segunda-feira, 14 de julho de 2008

O Profeta Elias, os Baales e Nazareth

Não tirei nem uma foto para contar história do que foi este fim de semana inesquecível: minha primeira visita à Nazaré (a uma hora de ônibus saindo de Haifa) e ao monte Carmelo onde o profeta Elias venceu os profetas de Baal que está descrito no livro dos Reis. (Fica bem na vila vizinha a Isefya, a uns 15 minutos de carro). Acho que foi providencial não ter uma câmera para não ficar tão preocupada em registrar imagens à 'la turista', e me concentrar na emoção bíblica de estar pisando e conhecendo lugares santos onde o Bom Deus se revelou ao seu povo e se fez homem como nós, e que só foram preservados porque houve quem O amasse acima de todas as coisas, geração após geração.
Este pensamento de gratidão e de interpelação me acompanhou durante estes dois dias: todos os homens e mulheres que deram sua vida por amor ao Senhor, para que a sua misericórdia e perdão pudessem alcançar o coração de mais e mais pessoas, e a pergunta: será que eu não faço parte de uma geração que hoje perpetua, como pedra viva, a presença do amor do Senhor neste mundo tão ateu e secularizado?
Foram muitas emoções estar diante daquele Monte e ver o mesmo horizonte que o amadíssimo Santo Elias, o profeta, teve ao desafiar os falsos profetas a invocarem Baal para que a oferta fosse consumida, com insucesso, fazendo o fogo descer do céu quando o Nome do Deus Altíssimo foi invocado. O Nome de Deus. O Amor de Deus. O Espírito do Senhor que cobre o céu e a terra e tudo o que neles há, que destrói todos os baales, e que cobre a bela Virgem de Nazaré e concebe nela o Filho do Deus Altíssimo, Jesus de Nazaré. O Espírito Santo de Deus que se manifesta em poder, em fogo mas também em sombra, escondimento, no silencio de uma gruta perdida na Palestina. Nazaré significa em árabe 'botão de flor', bem Nossa Senhora. Fiquei extremamente comovida ao entrar naquela basílica silenciosa e poder me aproximar daquela gruta e, ajoelhada ali, pensar e contemplar o mistério que S.Paulo descreve na sua carta aos Gálatas: na plenitude dos tempos a Virgem concebeu o Filho de Deus, Jesus. Plenitude do Todo-Poderoso em lugar pobre e discreto. Plenitude de Deus na plenitude da alma e do corpo de uma jovem concebida sem pecado e sem mácula, que ao mesmo tempo era só e tão somente uma jovem de dezesseis anos, igual a todas as demais, Maria.
Rezei muito e por longas horas, graças a Deus. Mas não se sente, não se faz força. A atmosfera e a santidade do lugar e de tudo que ali se encerra sobre o mistério da Encarnação do Verbo de Deus é que te alcançam. Senti profunda gratidão ao Senhor por poder estar ali e poder finalmente 'conhecer e experimentar Nazaré'. Na procissão de sábado à noite com velas, animada pela Comunidade - benditos irmãos - e outras pessoas que são paroquianos da Basílica, voluntários e membros de outras comunidades novas que moram em Nazaré, vi tantos turistas-peregrinos chorando, rezando, cantando. Em procissão reza-se o terço sendo cada mistério 'puxado' numa língua e respondido por todos os presentes em sua língua materna. Circula-se a Basílica e no fim, na Salve-Rainha já estamos de volta, na frente da gruta e aí, em fila, se reverencia e beija, quem quer um ícone belíssimo da Anunciação, com a Virgem e o Arcanjo Gabriel. Pensei demais em meus amigos, colegas de trabalho, primos e primas que pelas circunstâncias da vida e opções pessoais, foram se afastando da prática da fé, da vida de oração, da sede de Deus e se deixaram cegar pelas luzes do mundo, do intelectualismo, do super-ativismo e passaram a olhar a vida da fé e a própria Igreja como instituição humana somente. Não ultrapassaram a crise de fé e de sentido da fé herdada, tão necessária na juventude, para chegarem à experiência pessoal de encontro com Jesus, com sua Palavra e com seu Espírito. Ficaram na crise e não saíram dela. Sou testemunha que alguns vivem muitos valores do Evangelho que ficaram impregnados em suas consciências e valores, mas deixaram de se relacionar com a própria Boa Nova, com o Evangelho mesmo, que é Jesus.
Não julgo ninguém, nem poderia, pois também eu, tão cega que sou, estaria na mesmo relativismo, se não fosse a mais absoluta gratuidade do Senhor que me chamou desde a minha juventude a conhecê-lo mais de perto. Foi o Espírito Santo o grande causador desta diferença, foi Ele quem me fez querer rezar e buscar os sacramentos em todas as minhs crises humanas, afetivas, emocionais, relacionais, existenciais. Foi o Espírito Santo quem me convenceu sempre da Verdade e me ensina a sair da culpa e a viver no Amor de Deus, revelado em Cristo Jesus. Foi e é o Espírito Santo quem nunca me deixou abandonar a Igreja, a fé, a missa, os sacramentos, a oração. Foi e é o Espírito Santo quem me apresentou a Bíblia como palavra que me transforma e cura, como Palavra viva de Deus. Ao escrever isso meu coração se enche de gratidão por tanta misericórdia e me convence, mais ainda, que meu papel é rezar, oferecer minha frágil vida e intercessão por todos estes amigos, parentes Sala ou Arreguy, e tantos outros colegas de trabalho, do passado, de SP ou do CE, gente rica e gente mais humilde, cujos corações foram esfriando e que passaram a dar mil e uma desculpas para viverem longe de Deus. Há de chegar a hora da abertura, que muitas vezes acontece em meio a dor, em que cada um poderá chamar pelo Senhor e, como o Bom Ladrão, dizer: lembra-te de mim, Jesus! e conhecer então este amor que tudo pode, que tudo preenche, que tudo perdoa, que tudo alegra e que dá a Paz, o bendito Shalom de Deus! E para isso que eu acho que eu vivo, e é para isso que eu rezo.
Mamãe e tia Quiquica a vida inteira relataram a emoção que representou verem a plaquinha indicando que 'aqui o Verbo de Deus se fez carne', quando foram à Nazaré há anos atrás e nesse fim de semana eu entendi do que elas estavam falando.
Amanhã comento mais coisas. Deus abençoe a cada um. Saudade de todos, especialmente da mamãe que faz aniversário hoje.

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