terça-feira, 30 de setembro de 2008

Sta.Teresinha, rogai por nós!


Hoje as notícias são bem rápidas, só mesmo para que os meus amigos e amigas, que lêem o blog com freqüência, possam se sentir felizes por encontrarem algo novo, já que a história do ursinho terrorista já correu na web. A gente até acha um pouco de graça neste fato acontecido com a Lorena, mas na verdade eu peço que todos que lerem, se lembrem de rezar pelos cristãos da Terra Santa. Quando a gente está no Ocidente, acaba sabendo muito pouco ou sabendo nada, sobre o que acontece em Israel. Temos as notícias da televisão como a maior fonte de informação, só que as notícias apresentadas na tv são sempre sensacionalistas ou tendenciosas, chamando a nossa atenção para os homens-bomba e os terroristas, que a gente acaba achando que são todos árabes. Como se árabe fosse sinônimo de ser terrorista. A gente generaliza e acha que todos os extremistas são árabes, confundindo e esquecendo que há extremistas muçulmanos e extremistas judeus também. Na verdade a gente mistura raça com credo e religião. E pior, a gente esquece de rezar, proteger e falar dos árabes-cristãos desta terra, descendentes dos apóstolos, de Nossa Senhora, da igreja primitiva! A gente pensa que eles eram só judeus, os primeiros convertidos ao cristianismo! Na verdade a gente ignora muita coisa...

O fato de morar aqui e de conviver com o bispo Abuna Elias Chacour, que é árabe-palestino-cristão e cidadão israelense, me faz aprender muitas coisas, abrir a cabeça. Mais ainda, por ser Comunidade e Vocação Shalom, sei que estamos aqui para plantar sementes de reconciliação e não de divisão. Nem árabes e nem judeus precisam de mais inimigos - como costuma repetir o bispo. Precisamos continuar trabalhando e rezando - quem está longe - para que nas altas esferas políticas haja menos descaso e massacre dos cristãos que vivem oprimidos e humilhados em Belém, em Jerusalém e nos territórios ocupados. Precisamos rezar pelas negociações de paz se efetivarem - como milagrosamente aconteceu na Irlanda do Norte - na decisão de um estado dividido em dois, para palestinos e para judeus, pois a terra não é de ninguém, a terra é de Deus, que a quer dividida, melhor, partilhada entre seus filhos.

Peço que meus amigos do Brasil se lembrem de rezar pelos cristãos desta Terra, verdadeiros descendentes de Jesus, para que eles permaneçam, perseverem, não emigrem para todos os países do mundo. Rezemos para que haja um grande derramamento do Espírito Santo renovando os corações, as tradições, fazendo aparecer mais e mais vocações sacerdotais e leigas, para que o Evangelho do Senhor seja anunciado.
Quando o Estado de Israel foi criado, há 60 anos atrás, 25% da população era cristã, hoje não passa de 2%. Não podemos pensar somente em Israel e na Terra Santa como um lugar de peregrinação, precisamos pensar naqueles que vivem e sofrem aqui e que, com suas vidas e famílias, dão testemunho de Jesus Cristo morto e ressuscitado, geração após geração.
Acho que era isso que eu queria escrever hoje e pedir aos meus amigos que são gente boa de reza e de grande fé, que têm vida sacramental e vida de oração, que se lembrem destes assuntos que parecem ser somente da esfera politica, mas que são, verdadeiramente, de suma importância para o futuro da fé cristã no mundo.
E no mais, que amanhã, Sta.Teresinha distribua muitas rosas e muitas bênçãos da parte de Jesus para todos nós.

domingo, 28 de setembro de 2008

Lorena, a Terrorista e o Ursinho de Pelúcia


A Lorena, responsável local da missão em Haifa e Isifya, voltou do Brasil, depois de 34 dias fora, participando da Assembléia Geral da Comunidade Shalom em Fortaleza, emendados com duas semanas de merecidas férias, chegando em casa na 5a feira passada. Todos a aguardavam com saudade e cartazes pois ela é uma pessoa muito querida. Só fui vê-la de noite porque ela estava muito cansada e tinha passado por uma aventura completamente inusitada: tinha sido detida como suspeita de terrorismo.

Explico-me e conto a história, que de cômica não tem nada, mas que também não foi trágica, graças a Deus, mas não deixa de ser triste e de nos chamar à oração constante por aqueles que trabalham e se dedicam para que haja paz na Terra Santa.
A Lorena foi de Fortaleza para S.Paulo e de lá para Paris onde tinha horas de espera na conexão e troca de vôo, que a traria a para Tel Aviv. Neste tempo em Paris, em vez de ficar de bobeira no aeroporto, teve a feliz idéia de ir visitar o Santuário da Medalha Milagrosa, na famosa Rue du Bac, que ela não conhecia. Veio com itinerário, metrô e mapinhas todos prontos do Brasil. Ao voltar da sua visita ao Santuário, fez o check in, passou pela alfândega, por queles detectores de metal, e foi convidada para seguir para uma outra sala. Foi aí que ela notou que o aeroporto, e especialmente a área de embarque, estava lotada de policiais militares armados de metralhadora. Soldados israelenses. Inocentemente pensou que alguma autoridade muito importante estivesse chegando à Paris. Mal sabia ela - e na verdade só veio a descobrir isso na 6a feira quando foi divulgado na Internet e seus pais ligaram apavorados de Fortaleza - que havia um boato de terrorismo e de bomba no avião que ela ia pegar, e ela era a suspeita!
Passou por três horas de interrogatório e de revista, e teve todas as suas três malas - uma era minha, só de roupa de frio e alguns livros que eu tinha deixado para trás - mais a mochila e bolsa pessoal, minuciosamente checados, abertos, cheirados, vasculhados, e todos os verbos da invasão de privacidade e da suspeita que cada um quiser dizer. Ela nos contou que até a sua carteira de dinheiro foi aberta e todos aqueles pepeizinhos, bilhetinhos, santinhos, fotos dos pais, dos filhos que todo mundo guarda na carteira, foram abertos um por um! Eles queriam saber tudo dela e perguntaram sobre cada livro que estava na mala, sobre os amigos, o trabalho, porque ela tinha escolhido ser voluntária logo na Terra Santa, em Israel, porque isso, porque aquilo, porque tudo.
Eram três homens e uma mulher. Cansaram de perguntar se ela tinha algum presente, se alguém lhe tinha entregue alguma coisa, até se depararem com um ursinho de pelúcia que reza o Pai-Nosso, que um tio dela lhe dera na hora do embarque, e que ela enfiara ainda no papel de presente, dentro da mala. Este mesmo que está na foto acima. Aí foi o caos: os guardas cismaram com o bichicho e apertaram a Lorena dizendo que ela mentira já que tinha ganho sim um presente, e levaram o ursinho de pijama cor de rosa para uma sala ao lado de onde a Lorena estava, para também ser revistado. A pobre da Lorena então, pensou: 'pronto! vão dar fim no meu ursinho porque vão rasgá-lo e abri-lo para ver se tem bomba dentro. E o pior, daqui a pouco eles vão achar o segundo ursinho idêntico a este que está na mala da Elena, que pela maior das coincidências também ganhou um de uma amiga, que o envia de surpresa'. Mas esperou para ver no que ia dar. Foi então que teve até vontade de rir pois só ouvia o ursinho rezando o Pai-Nosso uma vez atrás da outra, de tanto que os oficiais apertavam as mãozinhas e corpo do brinquedo a fim de acharem algum coisa estranha. No fim desistiram e a oficial mulher trouxe-o de volta, inegavelmente encantada com a gracinha que o ursinho é, devolvendo-o inteiro à Lorena. Quis saber se ela tinha filhos e deixou o assunto morrer.

Como a Lorena é 'macaca velha' ficou tranqüila e não mencionou uma vez sequer, durante o interrogatório que tinha qualquer contato com os árabes, como temos nas pastorais onde a Comunidade trabalha, nem falou em árabe, só em inglês, e disse que trabalhava como volutária a serviço do arcebispo católico da igreja melquita, o que é a mais pura verdade, e deu como endereço de residência a Cúria em Haifa. (Antes de trabalharem no asilo em Isifya teve um tempo que a Comunidade morou e serviu ao bispo interino anterior, que exerceu o cargo somente por dois anos, até a eleição do Abuna Elias Chacour).
No fim do interrogatório, para que a Lorena não perdesse o vôo, eles deixaram que ela embarcasse só com a bolsa de mão e o passaporte, e disseram que até sexta-feira toda a sua bagagem seria entregue no endereço que ela tinha dado. Escoltaram-na como uma terrorista até a poltrona do avião - que humilhação meu Deus! - e ela veio para casa. Nem uma explicação, nem um pedido de desculpa, nada, absolutamente nada.

Quando os irmãos encontraram-na na chegada levaram o maior susto pela ausência de bagagem e aí, durante o dia, o mistério se desfez. Na véspera da chegada da Lorena o sempre Beatle Paul Mac Carteney pisou no solo de Israel pela primeira vez na vida (os Beatles jamais receberam autorização do governo de Israel para entrarem no país), para fazer um show em Tel Aviv no dia seguinte, ou seja na 5a feira. Por conta disso, por terem se sentirem traídos, já que o músico tinha decidido vir fazer um show aqui, radicais extremistas muçulmanos do Irã e de outras regiões como a Síria, países inimigos de Israel, lançaram boatos de ameaças de terrorismo e de bombas a qualquer hora. E aí a pobre da Lorena, cujo último trecho da viagem seria feito em empresa israelense e não em outra, de nome internacional, tipo Alitalia, Air France, etc, foi escolhida como suspeita.

Graças a Deus no fim deu tudo certo, inclusive fui eu mesma que na sexta-feira recebi as malas, na Cúria, e todos os volumes estavam em perfeito estado (só o conteúdo, pois as malas estavam com as alças danificadas). Eles telefonaram e fizeram exatamente como disseram que fariam. E tanto o meu ursinho quanto o da Lorena chegaram intactos e continuam rezando o Pai-Nosso quando lhes apertamos as mãozinhas.

Só não sei quantos Pai-Nossos ainda teremos que rezar e quantas pessoas terão ainda que lutar e dar a sua vida para que nesta terra haja paz, e não mais muros, terrorismo, cidadãos desrespeitados e este clima de pavor. Haverá o dia em que a Terra Santa será dividida entre todos aqueles que são filhos de Deus - verdadeiramente o dono da terra e Pai de todos, Pai dos cristãos, dos judeus e dos árabes. Amém!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Um novo amigo

É interessante eu até hoje nunca ter comentado nada a respeito dele, mas o Adib Kharman, motorista do asilo, é uma das pessoas com quem mais converso durante todo este tempo que estou aqui. Ele que não me escute dizendo que é motorista, pois ele vive dizendo que não é e dirige para nós porque ele quer, mas neuroses a parte, ele é funcionário da Cúria, e presta este papel de motorista do carro do asilo, que fica a disposição dos idosos e da Comunidade, quando é necessário. O Adib desce diariamente, depois do almoço, por volta das 14h, para levar os irmãos que trabalham em Haifa, no Centro de Evangelização, depois passa na Cúria, invariavelmente toma um cafezinho, fuma um cigarro, me pega, e voltamos pra casa conversando.
Ele é muito simpático, extrovertido e falante, me faz lembrar demais o Marco meu irmão. Tem 60 anos, casado e de família há gerações e gerações em Isifya. Me contou que nasceu dias após a criação oficial do Estado de Israel, e fala isso com muito orgulho: ser cidadão israelense. Diríamos no Brasil que o Adib parece candidato a cargo político em semana que antecede as eleições - exatamente a realidade atual na Terra Brasilis - conversa, conhece e cumprimenta Deus e o mundo! É habibi prá cá e habibti prá lá, impressionante! Se você não está com muita vontade de falar, basta fazer uma meia dúzia de perguntas certas que ele dá conta do recado. Tem um inglês bastante fluente pois antes de trabalhar na Cúria, por anos a fio, com os dois bispos anteriores, tinha um taxi e conviveu com turistas e mais turistas em Israel. Acho que o trauma com a função vem daí.
Teve uma briga feia com o bispo anterior, foi parar na justiça, e se aposentou. O Abuna Chacour para reconciliar, fez um acordo para tirar a Igreja destas situações delicadas diante da justiça, e convidou-o para voltar a trabalhar na Cúria, prestando serviço no asilo, que fica em Isifya, ajudando no que fosse preciso - e o que se precisava era de um motorista pois só a Lorena tem carteira internacional. O Adib aceitou e assim, tem contato direto conosco da Comunidade Shalom. É um católico melquita fiel mas de um jeito árabe de ser: nada de muita piedade explícita por parte dos homens. Eu faço um parêntesis aqui para expressar uma das coisas que sinto cada vez mais claramente: como também a Igreja da Terra Santa, também a Melquita com quem eu mais convivo, precisa de uma renovação espiritual, de um profundo derramamento do Espírito Santo sobre seus membros! Tanto os padres quanto os leigos, se fossem batizados no Espírito, viveriam com outro fogo e ardor, piedade e consciência a presença de Deus presente na riqueza de suas tradições, jamais pensada por mim que pudessem existir tão belas, que são os ritos, as orações, o canto, os ícones do rito greco-melquita que remonta a Igreja bizantina, primitiva.
Mas voltando para o Adib, tem horas que ele me cansa muito porque ele é daquele tipo meio do contra, dono da verdade, mas sua inteligência e simpatia me cativam e mesmo o seu jeito sendo meio difícil pra mim, ele acaba sendo um grande dom, uma grande possibilidade de abertura ao diferente, e a gente ri um bocado junto. Ele me conta mil e uma histórias deste país, dos druzi, dos judeus e dos cristãos, e já fez questão de fazer todos os roteiros de retorno de Haifa para Isifya possíveis para eu poder conhecer. Tem muitas curiosidades a respeito de Haifa que eu só sei porque ele me contou e mostrou, como por exemplo a placa fixada na entrada de um prédio, na parte chique e alta de Haifa, em homenagem aos passageiros de um ônibus, mortos num atentado a bomba se eu não me engano em 2002.
O Adib foi uma das únicas pessoas 'estranhas' que me deu um presente no dia do aniversário, um pequeno menorah que eu guardo com carinho, e que enfeita minha mesinha de cabeceira, e mesmo ele sendo uma pessoa às vezes um pouco impertinente, acho que por conta das diferenças culturais, eu o considero um amigo e tenho uma certa convicção que a recíproca é verdadeira.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

no comments

Num dos únicos canais de TV que a gente pega em casa - que dá para entender, obviamente, porque em árabe tem um monte, para todos os gostos e sotaques, do Líbano ao Irã - além da Canção Nova e da CNN, tem a BBC. No horário que corresponde ao nosso Jornal Nacional, que a gente às vezes assiste no dia seguinte, na íntegra pela internet, tem um programa que mostra imagens das principais notícias do dia, sem comentários, na maioria cenas dramáticas, que falam por si só, chama-se www.nocomments.org . Hoje eu estou assim, sem comentários. Faltam palavras, sobram véus e a misericórdia do Senhor é eterna.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Sobre a missa

Fiquei vários dias sem escrever... senti falta e pensei nos meus amigos e leitores fiéis que visitam o blog para saber das novidades... é que em casa ficamos sem internet e houve também alguns imprevistos que me fizeram deitar muito tarde, já sem pique para escrever qualquer coisa. Estamos de volta isso é o que mais vale!

Fico sempre mais encantada com a capacidade humana de 'dominar a natureza' que o Senhor Deus Altíssimo lhe deu desde a criação! Digo isso por causa da tecnologia e a possibilidade de nos aproximarmos das pessoas através da internet! Bendito seja Deus pela inteligência, curiosidade e capacidade de superação que deu ao ser humano para viver neste mundo, transformando-o, dominando-o, usando uma linguagem bíblica, há tantos milhões de anos! É bom a gente lembrar que depois do relato da criação, toda obra criativa de Deus passou a acontecer através das mãos humanas.
Ontem pude conversar - de graça! - com minha irmã, cunhado, sobrinhos, no Rio de Janeiro, não somente ouvindo a voz deles mas os vendo pela câmera que temos acoplada no computador! Fiquei tão feliz! Só faltou mesmo estarem juntos meu irmão Billy e a Mamma, mas combinamos para uma próxima sexta-feira. É claro que sempre existirá o prazer insubstituível da escrita, não mais de cartas, mas de emails, mas poder escolher entre falar ou escrever e ver as pessoas que a gente quer bem, é sensacional! Até esta escolha é presente de Deus. Na verdade são muitos presentes: ter com quem conversar, ter acesso à tecnologia, ser alfabetizado também digitalmente, ter saudade, amar, ter amigos, família, irmãos de sangue e irmãos de vocação, e ter consciência de que tudo é dom, é graça da infinita misericórdia que nos sustenta a vida...

Mais um domingo, mais um dia do Senhor. Ontem fez exatamente três meses que cheguei à Israel como missionária. O tempo voa. Tenho a impressão que caminhei pouquíssimo neste processo de inculturação, principalmente por causa da língua, mas é lento mesmo. Tem certos ritmos da vida que a pressa artificail do mundo moderno não consegue alterar. Estou na espera de que se forme uma turma para estudar hebraico, num curso intensivo de seis meses que o governo de Israel oferece para os estrangeiros. Fico na pendência de que a turma se forme porque o curso é pago e por isso não há tanta facilidade de se juntarem alunos assim. Mas vamos esperando que em outubro tudo se desenrole e enquanto se espera, vale a pena rezar e cantar com a oração de Sta.Teresa: 'a paciência tudo alcança, quem a Deus tem, nada lhe faltará!'.

Também começa hoje o outono, no hemisfério norte, e é impressionante a natureza: desde a semana passada o sol passou a se por mais cedo. Às 19h horas, quando estou chegando da caminhada, já está escuro, enquanto antes, até bem mais tarde, ainda estava claro. Também um ventinho mais fresco já começa a soprar, tando cedinho quanto de noite. Eu prefiro esta temperatura mais amena, mesmo sendo mais sacrificado acordar e sair antes das 8 para trabalhar. Estou na espectativa do inverno chegar na esperança de que neve, como aconteceu ano passado.

Outro dia o meu sobrinho e afilhado Gabriel, me deu um testemunho bastante interessante que me fez pensar muito, mais ainda porque hoje é domingo. Ele está com 19 anos e me disse que quando jovenzinho, sonhava em ser mais adulto pra poder dizer, simplesmente, para os pais e para a avó, que não ia mais à missa. Só que agora percebia que os pais já não tinham mais este tipo de controle sobre ele, mas era ele quem fazia questão de ir à missa pois ele sente falta! Louvo a Deus por esta atitude de amor do seu coração e peço ao Senhor que o preserve assim, sabendo dar a Deus o que é de Deus: o louvor, a ação de graças, a oferta da vida, da gratidão e também as dores, os sofrimentos, os sonhos, as esperanças... Eu aprendi muito cedo a amar e a compreender a Liturgia. Muitas vezes participei mal e indevidamente das Eucaristias ao longo da minha vida, e me arrependo por isso, mas rarissimamente deixei de ir. Agora, de longe, passando pela experiência desafiadora de participar de uma liturgia belíssima e muito rica que remonta ao princípio do cristianismo, das liturgias bizantinas, que é o rito católico greco-melquita, meus olhos se abrem e vêem as coisas de outro modo. O rito é lindo, mas totalmente diferente e novo para mim, e em outra língua que eu não entendo, que é o árabe e aí, meu Deus, que saudade das nossas missas no Brasil! Que amor pelas nossas missas latinas, rezadas, cantadas em Português!
Fui fazer as contas, nestes três meses, só participei de seis missas em português no rito latino. Portanto, galera, vocês que têm horários e missas de sobra para escolher: não desperdicem este grande dom indo de má vontade, ficando no fundo da igreja, na sacristia, nas laterais, de celular ligado, pensando em tudo no mundo, menos no mistério que ali acontece, chegando atrasados, como se simplesmente cumprissem um rito, uma obrigação, deixando seus corações longe e fora da celebração! Deixem-se amar, alcançar, e cantem, participem, rezem, esqueçam do mundo e lembrem-se de interceder não por mim, mas por milhares e milhares de pessoas na terra inteira, que gostariam de poder participara de uma celebração eucarística e não podem porque não tem padres, estão em guerra, etc, etc. Fico pensando na quantidade de vezes em que eu inverto o papel: fico esnobando a Deus como se Ele precisasse de mim... Realmente... Sem comentários. Que Ele nos atraia para Si e não leve em consideração nossos desatinos.

Amo vocês! Deus abençoe! Boa semana, boa primavera aí no Brasil.
Al Salaam El Messirh ou simplesmente: a paz do Senhor!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Uma poesia e tanto

Agradeço a quem me enviou este belíssimo poema do Mário Quintana, que diz tudo aquilo que eu precisava ouvir hoje. Era também tudo aquilo que eu gostaria de dizer. Espero que sirva e cale ao coração de meus assíduos e fiéis amigos e amigas, leitores do blog, e também a todos aqueles que mesmo sem contato, são meus amigos de anos, dons de Deus recolhidos como ramalhete de flor, nos tantos lugares por onde vivi e andei.

Deficiente é aquele que não consegue modificar sua vida,aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.

Louco é quem não procura ser feliz com o que possui.

Cego é aquele que não vê seu próximo morrer de frio,de fome, de miséria.E só têm olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.

Surdo é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão.Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.

Mudo é aquele que não consegue falar o que sente ese esconde por trás da máscara da hipocrisia.

Paralítico é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.

Diabético é quem não consegue ser doce.

Anão é quem não sabe deixar o amor crescer.

E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois, miseráveis são todos que não conseguem falar com Deus.

A amizade é um amor que nunca morre

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A missão

As pessoas amigas começaram a me perguntar por estes dias, porque eu virei missionária, porque eu fiz uma opção tão radical, como é que eu vim parar numa vila árabe no interior de Israel por dois anos?
Poderia dar explicações baseadas na Palavra de Deus e até no Catecismo da Igreja Católica que nos ensina e lembra, que somos chamados ao testemunho e à missão pelo simples e maravilhoso fato de sermos batizados na morte e na ressurreição de Jesus Cristo, de termos o seu Espírito em nós e de sermos continuamente transformados Nele, pelo mistério da Eucaristia. E por causa desta alegria partimos em missão! Eu poderia dar todas estas explicações e justificativas, nas quais creio verdadeiramente, como acabei de fazer acima, como razão para a minha partida em missão. Porém creio que as pessoas têm curiosidade de saber um pouco mais, e não somente de palavras bonitas pois palavras bonitas não mudam a vida de ninguém.
Tive a alegria de começar a optar por Jesus como meu Senhor, meu amigo, meu Deus quando era uma jovem de mais ou menos 16 anos, no Méier, Rio de Janeiro, no grupo de oração Água Viva... velhos tempos. De lá para cá uma longa caminhada de conversão, de busca, de encontros e desencontros, mudanças mis de cidades e estados, onde sempre esteve presente o desejo de partir em missão para levar o Evangelho de Jesus sem temor. Nestes primórdios a gente tinha muito pouca literatura católica para ler, e acabava devorando todos os testemunhos 'pentecostais' de vida missionária. Seja como for esta semente foi sendo alimentada e ao voltar para o Shalom nesta segunda fase - porque já fui missionária por um ano e poucos meses no interior de Sergipe, na fundação da missão de Propriá em 92-93 - este anseio missionário só fez crescer. Sei que em termos humanos fiz uma loucura sem tamanho: doei minhas coisas, fiquei sem endereço de volta, sem emprego, deixando alguns livros, umas gravuras, toda a família e muitos bons amigos para trás - sempre morrendo de medo que eles se esquecessem de mim. Tive a sensatez de deixar objetos pessoais da minha história, fotos e papéis preciosos na casa de amigos para quando eu voltar, e vim para Israel sem nenhuma segurança a não ser a Palavra de Deus.
Vim porque quis, vim por decisão livre e por um certo gosto pela aventura. Vim para poder cumprir um sonho antigo que guardava no coração e que acredito tenha sido plantado pelo próprio Senhor: o desejo de que muitas pessoas conheçam o amor de Jesus através da minha vida, da minha palavra, do meu testemunho. Vim porque Deus é bom e me escolheu. Vim porque quero amar ao Senhor concretamente. Vim para que meus horizontes se expandissem. Vim para me doar e para me enriquecer. Vim para aprender. Vim porque quero encontrar a minha vida verdadeira, pois é isso que o Evangelho promete para quem perde a sua vida por causa do Reino...
Como vai ser o futuro, como vai ser na volta, onde eu vou morar, não faço a mínima idéia... ainda não é tempo de pensar nisso. O tempo de hoje é ainda de abraçar o presente e aquilo que como mulher, leiga consagrada na vocação Shalom posso dar aqui na Terra Santa, no muito simples serviço que presto. Sem dúvida nenhuma até agora eu recebi muito mais do que dei, mas com o tempo sei que os trabalhos tendem a se multiplicar. Sei que estou no deserto onde Deus fala ao coração e purifica, converte e sobretudo se revela, e é isso que eu espero que aconteça: que as minhas raízes mais verdadeiras de pessoa se firmem em mim mesma na liberdade de ser amada de Deus! E aí ninguém mais me segura! E viva a missão, seja ela onde for! O importante é deixar Deus mexer nas águas profundas do coração e revelar a verdade, a paz, a santidade e o cálice da alegria e da dor que a cada um é reservado beber.
Lembram da música: Pense em mim, chore por mim, liga pra mim? Pois é, só não precisa chorar, prefiro que rezem. Beijão!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Quem sofre mais?

Me enrolei hoje no horário de ir para o trabalho e, na correria, nem consegui ler a leitura do Evangelho do dia. Passei o dia com muita saudade da minha mãe e com vontade de ouvir a sua voz... mas ela não me liga! Não sei quem sofre mais de saudade, se ela ou eu. Deve estar enrolada nas coisas dela e como aqui a pobreza é evangélica mesmo, não dá para abusar pedindo para usar o telefone com a freqüência que se gostaria. Vamos ver se no final de semana consigo resolver isso ou até mesmo a novidade - que já não é nem tão nova assim - de conseguir uns créditos do Skype Out e aí facilitar essa comunicação oral com quem não tem internet.
Com essa não leitura do texto bíblico logo cedo, só fui lembrar que hoje é festa de Nossa Senhora das dores na hora da missa. É claro que a gente reza por todas as mães que sofrem de saudade pela perda de seus filhos, estejam eles vivos ou mortos e por todas as grávidas, por todas as mães que necessitam de consolo e fortaleza, sabedoria e paciência, além de rezar obviamente, pela prórpia mãe como eu fiz! Saber que a Mãe de Deus conhece as dores agudas de um coração materno, deve ser uma fonte inesgotável de consolo para quem é mãe.
Mas eu lá fiquei, ainda com mais saudade da D.Glória, a mamma, mamãe, agradecendo ao Senhor por ela ser quem é e por ter me ensinado a ama-Lo e a amar Nossa Senhora. Fica difícil dar peso de valor aos presentes de Jesus para nós, mas pensando bem, nos ter dado a Sua Mãe como nossa Mãe no fim da agonia que nos daria a salvação, é como botar ainda mais calda de chocolate por cima de um bolo que já está perfeito e pronto, que já tem cobertura e tudo! É o extra, é o melhor de tudo, é o extrapolar de amor! É amor constrangedor do Deus cristão que é único e para todos, inconcebível para tantas outras filosofias e até religiões!
E o pior é que tem gente que acha que amando Nossa Senhora vai amar menos Jesus, e prefere não receber o presente que ele deu. É tão sem sentido como a gente imaginar uma criança preferir não ter mãe, não ter amor, não ter consolo, não ter colo, não ter proteção...
Mãe Imaculada, Mãe de Jesus, eu te amo! Abençoa a minha mãe e todas as mães que eu conheço. Abençoa a maternidade humana e espiritual de todas as mulheres que eu conheço, e não nos deixes jamais endurecer e fechar o coração para dar amor a quem precisar de nós. Amém.

domingo, 14 de setembro de 2008

A Cruz que me carrega

Acho que peguei gosto por postar aqui no blog as fotos dos ícones da igreja católica melquita de Isifya, mas é que realmente eles são muito lindos e sendo hoje a festa da Exaltação da Santa Cruz, como não usar as imagens para falar sobre este tão grande mistério de amor perfeito e total que é a Cruz de Jesus Cristo?


Este é o detalhe do rosto de Jesus, morto na Cruz. Gosto sempre de lembrar que Jeus foi traído, martirizado, e morreu crucificado pelas mãos dos homens historicamente e pela mão de todos os homens, mistica e existencialmente, mas antes de ser morto Ele quis dar a sua vida. O evangelho de S.João vai nos dizer que Jesus livremente se deu como resgate por toda a criação e por toda a humanidade porque amava, porque quis. 'Ninguém tira a minha vida eu a dou livremente'. A explicação da festa de hoje, da exaltação da Santa Cruz, dada pelo padre Cantalamessa, vai nos lembrar das duas dimensões da Cruz, a da dor e a da glóra que, dependendo do período histórico vai ser acentuado uma ou outra.

Vamos deixar ele mesmo explicar:

Os dois modos evidenciam um aspecto verdadeiro do mistério. A forma moderna-dramática, realista, pungente – representa a cruz vista, por assim dizer, por diante, 'de cara', em sua crua realidade, no momento em que se morre nela. A cruz como símbolo do mal, do sofrimento do mundo e da tremenda realidade da morte. A cruz se representa aqui 'em suas causas', isto é, naquilo que, habitualmente, a ocasiona: o ódio, a maldade, a injustiça, o pecado.


O mundo antigo evidenciava não as causas, mas os efeitos da cruz. Não aquilo que produz a cruz, mas o que é produzido pela cruz: reconciliação, paz, glória, segurança, vida eterna. A cruz que Paulo define como 'glória' ou 'honra' do crente. A festividade de 14 de setembro chama-se 'exaltação' da cruz porque celebra precisamente este aspecto 'exaltante' da cruz.Deve-se unir à forma moderna de considerar a cruz, a antiga: redescobrir a cruz gloriosa.

Louvo a Deus por esta explicação tão clara e tão importante que me remete imediatamente aos Escritos da Vocação Shalom, quando o Moysés, o fundador, fala de Jesus sempre se referindo a Ele como o Shalom do Pai, ou o Ressuscitado que passou pela Cruz, que traz em seu corpo as marcas gloriosas de seu sofrimento. São inseparáveis estas duas dimensões da vida cristã que nos consolam e nos levam à frente, por isso a gente pode dizer que é a Cruz que nos carrega e não nós que carregamos a Cruz!


Este outro detalhe de dois personagens bíblicos retratados no ícone, mostram o soldado romano que transpassou o coração de Jesus e a fiel presença do discípulo amado, S.João que recebeu Maria Santíssima em sua casa e em seu coração como Mãe. Gosto de imaginar o quanto eles devem ter conversado a partilhado a respeito de Jesus. Não é à toa que o seu Evangelho é um transbordamento exuberante do amor e da esponsalidade do nosso Deus em Jesus Cristo, com cada ser humano!


Por fim, este último detalhe muito me emocionou no ícone: ver Santa Maria Madalena apoiando a Virgem Maria na sua agonia de ver seu Filho ser crucificado. Também ela O apoiava com o seu olhar e a sua presença, com a sua fé. Também ela renovava o seu Sim diante do Sim perfeito que Jesus dava ao Pai. E ao se deixar abraçar e apoiar por Santa Maria Madalena fica evidente que ela a considerava já uma filha, uma dileta discípula de Jesus.

Diante da Cruz me ficou esta pergunta todo o dia e acredito que vai continuar pela semana: com qual desses personagens eu me identifico e quero me parecer? De que maneira eu hoje exalto a Cruz do Senhor? Onde estou quando a contemplo?

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

As Bem-Aventuranças da Semana

Quem vai a missa diariamente sabe que esta semana foi toda voltada para o capítulo 6 do Evangelho de S.Lucas, na parte que ele fala das bem-aventuranças, e qual deve ser a medida da misericórdia. O texto vai falar também da trave que carregamos nos olhos enquanto insistimos em detectar os ciscos dos olhos alheios...
Este textos mexem muito comigo e têm o dom de me fazer ficar no meu lugar, sem me arvorar em julgar as pessoas, muito particularmente as suas intenções. Que há coisas óvias e inequivocamente erradas, há, mas meu papel não é mudar as pessoas mas fazer aquilo que é esperado de mim segundo o que Deus me deu e já me revelou querer e esperar de mim.
Eu sei que tem horas que a gente até desanima e, creio mesmo que muitas pessoas perderam a vontade de alimentar a graça da vida sobrenatural recebida no batismo, pelo escândalo de tantos batizados, consagrados, ícones do sagrado, cujas vidas se batem mutuamente na luta pelo poder e por quem tem a palavra final, como inimigos, em vez de competirmos nas virtudes e no exercício da alegria, da simplicidade, da descomplicação, da esponsalidade do coração.
Volto a não querer julgar ninguém - como é difícil! - pois sei que darei conta dos talentos recebidos e não dos talentos alheios. Aqui nesta Terra Santa, vivendo uma vida meio reclusa e quase eremita - exagero! - as circunstâncias têm me ensinado e me levado a querer a conversão de coração, aquela que deixa brotar e agir mais fortemente a vida do Espírito em mim do que a vida da carne, como diz S.Paulo, ou do mundo, como diz S.João.
Neste aprendizado é o arcebispo Elias Chacour quem mais me edifica e ensina com suas palavras e história de vida. Pouco a pouco vou lendo todas as coisas que estão nos arquivos, enquanto rearrumo e redistribuo os papéis e as pastas, e hoje, coincidentemente, encontrei um email de 2007, onde ele comenta sobre as bem-aventuranças. Transcrevo o que achei mais pertinente para ser publicado no blog e partilhado entre todos. Está em inglês, e espero que sirva como um empurrão e um incentivo concreto à conversão. Diz assim:
'...these blessings and beatitudes should be understood as a calling, an appeal, or an invitation of the Lord to His followers to abandon their static mind and to get up, stand and go ahead, do something diligently. To get their hands dirty for peace and justice rather than to be satisfied with being in peace, just contemplators and justice admirers'.
Que o Senhor nos ajude a arregaçar as mangas e a viver as bem-aventuranças no perímetro dos nossos relacionamentos, com aqueles com quem convivemos e encontramos a cada dia. Amém!

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Pra matar a curiosidade

Este é o portão de casa, visto de frente, da calçada. A esquerda o famoso pé de figo que é de todos mas principalmente da vizinhança.
Felizmente tem mais dois no quintal.

Entrei pelo portão azul e do topo da escada isso é o que se vê quando se olha para a direita. Deveria ser um jardim mais bem cuidado, mas além de estarmos no verão, são poucos para não dizer nenhum, aqueles que têm tempo ou talento para a jardinagem. Vamos ver se agora na mudança de estação vai ficar mais verdinho.



Aqui é a visão que se tem do jardim quando se olha para a esquerda. Parece mais bonito mesmo. Se observarem bem, a casa está abaixo do jardim. Dizem que é para manter a temperatura mais amena tanto no verão quanto no inverno. Eu desço a escada e entro na casa que tem, no primeiro piso à esquerda, a capela e uma escada por onde se desce mais um lance de escada onde se encontram os quartos com banheiro, a cozinha, a sala de jantar, o escritório e a sala de televisão. No mesmo piso da capela tem uma salinha de estar que quase não se usa, que a gente apelida de praça de namoro dos noivos Silvânia e Tennessee pois, curiosamente, por mais tradicionalista e talvez até hipócrita que possa parecer, um homem e uma mulher jamais manifestam qualquer carinho ou contato físico em público, só se for o pai e a filha, mas ela não deve ter mais que cinco anos... estou exagerando mas é verdade. Os pobrezinhos dos noivos não podem nem andar de mãos dadas para não escandalizarem. Outro dia eu quis sair de braço dado com o Leandro que é um irmãozão de 28 anos, e eles disseram que de jeito nenhum, que podia pegar mal. Só se eu quisesse correr o risco de pensar que ele fosse meu filho, na melhor das hipóteses. Tem hábitos culturais aqui muito estranhos e diferentes para nós. É uma sociedade pouquíssimo sensual publicamente, mas que por debaixo dos panos esconde também seus segredos de traição, adultério, etc.

Eita que saudade que me deu dessas duas grandes amigas que não vejo há quase três meses! Fatinha, Janjan, amo vocês!Espero que estejam bem! Se cuidem! Vocês moram no meu coração e estão sempre presentes nas minhas orações.


Que pena que essa foto só sai nessa resolução pequena. Era só a vontade de mostrar a família reunida no Rio. Nesta foto faltam os de Moraes Sala que vivem em Fortaleza. Amo vocês! Deus abençoe a todos e a cada um.

Tinha até pensado em fazer algum comentário sobre os sete anos do atentado de 11 de setembro, mas surpreendentemente as pessoas com quem falei a respeito hoje na Cúria, me pareceram tão distante e indiferente ao assunto como nós, de certa maneira, no Brasil, porque o assunto não nos diz respeito. Talvez se eu estivesse em Bélem, que é território palestino, perto da Faixa de Gaza ou no West Bank eu sentiria outra reação das pessoas contra os EUA. Aqui na Galiléia parece que ninguém nem tomou conhecimento.

Como o bispo está na Suiça participando de um Congresso Teológico Mundial de Igrejas Protestantes cujo tema tem a ver com a paz, não tive oportunidade de perguntar a ele sobre este episódio que abalou o mundo. Se tiver chance na semana que vem quando ele voltar, vou tentar abordar o assunto pois tenho certeza que ele tem ponto de vista bem esclarecedor e preciso a respeito. Como ele é uma pessoa muito bem informada e relacionada, não fala como um sonhador mas como um líder, como um apóstolo de Jesus, que vive e arregaça as mangas e o coração para construir o Reino de Deus nestes tempos. E a faceta do Reino que ele constrói são pontes de diálogo e paz concreta entre as nações e as diferentes religiões que compõem o Oriente Médio. Conviver com o Abuna Elias Chacour é ter oportunidade de aprender com o jeito de ser e com a inteligênica.

Sem dúvida o terrorismo é um intrigante e muito complexo. É uma chaga, uma doença social que atinge toda a humanidade e que exige tratamento sério e demorado para vir a ser banido desde a sua gênese que tem a ver com a injustiça. É um tema tão sério que até a União Européia criou um cargo e um comitê específico só para tratar do assunto. Se cada um trabalhar bem na sua seara a fim de combater as injustiças sociais que acabam promovendo e alimentando as injustificáveis ações de terrorismo, a gente pode ter esperança. Eu tenho aprendido a ter!

Nós, como Comunidade e Carisma Shalom somos chamados a ser paz, canais de reconciliação. E nós estamos na Terra Santa, em Israel. Nossa missão aqui é, sem dúvida, um mistério que nos ultrapassa muito e que o Espírito Santo revelará com o tempo, no decorrer da história. Através da doação de nossas vidas vamos plantando a cada dia sementes de fé, de amor, de serviço, de oração e de ação de graças. Cremos na Obra Nova que o Espírito Santo faz sugir 'não a vedes?' nos pergunta a Palavra. Muitas vezes não, outras tantas sim. Há que se ter paciência e coragem de ser semente e morrer, quem sabe quem colherá os frutos? Espero que sejam aqueles que mais sofrem, sejma eles quem for.

Mas não deixo de pensar e repensar no mistério que envolve este dom do Espírito, dado para a Igreja e a Humanidade que é o Carisma Shalom aqui na Terra Santa: uma vocação cristã, de nome hebraico numa cultura árabe.

Quem se atreve a responder?

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Se você morresse amanhã...


...o que seria dito a seu respeito?

Eu me lembro que quando eu tinha os meus 14 anos e ia para a casa da Vania estudar (ela é minha amiga mais antiga de infância, juntas começamos a estudar inglês aos 11 anos), entre passar a limpo uma matéria e outra, nas nossas conversas adolescentes, regadas a guaraná antarctica, sanduíche de presunto e rissoles divinamente feitos pela D.Creuza, sonhávamos em poder morrer só por uma semana para ver a reação das pessoas, de nossas amigas e colegas de colégio, de nossas famílias e dos amores platônicos, para ver o que cada um diria a nosso respeito. Depois da descoberta a gente ressuscitaria, e continuaria fiel somente àqueles que tivessem sido fiéis a nós. Legal a nossa fantasia, né? Cá entre nós, todo mundo já teve o seu devaneio de querer ser uma mosquinha - Vania e eu também pensávamos nisso, era melhor que morrer - para descobrir o que os outros pensam e falam de nós.

Mas essa semana eu pensei nisso tudo porque fizemos uma dinâmica entre nós irmãos de comunidade, pelo fim do ano formativo e início do próximo, na semana que vem, que foi muito interessante e que me fez voltar à adolescência e também a uma reflexão muito concreta. Só para esclarecer, não se pode esquecer que aqui em Israel é hemisfério norte, estamos no verão, e o ano letivo segue o mesmo esquema que o europeu, ou seja, começa em setembro. A dinâmica consistia em escrever bilhetinhos para os irmãos como se eles tivessem morrido, tentando pensar naquilo que mais positivamente a pessoa nos tinha marcado, partilhado, ensinado, no tempo de convivência. Tínhamos 24 horas para pensar a respeito, rezar, e colocar no papel. Todos os bilhetes foram colocados juntos num envelope e entregues para o respectivo 'morto'. Com os bilhetes em mãos, era a nossa vez, agora, também por 24 horas, de ler os bilhetes e rezar a respeito do que havia sido dito pelos irmãos. No terceiro dia, que foi o da partilha de todos, foi tão rico!
A meu respeito, o mais legal foi ver as pessoas me perceberem como uma pessoa livre. Diziam mais ou menos assim: 'eu sinto muita saudade sua porque sempre te via como uma pessoa livre em Deus, como uma pessoa que sabia ser filha de Deus...'. Mas esta dinâmica que acabou aproximando as pessoas e nos obrigou a uma reflexão bem concrea a respeito do outro, me gerou uma grande questão: como eu quero ser lembrada? o que vou deixar para trás no fim de minha vida? que sementes tenho plantado no hoje da minha existência?

Perguntas duras de serem respondidas com sinceridade e honestidade, mas que revelam, segura e concretamente não os nossos discursos mas os nossos atos de amor plantados pelo caminho.

Se eu e a Vania estudávamos? É claro que sim! E muito! Sempre fomos boas alunas e boas porque sabíamos sonhar com tanta inocência. Estas duas aí de cima somos nós, no Rio, em janeiro deste ano. Viva o dom de ter e cultivar amigos!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A vida é bela

Só uma breve palavra de agradecimento ao Senhor pelo dom da vida e pelo dom dos amigos. Obrigada por todos que me escrevem, telefonam, rezam por mim, lêem e não comentam mas estão ligados a mim pelos laços do amor. Do amor-amizade, do amor-fraternidade, do amor-vocação, do amor-família, do amor-trabalho, do amor-amor, do amor-sacrifício, do amor-vida missionária, do amor em português, italiano, inglês ou na língua dos anjos.
Depois de um dia muito puxado de horas e horas de ônibus pra cima e pra baixo, sempre agarradinha ao meu terço, fico pensando que a vida é cheia de muitos desafios e bom mesmo seria que a gente conseguisse descomplicá-la para poder ser mais simples e transparente, tendo menos medo. O segredo é procurar dar sentido à existência, seja nas pequenas coisas ou nas grandes tarefas. Desde procurar a própria missão e lugar no mundo, até fazer as pequenas rotinas insignificantes de cada dia, movida pela liberdade interior de poder servir e amar, sabendo que Deus ve o segredo dos corações e dá o peso devida a cada coisa. Acho que teremos muitas surpresas na eternidade também por esta verdade: as menores ofertas, as pequenas atitudes de paciência e perdão, todos os movimentos de amor, reconciliação e bom humor, toda responsabilidade assumida por amor a alguém será revelada como uma grande pepita de ouro!
Deus abençoe a todos! Um beijo!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Feliz Aniversário Mãe do Céu!


Detalhe das mãos de Nossa Senhora carregando o Menino no ícone do Nascimento de Jesus da parede lateral da igreja melquita da vila de Isifya



A imagem um pouco maior, incluindo o rosto da Virgem Mãe e dos animais


Anúncio do Arcanjo Gabriel à Virgem Maria, revelando-lhe sua missão particular e única em toda a história da Humanidade e na Economia da Salvação: Ser Mãe do Filho de Deus! Também este é um ícone de uma das paredes laterais da paróquia melquita de Isifya


Ícone da Crucificação: vemos Santa Maria Madalena apoiando Nossa Senhora que tem sua mão no rosto, tamanha a dor de ver seu Filho amado, flagelado e em agonia. Também ela, mais uma vez e com Jesus, deu o seu SIM à vontade do Pai



Este é o ícone mais importante de toda a igreja, do lado do ícone de Jesus Pantocrator, que fica em um dos pórticos que dá entrada ao local onde fica o altar. Lá somente o sacerdote entra para celebrar a Eucaristia ou o sacrifício da nova e aliança no Sangue do Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo
Quis mostrar todos estes detalhes e ícones como uma homenagem à Mãe do Céu, pois hoje celebramos a festa de seu nascimento. Aqui na Palestina, entre os árabes cristãos, ela é profundamente amada. MARIAM, a querida MARIAM. Os irmãos que vivem em Nazaré e trabalham diariamente atendendo a enxurrada de turistas e peregrinos que visitam a Basílica da Anunciação, me contaram que freqüentemente eles vêem mães, especialmente mães, muçulmanas e até judias, vestidas à caráter, irem até a gruta 'conversar com Nossa Senhora', derramar diante dela seus corações atribulados e aflitos. Realmente Nossa Senhora é tudo de bom e eu posso testemunhar que a partir de 2006, quando eu fiz minha primeira consagração à Ela pelo método de S.Luiz Grignon de Montfor (mesmo tendo que dar todos os descontos pelo vocabulário de mais de dois séculos atrás, meio empolado e distante do nosso jeito), minha vida espiritual, vocacional, deu uma guinada de muitos e muitos graus, de uma maneira que eu jamais poderia imaginar. Tornar-se 'escravo de Nossa Senhora' para ser mais perfeitamente 'escravo de Jesus'. Tudo no amor e na liberdade de quem quer encontrar e cultivar a pérola preciosa da felicidade.
Só me resta dizer: Ave cheia de graça! O Senhor é contigo e bendita tu serás sempre entre todas as mulheres e todos os homens, porque tu disseste um Sim perfeito a Deus, em nome de toda a Humanidade, apagando o Não de Eva. Te amamos Mãe, e louvamos o Pai por teres te criado, a mais perfeita de todas as criaturas humanas, para seres a Mãe de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, nosso Shalom, o grande amor de nossas vidas, e Nele e por causa dele, por nos teres adotado como filhos. Abençoa todos os teus filhos que lerem estas páginas e dá-lhes a paz e a alegria da fé.
Por mais romântico e piegas que possa parecer, ao dizermos parabéns, queremos, na verdade, ser mais semelhantes a ti, querida Mãe.

domingo, 7 de setembro de 2008

Lazer em Murakah





Acho que exagerei no tamanho das fotos, mas ficaram boas. Quis escrever ontem à noite, como sempre faço, mas cheguei em casa tão tarde que nem consegui. Fomos até a casa do padre Alberto, carmelita, lá no Murakah, que eu uma vez expliquei, fica no ponto mais alto do Monte Carmelo onde o profeta Elias fez descer fogo do céu e consumir todas as oferendas dos falsos profestas de Baal, decapitando-os a seguir (confesso que esta linguagem bíblica de morte e de guerra no Antigo Testamento me é difícil, creio que para todos nós, que vivemos, somos, nos movemos e nos alimentamos, pela Eucaristia, do Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, o manso e pacífico Jesus, que dá a vida e ama até o fim...).


Mas voltando ao lazer, depois da missa, ontem à noite peguei a van do asilo e fui dirigindo - merece três smilies por poder dirigir :), :), :) - levando todos os irmãos para um churrasco lá no carmelo. Estas fotos foram bem na hora que íamos nos sentar à mesa: a cerveja depois de quase três longos meses de abstinência :( foi partilhada com o Tales que também gosta. Fiz questão de registrar porque alguém me perguntou outro dia, num email, se a cerveja daqui é boa. Bem, tomei um golinho num casamento desses que a gente participou e achei simplesmente horrível. Mas a de ontem, dinamarquesa, bem gelada caiu bem com o churrasco de carne de cordeiro. Esta rodela imensa, bem fininha, é feita de trigo e água, uma espécie de pão, que as pessoas usam no lugar dos talheres para pegar os alimentos e não sujar as mãos. Interessantíssimo! Vão cortando com as mãos os nacos e pegando os alimentos. Não nos esqueçamos que a alimentação árabe é feita de legumes, frutas, umas pastinhas tipo hummus, carne, nada é muito agüado ou com molho. Foi uma noite ótima e nós rimos demais com as histórias, casos e micos especialmente do Tennessee e da Viviane, aprendendo a falar o árabe e o hebraico, respectivamente.


Shalom a todos neste domingo! Saúde! Cheers! Santé!

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Flores para Aslan




Recebi uma grande foto do Aslan em meu email hoje, esta que está acima, mandada pelo Prof. Júlio César, doutor em Lingüística, da UFC, um cientista desbravador, pessoa cheia de títulos e méritos, da minha banca de Mestrado, que se tornou um amigo e, como eu, fã das 'Crônicas de Nárnia'. Obrigada Júlio, pela lembrança, pelo carinho, recebido como verdadeiro mimo por quem está do outro lado do mundo, na Terra Santa, epicentro do Mundo, como diz o Pe.Jonas Abib, e umbigo da Humanidade, digo eu, onde Deus tirou seu véu, e revelou seu coração, seus segredos e sua natureza. Me deu uma imensa vontade de voltar a estudar... Será que isso vai acontecer um dia? Tudo a seu tempo.
Quanto ao Lewis, não encontrei uma pessoa sequer, até hoje, que depois de ler estes contos de fada fantásticos não tenha passado a amar o que ele escreve. Deveria haver mais divulgação de sua obra nas escolas e mais reedição de seus livros. Talvez com os filmes isso aconteça.

Aslan, o grande Leão, alegoria de Jesus, aquele que pode ser amado mas nunca domado, aquele cuja voz se escuta com o coração e cujo seguimento se dá com a vida, no relacionamento com as pessoas, na aventura de todos os armários a serem abertos. É para Aslan que oferto as flores mais belas de mim e diante de quem derramo meus perfumes mais preciosos. Ele é o Bom Deus como dizia Sta.Teresinha, título que a mim me soa tão bem, ou Nosso Senhor, como diziam os antigos e que o Moysés passou também a dizer - e todo mundo passou a imitar :)... Nosso Senhor que nos deu Nossa Senhora. Aslan, o Rei, 'the Great Lion', Shalom, the Prince of Peace.

Quem ainda não viu os DVDs ou leu as 'Crônicas de Nárnia', faça-o, de preferência no original, mas se não der, a tradução para o Português é muito boa.
Lucy deixa um abraço e votos de bons sonhos e bom fim de semana!

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Um Testemunho Eloqüente

Sei que esse lance de proselitismo é muito pernicioso e tem um aspecto muito diferente daquilo que seja, verdadeiramente, a evangelização e o testemunho de vida por palavras e por atos. Não posso negar que sofro muito quando vejo pessoas que foram muito mal evangelizadas - os porquês desta realidade não são o assunto em pauta - e que se diziam católicas 'virarem' protestantes! Isso me causa uma dor imensa! Nunca conheceram 'o bolo inteiro' do Cristianismo que tinham a sua frente e depois que viram evangélicas geralmente, passam a usufruir 'de uma ou de duas fatias do bolo' como se fosse o bolo inteiro, que tinham a sua disposição, mas que nunca buscaram experimentar em sua plenitude. Abandonam os Sacramentos, principalmente a Eucaristia, a Tradição e o Magistério e toda a riquíssima e longa história da Igreja e do Povo de Deus, (por isso mesma cheia de altos e baixos, mas muito mais cheias de Alpes que de Gran Canyons), e ficam somente com a Palavra de Deus, interpretada segundo sei lá quem ou ao bel prazer de cada um. Isso faz, por exemplo que só nos EUA haja mais de 5.000 denominações protestantes / evangélicas!
Como disse o Papa Bento XVI, quando veio ao Brasil em 2007, com muita sabedoria e elegância como lhe é peculiar (ele que é um dos se não o maior especialista em Calvinismo vivo, da atualidade), o Cristianismo se prega mais por atração do que por imposição. Ele criticava assim, este proselitismo de certos grupos evangélicos, que carregam em seu discurso muita agressividade.
Este testemunho que segue abaixo foi publicado no site do Shalom e ilustra esta realidade apontada pelo Santo Padre: a atração pela plena Verdade. Que o Senhor nos de a humildade e a coragem de vivermos como cordeiros mansos, cheios do Espírito como Ele, para que a nossa vida também atraia muitos de volta para Ele e para a Igreja, se assim o Pai quiser. Para quem nasceu nesta ou naquela denominação, que cumpra fielmente tudo que aprendeu e viva conforme sua consciência indicar. A misericórdia do Senhor nos cubra a todos pois Ele é a Salvação.
Vamos ao testemunho do Ian, inglês, que na sede da Verdade encontrou a fé católica e nos conta como esse encontro se deu. Graças a Deus suas palavras não são agressivas mas nos abrem os olhos sobre muitas realidades 'evangélicas e protestantes' que correm longe do que Deus quer. É longo o testemunho, mas vale a pena ler!
Robert Ian Williams – Ex-Protestante
Tradução: Carlos Martins Nabeto
A IGREJA E O PROFESSOR

“Como você pôde fazer isto? É serio mesmo a sua conversão? Você agora idolatra Maria? Como você pode contar os seus segredos mais íntimos a outro homem na confissão? Por que você se converteu? Como você pode aceitar ensinamentos que não se encontram na Bíblia?”

Estas são algumas perguntas que tenho recebido desde que fui recepcionado na Igreja Católica. À medida que vão passando os anos, têm se tornado mais freqüentes desde que decidi colocar os fatos no papel para informar os curiosos. Espero que este pequeno resumo ajude os católicos a entender a mentalidade “evangélica” e também ajude os evangélicos a pensar um pouco sobre o problema central que jaz no coração deste assunto: a autoridade.

Minha filiação à Igreja Católica não foi uma conversão paulina, como a ocorrida no caminho de Damasco. Embora seja certo que Deus pode fazer coisas assim, meu caminho para a fé romana foi uma experiência educativa e gradual. A conversão é, em suma, um assunto espiritual, porém, muitos fatores podem contribuir para que ocorra. Meu desagrado pela confusão em que se encontra a cristandade evangélica foi o ponto de partida. Creio que foi a graça de Deus que me permitiu discernir a debilidade desse sistema religioso.

Mas antes que a minha insatisfação se fizesse sentir, estava eu muito feliz no Cristianismo evangélico. Confiava em Cristo, acreditava que os meus pecados seriam perdoados e pensava que conhecia os Evangelhos e o Novo Testamento. Pensava também que todas as demais religiões estavam erradas e via a Igreja Católica como uma igreja apóstata, cheia de corrupção medieval, que obscurecia o Evangelho para a ruína das almas. Estava convencido que a Palavra de Deus na Bíblia era a única autoridade para o crente (Sola Scriptura) e que eu era justificado apenas por minha fé e nada mais que a minha fé (Sola Fide). Estes eram para mim os principais lemas da batalha da Reforma. Quando encontrava algum católico, ia logo mostrando a “verdade” e tentava levá-los ao conhecimento de Cristo. Eu era tão anticatólico que me negava a orar na capela existente na universidade onde dava aula. Sabia que a União Evangélica Cristã buscava converter os católicos e pensava, então, que todo assunto católico era nada mais que pura hipocrisia.

Porém, a graça de Deus começava a operar em meu coração. Tudo começou com o tema do batismo. Os cristãos evangélicos estão bastante divididos a este respeito. Alguns aceitam o batismo de crianças e outros crêem que o batismo é apenas para o crente adulto. Estudei os fatos e não encontrei nenhuma referência explícita ao batismo de crianças no Novo Testamento; assim, decidi investigar quanto tinha sido inserida esta prática entre os cristãos. Será que poderia remontar aos tempos dos Apóstolos ou tinha se infiltrado na Igreja durante os primeiros séculos? Ao seu tempo, descobri que o batismo de crianças era claramente apoiado pelo registro histórico. Se tivesse sido uma inovação, deveria então existir algum protesto contra a sua introdução na Igreja. Não pude encontrar nem um só grupo cristão anterior ao século XVI que rejeitasse o batismo das crianças. E até descobri que estes primeiros cristãos batistas apenas aspergiam a cabeça do adulto ao batizá-lo. Achei que a imersão (que também era um ponto importante para alguns evangélicos) não tinha sido iniciado até o século XVII. Descobri, então, que as igrejas batistas eram frágeis quanto ao rigor e a continuidade histórica.

Assim, rejeitei o batismo “apenas para adultos”. Para mim, isto era uma parte crucial da verdade e comecei a tentar convencer os evangélicos batistas agora que tinha conhecimento do erro de suas crenças. Alguns me disseram que eu estava obcecado por um assunto de importância secundária. Isto me chocou! Como poderia um mandamento solene de Jesus Cristo ser considerado como de importância secundária? Fiquei assombrado quando o renomado líder evangélico Martyn Lloyd-Jones, em seu livro “What Is an Evangelical?” (”O que é um Evangélico?”) comentou sobre o assunto da desunião das igrejas evangélicas, dizendo: “Outro assunto que devemos pôr na mesma categoria é a idade e o modo do batismo: a idade do candidato e o modo de administrar o rito do batismo. Devo pôr, então, na categoria das coisas que não são essenciais porque não se pode provar nem um nem outro usando apenas as Escrituras. Lí livros sobre o tema durante 44 anos e creio que sei menos agora do que sabia no começo. Portanto, enquanto afirmo - junto com todos nós - que creio no batismo, porque é evidentemente uma ordem de Deus, não devemos nos separar no que tange à idade do candidato e ao modo de administrá-lo”.

Aqui temos um homem que, crendo na autoridade da Bíblia como única condutora do crente, não pôde estabelecer o padrão bíblico para o Batismo. Isto é o que eu chamo de “aprender e não chegar ao conhecimento da verdade”. Ironicamente, na mesma obra, Lloyd-Jones ensina a suficiência da Escritura e que o Evangelicalismo é muito mais claro em sua lógica que o Catolicismo! Isto me fez olhar para outras discordâncias que existem entre os evangélicos. Se fossem apenas assuntos secundários, não haveria a necessidade de criar denominações separadas, cada qual esgrimando diferentes teorias para o retorno do Senhor, para o significado da Ceia do Senhor, se o crente pode ou não pode perder a sua salvação, ou as disputas sobre os dons carismáticos. A lista é longa.

A minha formação acadêmica é a de historiador e, como tal, me concentrei na História da Igreja. Não pude deixar de me assombrar quando vi que não podia encontrar nem um só registro do cristianismo evangélico na Igreja anterior ao século XVI. Nem mesmo os valdenses e os seguidores de Wyclif tinham idéia da salvação apenas pela fé. Ambos os grupos participavam dos sacramentos da Igreja Católica e passaram como movimentos de reforma dentro da Igreja e não como igrejas separadas. Nenhum dos Padres da Igreja pregou a salvação somente pela fé. O próprio Wyclif morreu enquanto participava de uma missa, sem ter sido batizado como crente e contente com seu batismo católico que recebera quando criança!

A teoria de que a conversão do imperador romano Constantino no século IV deu início à corrupção da Igreja é ainda mais inacreditável. Descobrí que a Igreja primitiva cria no batismo das crianças, na regeneração pelo batismo, nos bispos, na sucessão apostólica, na presença de Cristo na Eucaristia, no sacerdócio sacrificial, nas orações pelos falecidos e de um papel todo especial do bispo de Roma. Tudo isto se encontra claramente séculos antes de Constantino. Nas palavras do Cardeal Newman, “quem adentra na História, deixa de ser protestante”. Não pude achar um só registro dos evangélicos bíblicos, um grupinho de fiéis que se apegaram às crenças que caracterizam os evangélicos de hoje: somente a Bíblia e justificação apenas pela fé. O tratamento evangélico para a História da Igreja é superficial: nos fala de pessoas como Ambrósio, Agostinho e Atanásio como se fossem cristãos que apenas empregavam a Bíblia, ignorando completamente o contexto católico em que eles viveram. Classifico isto como intelectualmente desonesto.

Descobrí que a história dos evangélicos está assentada sobre mitos. A Igreja Católica - me afirmavam - tinha queimado as cópias da Bíblia. Pelo contrário, comprovei que a Igreja Católica preservou a Bíblia, definindo o seu cânon e só queimou e proibiu a leitura das edições que eram traduções inexatas e heréticas. Por exemplo, Bíblias como a tradução de Tyndale, que ostentava notas de rodapé atacando a Igreja e o Papa. Também descobrí versões traduzidas para os idiomas vernáculos vários anos antes da reforma alemã. Os Evangelhos foram traduzidos para o anglo-saxão muito antes que o idioma inglês fosse formado!

Também descobrí que o famoso “Livro dos Mártires”, de John Fox, um católico apóstata do século XVI, era impreciso. Muitos dos “martires” durante o reinado de Maria Tudor eram anti-ortodoxos, tendo sido queimados durante o reinado da rainha Isabel, que era protestante. De fato, Fox apoiou um regime que torturou e assassinou católicos que apenas queriam viver na fé dos seus antepassados. Apoiou também um regime que queimou cristãos evangélicos como os batistas! Foram cristãos protestantes os que perseguiram os pais do Puritanismo na Inglaterra do século XIX e esse grupo, por sua vez, já estabelecido na América, passou a perseguir os seus próprios companheiros de fé.

Eu tinha aceito a falsa idéia perpetuada por Lloyd-Jones e outros mestres evangélicos, que os católicos crêem na revelação contínua. Descobrí que, muito pelo contrário, a doutrina católica ensina que a revelação pública terminou com o que receberam os Apóstolos e que a fé foi entregue de uma vez aos santos. É dever da Igreja, como “coluna e fundamento da verdade” (1Timóteo 3,15), a interpretação e o discernimento do depósito original da fé. A Igreja Católica não inventou a transubstanciação no século XII, nem inventou o dogma trinitário no século IV. Como evangélico, fiquei perplexo ao me encontrar na mesma situação dos Testemunhas de Jeová que afirmam que a palavra “Trindade” não se encontra na Bíblia. Eu imaginava que a doutrina estivesse ali e o termo simplesmente a definia. Porém, acabava tendo por problema o fato de não poder usar este argumento para discutir a questão do Purgatório com um católico. Eu acabava respondendo que o caso do Purgatória não podia ser definido claramente. Mas esta era uma resposta bastante deficiente pois era subjetivamente evangélica. Além disso, Lutero, Calvino, Wesley e uma certa quantidade de outros reformistas “enxergavam” o batismo das crianças, enquanto que Spurgeon, Billy Graham e muitos outros não o encontravam na Bíblia. O ensinamento católico era mais lógico: Deus estabeleceu uma Igreja como árbitro final e não pode ela ser culpada pela confusão. O desenvolvimento da doutrina é como a revelação de um filme fotográfico: a imagem está no filme, mas à medida que o tempo e as circunstâncias mudam, a imagem se torna mais visível.

Não pude encontrar um só texto que afirmasse que apenas a Bíblia era suficiente. A famosa passagem que afirma que a Escritura é útil (2Timóteo 3,16) significa claramente que é um apoio, não que seja suficiente. Assim como é útil para mim beber água regularmente, mas não é suficiente como a alimentação completa. Não pude encontrar um só versículo que ensinasse que a Palavra de Deus deveria ser exclusivamente a palavra escrita. Mas encontrei Jesus honrando as tradições da fé judaica de sua comunidade, que não se encontravam na Escritura; sua condenação das falsas interpretações das tradições feitas pelos fariseus não era uma condenação da tradição em si mesma, já que a Igreja que Ele fundou sobre os Apóstolos aceitou tanto as tradições escritas [Escrituras] quanto as orais.

Nesse momento decidi reexaminar a minha crença em Cristo. Seria possível alguém ter sido enganado? Seria possível que Cristo fosse um falso Messias? Depois de todos os judeus O terem negado, poderia o povo mais brilhante e durador do mundo ter se equivocado? Portanto, comecei a ler apologética judaica contrária ao Cristianismo, que centrava seus ataques principalmente afirmando que as profecias sobre o Messias não tinham se cumprido; afirma ainda que Jesus nunca declarou ser Deus e que os seguidores gentios acrescentaram “conceitos pagãos” como o nascimento virginal e a Encarnação. Isto me fascinava porque se parecia muito com as acusações que os anticatólicos fazem, dizendo que essas mesmas coisas são acréscimos pagãos. Passei a ver isto como a culminância lógica da teoria evangélica: se o Paganismo contaminou o Cristianismo, então como pode um ensinamento divino e permanente ser comparável à incorruptível Torah? Outro livro anticristão me levou ainda mais para essa direção ao me questionar: se a religião de Cristo é a verdade, por que existem tantas igrejas cristãs diferentes? Assim enxerga o Cristianismo o intelectual judeu: como um fracasso.

Então voltei novamente a observar Cristo. Não poderia rejeitar sua divindade. Poderia ver que o Novo Testamento ensinava que Ele é Deus e isto não era um acréscimo pagão. O judaísmo moderno não é igual ao judaísmo da época de Nosso Senhor; é algo que se desenvolveu com o tempo e que também se dividiu em seitas. Inclusive, dentro do judaísmo ortodoxo há interpretações rabínicas que estão em conflito. Continuei me apegando fervorosamente à minha crença no Cristianismo “apenas com a Bíblia”. A forma de vida e a comunidade evangélicas são muito acolhedoras e, para mim, os cultos católicos pareciam frios quando comparados. Ao mesmo tempo, me desiludia cada vez mais da apologética anticatólica. Livros como “Catolicismo Romano”, de Loraine Boettner (um clássico anticatólico), apresentavam grosseiras distorções da realidade da doutrina e história [católicas]. Lembro-me de ter lido um livro evangélico que ridicularizava a doutrina católica da intenção sacramental. Na verdade, ridicularizava uma má representação dessa doutrina. A interpretação evangélica clássica dos textos petrinos cruciais, como Mateus 16, fundamenta-se em uma visão defeituosa e, então, eu já podia vê-la claramente. O jogo de palavras entre “Petros” e “petra” era periférico, uma vez que Nosso Senhor falava aramaico. A maioria dos eruditos evangélicos de hoje aceita a visão de que Pedro é a pedra e que recebeu as chaves da autoridade de uma maneira especial, pois assim como os antigos reis de Israel delegavam suas chaves de autoridade ao seu principal ministro ou vizir, Jesus designou Pedro como seu representante ou vigário. As chaves, em qualquer cultura civilizada, representam poder. Me dei conta que distorciam os escritos dos Padres da Igreja para fazê-los harmonizar com seus argumentos anticatólicos.

Há algumas pessoas que propõem a idéia de que os Padres da Igreja estão em desacordo com a idéia de Pedro ser a pedra de que fala Mateus 16. Um exame cuidadoso dos escritos patrísticos revela que se referem a diversos aspectos e significados das Escrituras; assim como uma casa é construída sobre uma série de alicerces, os escritores patrísticos observam os diferentes sentidos da Escritura sem se contradizer em absoluto.

Ao contrário do que anunciava o mito evangélico, encontrei aí evidência histórica abundante para a presença de Pedro em Roma e o estabelecimento de seu Bispado. Ao ouvir Nosso Senhor dizer [a Pedro] que a carne e o sangue não lhe tinham revelado sua divindade, podemos ver o dom de Deus que é o Papado em sua forma embrionária. Me surpreendeu encontrar, já desde o século I (quando o Apóstolo João ainda vivia), que o bispo de Roma escrevesse à igreja de Corinto, instruindo e advertindo seus membros que, se não considerassem o seu conselho, estariam em grave perigo. Com o passar dos séculos, a evidência do Papado aumenta. Então descobrí que havia respostas razoáveis para as objeções evangélicas. Lembro-me muito bem do comentário que lí em um “livro de visitas” de certa igreja anglicana; foi escrito, obviamente, por um visitante católico e dizia: “Onde está Pedro, aí está a Igreja”. Essas palavras que ficaram gravadas na minha mente, eram as palavras de Ambrósio, proferidas no século IV. A igreja angligana pode ter conservado os edifícios católicos erguidos antes da Reforma, porém, certamente, não conservou a antiga fé. Apesar de sua “cara de Catolicismo”, a igreja anglicana do século XIX é protestante. Isso se manifesta na ordenação de mulheres e outras aberrações que nela tomaram forma. O papel de Pedro chegou a estar tão claro para mim, que nem sequer conseguia considerar a pretensão das igrejas ortodoxas orientais de ser a verdadeira Igreja de Cristo. Nessas igrejas (ou, melhor dizendo, nessas comunhões) pude apreciar uma formosa liturgia, mas também uma falta de clareza magisterial. Por exemplo, até a década de 1930, as igrejas cristãs rejeitaram claramente a anticoncepção como uma coisa instrinsicamente imoral. Em 1930, a igreja anglicana a aprovou e outras [igrejas] a seguiram a partir de então. Isso inclui os ortodoxos, que também aceitam o divórico e as segundas núpcias. Apenas a Igreja Católica manteve uma posição firme nesses assuntos e isso sob o custo de perder a Inglaterra no século XVI.

Os ortodoxos abandonaram o sucessor de Pedro para se apegar ao poder imperial de Constantinopla. Depositando sua confinça nos príncipes, colheram finalmente um fracasso. Enquanto todas estas coisas me indicavam, sem sombra de dúvidas, que a pedra da Igreja Católica era firme, o liberalismo de algumas pessoas dentro da Igreja me pertubava. Então, ao ler a parábola da casa construída sobre a pedra, me dei conta que a chuva e o vento a ferem também. Os excêntricos e os dissidentes, porém, não podem demolir a casa; podem tirar-lhe pedaços da pedra, mas não a pode destruir. Assim foi que descobrí, pararalelamente ao que ocorreu com Nosso Senhor, que a oposição se concentra em três áreas principais. Durante o ministério terrestre [de Jesus], as autoridades religiosas se horrorizaram diante:

1. Das suas declarações de ser Deus;
2. Do fato de que perdoava os pecados; e
3. De sua declaração que, para ter a vida eterna, deve-se comer de Seu Corpo e Sangue.

Tudo isto continua sendo a razão de uma oposição virulenta entre os evangélicos. Lembro-me muito bem que, quando era evangélico, ironizava o ensinamento católico da confissão a um sacerdote, da crença na transubstanciação, na Missa, na infalibilidade do papa e da Igreja. Lembro-me de ter refutado, afirmando que apenas Deus poderia ser infalível.

Meu exame cuidadoso das Escrituras me mostrou também que a doutrina católica sobre Maria se fundamenta na Palavra de Deus e não é importada do Paganismo. O fato de os pagãos terem cultuado deusas não invalida a crença em Maria, assim como o fato de os pagãos terem realizado sacrifícios não invalida os sacrifícios ordenados na Bíblia. Pude perceber que os católicos não a adoram mais que os anglicanos adoram a Oliver Cromwell, quando estes colocam flores aos pés de sua estátua nos dias comemorativos.

A doutrina católica da comunhão dos santos chegou a ser para mim uma verdade estabelecida. Se “a oração do justo tem muito poder” então aqueles que morreram no Senhor, sendo espíritos perfeitos de homens justos, devem possuir um valor superlativo para nós. Isto é ilustrado perfeitamente em Apocalipse 5, em que os 24 anciãos representam os santos que oferecem suas orações a Deus. Antes de ingressar na Igreja Católica, uma das últimas linhas de resistência evangélicas é levantar as vidas de certos católicos que são bastante desastrosas. Essa objeção me foi dissipada ao ler Ronald Knox. Knox foi criado em um ambiente profundamente evangélico e logo se converteu ao Catolicismo. Uma vez disse que se ele esquecesse o guarda-chuva na entrada de um templo metodista, ao retornar encontrá-lo-ia ainda ali; porém, não seria possível assegurar que o mesmo ocorreria em um templo católico. Os metodistas usaram muitas vezes esta frase a seu favor; contudo, na realidade, é um testemunho contrário a eles. Cristo veio para salvar os pecadores e a rede da Igreja foi lançada para pescar todos os homens. A Igreja não é um clube para leitores da Bíblia de classe média; a Igreja de Jesus Cristo é uma poção misturada e o erro dos reformistas foi acreditar que a Igreja deve ser composta 100% pelos eleitos de Deus.

Nosso Senhor disse claramente que “muitos são chamados, mas poucos os escolhidos”. Ainda que seja certo que conheci alguns católicos bastante desviados da fé, também é certo que a grande maioria dos católicos são pessoas de bem que querem viver a vida em conformidade com os ensinamentos da Igreja. O fato de muitos católicos desobedecerem os ensinamentos da Igreja só confirma as palavras de Nosso Senhor: “A quem mais se dá, mais lhe será exigido”. São os católicos os que terão um juízo mais severo, iniciado pela Casa de Deus, quando o Senhor, no fim dos tempos, separar o trigo do joio.

Comecei a perceber que, tal como os fariseus do tempo de Jesus, os evangélicos tinham um ponto de vista superficial sobre a adoração de Jesus. Isto pode soar um pouco duro, mas de fato muitos cristãos “bíblicos” acumularam uma série de regras que condenam comportamentos certamente inofensivos, como se fossem anticristãos. Primeiro, se favorece a opinião de que ingerir algo é pecado e logo se ensina que Jesus bebeu apenas suco de uva, e que o vinho do milagre de Caná não tinha teor alcóolico. A outro pode parecer que dançar é abominável. Pode-se escrever uma longa lista de costumes semelhantes. Há evangélicos que pensam que fumar é evidência de que alguém não é crente, mas Spurgeon, comentarista batista do século XIX, fumava. Outros não jogam na loteria, mas investem seu dinheiro na bolsa. É quase impossível criar um estereótipo do crente evangélico, mas é possível dizer com segurança que a grande maioria aceita a anticoncepção. Pagam o dízimo de seu ganho a Deus (o evangelismo não custa barato a ninguém), mas não de seus corpos. Todo o sistema da “Sola Scriptura” é subjetivo. Foi-me contada uma história sobre uma senhora a quem alguém perguntou se acreditava realmente que ela e seu empregado eram os únicos cristãos, ao que ela respondeu: “Bom… Não estou muito segura se Jaime é”.
Não estou sozinho, pois nos últimos anos muitos evangélicos tradicionais converteram-se à fé católica. E o fizeram ainda que o caminho para a Igreja estivesse bloqueado por falsas representações semeadas pela oposição. Isto é seguramente uma graça de Deus, pois sempre haverá oposição para aqueles que quiserem cumprir perfeitamente as palavras de Nosso Senhor. A oposição provém das forças do secularismo, do materialismo, do modernismo e de outras filosofias. Tudo isto rejeita os ensinamentos que são peculiares à Igreja Católica. A Igreja é a pedra pequena predita pelo profeta Daniel, que destruirá a falsa imagem. É a semente que cresce até se tornar uma forte árvore. É o caminho que Isaías profetizou e que os homens não poderão deixar de encontrar. É a casa erguida sobre a rocha.

O Cardeal Herbert Vaughan (1832-1903) resumiu com palavras muito sábias o que usarei como corolário:

“É prática comum dos opositores da Igreja Católica tentar frear as almas apresentando-lhes uma multidão de dificuldades e objeções contra as doutrinas da Igreja. Sobre isto, podemos dizer duas coisas: Primeiro, seria muito fácil examinar esta lista de dificuldades e publicar um exame das mesmas, o que já foi feito por doutos católicos em grandes obras. Porém, é óbvio que para contender com tais problemas, deveria ser um teólogo ou passar toda a vida pesquisando, já que é necessário refutar todas as acusações. Por outro lado, temos as obras dos escritores anticatólicos, escritas para cegar ou confundir o caminho. Obras compostas por calúnias, citações adulteradas e uma mistura cuidadosamente dosificada de erro e verdade. Tais [obras] tentam, ao mesmo tempo, golpear e alienar tanto no sentido moral quanto no sentido intelectual. Se não conseguem total êxito assim, ao menos semeam perplexidade, ansiedade e o retardamento no caminho da busca de Deus. Porém, ao invés de ingressar em um labirinto cheio de dificuldades e quebra-cabeças de objeções, a via mais curta e satisfatória deverá ser eleita. Primeiro, encontrar o divino mestre, o pastor supremo, o vigário de Cristo. Concentre todas as suas faculdades mentais e morais na cabeça terrestre da Igreja de Deus. Essa é a chave para resolver esta situação”.

Publicado originalmente em inglês na revista “This Rock” Vol. 9, nº 3 em março de 1998. Robert Ian Williams, oriundo de Gales, é professor em Londres e publicou uma série de curtos tratados sobre a fé católica e sua história.