sábado, 5 de julho de 2008

Véspera de um grande dia!

Brinquei com os irmãos de casa, hoje, que se minha família e amigos próximos me vissem nestas últimas duas semanas, diriam, seguramente, que eu estou num processo inusitado de conversão pois tenho cozinhado e ido para a cozinha todos os dias e com a cara boa, com toda boa vontade! Já fiz peperonata, hoje, um bolo de cenoura para começar as celebrações do noivado do Tene e da Silvi (que será oficializado amanhã às 17h aqui em casa pelo arcebispo), e uns outros ensopados e arroz bem torradinho à la mineira. Meu repertório culinário é restrito mas meu super livro de receita veio comigo e ele sempre me salvará. Ele e Jesus tão bem pertinho! Quanto mais o tempo passa mais me convenço que preparar os alimentos, pensar nas refeições, estar à mesa e manter uma cozinha funcionando, diariamente, com pouco tempo e com restrições financeiras, seguramente, é fonte de santificação para muitas pessoas, especialmente para as mulheres! A comida, as refeições, o preparo do alimento é meio de agregar as pessoas. Sei que há certas pessoas que têm talento, que fazem da cozinha um hobby, mas há outras que se sentem tensas e sem talentos especiais - acho que esse sempre foi o meu caso - porém, sem dúvida, o ato de pensar na alimentação e de prepara-la com amor é fonte de agregação familiar e de exercício nas virtudes. Meus motivos interiores de arriscar ir para a cozinha e fazer o que sei, não é outro senão participar, estar junto e quebrar um paradigma de incompetência culinária por este nunca ter sido um 'valor' em meu núcleo familiar e porque sempre estive por perto de quem cozinha bem e com talento: na juventude a Nunu e na vida adulta, a Jan. Vivi tantos anos na mordomia, com quem fizesse as coisas para mim - e agradeço a Deus por isso -, mas agora vivo outro tempo e dele também quero tirar o melhor proveito e desfrutar da maior alegria. Só espero que este entusiasmo dure! Só rindo... mas o bolo de cenoura com cobertura de chocolate saiu dez e meu carisma de lavar louça tem sido exercido diariamente. Cada um vai se ajudando e aqui não tem ninguém encostado e malandro não, as equipes funcionam direitinho. Hoje foi um faxinão, por causa do noivado, e isso incluiu o jardim ao redor da casa, tirando todo mato seco, por causa do verão ardente, tarefa que deixou os rapazes bronzeados como se tivessem ido à praia. Amanhã vou postar algumas fotos dos noivos e de nossas atividades de limpeza, já que entre os convidados viraõ alguns padres de Haifa que, acredita-se, bem a jeito árabe, vão querer conhecer toda a casa. Está tudo cheiroso e limpinho. Fora o meu quarto e banheiro, ajudei todo o tempo na cozinha.

Mudando de assunto, fiquei muito contente com as notícias que o Wilde me deu hoje - pedindo inclusive oração por causa da batalha espiritual que representa a preparação do Halleluya - e de todos os amigos que têm me escrito por email - Mercedes, Pe.Geraldo, Rilene, Balisa, Trindade - contando dos acessos feitos ao blog. Realmente sou fã de tecnologia usada como instrumento de aproximação entre as pessoas e da possibilidade de alimentar a saudade com notícias frescas. Digo isso porque se pode sofrer por saudade vazia ou por saudade cheia. A segunda dói também mas tem a cor e a realidade da presença do outro, de suas palavras, afetos, casos, mesmo que esta presença seja imaterial e virtual.

Fomos à missa maronita às 19h (amanhã será no rito melquita) e digo que mesmo sendo muito interessante a quantidade de sinais da cruz que eles fazem, e das leituras não acompanharem o calendário latino, o que nos obriga a levar a bíblia para lermos as 'nossas leituras do dia', o que mais me toca é a hora do sinal da paz, que não é um abraço, mas é a hora de receber o Shalom do Senhor. Os dois acólitos, que até hoje foram sempre dois jovens, recebem do sacerdote o sinal da cruz que é a Paz, feito por uma cruz que ele, sacerdote, carrega nas mãos quase todo o tempo da celebração, e saem distribuindo às primeiras pessoas de cada banco com as mãos unidas. Estas pessoas, por sua vez, transmitem às pessoas vizinhas a paz recebida, repetindo o gesto dos acólitos. Estes caminham por todas as fileiras da igreja, até a última, um à direita do altar e outro à esquerda. O gesto é exatamente aquele da brincadeira de infância chamada passa-o-anel: com as mãos unidas eles depositam em nossas mãos unidas que se abrem na presença da deles, para receber e depois transmitir o Shalom do Pai que desce do altar! Muito simples, quase singelo, mas tão cheio de significado. Acho que nós, no nosso rito latino perdemos muito da simbologia e da profundidade do gesto que fazemos. Nos desejamos à Paz quase como se estivéssemos falando: 'oi, tudo bem, como estão as coisas?', como faríamos num encontro casual em qualquer lugar. Chegamos a dizer: 'Deus te abençoe', como dizemos costumeiramente na Comunidade, mas empobrecemos, a meu ver, a percepção de que naquele momento litúrgico o Shalom nos é transmitido para ser transmitido, ele vem do altar, Ele está no altar e se conseguíssemos resignificar este momento da celebração, talvez muitos de nós seríamos ressuscitados pela Paz do Senhor que já está eucaristicamente em nosso meio, antes mesmo de recebê-lo nas espécies do pão e do vinho. Acho que esse gesto e jeito maronita imprime mais lembrança da realidade espiritual que se celebra e que está acontecendo. Talvez a palavra chave seja resignificar, mais ainda para quem é Shalom. Não vejo a hora de poder entender alguma coisa da celebração podendo dela participar em árabe e não só em pensamento, no português ou sussurando o credo, o pai-nosso e partes das orações eucarísticas.

Passei da metade do livro 1808, do Laurentino Gomes, que fiz questão de trazer, e só posso dizer que conhecendo a corte portuguesa no Brasil de 200 anos atrás, se ri muito de tanta sujeira e de tantas aventuras da corte européia em terras cariocas. Se entende também onde nasceu nosso jeito miscigenado, bem humorado, fazedor de verso e graça sobre desgraças e problemas. Se compreende a gênese cultural do como enganar as pessoas, autoridades ou não, e, infelizmente, se vê que as maracutaias e falcatruas, pricipalmente das autoridades remontam a esse período onde, viver de aparência, era comum. Pouco se trabalhava, não se poupava, e a máquina no governo, desde então, tinha dez vezes mais pessoas do que o número das necessidades reais. O pior, se entende que nossa herança de sermos devedores dos gringos de fala inglesa começou há mais de 200 anos. Mas o livro é bom e não fala só das coisas 'erradas' e meio vergonhosas, espero pois estou só na metade, mas fala muito dos costumes. O que me chama atenção é que olhando para trás é que entende um pouco - ou muito - do que se vive e sofre hoje e que parece e está tão enraizado em nossa cultura tão única e tão especial. Vamos ver o que se segue. Depois comento novamente. Um beijo de boa noite e lembro à família e amigos que amanhã, domingo, é um dia bom de ligar, tipo 4 horas da tarde aí. Amo vocês!

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