quarta-feira, 23 de julho de 2008

Casamento Muçulmano

Ontem fomos convidados, todos nós da Comunidade, para um casamento muçulmano, da filha de uma das funcionárias do asilo de Isifiya. Só que na verdade era somente uma das festas, pois um casamento árabe dura a semana inteira. Bem do jeito que a gente vê nas Bodas de Caná. Hoje, por exemplo, tem o jantar oficial do casamento, para o qual foi distribuído um convite que trazia anexo um envelope para os convidados doarem dinheiro para os noivos. Ao chegarem no jantar as pessoas devolvem o envelope recheado com as suas doações. Como esta realidade para a Comunidade fica inviável, somente três pessoas, Lorena, Duca e Viviane se emperequetaram e estão lá, se divertindo. Mas foram for 'free', à convite especial da mãe da noiva.
A cerimônia religiosa do casamento será somente na sexta-feira, mas durante uma semana há festas na casa da noiva e do noivo. Para ela as festas são meio de despedida já que na cultura árabe a família do noivo que ganha uma filha, enquanto que a da noiva, perde.
As rodas nas festas são separadas e homens e mulheres não se misturam, nem conversam. Ontem, quando chegamos os 'meninos' do Shalom já foram chamados a se unir à rodinha dos homens. A comilança é para todos e aí, ai meu Deus, mais uma vez, que fartura: um charutinhos de folha de uva, do tamanho de um dedo, simplesmente deliciosos, tabule fresquíssimo perfumado de hortelã, e uns salgados de batata, assados, em formato de rolinho primavera de restaurante chinês. O que mais me impressiona é que é tudo feito em casa, em quantidade, e a comida é por demais saudável! Nada de gordura! Depois ofereceram uns grãos amarelos, que parece grão de bico mas não é, e que se come como se fosse aperitivo, tipo amendoim ou castanha. As bandejas de fruta correm livres e como estamos no tempo das uvas e dos figos (só me lembro da mamãe!), havia abundância destas frutas, mais peras, maçãs, nêsperas e pêssegos. Nada de banana ou manga, nem abacaxi ou laranja, que seria nossa bandeja tropical.
A hora dos doces é que foi a perdição: frescos e crocantes, cheios de nozes e mel, alguns com pistache que eu amo, sem contar um que eu nunca tinha experimentado que é uma tâmara aberta no meio recheada de nozes. Dá pra acreditar que há irmãos que detestam este docinho? Também serviram uns mini-sorvetes, do tamanho de um bombom Garoto, chocolate por fora recheado com sorvete de baunilha (este é o predileto de todas as gerações e religiões!). Na grande roda onde todos se sentam, havia o grupo das amigas da noiva, e outro de parentes de todas as gerações. Entre as amigas, vimos uma das moças pegar como se fosse um atabaque pequeno e começar a cantar canções de 'boa-sorte' para a noiva. Tive a impressão que estas canções são meio tradicionais.
Depois uma priminha, de uns 11 anos, começou a fazer uma 'saudação musical típica', de linha melódica conhecida, mas livre, rimada e espontânea nas palavras, que eu compararia com um 'repente' nordestino. Me parece o mais próximo se comparado com a nossa cultura. Todo mundo acompanhou batendo palmas e aí ela foi convidada a dançar. Uma graça total! É de berço que se aprende a dança do ventre. É natural se saber aquele molejo das 'cadeiras' como as crianças brasileiras arriscam sem pestanejar um samba no pé, ou o molejo do forró. Eu fiquei encantada, por essa experiência árabe de casamento, mais ainda que por ser a família muçulmana, havia mulheres religiosas vestidas à caráter, de véu e bata longa, preta, de manga comprida, cercadas por um outro tanto de mulheres acidentalizadas e cristãs. Só não havia judias.
Foi uma noite muito especial e eu espero que o amor deste casal seja abençoado pelo Senhor! E para terminar com um pouco de graça, não há uma só fez que a Comunidade participe de alguma festa familiar como a de ontem que, ao terminar, na hora da despedida, nós, as mulheres solteiras, principalmente, não recebamos os mais entusiasmados votos de um bom casamento para breve! Inshalá! Deus permita, como se costuma responder em bom árabe. E entre nós há muitas que ainda têm esperança e aceitam a bênção de bom grado!

Um comentário:

Anônimo disse...

amiga,
estou amando conhecer a realidade deste povo, através dos seus olhos.
carinhoso abraço - Mercedes