quinta-feira, 7 de abril de 2011

O Amor de Deus

Não foi com pouco emoção e grande alegria espiritual que recebi por email este texto, antes mesmo de lê-lo no Zenit.com, da segunda homilia que o Pe.Raniero Cantalamessa, ofm, que foi dada para a Cúria Romana estando presente o Santo Padre Bento XVI no dia 1 de abril. Se este é o dia da mentira conhecido internacionalmente como tal, o que ele pregou é a mais bendita e necessária de todas as verdades: Deus é Amor! Não posso me cansar de mergulhar e de amar e de me deixar consumir por esta verdade que é a essência da natureza de Deus e de sua vontade para mim e para cada uma das pessoas deste mundo e para o mundo. A verdade do amor de Deus precisa ser pregada e experimentada na ação particular do Espírito Santo nos corações mais e mais e mais para que as violências e descontroles deste mundo não nos massacrem e roubem a esperança com suas mentiras que é, em última ou em primeira instância, o que o Maligno deseja: que duvidemos da realidade e do amor de Deus, Nosso Senhor, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Duvidamos muitas vezes porque conhecemos pouco, entendemos pouco, rezamos pouco com a Palavra de Deus. É fácil se deixar levar pelos sentidos e pelas experiências humanas de limites e de pecados em nós mesmos, no pequeno mundo comunitário familiar que nos cerca, e no mundo em geral. Basta olhar o massacre Líbio ou na Costa do Marfim na luta por poder ou sentirmos dor pelos extremismos terroristas para ficarmos abalados. Digo isso pensando no que aconteceu em Israel na segunda-feira, quando um conhecido ator ativista da causa palestina que trabalhava com a mãe, judia, portanto também ele judeu, e pai árabe, cristão, mas todos envolvidos na mesma causa, ser assassinado a queima roupa por cinco rapazes...palestinos. Um senhor amigo do nosso bispo chegou na Cúria na terça-feira tão arrasado, 'devastated' como se diz em inglês, com a situação pérfida e desconcertante que teve que conversar com D.Elias para ver se conseguia alguma consolação.

Neste caso e nos casos que nos deixam de boca aberta, vemos o ódio e pecado em todas as suas facetas alimentando as ações das pessoas. Isso é fruto do mal  uso da liberdade que não conhece a Verdade e da ação do Maligno conjugado numa trama complexa de situações históricas e sociais que tornam ainda mais necessário o anúncio de Jesus Cristo e de sua Salvação e do Amor que Ele veio revelar para o Homem, sobre o Homem, sobre a Humanidade. A gente sofre, a gente se rebela contra o Mal, mas também reza e age, buscando o que Deus quer. E Ele sempre quer o Bem, a Salvação, a Liberdade, nos apresentar a filiação divina.

Daí não podermos desanimar, nem parar de fazer aquilo que nos foi confiado, por pequeno e mínimo que seja diante dos Golias desse mundo. O Espírito do Senhor estava com Davi e está com a Igreja e com aqueles que são Seus e que compõe o Reino de Deus, este Reino que ultrapassa os limites das instituições. Daí não podermos abandonar jamais nem o que fazemos e somos e nem a vida de oração, a oração que são lâmpadas, milhões de luzinhas a aquecer este mundo, refletindo o Amor e Aquele que é a Luz do mundo...

Se há uma coisa que o Maligno investe pesado é nos tirar da vida de oração, é duvidar de que ela tem efeito e valor, é nos levar a duvidar de que nossas orações são ouvidas. Vamos em frente! Às vezes também sou tentada quando vejo a minha pequenez e impotência humana diante dos problemas do mundo e da Igreja e deste Oriente Médio que me cerca... mas quem disse que eu tenho que ter a resposta e o entendimento de tudo? Eu tenho que fazer a minha parte que me é confiada e confiar tudo todo o tempo Àquele que é Jesus e Senhor, o Ressuscitado que passou pela Cruz, cujo Amor e doação livre da própria vida salvou a Humanidade e todos os homens! Salvou! É pretérito perfeito! Eu sou somente sua serva muito digna por ser alma esposa, diga-se de passagem, eu e milhões de outros, é bom lembrar, mas é Jesus o Salvador do mundo, não eu! 

Como dizem as leituras dessa semana do evangelho de S.João: meu Pai continua agindo, eu continuo agindo, diz Jesus. E a ação de Deus é misteriosa e vai além dos limites da nossa visão periférica e míope. Mas é preciso rezar, é preciso amar e se deixar amar primeiro, é preciso deixar a alma se alargar na confiança olhando para a história do mundo e reconhecendo a presença e as interferências do Senhor no passado e que acontecem no presente e sempre acontecerão. Ele está no meio de nós!

Creio a bondade de Deus a cada ano nos apresenta e reapresenta os mistérios da salvação através do ano litúrgico para fazermos memória do mistério e fazermos presença do mistério atualizando-o, encarnando-o, vivendo-o em nossas entranhas, relacionamentos, ministérios, vocação, trabalhos, alegrias e tristezas. Por isso evangelizar, por isso contemplar, por isso não arrefecer no exercício de composição da unidade fraterna, por isso ter um coração missionário que quer dar tudo, viajar para todos os lugares, inclusice para a China - quem me dera! -, para a África - quem me dera mais uma vez! -, para as Américas, para onde Deus quiser. Por isso o desejo de falar de Jesus a todos os homens, de rezar por todos os que sofrem sem a consolo e a presença do Espírito Santo, por isso a sede enorme de fazer a vontade de Deus desejando que ela se manifeste em mim e através de mim em todos os aspectos e na vida de todas as pessoas criadas à imagem e beleza de Deus, criadas por amor e para o amor... Enfim, acho que fui atingida pelo virus de Santa Teresinha e para este virus não quero cura nem antibiótico, quero é propaga-lo do jeito que Deus permitir em minha grande limitação mas em meu sincero amor e intercessão.

Abaixo um presente para todos os leitores do blog, em inglês e em português, um dos mais belos e completos textos que li sobre o amor de Deus. Que ele restaure nossa fé, nos encha de gratidão e de parresia, cure mais profundamente nossas dores e rejeições e nos revele a beleza de nosso rosto e dignidade de filhos e filhas amadas do Pai! Shalom! 

PE. RANIERO CANTALAMESSA: DEUS É AMOR
 
Segunda Prédica de Quaresma ao Papa e à Cúria

DEUS É AMOR

O primeiro e fundamental anúncio que a Igreja tem a missão de levar ao mundo, e que o mundo espera da Igreja, é o amor de Deus. Mas, para terem como transmitir esta certeza, é preciso que os próprios evangelizadores sejam intimamente permeados por esse amor, que tem que ser a luz da sua vida. É para esta meta que, pelo menos em mínima parte, a presente meditação pretende se dirigir.

A expressão “amor de Deus” tem duas acepções bem diferentes: uma em que Deus é objeto e a outra em que Deus é sujeito: uma que indica o nosso amor por Deus e a outra que indica o amor de Deus por nós. O homem, mais propenso por natureza a ser ativo que passivo, mais a ser credor que devedor, sempre deu precedência ao primeiro significado, àquilo que nós fazemos para Deus. A pregação cristã também seguiu esse caminho, falando, em certas épocas, quase só do “dever” de amar a Deus (“De diligendo Deo”).

Mas a revelação bíblica dá a prevalência ao segundo significado: ao amor “de” Deus, não ao amor “por” Deus. Aristóteles dizia que Deus move o mundo “porque é amado”, ou seja, é objeto de amor e causa final de toda criatura [1]. Mas a bíblia diz exatamente o contrário: Deus cria e move o mundo porque ama o mundo. O mais importante do amor de Deus não é que o homem ama a Deus, mas que Deus ama o homem e o ama “primeiro”: “Nisso está o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas Ele quem nos amou” (1 Jo 4,10). Disso depende todo o resto, incluída a nossa própria possibilidade de amar a Deus: “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4,19).

1. O amor de Deus na eternidade

João é o homem dos grandes saltos. Ao reconstruir a história terrena de Cristo, os outros tinham se atido ao seu nascimento de Maria; ele viaja para muito antes, do tempo para a eternidade. “No princípio era o Verbo”. E faz o mesmo a respeito do amor. Todos os outros, Paulo inclusive, falaram do amor de Deus manifestado na história e culminado na morte de Cristo; João vai além da história. Não nos apresenta só um Deus que ama, mas um Deus que é amor. “No princípio era o amor, o amor estava junto de Deus e o amor era Deus”: assim podemos destrinchar a sua afirmação “Deus é amor” (1 Jo 4,10).

Sobre ela, Agostinho escreveu: “Se não houvesse, em toda esta carta e em todas as páginas da Escritura, nenhum elogio do amor além desta única palavra, que Deus é amor, não precisaríamos de nada mais” [2]. Toda a bíblia não faz senão “narrar o amor de Deus” [3]. Esta é a notícia que sustenta e explica todas as outras. Discute-se, sem fim, e não só de hoje, se existe Deus. Mas eu acho que o mais importante não é saber se Deus existe, mas se Ele é amor. Se, por hipótese [4], Ele existisse mas não fosse amor, teríamos mais a temer do que a nos alegrar com a sua existência, como ocorria nos primeiros povos e civilizações. A fé cristã nos assegura justo isso: Deus existe e é amor!

O ponto de partida da nossa viagem é a Trindade. Por que os cristãos crêem na Trindade? A resposta é: porque crêem que Deus é amor. Onde Deus é concebido como Lei suprema ou Poder supremo, não é preciso, evidentemente, uma pluralidade de pessoas, e, portanto, não se entende a Trindade. O direito e o poder podem ser exercidos por uma só pessoa. O amor não.

Não há amor sem que seja de algo ou de alguém, como, segundo o filósofo Husserl, não há conhecimento que não seja de algo. Quem é que Deus ama, para ser definido amor? A humanidade? Mas os homens só existem há poucos milhões de anos! Antes, a quem Deus amava, para ser definido amor? Ele não pode ter começado a ser amor a um certo ponto do tempo, porque Deus não pode mudar a sua essência. O cosmo? Mas o universo existe faz poucos bilhões de anos. Antes, o que Deus amava para poder-se definir amor? Não podemos dizer: amava a si mesmo, porque amar a si próprio não é amor, mas egoísmo, ou, como dizem os psicólogos, narcisismo.

E eis a resposta da revelação cristã que a Igreja recolheu de Cristo e explicitou no seu credo: Deus é amor em si mesmo, antes do tempo, porque desde sempre Ele tem em si um Filho, o Verbo, a quem ama com amor infinito, que é o Espírito Santo. Em todo amor há sempre três realidades ou sujeitos: um que ama, um que é amado e o amor que os une.

2. O amor de Deus na criação

Quando este amor-fonte se derrama no tempo, temos a história da salvação. A primeira etapa é a criação. O amor é, por natureza, “diffusivum sui”, tende a comunicar-se. Como “o agir segue o ser”, Deus, sendo amor, cria por amor. “Por que Deus nos criou?”: esta era a segunda pergunta do catecismo de antigamente, e a resposta era: “Para conhecê-lo, amá-lo e servi-lo nesta vida e desfrutá-lo na outra, no paraíso”. Resposta parcial. Ela responde à pergunta sobre a causa final: “para quê, com que finalidade fomos criados por Deus”; não à pergunta sobre a causa causante: “por quê, por qual motivação, fomos criados por Deus”. Esta pergunta não tem como resposta “para o amarmos”, mas sim “porque Ele nos ama”.

Segundo a teologia rabínica, citada pelo Santo Padre no seu último livro sobre Jesus, “o cosmo é criado não para existirem múltiplos astros e tantas outras coisas, e sim para haver um espaço para a aliança, o sim do amor entre Deus e o homem que lhe responde” [5]. A criação existe para o diálogo de amor de Deus com as suas criaturas.

Como é distante, neste ponto, a visão cristã da origem do universo da visão do cientificismo ateu recordado no Advento! Um dos sofrimentos mais profundos para um jovem é descobrir, um dia, que ele está no mundo por acaso, não querido, não esperado, talvez por uma falha dos pais. Um certo cientificismo ateu parece empenhado em infligir esse tipo de sofrimento à humanidade inteira. Ninguém saberia nos convencer melhor que Santa Catarina de Sena de termos sido criados por amor, numa sua fervente prece à Trindade:

“Como criaste, então, ó Pai eterno, esta tua criatura? [...] O fogo te obrigou. Ó amor inefável! Embora em tua luz previsses toda as iniquidades que a tua criatura cometeria contra a tua bondade infinita, agiste como se não visses, e pousaste a vista na beleza da tua criatura, da qual, como louco e ébrio de amor, te enamoraste e, por amor, a extraíste de ti, dando-lhe o ser à tua imagem e semelhança! Tu, verdade eterna, declaraste a mim a tua verdade: que o amor te obrigou a criá-la”.

Isto não é só ágape, amor de misericórdia, de doação e de descida; é também eros em estado puro; é atração pelo objeto do próprio amor, estima e fascínio pela sua beleza.

3. O amor de Deus na revelação

A segunda etapa do amor de Deus é a revelação, a Escritura. Deus nos fala do seu amor sobretudo nos profetas. Diz em Oseias: “Quando Israel era um menino, eu o amei [...]. Eu ensinei Efraim a caminhar, conduzindo-o pelos braços [...]. Eu o atraía com laços humanos, com vínculos de amor; era, para eles, como quem retira o jugo e lhes dava docemente de comer [...]. Como poderia abandonar-te, Efraim? [...] O meu coração se comove inteiro dentro de mim, todas as minhas compaixões se acendem” (Os 11, 1-4).

Achamos esta mesma linguagem em Isaías: “Acaso uma mulher esquece o filho e não se comove pelo fruto do seu ventre?” (Is 49,15). E em Jeremias: “Efraim é o filho que amo, meu pequeno, meu encanto! Toda vez que o repreendo recordo-me disso, comove-se o meu âmago e cedo à compaixão” (Jer 31,20).

Nestes oráculos, o amor de Deus se expressa ao mesmo tempo como amor paterno e materno. O amor paterno é feito de estímulo e solicitude; o pai quer o filho crescido e levado à plena maturidade. Por isso o corrige e dificilmente o louva em sua presença, por medo que se ache pronto e não progrida mais. Já o amor materno é feito de acolhida e de ternura; é um amor visceral; parte das profundas fibras do ser da mãe, onde a criatura se formou, e ali enraíza toda a sua pessoa, fazendo-a “estremecer de compaixão”.

No âmbito humano, esse dois tipos de amor –viril e materno– são sempre, mais ou menos claramente, repartidos. O filósofo Sêneca dizia: “Não vês como é diferente a maneira de amar do pai e da mãe? Os pais acordam cedo os filhos para estudarem, não os deixam ociosos e os fazem derramar suor e às vezes lágrimas. As mães os embalam no colo, querem mantê-los por perto e evitam contrariá-los, fazê-los chorar e fazê-los cansar-se” [6]. Mas enquanto o Deus do filósofo pagão só tem pelos homens “o ânimo de um pai que ama sem fraqueza” (são palavras dele), o Deus bíblico tem também o ânimo da mãe que ama “com fraqueza”.

O homem conhece por experiência outro tipo de amor, do qual se diz que é “forte como a morte e suas centelhas são centelhas de fogo” (cf. Ct 8,6), e também a esse tipo de amor Deus recorreu, na bíblia, para nos dar uma ideia do seu amor apaixonado por nós. Todas as fases e vicissitudes do amor esponsal são evocadas e usadas para esse fim: o encanto do amor no estado nascente do namoro (cf. Jer 2,2); a plenitude da alegria do dia do casamento (cf. Is 62,5); o drama do rompimento (cf. Os 2,4) e, por fim, o renascer, cheio de esperança, do vínculo antigo (cf. Os 2,16; Is 54,8).

O amor esponsal é, fundamentalmente, um amor de desejo e de escolha. Se é verdade, então, que o homem deseja Deus, é verdade, misteriosamente, também o contrário: que Deus deseja o homem, quer e aprecia o seu amor, se alegra com ele “como o esposo se alegra com a esposa” (Is 62,5)!

Como o Santo Padre realça na Deus caritas est, a metáfora nupcial que atravessa quase toda a bíblia e inspira a linguagem da “aliança” é a melhor prova de que o amor de Deus por nós também é eros e ágape, é dar e buscar juntos. Não pode ser reduzido a pura misericórdia, a um “fazer caridade” ao homem, no sentido mais diminuído da expressão.

4. O amor de Deus na encarnação

Chegamos assim à etapa culminante do amor de Deus, a encarnação: “Deus tanto amou o mundo que lhe deu seu unigênito” (Jo 3,16). Diante da encarnação, perguntamos o mesmo que nos perguntamos na criação: por que Deus se fez homem? Cur Deus homo? Por muito tempo, a resposta foi: para nos redimir do pecado. Duns Scoto aprofundou esta resposta, fazendo do amor o motivo fundamental da encarnação, como de todas as outras obras ad extra da Trindade.

Deus, conforme Scoto, ama primeiramente a si mesmo; segundo, quer outros seres que o amem (“secundo vult alios habere condiligentes”). Se Ele decide a encarnação, é para que exista outro ser que o ame com o máximo amor possível fora dele mesmo [7]. A encarnação, portanto, teria ocorrido ainda que Adão não tivesse pecado. Cristo é o primeiro pensado e o primeiro querido, o “primogênito da criação” (Col 1,15), não a solução para um problema levantado a seguir com o pecado de Adão.

Mas a resposta de Scoto também é parcial e precisa do complemento da Escritura quanto ao amor de Deus. Deus quis a encarnação do Filho não só para ter alguém fora de si mesmo que o amasse de maneira digna de si, mas também e principalmente para ter fora de si mesmo alguém a quem amar de maneira digna de si! E este é o Filho feito homem, em quem o Pai “encontra toda a sua complacência” e com quem fomos todos feitos “filhos no Filho”.

Cristo é a prova suprema do amor de Deus pelo homem, não só em sentido objetivo, como penhor inanimado do próprio amor dado a outro, mas em sentido também subjetivo. Em outras palavras, não é só a prova do amor de Deus, mas é o próprio amor de Deus que tomou forma humana para pode amar e ser amado a partir de dentro da nossa situação. No princípio era o amor e “o amor se fez carne”: assim parafraseia um antiquíssimo escrito cristão as palavras do prólogo de João [8].

São Paulo cunha uma expressão sob medida para esta nova modalidade do amor de Deus: “o amor de Deus que é em Cristo Jesus” (Rm 8,39). Se, como dizia da vez passada, todo o nosso amor por Deus deve expressar-se concretamente em amor por Cristo, é porque todo amor de Deus por nós foi antes expresso e recolhido em Cristo.

5. O amor de Deus infundido nos corações

A história do amor de Deus não acaba na Páscoa de Cristo, mas se prolonga no Pentecostes que atualiza e mantém operante “o amor de Deus em Cristo Jesus” até o fim do mundo. Não somos obrigados, portanto, a viver só da lembrança do amor de Deus, como de coisa passada. “O amor de Deus foi infundido nos nossos corações mediante o Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).

Mas o que é esse amor, que foi derramado em nosso coração no batismo? É um sentimento de Deus por nós? Uma benévola disposição de Deus a nosso respeito? Uma inclinação? Algo, enfim, de intencional? É muito mais; é algo real. É, ao pé da letra, o amor de Deus, o amor que circula na Trindade entre Pai e Filho e que, na encarnação, assumiu uma forma humana e agora nos é participado sob a forma de “inabitação”. “O meu Pai o amará e a ele nós viremos e nele faremos morada” (Jo 14,23).

Tornamo-nos “partícipes da natureza divina” (2 Pd 1,4), ou partícipes do amor divino. Encontramo-nos por graça, explica São João da Cruz, dentro do vórtice de amor que flui desde sempre na Trindade entre o Pai e o Filho [9]. Melhor ainda: entre o vórtice de amor que agora flui, no céu, entre o Pai e o seu Filho Jesus Cristo, ressuscitado da morte, de quem nós somos os membros.

6. Nós acreditamos no amor de Deus!

Veneráveis padres, irmãos e irmãs, esta que tracei pobremente é a revelação objetiva do amor de Deus na história. Agora olhemos para nós: o que faremos, o que diremos depois de ter escutado o quanto Deus nos ama? Uma primeira resposta é: reamar a Deus! Não é, este, o primeiro e o maior dos mandamentos da lei? Sim, mas isto vem depois. Outra resposta possível: amar-nos como Deus nos amou! Não diz o evangelista João que, se Deus nos amou, “também nós devemos amar uns aos outros” (1 Jo 4,11)? Isso também vem depois. Primeiro temos outra coisa a fazer. Crer no amor de Deus! Depois de dizer que “Deus é amor”, o evangelista João exclama: “Nós acreditamos no amor que Deus tem por nós!” (1 Jo 4,16).

A fé. Mas aqui se trata de uma fé especial: a fé-estupor, a fé incrédula (um paradoxo, eu sei, mas verdadeiro!), a fé que não sabe entender daquilo em que crê, mesmo crendo. Como é possível que Deus, sumamente feliz na sua quieta eternidade, tenha tido o desejo não só de nos criar, mas até de vir em pessoa sofrer em meio a nós? Como é que isto é possível? Pronto: esta é a fé-estupor, a fé que nos faz felizes.

O grande converso e apologeta da fé Clive Staples Lewis (autor do ciclo narrativo de Nárnia, recentemente levado ao cinema) escreveu uma obra singular intitulada “As Cartas do Coisa-Ruim”. São cartas que um diabo velho escreve a um diabinho jovem e inexperiente, que tem a missão na terra de desencaminhar um jovem londrino recém-retornado à prática cristã. A meta é instruir o diabinho quanto às estratégias para atingir o objetivo. Trata-se de um moderno, finíssimo tratado de moral e ascética, a ser lido pelo contrário, fazendo exatamente o oposto do que é aconselhado.

A um certo ponto, o autor nos faz assistir a uma espécie de discussão entre os demônios. Eles não conseguem entender que o Inimigo (é assim que eles se referem a Deus) ame de verdade “os vermes humanos e deseje a liberdade deles”. Eles têm certeza de que isso não pode ser. Deve haver, necessariamente, uma farsa, um truque. Estamos nos perguntando isso, dizem eles, desde o dia em que o Nosso Pai (é assim que eles chamam Lúcifer), justo por este motivo, se afastou dele; ainda não descobrimos, mas um dia descobriremos [10]. O amor de Deus pelas suas criaturas é, para eles, o mistério dos mistérios. E eu acredito que, pelo menos nisso, os demônios têm razão.

Pareceria uma fé fácil e agradável; mas é, talvez, a coisa mais difícil que exista, até para nós, criaturas humanas. Acreditamos, nós, de verdade mesmo, que Deus nos ama? Não é que não creiamos de verdade, mas pelo menos não cremos o suficiente. Se acreditássemos, a vida, nós mesmos, as coisas, os fatos, a própria dor, tudo se transfiguraria rapidamente diante dos nossos olhos! Hoje mesmo estaríamos com ele no paraíso, porque o paraíso é isso: gozar da plenitude do amor de Deus.

O mundo sempre foi dificultando mais acreditar no amor. Quem foi traído ou ferido uma vez, tem medo de amar e ser amado, porque sabe o quanto dói ver-se enganado. Por isso vai sempre crescendo a fila dos que não conseguem acreditar no amor de Deus; ou pior: em amor nenhum. O desencanto e o cinismo são a moldura da nossa cultura secularizada. No pessoal, temos ainda a experiência da nossa pobreza e miséria, que nos faz dizer: “Sim, o amor de Deus é bonito, mas não é pra mim! Eu não sou digno...”.

Os homens precisam saber que Deus os ama e ninguém melhor que os discípulos de Cristo para lhes dar essa boa notícia. Outros, no mundo, compartilham com os cristãos o temor de Deus, a preocupação com a justiça social e o respeito do homem, com a paz e a tolerância; mas ninguém –ninguém!– entre os filósofos, nem entre as religiões, diz ao homem que Deus o ama, o ama primeiro, e o ama com amor de misericórdia e de desejo: com eros e com ágape.

São Paulo nos sugere um método para aplicar à nossa existência concreta a luz do amor de Deus. Escreve: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? Mas em todas essas coisas nós somos mais que vencedores, em virtude daquele que nos amou” (Rm 8, 35-37). Os perigos e os inimigos do amor de Deus que ele enumera são aqueles que, de fato, ele experimentou na vida: angústia, perseguição, espada... (cf. 2 Cor 11,23). Ele os repassa na mente e constata que nenhum deles é forte o bastante para triunfar quando se pensa no amor de Deus.

Nós estamos convidados a fazer como Ele: olhar para a nossa vida, do jeito que ela se apresenta, e trazer à tona os medos que se aninham nela, as tristezas, ameaças, complexos, aquele defeito físico ou moral, aquela lembrança doída que nos humilha, e escancarar tudo à luz do pensamento de que Deus me ama.

Da sua vida pessoal, o Apóstolo estende o olhar para o mundo que o circunda. “Eu estou certo de que nem a morte, nem a vida; nem anjos nem principados; nem presente nem futuro; nem potestades, nem altura, nem profundidade, nem nenhuma outra criatura poderá jamais nos separar do amor de Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8, 37-39). Ele observa o seu mundo, com as potências que o tornavam ainda mais ameaçador: a morte com o seu mistério, a vida presente com as suas lisonjas, as potências astrais ou infernais que incutiam tanto terror no homem de antigamente.

Nós podemos fazer igual: olhar para o mundo que nos circunda e que nos dá medo. A altura e a profundidade são hoje, para nós, o infinitamente grande e o infinitamente pequeno, o universo e o átomo. Tudo está pronto para nos esmagar; o homem é frágil e só, num universo tantas e tantas vezes maior do que ele, e que se tornou, além disso, ainda mais ameaçador depois das descobertas científicas que o homem fez e não consegue dominar, como a crise dos reatores nucleares de Fukushima está dramaticamente nos demonstrando.

Tudo pode ser questionado, todas as certezas podem nos faltar, mas nunca esta: Deus nos ama e é mais forte do que tudo. “O nosso auxílio está no nome do Senhor que fez o céu e a terra”.

Notas:

1. Aristóteles, Metafísica, XII, 7, 1072b.

2. S. Agostinho, Tratados sobre a primeira carta de João, 7, 4.

3. S. Agostinho, De catechizandis rudibus, I, 8, 4: PL 40, 319.

4. Cf. S. Kierkegaard, Discursos edificantes..., 3: O Evangelho dos sofrimentos, IV.

5. Bento XVI, Jesus de Nazaré, II Parte, Livraria Editora Vaticana, 2011, p. 93.

6. Sêneca, De Providentia, 2, 5 s.

7. Duns Scoto, Opus Oxoniense, I,d.17, q.3, n.31; Rep., II, d.27, q. un., n.3

8. Evangelium veritatis (dos Códigos de Nag-Hammadi).

9. Cf. S. João da Cruz, Cântico espiritual, A, estrofe 38.

10. C.S. Lewis, The Screwtape Letters, 1942, cap. XIX.

[Traduzido do original italiano por ZENIT]



FATHER CANTALAMESSA'S 2ND LENTEN HOMILY

"God Is Love"

The first and essential proclamation that the Church is charged to take to the world and that the world awaits from the Church is that of the love of God. However, for the evangelizers to be able to transmit this certainty, it is necessary that they themselves be profoundly permeated by it, that it be the light of their life. The present meditation should serve this purpose at least in a small part.



The expression "love of God" has two very different meanings: one in which God is object and the other in which God is subject; one which indicates our love for God and the other which indicates God's love for us. The human person, who is more inclined to be active than passive, to be a creditor rather than a debtor, has always given precedent to the first meaning, to that which we do for God. Even Christian preaching has followed this line, speaking almost exclusively in certain epochs of the "duty" to love God ("De Deo diligere").

However, biblical revelation gives precedence to the second meaning: to the love "of" God, not to the love "for" God. Aristotle said that God moves the world "in so far as he is loved," that is, in so far as he is object of love and final cause of all creatures.[1] But the Bible says exactly the contrary, namely, that God creates and moves the world in as much as he loves the world.



The most important thing, in speaking of the love of God, is not, therefore, that man loves God, but that God loves man and that he loved him "first": "In this is love, not that we loved God but that he loved us" (1 John 4:10). From this all the rest depends, including our own possibility of loving God: "We love, because he first loved us" (1 John 4:19).



1. The Love of God in Eternity



John is the man of great leaps. In reconstructing the earthy history of Christ, the others paused on the birth from Mary, but John makes the great leap back, from time to eternity: "In the beginning was the Word." He does the same in regard to love. All the others, including Paul, spoke of the love of God manifesting itself in history and culminating in the death of Christ. He goes back beyond history. He does not present to us only a God that loves, but a God who is love. "In the beginning was love, love was with God and love was God": thus we are able to solve his affirmation: "God is love" (1 John 4:10).



Of this statement Augustine has written: "If there was not in all this Letter and in all the pages of Scripture, any praise of love outside of this sole word, namely that God is love, we should not ask for more."[2] The whole Bible does no more than "narrate the love of God."[3] This is the news that supports and explains all the others. Discussed "ad infinitum," and not just today, is the question of whether or not God exists. I believe, however, that the most important thing to know is not of God's existence, but rather of his love.[4] If, by way of hypothesis, he existed but was not love, we would have more to fear than to rejoice over his existence, as in fact happened with several populations and civilizations. Christian faith assures precisely about this: God exists and he is love!



The point of departure of our journey is the Trinity. Why do Christians believe in the Trinity? The answer is because they believe that God is love. Where God is conceived as supreme Law or supreme Power there is evidently no need of a plurality of persons and that is why the Trinity is not understood. Law and Power can be exercised by only one person, but not love.



There is no love that is not love for something or someone, as philosopher Husserl says, there is no knowledge that is not knowledge of something. Who does God love to be defined as love? Humanity? But men have only existed for millions of years; before that time what did God love to be defined love? He could not have begun to be love at a certain point in time, because God cannot change his essence. The cosmos? But the universe has existed for some billions of years; before that time what did God love to be defined love? We cannot say: He loved himself, because to love oneself is not love, but egoism or, as psychologists say, narcissism.



And here is the answer of Christian revelation that the Church received from Christ and has made explicit in her Creed. God is love in himself, before time, because he has always had in himself the Son, the Word, whom he loves with an infinite love which is the Holy Spirit. In every love there are always three realities or subjects: one who loves, one who is loved, and the love that unites them.



2. The Love of God in Creation



When this eternal love is spread in time, we have the history of salvation. The first stage of it is creation. Love is, by nature, "diffusivum sui," it tends to communicate itself. Just as "action follows being," being love, God creates out of love. "Why has God created us?" Read the second question of the old catechism, and the answer was: "To know him, to love him and to serve him in this life and to be happy with him in the next in paradise." Irreprehensible answer, but partial. It responds to the question on the final cause: "for what purpose, for what end has God created us"; it does not respond to the question on the causing cause: "why has he created us, what drove him to create us." One must not respond to this question: "so that we would love him," but "because he loved us."

According to rabbinic theology, endorsed by the Holy Father in his recent book on Jesus, "The cosmos was created, not that there might be manifold things in heaven and earth, but that there might be a space for the 'covenant,' for the loving 'yes' between God and his human respondent"[5]. Creation is ordained to the dialogue of the love of God for his creatures.

How far on this point is the Christian vision of the universe from that of atheist scientism recalled in Advent! One of the most profound sufferings for a young man or a girl is to discover that they are in the world by chance, not wanted, not awaited, perhaps by a mistake of their parents. A certain atheist scientism seems determined to inflict this type of suffering on the whole of humanity. No one would be able to convince us of the fact that we were created out of love better than the way Catherine of Siena does in one of her enflamed prayers to the Trinity: "How, then, did you create, O Eternal Father, this your creature? [...] Fire constrained you. O ineffable love, even though in your light you saw all the iniquities, which your creature would commit against your infinite goodness, you looked as if you did not see, but rested your sight on the beauty of your creature, whom you, as mad and drunk with love, fell in love with and out of love you drew her to yourself giving her being in your image and likeness. You, eternal truth, have declared to me your truth, that is, that loved constrained you to create her."



This is not only agape, love of mercy, of donation and of descent; it is also eros in the pure state; it is attraction to the object of one's love, esteem and fascination with its beauty.



3. The Love of God in Revelation



The second stage of the love of God is revelation, the Scriptures. God speaks to us of his love above all in the prophets. In Hosea he says: "[w]hen Israel was a child, I loved him [...] "it was I who taught Ephraim to walk, I took them up in my arms [...] "I led them with cords of compassion, with the bands of love, and I became to them as one who eases the yoke on their jaws, and I bent down to them and fed them [...] "How can I give you up, O Ephraim? [...] "My heart recoils within me, my compassion grows warm and tender." (Hosea 11:1-4).



We find this same language in Isaiah: "Can a woman forget her sucking child, that she should have no compassion on the son of her womb?" (Isaiah49:15) and in Jeremiah: "Is Ephraim my dear son? Is he my darling child? For as often as I speak against him, I do remember him still. Therefore my heart yearns for him; I will surely have mercy on him" (Jeremiah 31:20).



In these oracles, the love of God is expressed contemporaneously as paternal and maternal love. Paternal love is made of stimulus and solicitude; the father wants to make his son grow up and to lead him to full maturity. That is why he corrects him and does not praise him in his presence, out of fear that he should believe he has arrived or that he will no longer make progress. Maternal love instead is made of acceptance and tenderness; it is a "visceral" love; it comes from the profound fibers of the mother's being, where the child was formed, and from there grips the whole of her person, making her "tremble with compassion."



In the human realm, these two types of love -- virile and maternal -- are always , more or less clearly distributed. The philosopher Seneca said: "[d]on't you see how different is the manner of loving of fathers and mothers? The fathers wake their children early so that they will start to study, they are not allowed to be lazy and they make them pour out sweat and at times even tears. The mothers, instead, put them on their lap and hold them close to themselves, avoid opposing them, or making them cry or tiring them."[6] However, whereas the God of the pagan philosopher has toward men only "the spirit of a father who loves without weakness" (these are his words), the biblical God also has the spirit of a mother who loves "with weakness."



Man knows by experience another type of love, that love of which it is said that it is "strong as death and that its flames are flames of fire" (cf. Ct 8, 6) and to this type of love God has also taken recourse, in the Bible, to give us an idea of his passionate love for us. All the phases and the vicissitudes of spousal love are evoked and used for this purpose: the enchantment of love in the nascent state of engagement (cf Jeremiah 2:2); the fullness of the joy of the wedding day (cf Isaiah 62:5); the tragedy of the break (cf. Hosea 2:4 ff) and finally the rebirth, full of hope, of the former bond (cf Hosea 2:16;Isaiah 54:8).



Spousal love is, fundamentally, a love of desire and of choice. If it is true, because of this, that man desires God, the contrary, mysteriously, is also true that God desires man, he wants and esteems his love, he rejoices over it "as the bridegroom rejoices over the bride!" (Isaiah 62: 5).



As the Holy Father notes in "Deus Caritas Est," the nuptial metaphor that traverses almost the whole Bible and inspires the language of "covenant," is the best proof that God's love for us is also eros and agape, it is to give and to seek together. It cannot be reduced only to mercy, to a "doing charity" to man, in the most reductive sense of the term.



4. The Love of God in the Incarnation



Thus we come to the culminating stage of God's love, the Incarnation: "For God so loved the world that he gave his only Son" (John 3:16). In face of the Incarnation we ask the same question that was posed for the creation. Why did God become man? Cur Deus homo? For a long time the answer was: to redeem humankind from sin. Duns Scotus deepened this answer, making of love the fundamental reason for the Incarnation, as all the other works ad extra of the Trinity.



God, says Scotus, first of all, loves himself; in the second place, he wants other beings that love him ("secundo vult alios habere condiligentes"). If he decided on the Incarnation it was so that there would be another being that would love him with the greatest love possible outside of himself.[7] The Incarnation would then have taken place even if Adam had not sinned. Christ is the first one thought of and the first one willed, the "first born of all creation" (Colossians 1:15), not the solution of a problem intervened immediately with Adam's sin.



But even Scotus' answer is partial and must be completed on the basis of what Scripture says of the love of God. God willed the Incarnation of the Son, not only to have someone outside of himself who would love him in a way worthy of him, but also and above all to have outside of himself someone to love in a manner worthy of himself. And this is the Son made man, in whom the Father "finds all his delight" and with him all of us are rendered "sons in the Son."



Christ is the supreme proof of the love of God for man not only in the objective sense, in the manner of a pledge that is given to someone of one's love; he is so also in the subjective sense. In other words, it is not only the proof of the love of God, but it is the love itself of God that has assumed a human form to be able to love and to be loved from within our situation. In the beginning was love and "the love was made flesh," according to an ancient Christian writer, paraphrasing the Prologue of John.[8] 



St. Paul; coined an apposite expression for this new way of God's love, he calls it "the love of God in Christ Jesus" (Romans 8:39). If, as we said the last time, all our love for God must now express itself concretely in love for Christ, it is because all love of God for us was first expressed and gathered in Christ.



5. The Love of God Poured into Hearts



The history of the love of God does not end with Christ's Easter, but is prolonged in Pentecost which renders present and operative "the love of God in Christ Jesus" until the end of the world. We are not constrained, therefore, to live only from the memory of the love of God, as something of the past. "[G]od's love has been poured into our hearts through the Holy Spirit who has been given to us" (Romans 5:5).



But what is this love which has been poured into our hearts in Baptism? Is it a feeling of God for us? A benevolent disposition of His towards us? An inclination? Something, that is, intentional? It is much more than that; it is something real. It is, literally, the love of God, namely the love that circulates in the Trinity between the Father and the Son and that in the Incarnation assumed a human form and in which we now participate in the form of "indwelling." "My Father will love him, and we will come to him and make our home with him" (John 14:23).


We become "participants in the divine nature" (2 Peter 1:4), that is, participants of divine love. We find ourselves by grace, explains Saint John of the Cross, in the vortex of love that has always taken place in the Trinity between the Father and the Son, [9] better still: in the vortex of love taking place now, between the Father and his Son, Jesus Christ, risen from death, of whom we are the members.



6. We Have Believed in the Love of God!



Holy Father, venerable fathers, brothers and sisters, what I have traced poorly is the objective revelation of the love of God in history. Now we come to ourselves: what will we do, what will we say after having heard how much God loves us? A first answer is: to love God in return! Is not this the first and greatest commandment of the law? Yes, but it comes after. Another possible answer: to love one another as God has loved us! Does not the evangelist John say that, if God has loved us "we also ought to love one another" (1 John 4:11)? This also comes after; first there is something else to do. To believe in the love of God! After having said that "God is love," the evangelist John exclaims: "We believe the love God has for us" (1 John 4:16).



Hence, faith, but here it is a question of a special faith: faith-astonishment, incredulous faith (a paradox, I know, but true!), a faith that does not know how to equip itself with what it believes, even if it does believe it. How is it possible that God, supremely happy in his quiet eternity, had the desire not only to create us, but also to come in person to suffer among us? How is this possible? Look, this is faith-astonishment, the faith that makes us happy.



The great convert and apologist of the faith Clive Staples Lewis (the author, said incidentally, of the narrative cycle of Narnia, taken recently to the screen) wrote a singular novel entitled "The Screwtape Letters." They are letters that an old devil writes to a young and inexperienced little devil who is determined to seduce on earth a young Londoner who has just returned to Christian practice. The purpose is to instruct him on the ways to follow to succeed in his attempt. It is a modern, very fine treatise of morality and asceticism, to be read the opposite way, that is doing exactly the contrary of what is suggested.



At a certain point the author makes us witness a discussion carried out among the demons. They cannot be persuaded that the Enemy (thus they call God) can really love "the human vermin and desire their liberty." They are sure it cannot be. There must be a fraud, a trick. We are investigating, they say, from the day that "Our Father" (thus they call Lucifer), precisely for this reason, distanced himself from him; we have not discovered it yet, but one day we will. [10] The love of God for his creatures is, for them, the mystery of mysteries. And I believe that, at least on this, the demons are right.



It would seem to be an easy and pleasant faith; instead it is perhaps the most difficult thing that there is also for us human creatures. Do we really believe that God loves us? Not that we do not believe really or at least that we do not believe enough! If we believed, life, we ourselves, things, events, pain itself, everything would immediately be transfigured before our eyes. This very day we would be with him in paradise, because paradise is but this: to enjoy in fullness the love of God.



The world has always made it more difficult to believe in love. Whoever has been betrayed and wounded once, is afraid of loving and of being loved, because he knows how terrible it is to find oneself deceived. So much so that the array of those who are unable to believe in the love of God, more than that, in any love is always increasing. Disenchantment and cynicism is the mark of our secularized culture. On the personal plane there is then the experience of our poverty and misery that make us say: "Yes, this love of God is beautiful, but it isn't for me. I am not worthy."



Men need to know that God loves them and no one better than the disciples of Christ are able to take this good news to them. Others, in the world, share with Christians the fear of God, concern for social justice and respect for man, for peace and tolerance; but no one -- I say no one -- among the philosophers, or among the religions, says to man that God loves him, he loved man first and he loves him with a love of mercy and of desire: with eros and agape.



St. Paul suggests a method to us to apply to our concrete existence the light of the love of God. He wrote: "[w]ho shall separate us from the love of Christ? Shall tribulation, or distress, or persecution, or famine, or nakedness, or peril, or sword? No, in all these things we are more than conquerors through him who loved us" (Romans 8:35-37). The dangers and the enemies of the love of God that he enumerates are those that he had, in fact, experienced in his life: anguish, persecution, the sword (cf. 2 Corinthians 11:23 ff). He reviews them in his mind and says that none of these is so strong as to rule in comparison with the thought of the love of God.



We are invited to do as he did: to see our life, exactly as it presents itself, to bring to the surface the fears that nest in us, the sadness, the threats, the complexes, the physical or moral defects, the painful memory that humiliates us, and to expose everything to the light of the thought that God loves me. He invites me to ask myself; what in my life attempts to depress me?



From his personal life, the Apostle broadens his gaze to the world around him. "For I am sure that neither death, nor life, nor angels, nor principalities, nor things present, nor things to come, nor powers, nor height, nor depth, nor anything else in all creation, will be able to separate us from the love of God in Christ Jesus our Lord" (Romans 8:37-39). Hence, he observes "his" world, with the powers that rendered it menacing: death with its mystery, the present life with its allurements, the astral powers or the infernal ones which struck so much terror in ancient man.



We can do the same thing: we can look at the world that surrounds us, which makes us afraid. What Paul calls the "height" and the "depth" are for us now infinitely great on high and infinitely small below, the universe and the atom. Everything is ready to crush us; man is weak and alone, in a universe so much greater than him and become, in addition, even more threatening, following the scientific discoveries that he has made and that he does not succeed in controlling, as is being dramatically demonstrated by the atomic reactors in Fukushima.



Everything can be questioned, all of our safety measures can fail, but never this: that God loves us and is stronger than everything. "Our help is in the name of the Lord who made heaven and earth."



NOTES

[1] Aristotle, Metaphysics, XII, 7, 1072b.


[2] St. Augustine, Treatise on the First Letter of John, 7, 4.


[3] St. Augustine, "On the Catechizing of the Uninstructed," I, 8, 4: PL 40, 319.


[4] Cf. S. Kierkegaard, "Upbuilding Discourses in Various Spirits, 3: The Gospel of Suffering," IV.


[5] Benedict XVI, "Jesus of Nazareth Part II," Libreria Editrice Vaticana (in Italian), 2011, p. 93.


[6] Seneca, "On Providence," 2, 5 f.


[7] Duns Scotus, "Opus Oxoniense," I, d. 17, q. 3, n. 31; Rep., II, d. 27, q. un., n. 3.


[8] "Evangelium Veritatis" (of the Codes of Nag-Hammadi).


[9] Cf. St. John of the Cross, Spiritual Canticle A, Strophe 38.


[10] C.S. Lewis, "The Screwtape Letters," 1942, Chapter XIX.

Um comentário:

Anônimo disse...

Querida Elena

Talvez quando você escreveu este post ainda nem sabia do "massacre na escola no Rj".
Tamanha a dor que sentimos e bem sabemos que o único consolo que podemos recorrer é do Nosso Deus.Não desistirmos de orar por este mundo tão cheios de pessoas tão necessitadas do Seu Amor.Precisamos continuar a crer e "não podermos abandonar jamais nem o que fazemos e somos e nem a vida de oração, a oração que são lâmpadas, milhões de luzinhas a aquecer este mundo, refletindo o Amor e Aquele que é a Luz do mundo..." como você ungidamente nos disse.
Abraços
Valéria-Ba