente dado pela minha amiga londrina, Kristina Cooper. Vou brincando de decodificar os sinais e as letras de tudo que passa a minha volta, e ontem e hoje ao descer do ônibus agradeci ao motorista dizendo toh-DAH ra-BAH, ou muito obrigada em hebraico. É uma bobagem, mas me senti orgulhosa. Com a graça de Deus vou seguir em frente.
Não quero estudar hebraico só por vaidade ou para provar para mim mesma isso ou aquilo, mesmo sabendo que valeria a pena desafiar o meu cérebro a aprender algo novo. Sem se adquirir o idioma de uma cultura e de um povo é impossível uma verdadeira inculturação e aproximação das pessoas, e sem isso é mais impossível ainda evangelizar. E, para nós como Shalom, e para a Igreja pós Vaticano II, com a Nova Evangelização, ser missionário implica em duas dimensões. A primeira é aquela do serviço, da doação de vida pelo testemunho pessoal e comunitário e, concretamente, no caso aqui de Israel, isso se dá na Cúria, no Centro de Evangelização, e no Asilo, fazendo arquivo, traduzindo um livro, dirigindo um grupo de oração e organizando um campeonato de futebol para os jovens, ou dando banho num idoso. Esse testemunho porém, não será pleno se não contar com a evangelização explícita da Palavra, da Pessoa, do Espírito de Jesus Cristo, se não houver a partilha e a proclamação do Evangelho, do kerigma, com parresia. Esta é a segunda dimensão. E esta palavra, parresia, é um expressão que permeia todo os Atos dos Apóstolos e é uma palavra grega muito cara ao coração do Moysés, fundador da Comunidade, porque ela expressa este ardor e esta necessidade de se contar e partilhar a respeito do tesouro existencial encontrado e disponível a todos aqueles que quiserem, que é Cristo Jesus. Só Ele e Nele se tem vida nova, alívio da culpa, resposta para as questões existenciais da vida, possibilidade de libertação das compulsões, perdão dos pecados, AMOR, AMOR, AMOR, este amor absoluto, livre, leve, feliz, tão desejado... Só em Jesus encontramos a resposta para a questão da morte e sentido para o sofrimento, de maneira satisfatória. Só em Jesus podemos verdadeiramente ser humanos e sermos nós mesmos na plenitude de nossas potencialidades e na liberdade de nossas limitações. Só em Jesus podemos simplesmente ser pessoa, sem ser mil e um papéis, seja de super heróis, seja de anti-heróis. E se a gente já descobriu a pérola, e caminha neste belo, mesmo que muitas vezes doloroso caminho de cultivo da pérola, como não contar para muitas e outras pessoas qual o endereço do terreno onde a pérola se esconde?
Isso é um pouco do que é ser missionário, ser evangelizador, ser consagrado ao Senhor, ser católico, ser cristão no século XXI, ser Shalom.
E é por isso que a gente se esforça para aprender hebraico...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A Mulher Encurvada

Não sei se é influência do Sínodo do bispos que acabou de acabar, depois de vinte dias, em Roma sobre a Palavra de Deus, ou que é que está acontecendo, mas os textos de cada dia da Liturgia têm me falado tanto ao coração! Um deles foi o de ontem quando Jesus movido de compaixão e atenção com o estado de sofrimento de uma mulher doente e encurvada, vai ao seu encontro e a cura e liberta, para total desespero dos fariseus e doutores da Lei, pois Ele desrespeita o Shabat!
Por estar em Israel hoje eu entendo porque vejo como os judeus ortodoxos e os ultra-ortodoxos se comportam a partir das 15h de sexta-feira, por causa do Shabat. Até o sinal de trânsito fica no amarelo querendo dizer que naquele bairro as pessoas não estão trabalhando, estão em repouso em respeito ao Senhor. E aí Jesus vir e curar no Shabat, é de lascar! E eles criticam a mulher de ter procurado Jesus no Shabat, ao que Ele fica furioso, pois as pessoas terão sempre mais valor para Deus do que a Lei! Como eu preciso crescer verdadeiramente neste entendimento, nesta sabedoria...
Chamou-me atenção o texto bíblico dizer que a mulher não podia 'absolutamente erguer-se' e aí, esta cena, que sempre esteve lá fora, falando de alguém, tornou-se minha, por atualização do Espírito Santo, que me fez imediatamente pensar: de quais situações interiores, pecados, vícios de temperamento, vícios de comportamento, manias eu estou de tal forma presa que delas eu absolutamente não consigo me erguer? Diante de quais misérias, pecados, compulsões, justificativas, estou de tal forma encurvada, que meu rosto não consegue olhar livremente o de Jesus?
E passei a Eucaristia rezando com esta palavra, deixando que o Espírito Santo a atualizasse e fizesse o mesmo milagre acontecer em mim. Entendi que eu também, como aquela mulher precisava de libertação, precisava que Jesus viesse a mim, movido de compaixão, quebrando todos os esquemas e lógicas e me endireitasse! Entendi que havia realidades de sombra, dores, feridas, pecaods cometidos e pecados recebidos vida afora, falta de arrependimento, que eu carregava em mim há bem mais de 18 anos! Quanta murmuração, quanta falta de esperança, quantas mesmices em meu comportamento e vivência medíocre do Amor de Deus...
De tudo, o que mais me encantava era perceber a pressa, o desejo de Jesus de vir ao meu encontro, assim como aconteceu no relato do Evangelho. E dessa vez Ele não impunha somente as mãos, mas vinha a mim dando-se por inteiro: na Sua Palavra e na Sua presença total Eucarística. Ele também queria me livrar de todas as doenças que me deixam de cabeça baixa, incapaz de erguer-me. E foi o que Ele fez e faz: nos desencurva e nos faz andar para além daquilo que para nós é impossível e impossível há muitos anos, de 18 para mais! Aquela mulher olhou para Jesus, ergueu os braços e louvou e glorificou o Pai. Também eu podia fazer o mesmo.
E a partir deste dia a mulher de encurvada, passou a ser a mulher erguida, que reaprendeu a viver como pessoa livre, capaz novamente de olhar para o Céu.

domingo, 26 de outubro de 2008

Sobre o Amor

Passei esta semana refletindo sobre a Palavra de Deus e a vivência dela, mais ainda porque estávamos às vésperas das eleições de segundo turno em algumas cidades do Brasil, como Rio e São Paulo, e recebi alguns emails meio bravos, denunciando horrores dos candidatos, de um lado e do outro, e me senti impotente. Meu Deus, o que significa odiar o Eduardo Paes, a Martha Suplicy, o César Maia, o Gabeira, o Bush, o Lula, ou amá-los? O que acontece conosoco que quando se trata de discurso político a gente desumaniza, descontrola, perde limites, os bons valores do respeito à pessoa e vira bicho? Por que tanta imaturidade?
Eu sei que sou muito inocente neste universo político partidário, no mundo das negociações e da diplomacia. A gente se assusta e teme, e por isso foge e não se envolve. Vota e pronto, que é o que eu imagino que aconteça com a maioria das pessoas. Sei também que quanto mais extratos vão se sobrepondo nas complexas relações humanas, mais intricadas e cheias de nuances elas ficam. No entanto, sem generalizações simplórias, tendemos a refletir no macro o que aprendeu no micro, mesmo que isso não seja matemático e nenhuma garantia de repetição. O que quero dizer é que enxergamos os 'inimigos políticos', da maneira como aprendeu a enxergar qualquer inimigo, e esse aprendizado primeiro aconteceu no núcleo familiar de onde viemos e onde crescemos. E aí cabe a lembrança do singelo mas profundo artigo da Maria Emmir que publiquei no blog há poucos dias. Na família aprendemos a nos relacionar com as pessoas e com os primeiros 'diferentes' de nós que vão se perpetuar até o fim da vida.
Sem ser romântica, penso que preciso crescer e ver nos 'inimigos políticos', e vê-los no meu coração, para além dos discursos inflamados que tenho a seu respeito, humanizando-os e vendo-os como são: pessoas. Tenho o direito e o dever de discordar completa e honestamente das decisões, discursos e posturas políticas de qualquer figura pública, chegando mesmo a enfrentá-los, se for meu papel, mas jamais me esquecer de que ele ou ela tem a mesma dignidade que eu tenho de pessoa humana e de filho de Deus, se sou cristão! Isso é muito mais fácil de dizer do que de viver, mas não deixa de ser um grande desafio. E impressionantemente, posso testemunhar que vejo o Abuna Elias Chacour agir desse jeito. Se o meu candidato hoje perder, nas eleições do Rio ou de São Paulo, terei coragem de sinceramente e sem fingimento, como me pede a Palavra de Deus, de rezar pelo adversário, vencedor?
É interessante que quando defendemos 'o nosso candidato', o vemos e o descrevemos sempre como alguém, como pessoa, nas suas boas intenções e lutas, superações e atos de coragem e denúncia... quando porém, falamos do 'outro candidato', não o vemos como pessoa, só enxergamos as ações erradas e julgamos as suas intenções, ligando-o ao partido ou à ideologia que defende com a qual não concordamos. Talvez tenha que ser assim mesmo, e eu sonhe com um conto de fadas que não existe.
De uma coisa, porém, tenho certeza, que dar a César o que é de César e dar a Deus o que é de Deus, inclui também nossas escolhas políticas. Agora cito parte do texto escrito pelo Pe.Raniero Cantalamessa sobre o Evangelho deste domingo onde Jesus nos diz: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmo', que não deixa de ser um chamado a ir além, de conversão que me tira da subjetividade.
'Acrescentando as palavras 'como a ti mesmo', Jesus nos pôs diante um espelho diante do qual não podemos mentir: deu-nos uma medida infalível para descobrir se amamos ou não o próximo. Sabemos muito bem, em cada circunstância, o que significa amar a nós mesmos e o que queríamos que os demais fizessem por nós. Jesus não diz, note-se bem: 'O que o outro te fizer, faze tu a ele'. Isso seria a lei do Talião: 'Olho por olho, dente por dente'. Ele diz: 'o que tu queres que o outro te faça, faze tu a ele' (cf. Mt 7, 12), que é muito diferente. Jesus considerava o amor ao próximo como 'seu mandamento', no qual se resume toda a Lei. 'Este é o meu mandamento: 'que vos ameis uns aos outros como eu vos amei' (Jo 15, 12).
Esta caridade do coração ou interior é a caridade que todos e sempre podemos exercer, é universal. Não é uma caridade que alguns – os ricos e saudáveis – podem somente dar e outros – os pobres e enfermos – podem apenas receber. Todos nós podemos fazê-la e recebê-la. Também é muito concreta. Trata-se de começar a olhar com novos olhos as situações e as pessoas com as que vivemos. Com que olhos? É simples: 'os olhos com que quisermos que Deus nos olhe. Olhos de desculpa, de benevolência, de compreensão, de perdão...'

Quando isso acontece, todas as relações mudam. Caem, como por milagre, todos os motivos de prevenção e hostilidade que nos impediam de amar certa pessoa, e esta começa a parecer o que é realmente: uma pobre criatura humana que sofre por suas fraquezas e limites, como você, como todos. É como se a máscara que todos os homens e as coisas têm caíssem, e a pessoa aparecesse como é na realidade'. (Fonte: www.zenit.org.br em 24-10-08)

sábado, 25 de outubro de 2008

Fiz uma grande confusão!

Ei galera, leiam o que escrevi sobre política e Israel na data do dia 22 de outubro, duas postagens atrás, porque fiz uma confusão na hora de salvar. Mas acho que em vésperas de eleições vale a pena a gente pensar e saber certas informações! Um grande beijo e até amanhã, se Deus quiser!
E viva a fantástica e sábia Ingrid Bitencourt que depois de tantos anos como prisioneira política dá um banho de sensatez e lucidez, ao receber o prêmio como 'ministra da paz', ou coisa parecida. Depois comento mais a respeito.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O Salto Nosso de Cada Dia nos Dai Hoje!

Este texto que segue abaixo foi escrito pela Maria Emmir, co-fundadora da Comunidade Católica Shalom, que é uma mulher de grande vivência humana e espiritual, de uma inteligência ímpar, com grande dom de se comunicar pela escrita, fazendo muito bom uso das palavras. Ela é seguramente uma amante da Palavra de Deus. Achei este artigo publicado hoje no site da Comunidade e como ele me caiu como luva para as questões da vivência da radicalidade evangélica, principalmente na questão dos relacionamentos, quis partilha-lo com todos.
A gente pode até não ter mais 'inimigos', mas com que facilidade categorizamos as pessoas, dando rótulos a elas só porque são diferentes de mim, e nos acomodamos com essa atitude, suportando educadamente os que me são menos simpáticos ou com quem tenho menos afinidade, sem ter a coragem dos santos de dar o salto do amor. Estou incomodada com isso porque o Amor me leva a fazer deles, olhar para eles, e falar deles DENTRO DE MIM, como dom, como trampolim para a liberdade de quem decide amar e servir com os pequenos gestos movidos pelo 'amor de Deus que foi derramado em meu coração pelo Espírito Santo que me foi dado', como diz a Escritura em Romanos 5,5, e que me é dado novamente, diariamente na Eucaristia! Se eu pensasse mais sobre a paciência e o humor que Deus tem comigo eu teria muito mais tolerância com todas as diferenças que nos outros que me tiram do sério...
É por isso que deixo abaixo esta pérola escrita pela Maria Emmir, que eu espero que ilumine o coração de quem ler até o fim, tanto quanto iluminou o meu coração e me deu coragem de passar o dia 'treinando' e olhando internamente com afeição e amor para quem me é difícil aqui na casa.
Termino com uma frase linda que eu ouvi 'meu bispo' Elias Chacour dizer outro dia quando foi entrevistado sobre seu relacionamento de vida inteira com judeus, muçulmanos e todos os 'diferentes' que convivem nesta terra: " I believe that the worse enemy is what we ignore, not what we know about others".
Que maravilha! Papai não é perfeito!!!

Dentre as frases mas famosas de nossa infância, você e eu, com certeza, nos lembramos de algo como: “Se você for bonzinho, Papai do Céu vai ficar feliz!”; “Olha só! O anjinho da guarda está chorando! Você foi mau com seu irmãozinho! Que coisa feia!”. Este tipo de frase, repetido à exaustão durante nossa infância, pode ter tido, pelo menos, três efeitos devastadores.

O primeiro é a impressão de que Deus só nos ama se formos perfeitos e se fizermos tudo de forma perfeita. Como sabemos, isto é a mais redonda mentira. O segundo, é a noção de que só seremos amados se formos perfeitos. Isso, infelizmente, é uma tendência de nossa mentalidade egoísta e, portanto, não deixa de tornar-se, na prática, verdadeiro. O terceiro efeito, muito mais sutil que os dois primeiros – e muito mais avassalador do ponto de vista do relacionamento familiar e humano – é o de acreditarmos que só é digno do nosso amor quem é nada mais nada menos que... perfeito!

Cuidado! Não chegue rápido demais à conclusão de que, então, só Deus é digno de amor! Ao ler “perfeito”, leia “como eu quero que a pessoa seja”. Isso, naturalmente, exclui Deus, por três razões: primeiro porque, no amor verdadeiro, aquele que é Deus, toda pessoa é digna de amor. Aquela que não é perfeita, no entanto, é digna de um amor todo especial. Segundo, porque se só sei amar quem é como eu quero, isso exclui Deus, que não é como eu quero, mas é inteira e livremente quem Ele é. Terceiro, porque se estou pronto a amar quem é como eu quero que seja, então Deus também está de fora, pois é a mim mesmo que amo, não ao outro e, portanto, não a Deus.

O amor intolerante, orgulhoso, que exige dos outros a perfeição, não passa de imaturidade espiritual e, portanto, humana. Espiritual porque não entendeu ainda que o amor exige renúncia e vem de mãos dadas com a humildade e a tolerância, para que possa tudo crer, tudo suportar e tudo esperar, inclusive, o nada esperar, o nada exigir do outro. Este “amor” ou forma de relacionar-se é, ainda, imaturidade humana. É o amor do adolescente, que exige que o outro seja perfeito, seja como ele quer e espera que ele seja. À menor decepção, o outro é riscado do mapa dos seus relacionamentos. Seus critérios rígidos de julgamento e crítica não deixam passar o menor vestígio do que ele considere imperfeição. Todos têm de ver as coisas como ele, pensar como ele, agir como ele agiria, pensar como ele pensa, querer como ele quer, seguir o seu método infalível, observar suas regras salvadoras. Quem não for uma projeção da fantasia que faz sobre si mesmo, em sua onipotência orgulhosa e, por conseguinte, cega, não é digno do seu apreço, de sua admiração, do seu assim chamado amor ou amizade.

Os relacionamentos familiares e comunitários tendem a repetir ao infinito este comportamento e mentalidade adolescentes. Irmão, irmã, marido, mulher, pai, mãe, sogro e sogra, cunhados e primos, só são dignos do meu amor, admiração e amizade se forem como quero que sejam. Se forem a encarnação dos meus conceitos e desejos, se preencherem minhas carências de minha própria perfeição, então são dignos de mim, de minha companhia, de minha camaradagem e amizade. Podem contar comigo. Porém, se não forem o que exijo, espero, fantasio e, egoisticamente, desejo que sejam, então, adeus! Vai o marido para um lado e a mulher para o outro, os irmãos, primos e cunhados se mordem e esfolam, pais e filhos desistem uns dos outros, desanimados, idosos inadequados são peremptoriamente abandonados.

A maturidade espiritual e humana, aquela autêntica, que vem do amor, começará a desabrochar quando eu puder dizer: “Ele é diferente de mim. Não pensa como eu penso nem como acho que deveria pensar, não vê o mundo e as pessoas como eu creio que deveria ver, não tem as reações que eu teria ou que acho que ele deveria ter. Que maravilha! Ele não é perfeito! Posso amá-lo! Posso deixar de amar a mim mesmo para amá-lo! Que oportunidade fantástica! Tenho a chance de acolher meu irmão como Jesus o acolhe, como Ele me acolhe: porque sou pecador, porque não ajo sempre como ele agiria, porque não penso sempre como ele pensaria, porque não sou perfeito! Ah! Liberdade das liberdades! Posso, finalmente, amar! Encontrei, finalmente, motivos para amar meu irmão: Ele não é perfeito! Ah! Perfeita liberdade que vem tão somente de Deus!”.

Ao ler a vida de santos recentes, como Santa Teresinha, como Giana Beretta Molla, que tanto prezaram a vida de família e os relacionamentos familiares, fico a me perguntar em que ponto de nossa história perdemos o sentido do verdadeiro amor, aquele que é vivido em primeiro lugar na família. Aquele amor que preza e valoriza o sacrifício, a renúncia discreta e escondida, o exigir de si mesmo e não do outro, o dar espaço para o outro e, para isso, perder seu próprio espaço, o aceitar desaparecer para que o outro apareça e entender que, no amor encontramos toda alegria. Onde foram parar as virtudes? Onde está este elo perdido?

Não me sinto capaz de grandes análises. Além disso, não há espaço nem tempo. Sei onde encontrar o elo perdido e como, a partir da família, re-estabelecer ligações eternas. É urgente cavar no Evangelho e na vida dos santos o elo perdido do amor que é paciente e bom, que se alegra com a verdade do amar, com a justiça do sacrifício, com a descrição do escondimento, o Evangelho aplicado à família! Não somente aos monges, não somente aos celibatários, mas às famílias. Famílias que vivam e ensinem a viver a tolerância, a humildade, o tudo suportar, o nada exigir do outro, a acolhida do diferente, morrer para que o outro tenha vida. Famílias-escola de virtudes, de caridade, de maturidade, de fortaleza.

Um dia, quem sabe, voltaremos a ouvir frases como: “Shhh! O papai está dormindo, desliga o teu som!”; “Perdoe a mamãe, ela está preocupada hoje”; “Sei que ele está errado, exatamente por isso precisa do teu perdão. Se estivesse certo, não precisaria, não é verdade?”; “Perdoe, filhinho! Perdão, a gente não merece, a gente precisa...”; “Meu bem, precisamos deixar de trabalhar tanto para ficar mais com as crianças. Não importa se ganhemos menos. Teremos como dar-lhes mais!”; “Que tal a gente congelar este prato para quando o irmãozinho chegar de viagem? Ele é louco por peixe!”; “Tenha paciência, não sei se um dia seu pai vai mudar, mas o seu amor por ele pode mudar tudo”.

Neste dia bendito, quem sabe digamos frases como: “O Papai do Céu vai te amar mesmo se você não for bonzinho, mas, por amor a Ele, que tal não bater mais no irmãozinho?”; “O anjinho da guarda viu que você errou e já está vindo correndo te ajudar!”; “Não é maravilhoso que seu pai pense diferente de nós? Temos uma oportunidade imperdível de amá-lo e nos abrirmos para acolhê-lo!”; “Sei que você não gosta de fazer isso, filhinho, mas se você o fizer por amor a Deus e à sua irmãzinha você terá um tesouro no céu. Você aceita o desafio do sacrifício?”.

A exigência de perfeição do outro, a intolerância para com o imperfeito e o diferente de nós são, sem dúvida, chagas provocadas pelo egoísmo que tem início na família. Geram eternos adolescentes a baterem o pé pelo mundo afora, tristemente frustrados consigo e com os outros, ridiculamente exigentes da perfeição alheia. No livro e curso “Tecendo o Fio de Ouro” dedicamos toda a segunda parte a este fenômeno que é, sem dúvida, um dos males mais sutis da cultura ocidental hodierna. É espantoso verificar como as pessoas reagem muito mais forte e negativamente ao fato de não serem deuses, de não serem perfeitas, que a grandes dores do seu passado. As dores servem de desculpa para suas eventuais imperfeições, mas seus limites, necessidades e fraquezas que, admitidos e acolhidos, levariam à humildade, tolerância e misericórdia, são, na maioria das vezes, rechaçados, pois são vistos como prova de que não são dignos de serem amados. A reação inicial dos que fizeram o curso foi tão forte que fizemos uma segunda edição mais esclarecedora e publicamos um livro humorístico, “Joaquim e Sua Padiola”, na tentativa de levar a todos a entendermos que quando somos fracos, então é que somos fortes e quando aceitamos ser fracos, então teremos aberto o caminho para a humildade, tolerância e caridade, para o amor gratuito, fruto de uma libertadora decisão de amar o não amável, o não aceitável, como renúncia livre e amorosa, como exercício maior de amor a Jesus, nosso Esposo.

Na família – quem diria – esconde-se o segredo do amor esponsal a Jesus oculto e revelado em cada homem imperfeito!

Maria Emmir Oquendo Nogueira

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Um Pouco de Política

Esta manhã um grupo de 13 amigos episcopalianos americanos (corresponde aos luteranos europeus), teve uma conversa, meio entrevista, de 2 horas com o Abuna Elias Chacour, e eu tive oportunidade de ouvi-lo falar longamente após servir café e bolo. Foi um 'banho que tomei' de política e história e análise da Igreja e do Mundo. Como me senti ignorante e como me senti grata por poder aprender!

Fui apresentada como leiga consagrada da Comunidade Shalom a este grupo de amigos do bispo que há anos o apoia através de uma associação chamada 'The Pilgrims of Ibillin'. Eles promovem peregrinações à Terra Santa, necessariamente passando pela vila ao norte da Galiléia, Ibillin, uma das mais simples financeiramente falando, angariando fundo para o grande complexo educacional que existe lá. Em Ibillin o bipo exerceu seu ministério sacerdoral desde a ordenação, mudando-se para Haifa em 2006, somente depois de ser sagrado arcebispo. Há 26 anos o então somente Abuna Chacour fundou uma pequena escola com aproximadamente de 20 alunos, com o propósito de dar oportunidade às crianças árabes, principalmente às meninas, de terem alguma educação e, consequentemente, um futuro melhor. Nascia assim a 'Mar Elias Educational Institutions', mar significando Santo, ou o Profeta Elias, em árabe.
Os americanos perguntaram muito a respeito da situação de política de Israel. Entre as coisas que ouvi e que vale a pena serem repetidas, é que um dos pontos positivos da terrível e estúpida guerra de um mês em 2006 contra o Líbano, é que o Estado de Israel teve que abaixar sua arrogância ao entender que seu exército não é invencível. E esta constatação ficou clara para o mundo todo. O Abuna também comentou que, individualmente, até na esfera ministerial há concenso a favor de uma negociação efetiva pela paz com os palestinos. Ninguém mais suporta a tensão, as mortes, o estado de alerta, o medo entre as pessoas. Só que 'algo acontece' na Cúpula mais alta das decisões, que 'empaca' as negociações que não vão para frente e os palestinos continuam reféns em sua própria terra, como é a triste e aviltante situação dos árabes-cristãos e os árabes-muçulmanos de Belém.
Eu realmente acredito que a oração pode mudar o coração dos homens, pois pode apressar e trazer a misericórdia e a luz do Senhor para os corações duros e cegos! Devemos rezar e rezar de todo coração, neste final de semana, pois temos segundo turno de eleições no Brasil e eleições presidenciais nos EUA. Nos pediu o bispo que rezássemos pois sabemos que o que acontece na América do Norte afeta o mundo inteiro, mais ainda Israel e a Terra Santa. Ainda não sabemos verdadeiramente se o Barak Obama vence porque os votos que fazem a diferença, vem da Flórida, e foi exatamente de lá que chegaram os votos que reelegeram o Bush quando todo mundo tinha certeza da vitória do Al Gore. Dessa vez, porém, a briga está ainda mais acirrada, e isso eu fui entender aqui, porque a colonia judaica-americana moradora na Flórida é significativa e pode levar o candidato 'negro de nome muçulmano' perder sua vantagem percentual e voltar para casa como perdedor.
Mais uma vez os judeus demonstram sua influência e poder no mundo! Rezemos para que a soberana misericórdia do Senhor acompanhe e ilumine os eleitores lá e cá. Melhor dizendo: lá e lá, nos EUA e no Brasil. Tem horas que eu esqueço que não estou em casa... Shalom!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Dar a César e dar a Deus como Jesus

Nunca pensei que esta passagem do Evangelho de domingo passado, quando Jesus responde à provocação dos fariseus sobre pagar ou não impostos, dizendo que eles dessem a Deus o que fosse de Deus e a César o que fosse de César, fosse gerar tanta reflexão em meu coração. Com certeza esta é uma daquelas palavras de sabedoria ditas por Jesus, inspirado pelo Espírito Santo, que gera uma revolução conceitual, uma mudança de paradigma, que terá sempre repercussão no coração de quem tiver ouvidos para ouvir, seja em que cultura for, em que tempo for.
Fiquei a me perguntar se eu estava dando verdadeiramente a Deus o que era de Deus e a César o que era de César, ampliando minha visão e compromisso com um por causa do outro. Ao responder desta maneira 'encarnada', Jesus dá a entender que o Reino que Ele viera implantar e que está no meio de nós, ESTÁ NO MEIO DE NÓS, ou seja, não virá dos ares! E viver neste Reino e construi-lo implica em pagar os tributos (impostos), viver em sociedade, gerir a vida pessoal e comunitária, estudar, trabalhar, descobrir, inventar, criar arte, criar tudo, fazer a vida acontecer, em toda a sua formosura e plenitude. Assim a criatura humana 'domina a criação' segundo ordem do Senhor dada desde Gênesis, e se perpetua na História e na cultura de todas as raças e nações.
Jesus quebra a dicotomia entre 'Deus e César', me parece. Fica evidente que se eu não der a Deus o que é de Deus tampouco darei a César o que é dele, na medida justa. Se prescindo de Deus farei de César e das coisas temporais, inclusive do poder e da política, um outro Deus, fruto das minhas mãos, um deus de pés de barro que deixa árido o coração, e torna as desolações cada vez mais longas e constantes. Mas não somente prescindindo de Deus farei de César o meu Deus. Se vivo uma experiência de Deus que não alcança e encarna as exigências de transparência do Evangelho ilustradas na própria vida e pessoa de Jesus, também não estou dando a Deus o que é de Deus. E tendo Jesus como modelo, como protótipo de plenitude humana e de felicidade, a bendita que a gente tanto busca e precisa, eu estou pensando em sua castidade, desapego, perdão, honestidade, respeito ao sacrado, horror à hipocrisia, simplicidade, respeito à cultura, à família, à vida, às pessoas - todas elas. Falo de sua sabedoria para gerenciar o tempo, as pessoas, os amigos, a capacidade de se divertir, de conversar, de acolher e dar-se ao outros, sabendo ficar sozinho e ficar sozinho também para ficar com Deus, o Pai, e rezar, rezar muito, sem temer o silêncio, a contemplação. Mas tem mais, tem muito mais a respeito de Jesus nas páginas do Evangelho.
Enfim, compreendo que em Jesus é possível aprender a dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. E Jesus não estava 'dando lição de moral nos fariseus', mas queria ensina-los a viver e viver bem. A mim cabe ver para qual prato da balança estou pendendo, fazendo de César, Deus, ou não dando a Deus aquilo que lhe é devido de meu amor e abertura para uma conversão ainda mais profunda, que 'faça brilhar diante dos homens as minhas boas obras para que os homens glorifiquem ao Senhor que está nos Céus'.

domingo, 19 de outubro de 2008

Algumas Novidades


No dia de Sta.Teresa d'Ávila tomei a decisão de começar a estudar, por conta própria, o hebraico com a ajuda da Internet e de alguns livrinhos que ganhei. Achei no You Tube algumas aulas para iniciantes, tanto em inglês quanto em português muito boas, separei um caderninho, e deste então, tenho estudado meia-hora que seja, por dia. Estou às voltas com aprender a desenhar as 22 letras do alfabeto, que não tem vogal nem maiúscula, sabiam? mas que tem um 'desenho' para a escrita cursiva e outro para a escrita impressa, que torna o trabalho duplo. Alguém pode imaginar o que de imediato também pensei: para que aprender a escrever à mão se ninguém mais escreve à mão? Só que há muitas placas e sinais de lojas, impressos, escritos com as letras da escrita cursiva, ou seja, tem que aprender os dois. Confesso que é desenimador.

Comecei a entender desde então, qual é a experiência pela qual passa um adulto analfabeto na tentativa de aprender a juntar som e forma, e dar sentido a isso. Quando a gente é alfabetizado quando criança e experiência é totalmente diferente pois o mundo está sendo apreendido, sorvido, não há medo, mas quando se é adulto e se está numa outra cultura, aprender a língua, o alfabeto, a pronúncia, o vocabulário, é uma tarefa e tanto! Tudo é diferente no hebraico, até a direção, pois a leitura e a escrita são ao contrário, da direita para a esquerda, a gente sofre. Mas até esse sentido de contrário a gente tem que questionar pois como o hebraico, língua semítica, é anterior ao latim, nós é que passamos a escrever ao contrário, e não eles! Só rindo para não chorar! Me senti tão pequena, com o lápis na mão, copiando traço por traço, até formar cada alef, bet, guimel, e vendo os meus primeiros garranchos se formarem, escrevendo com aquela insegurança típica dos iniciantes. Lembrei-me da Francisca lá de casa, voltando a estudar com quase 40 anos, para aprender a ler e a escrever, e todo o seu esforço para assinar seu nome e anotar um número de telefone e o nome de alguém. Como eu te entendo agora as Franciscas e os Franciscos deste meu Brasil de tantos iletrados!

Para poder me auto incentivar, fui com a Viviane para Haifa, participar (com todas as devidas reticências no que se refere à palavra participação) da missa em hebraico no rito latino. Ela é esta moça do meio na foto acima, a única da casa que estudou o hebraico e está aqui há três anos ou um pouco mais, e que trabalha na pastoral hebraica. Nesta casa em Haifa, coordenada pelo Pe.David, jesuíta, participam da eucaristia, judeus de origem polonesa e judeus israelenses convertidos ao Cristianismo. É um grupo pequeno de adultos, não chega a 20 pessoas, e a Vivi dá aula de catecismo para umas adolescentes, que se preparam para a crisma. Consegui acompanhar toda a liturgia porque sei o que está acontecendo, e com muita alegria e propriedade, desejei SHALOM na hora do abraço da PAZ! Foi uma experiência muito interessante, mais uma!
Também inusitada é a vocação do padre David Neuhaus, sj, que é filho de judeus alemãos fugidos da Alemanha para a África, na II Guerra Mundial, sendo sul-africano de nascimento. Quando criança veio com os pais para Israel, como cidadãos israelenses e aqui, adoslescente, começou a se interessar pelo Cristianismo e pelo Catolicismo. Os pais quase morreram de desgosto mas disseram que ele esperasse fazer 18 anos. Quando se tornou maior de idade não somente quis ser batizado, mas sentiu o chamado ao sacerdócio e hoje é jesuíta, trabalhando como pacifista e dando assistência a outros judeus católicos, cidadãos de Israel.
É tanta história interessante que a gente vai sabendo e ouvindo, que a vida vai se tornando ainda mais bela e mais motivos se tem de louvar a Deus por seus caminhos perfeitos sobre toda a Terra. Quanto a mim, rezem para eu conseguir aprender e perseverar diariamente no estudo do hebraico. Amém!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

É lindo demais!

Dizem que a gente é um pouco mãe dos sobrinhos, o que eu concordo plenamente! Não pude ter muito contato diário e semanal, a não ser nas férias anuais, com os meus sobrinhos cariocas, Gabriel, Alessandra e Bruna, agora jovens de 19, 18 e 15 anos, porque ao me mudar para Fortaleza, em 1990, os dois mais velhos eram bebês ainda, e a Bruna nem tinha nascido! Já com as crianças de Fortaleza, Marco (que a gente só chama de Marquito), Lucca e João, pude conviver nos útimos 6 anos intensamente, sendo eles ainda bem pequenos, e sempre nos demos muito bem.
Que saudade sinto hoje de pegá-los para dormir em casa, comer pizza e pipoca com guaraná antarctica, ou uma boa macarronada, ver um DVD ('Searching for Nemo' pela enésima vez), depois de termos participado da missa no Shalom!...
Eles são fofos demais e crianças especiais, criadas sem muitas extravagâncias e consumismos. São meigos e carinhosos, doidos por computador, por leitura (por incrível que pareça, estavam lendo todos os livros do Monteiro Lobato, além dos Harry Potter e as Crônicas de Nárnia) e bastante bagunceiros. Também gostam de bichos e amam a Jesus e Nossa Senhora. Como não podia ser diferente, já que são Etienne Arreguy: adoram conversar e contar caso, o João então, ganha todos, mas o Marquito não fica atrás. E mesmo o Lucca que é mais comedido e reflexivo, se pegar de jeito, é bom de papo também.
Este da foto é o Lucca, super lindo, o mais meigo, que hoje faz 12 anos e que é um menino sobre quem o Senhor colocou Seu olhar e eleição de maneira especial. Desde os 4 anos ele diz que quer ser sacerdote, que o Jesus o chama para ser padre! Deus te abençoe, meu filho, parabéns! E como sempre falamos: amo-te! adoro-te! Minha bênção, carinho, orações diárias, e saudade também para o Marquito, o João, o pai e a mãe! Rezo sempre para a família de vocês, e o Senhor há de ajudá-los a vencer todos os problemas e desafios!
É muito bom constatar que as pessoas podem estar nos lugares, vivendo perto ou longe umas das outras mas, de verdade e na verdade as pessoas a quem amamos, vivem é no coração da gente!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Os amigos do Céu

Desde ontem penso muito na popularidade dos santos e do porquê eles nos atraem: com certeza é porque eles e elas nos apontam as realidades eternas e nos 'empurram' para Deus, para Nosso Senhor.
Por ter lido um pouco mais os escritos de Sta.Teresa d'Ávila esta semana, e hoje festa de Sta.Margarida Maria de Alacoque, vejo como a vida destas mulheres, com as devidas diferenças culturais e circunstanciais, se assemelhavam às nossas, nas incertezas, imperfeições, vontade de acertar e sede de liberdade. Sta.Teresa diz, com todas as letras, o quanto passou a sadiamente desconfiar de si mesma, de sua 'bondade', e de quanto passou a confiar e se entregar irrestritamente à misericórdia de Sua Majestade. Foi já adulta, com 47 anos, que Teresa passa por uma 'segunda conversão' que a leva ao trato sério de amizade com Jesus, e sério aqui não significa circunspecto, mas visceral, que é como ela define oração: um trato de amizade, que exige tempo, lugar, dedicação, amor, busca e encontros.
Também me chama atenção e partilho aqui hoje, o quanto Teresa diz ser saudável e necessário pedir a Deus - ao Espírito Santo - o dom do arrependimento, o dom de chorar pelos próprios pecados e erros, para que as lágrimas lavem a alma e a inebriem da misericórdia e do amor louco do Pai, que tudo perdoa, que corre ao encontro, que cobre de beijos como está descrito em Lucas 15. Mas esta graça é uma graça espiritual e sobrenatural, é dom do amor de Deus e não tem nada a ver com culpa, auto-comiseração, justificativa, hiper-reflexão. Talvez tenha muito mais a ver com a célebre oração de S.Francisco, rezada por toda a vida e ouvida por seus primeiros companheiros: Senhor, quem és Tu? e quem sou eu?

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Dia de Santa Teresa, esta grande professora!

Fui surpreendida esta manhã com uma chuva fria e forte que me fez lembrar os anos vividos em SP, quando saía para trabalhar munida de sombrinha e de sapato fechado, pois a cidade ia chorar o dia todo. Depois, no CE, aprendi que chuva é festa, é coisa para se contemplar, é coisa pouca, de contadas semanas e caracteriza o que os nordestinos chamam de inverno.
Como será por aqui, em Israel? Havia muita satisfação pela chuva de hoje pois, mesmo a Galiléia sendo muito verde e coberta de árvores e pinheiros, com kibbutz por todos os lados, a estiagem estava por demais longa, interferindo no nível de água do Mar da Galiléia ou Lago de Tiberíades, que é a mesma coisa, reservatório e única fonte de abastecimento de água doce do país, segundo me explicaram. A chuva então, bendita, foi resposta de Deus para judeus, cristãos e muçulmanos, e trouxe certo alívio, pois quando ela começa, dura um tempo.
A chuva rápida e forte de ontem lavou toda a natureza ao redor, e fez subir aquele cheiro inconfundível de terra molhada que agrada não somente as narinas, mas o coração e faz a gente sorrir. Ao descer para Haifa de ônibus a paisagem era simplesmente deslumbrante. Acho que foi um mimo de Deus esta minha primeira chuva na Terra Santa! Falo assim porque este era o vocabulário de Santa Teresa d'Ávila, cuja festa se celebra hoje. Esta era sua maneira de denominar os sinais de amor que recebia de Sua Majestade, Jesus, seu grande Amigo e Senhor: ela os chamava de mimos.
Quantos mimos recebi hoje! Além da chuva e do friozinho que começa a se apresentar entrecortando os últimos dias quentes de verão, tive a alegria de receber email de meus amigos professores no dia do Professor. Pude lembrar assim, desta minha profissão que mais do que uma capa que sobrepuz a mim, é quase um estado de alma herdado e descoberto no decorrer da vida: partilhar o conhecimento e aprender junto com outros professores e com os próprios alunos. Bendito seja Deus por todos os professores e professoras que tive ao longo da vida, sendo que alguns, seguramente, foram e são verdadeiros mestres e espelhos, saídos da própria família, nas gerações que me precederam. Benditos alunos que tive e para quem fui professora!
Mais um mimo: também em 15 de outubro minha irmã e meu cunhado fazem 20 anos de casados! Partilho com eles a alegria de tantos anos vividos em comum - eles lá no Rio de Janeiro - tendo a coragem de não desistirem quando o amor se esconde e toma jeito de renúncia e exige perdão e, com passo firme, continuarem a se amar e a querer se amar, como dom recíproco.
Eles têm uma família linda de três jovens: Gabriel-Bimbo, Alessandra-Lélis e Bruna-Filhote-de-tia-Ena. Quanta saudade! Deus os abençoe e os mantenha unidos até o fim. Queria hoje poder comer uma pizza com eles e toda a família do Rio, deixando-os depois saírem para namorar um pouco...
Por fim, como Comunidade e Vocação Shalom, homenageamos Sta.Teresa d'Ávila, que é esteio e baluarte da nossa espiritualidade. Ela nos aponta a oração profunda, fiel e demorada, comprometida, como caminho seguro de encontro com o Amado e o Esposo do coração de todos os homens, o Senhor Jesus Cristo, o grande Amigo. Santa Teresa é aquela que fala da Amizade de Jesus com os corações, com o coração de cada pessoa que se aproxima dele.
O dom de Deus, a primazia de sua graça para que nós conheçamos e façamos este trato de amizade com Jesus, nos é garantida, mas isso não torna menos trabalhosa a vida de oração. Como é difícil rezar! Como é trabalhosa esta fidelidade, esta busca, este cavar até encontrar a pérola preciosa... mas ela está lá, no fundo da alma, da nossa alma, em quem tem sede de Deus, tem sede da paz e da segurança de Sua presença.
Fiquei com vontade de perguntar aos meus amigos e amigas: qual foi a última vez que você foi sozinho ou sozinha, para um lugar tranqüilo, passar um dia inteiro em silencio e oração, sem celular, sem notebook, sem mp3, sem poder e querer ser acessado, simplesmente acompanhado de sua bíblia, um caderno, uma caneta e seu coração aberto para se derramar na presença do Senhor e poder beber e se encharcar do Seu Amor? Qual foi a última vez que você largou todos os afazeres na confiança de que o mundo não ia acabar, e ficou com o Seu Salvador, o Seu Amigo, com Jesus, aquele que te conhece por inteiro e te ama por inteiro? Quando foi a última vez que você simplesmente foi para perto do Pai com o seu coração de menino ou menina, deixando que Ele te amasse e descomplicasse suas complicações e nós?
Ser missionário e ser pobre tem essas vantagens: a gente faz isso com menos dificuldade. A saudade de Deus e a determinação de buscar esta Amizade, porém, este encontro de amor com o Pai das Misericórdias, é possível para qualquer um que queira. Aí está o segredo: dar atenção ao desejo que se esconde dentro do coração.
Partilho aqui, por último, um pedaço de um poema de Sta.Teresa que ganhei hoje no sorteio, em casa, e que foi o mimo mais pessoal de todos pois traduz bem os anseios e perguntas que tenho em mim. E diz assim:
Se me quereis descansando, por amor o quero estar;
Se me mandais trabalhar, morrer quero trabalhando.
Dizei: onde? como? e quando?
Dizei, doce amor, por fim:
Que mandais fazer de mim?
Que mandais fazer de mim?

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Não arrefecer

Acredito que todos estejam lendo e acompanhando o Sínodo em Roma, sobre a Palavra de Deus e e S.Paulo, por causa do ano dedicado a ele, o querido apóstolo. Para quem ainda não conhece, gostaria de apresentar um outro site de notícias da Igreja, além do http://www.zenit.org/ que traz notícias fundamentalmente escritas, que se chama http://www.h2onews.org/, que é muito interessante porque traz filmes e imagens, vale a pena conferir. Quem quer, se cadastra para receber diariamente uma newsletter no idioma da sua preferência - tem até árabe! - e pronto, fica ainda mais informado sobre tudo.
Preocupante no momento é a perseguição covarde e injusta que tem sido feita contra os cristãos-católicos na Índia, que têm sido obrigados a sair de suas casas sob perigo de morte, se refugindo sei lá aonde. Várias dezenas de famílias já morreram! E as autoridades não fazem nada porque, se defenderem esta minoria da população que é cristã, contra a violência de extremistas hindus, podem perder votos nas próximas eleições que se aproximam...
Eu tive que vir para Israel para começar a entender e ver como há cristãos que sofrem por causa de sua fé em Jesus e na Igreja, sua Amada Esposa, neste mundo... Peço demais a misericórdia de nosso paciente e bom Senhor, para a minha omissão na evangelização e na ousadia de levar verdadeiramente uma vida de santidade e compromisso. Como diz o Moysés, 'qual foi a última vez que meu coração participou do sofrimento de Deus pela Humanidade?'.
Como é fácil a gente viver uma vida cristã, sacramental, subjetiva e acomodada, numa zona de conforto onde nada me perturba, onde tudo está seguro e assegurado, e onde eu não sou capaz de sofrer nada de nada, nem uma contrariedade, nem uma renúncia por causa do Reino de Deus...
S.Paulo, intercede por nós, de vida consagrada ou não, mas eleitos de Deus, para que a nossa conversão e encontro com a pessoa de Jesus se assemelhe a tua e que o nosso coração arda de parresia, de desejo incansável de evangelizar com a vida, com a palavra, com a oração, com o compromisso, com tudo o que se tem e tudo o que se é!
Não deixem de checar os sites indicados e de interceder pelos cristãos e católicos que sofrem diariamente por causa de sua fé! Amém.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Shalom porque hoje é Yom Kippur!

Ontem ou anteontem uma senhora judia puxou conversa comigo no ônibus, em hebraico primeiro, depois passamos para o inglês, e entre amenidades sobre a alegria de ter nascido em Haifa e ser criança quando da criação do Estado de Israel, vi quanto a população judia trata com desprezo a população árabe, como se a tolerasse. Não é a primeira vez que vejo um judeu falar, por exemplo, que o motorista dirige mal, que a rua está suja ou tal lugar não vai pra frente porque a pessoa ou seus habitantes são árabes! Fico com muitas dúvidas se é por preconceito ou por conceito estabelecido e enraizado de que os judeus são melhores que os árabes, tratados e 'deixados' aqui na terra como que por condescendência... Ao chegar na parada que ia descer, a senhora me desejou um belo: Shalom! My best wishes for a Happy New Year! E me lembrei que mesmo a expressão shalom tendo perdido a força do seu significado bíblico original para a população que fala hebraico, passando a corresponder ao nosso corriqueiro: oi! tudo bem!, para mim, Shalom, significa o Shalom de Jesus Morto e Ressucitado! Daí que acolhi o cumprimento de todo coração, desejando o 'meu Shalom' para ela, que celebrou o ano novo judaico na semana passada, dia 30 de setembro.
Hoje é a celebração da festa do Yom Kippur, dia do perdão amplo, geral e irrestrito aos escravos e aos inimigos, os de dentro de casa e os externos...só não se arrisque a passar de carro ou mesmo a pé, no bairro ou nas proximidades do bairro dos judeus ortodoxos pois eles jogam pedra mesmo, pelo desrespeito, pela afronta, porque hoje é dia santo, é dia de recolhimento e para quem desrespeita, não tem perdão! Ironia...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Que tristeza!


Quero deixar registrada aqui a minha tristeza pela não eleição do meu irmão de Comunidade, Zé Nilson para a prefeitura de Quixadá. A cidade merecia um homem e um administrador da estirpe dele: homem de Deus, de verdade, coerente, de oração e conversão. Pai de família leal e vocacionado, bom nas relacionamentos humanos e na gerência criativa de poucos recursos, como tem feito por quinze anos com a Maternidade Jesus Maria José e com a Faculdade Católica Rainha do Sertão. Missionário consagrado da Comunidade de Aliança Shalom, pessoa de total confiança do bispo emérito, D.Adélio Tomazin, pessoa em quem se pode confiar, porque tem coragem e fé, ética e ficha de vida verdadeiramente limpa. Eu imagino a dor para todos que o cercaram e o apoiaram, arregaçando as mangas e dando tudo de si para que a mudança acontecesse. Mas parece que ainda não chegou a hora de Deus para este novo acontecer em Quixadá, pois ainda não aconteceu no coração das pessoas, os eleitores. O novo na ética, o novo na gestão dos recursos, o novo na valorização das pessoas segundo o que Deus pensa e quer para seus filhos. Ainda há muito que se educar em política na nossa nação...

Zé, obrigada por tudo! Fico meio sem palavras porque quando a decepção e a injustiça batem à nossa porta, há que se calar e olhar para Aquele que conhece todas as dores e nos aponta Sua Cruz gloriosa como esperança e sentido para tudo. Por ter sido a revisora do seu belo livro 'Mãos Múltiplas', me atrevo a dizer que 'te conheço' um pouco e por isso imagino que será no seio da família, no silencio diante da Imaculada, lá na serra, em oração, que você encontrará no seu Senhor o sentido para esta dor e a coragem para tomar fôlego - e também uma cerveja! - e seguir em frente como um homem que cada vez mais, mesmo não eleito para prefeito, tem se tornado referência e modelo para jovens, políticos e pessoas, qualquer pessoa que luta pelo bem comum, seja no Ceará, seja em qualquer município deste país!


Parabéns Zé pela sua vitória como cidadão, como filho de Deus, não somente por quatro anos, mas no decorrer de toda a sua vida!

sábado, 4 de outubro de 2008

Eleitos de Deus

Por ser hoje festa de S.Francisco de Assis, o baluarte masculino da vocação Shalom, (Sta.Teresa d'Ávila é o baluarte feminino), nós tivemos uma pequena celebração na varanda da nossa casa, antes do café da manhã, para louvarmos o Senhor por tão grande santo que nos 'empurra' para Deus, sempre. Francisco nos ensina a tudo dar e a amar a Dama Pobreza, ainda hoje, no século XXI, para que Deus esteja no centro de nossas vidas, não como uma ideía, mas como realidade. Ele nos fala também do coração pequeno e simples, sempre grato, sempre disposto a louvar o Pai das Misericórdias. Mesmo tendo sido breve, o momento de oração foi marcado pelo abandono nas mãos do Espírito Santo, para que Ele leve à plenitude a obra iniciada em nós, leigos consagrados na vocação Shalom. Como sinal simbólico de nosso desejo de tudo dar, de sempre recomeçar, de novamente perdoar, cada um plantou pequenas sementes num pedaço do jardim, como sinal de que continua disposto a morrer para si mesmo para que possa haver algum fruto para o Reino de Deus. Assim que terminamos, tiramos esta foto. Vou aproveitar para tecer algum comentário sobre cada pessoa das duas missões, de Haifa e Isifya, que até segunda ordem, moram todos juntos - os rapazes dormem num apartamento que existe no subsolo do asilo, e fazem todas as refeições e atividades comuns na casa onde moro.
Na ordem: atrás temos a Yara, cearense de Fortaleza, que tem toda a família, pais e irmã, na Comunidade de Aliança. Ela é a atual formadora comunitária, há dois meses foi transferida para cá de Nazaré, e é a caçula da casa. Ela tem um jeito meigo, feminino, e muita vontade de amar e acertar. Toca violão e tem uma voz bela e afinada, forte, que surpreende diante do seu corpo pequeno e magro. Gosta de plantas e de desenhar. Se determinou a estudar o árabe e se comunica bastante bem, mais agora que exerce seu ministério no asilo. Na frente: Andréa, baiana de Salvador, aliança missionária como eu, a quem vim substituir na Cúria, no trabalho com o bispo, grande radialista. Rimos muito com suas distrações e quando desata a fazer programas de rádio como se estivesse ao vivo. É apaixonada pela lingua inglesa e quer muito servir a Deus, encontrando seu lugar na Vocação e na Comunidade. Está aqui há um ano mas não fala o árabe. Escondida atrás do noivo, vemos a Silvânia, pernanbucana, 'mãe da casa', batalhadora, mulher inteligente de grande coração. É lindo vê-la louvar o Senhor. É uma irmã e tanto e é quem tem a paciência de passar henna no meu cabelo de três em três semanas. Trabalha no asilo e é a dispenseira da missão, como se diz nos mosteiros, aquela que tem a árdua tarefa das compras da alimentação, com o dinheiro sempre curto.Tennessee, de quem eu falo sempre e que mora aqui há 4 anos, é um pequeno grande irmão, cearense até a medula que , com a Silvânia, formará uma bela família na Terra Santa. Terão filhos israelenses-brasileiros que aprenderão o árabe e o hebraico, além do português, e com seus pais, serão instrumentos de paz e reconciliação neste país. Acho que eles nunca mais voltam para o Brasil. O Tennessee ama a cultura árabe, os cristãos árabes, e quer dar a sua vida até o fim por este povo, para que o Shalom de Deus, a salvação chegue ao coração do homem que mora aqui, seja árabe, seja judeu. Ele é um homem de oração que se parece com o Moysés. É brincalhão, muito centrado e disposto a concretamente sacrificar-se e calar-se para o bem comum. Sabe o que quer e é sempre bom aprender e conversar com ele. Depois vem o Tales, cearense também, que está voltando para o Brasil em novembro, depois de um ano e meio aqui, trabalhando com os jovens. Talvez fique mesmo em Fortaleza servindo nas jornadas de evangelização que são sua grande paixão apostólica. Segurando o quadro de S.Francisco temos o Leandro, do Amapá, que do alto de seus 1,88cm esconde um bondoso coração, brincalhão, às vezes infantil mas responsável e sedento de Deus. Trabalha no asilo com os idosos. É o meu sobrinho e companheiro de caminhada, de cozinha, de lavação de louça. Nos damos muito bem! Ao meu lado temos a Viviane que é a alegria da casa: espontânea, barulhenta, adora doce - como eu - cozinha muito bem, é prestativa, dinâmica, simpática e responsável. Tem as lágrimas no bolso, como se diz na minha família, mas também o coração. É a única que fala hebraico e é quem toma conta da pastoral judaica em Haifa, além de trabalhar no Centro de Evangelização. É outra para quem virei tia! Por fim, a Lorena, responsável pela missão de Isifya e de Haifa, e quem está há mais tempo aqui: 6 anos. Tem muita experiência de inculturação, fala bem o árabe e ama este povo e esta terra. Boa administradora, já sofreu e superou muitas dificuldades e desafios na missão, inclusive o mês de guerra em 2006, junto com Viviane e Tennessee. Pessoa de humor estável, brincalhona, muito reservada, mesmo sendo boa de conversa e boa de garfo. Tem profundo amor e compromisso com o Senhor e com a vocação. Se santifica administrando o asilo, os funcionários do asilo, e respondendo por todos nós diante das 'autoridades locais'. Eu a chamo de gata, por causa do seu jeito meigo mas ressabiado, mas é uma pessoa em quem se pode confiar. Ela foi um grande instrumento de Deus ao orar por mim na reciclagem de 2007, para que eu acabasse partindo em missão...e viesse parar aqui!


Este é um detalhe mais próximo meu com o ícone e a famosa oração de S.Francisco. Também queria mostrar o meu vestido novo (pode rir!), que na verdade é uma bata, que eu quis usar neste dia de festa, de começo de meia estação. Festa de S.Francisco e festa em Ibillin, pela ordenação de dois novos sacerdotes (casados!), na diocese da Galiléia. Ao sairmos do café da manhã festivo, viajamos meia hora para assistirmos o esfuziante e cansado bispo Elias Chacour, sagrar dois novos sacerdotes para o povo de Deus, para a vinha do Senhor como ele disse na homilia. Foi linda a cerimônia com ritual próprio, greco-melquita, cheio de música e muita emoção. Não foi tão solene quanto outras ordenações que já assisti, no rito latino, mas valeu a pena, e teve seu encanto e unção próprios. O que mais me chamou a atenção foi o fato dos padres serem casados e ser a família, esposa, pais e os filhos já jovens (no caso de um dos neo-sacerdotes que já passou dos 40), a lhes entregarem os paramentos. Foi emocionante! Nesta foto abaixo temos o bispo num momento da cerimônia abençoando o povo. Ao seu lado temos dois abunas que trabalham na Cúria: Maher e Fouzi.


Outro momento da celebração, após a leitura do Evangelho, feita pelo neo-sacerdote, Abuna Michel, quando ele entrega o Evangelho ao bispo.


Consegui tirar esta pérola de foto, com este casal idoso de uma vila bem do interior da Terra Santa, que mostra como se parece um casal árabe-cristão que já vivia nesta terra antes de Israel ser criado. Na maioria destas vilas, estes cidadãos da terceira idade são, na maioria, pastores, cristãos, falam somente o árabe, tem quase nenhuma influência judaica e tem um jeito acentuadamente humilde e santo, radicalmente comprometidos com Jesus e com o Evangelho. Eu fiquei encantada por ter sido apresentada a eles e por descobrir, na minha ignorância, que este véu usado pelo senhor não é típico dos muçulmanos, mas é anterior à religião de Maomé, é típico dos árabes, beduínos, inclusive dos cristãos. Bendito seja Deus em todos aqueles que são seus!



Minhas palavras finais para quem me leu até aqui, foi a alegria de pensar mais uma vez nos insondáveis caminhos de eleição de Deus, que escolhe Franciscos e franciscanos no decorrer da história, árabes, palestinos, há dois mil anos, latinos, melquitas, de todos os ritos, todos católicos e, nestes tempos atuais, nós leigos, para levarmos Sua Palavra e sermos fiéis testemunhas de Sua Ressurreição e de Sua Cruz onde estivermos. Como shalomita, esta vocação tão nova diante da grande Tradição e riqueza da fé Católica, mas não menos suscitada pelo Espírito, e confirmada pela Igreja, no dia de hoje, com Francisco e todos os santos e santas de Deus, O louvo por poder conhecê-lO e por entender cada vez com mais clareza, que esta é a pérola mais preciosa que se pode receber na vida!

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O Senhor está no meio de nós!

Missa celebrada no sábado passado, 27 de setembro de 2008, no salão de entrada da 'Maison de la Fraternité', ou 'Old People's House', ou simplesmente asilo dos idosos da vila de Isifya, como nós chamamaos em casa, que é gerenciada pela Comunidade Shalom há pelos menos dois anos - depois eu confirmo esta informação - desde que as religiosas francesas que trabalharam aqui por quase 50 anos, voltaram para sua terra de origem. O bispo então pediu que o Shalom assumisse este trabalho, nos cedeu para morar a casa onde as cinco irmãs viviam, daí os cinco quartos, e nos delegou esta árdua missão, que é cuidar dos mais pobres e sozinhos que muitas vezes, também aqui, são os 'velhinhos e velhinhas', mesmo não sendo este termo politicamente correto. Correta porém é a necessidade e a dedicação daqueles meus irmãos que exercem seu apostolado e santificação aqui. Esta foto foi tirada no fim da celebração, por volta das 18h. Estão presentes os idosos cristãos que quiseram e puderam participar, algumas pessoas do grupo de oração de Haifa (vieram cinco), nós do Shalom e o pe.Bonaventure, carmelita americano que chegou há quase um mês para viver seu ano sabático lá no Murahkah, junto com o profeta Elias e pe.Alberto, mexicano, de quem eu já comentei, nosso amigo e confessor.


Esta senhora lindinha de mais de 80 anos, de origem libanesa, nasceu no Brasil, em São Paulo e se chama Victória. Ela fala três ou quatro frases em português pois seus pais voltaram para o Oriente Médio quando ela tinha sete anos e ela perdeu completamente o contato com os parentes brasileiros. Ela é uma doçura de pessoa...dá prá notar não dá?

Aqui temos o padre Bonaventure, sorridente e simpático. Ele celebrou em inglês, as respostas foram dadas em árabe, pela assembléia, como também as músicas, muito bem tocadas e escolhidas pela Yara e o Tennessee, que são estes irmãos da foto abaixo. O glória foi cantado em português e a homilia foi feita em inglês a traduzido para o árabe pela Lorena. Um verdadeiro Pentecostes!



A grande graça desta celebração eucarística, além das razões óbvias da celebração em si mesma e todo o mistério contido da presença de Jesus que se manifesta, foi estarmos juntos, todos juntos. Me explico. Esta missa que passará a ser quinzenal, com plena autorização do nosso bispo Elias Chacour, é um passo de unidade entre nós, que estávamos juntos como Corpo de Cristo, como Carisma Shalom de duas missões, Isifya e Haifa, unidos àqueles irmãos a quem servimos e com quem convivemos diariamente, seja no asilo, seja no Centro de Evangelização. Não houve queima de fogos nem holofotes, nem tampouco tanta gente, como se vê na primeira foto, mas o Senhor estava no meio de nós e Ele derramou o Seu Espírito consolador em muitos corações, especialmente no dos idosos que depois, no lanche, manifestaram a sua alegria. Foi o Shalom do Pai sendo doado abundante e escondidamente nesta Terra Santa, a terra de Nosso Senhor!