terça-feira, 31 de maio de 2011

Um convite e um desabafo

Acho que devo começar pelo desabafo! Se no Brasil eu já ficava indignada com o desperdício de comida principalmente entre a classe média que inventa umas 'frescuras' de não comer arroz dormido, de jogar fora a sobrinha de dois dias na geladeira porque 'já deve estar estragada' sem estar, e ver que esse desperdício pecaminoso não é privilégio nosso me deixa arrasada. Como não ficar, vendo comida ser jogada fora aos montes enquanto milhões de pessoas não tem o que comer, e quando vejo isso acontecer também em Israel sinto a mesma indignação!

Basta ir a uma festa de noivado, casamento, ou celebração de qualquer coisa um pouco mais formal que a gente ve as travessas inteiras de tabule, frango, kabeb, quibe, salada, humus, tomate, e muitas outras coisas da variada culinária árabe, ainda não tocadas, serem jogadas no lixo. Ai meu Deus! Fico tão chateada, tão indignada e me causa uma dor tão intensa que eu fico pensando no coração de Deus vendo a nossa injustiça. Não pode! Não podemos permitir se tivermos autoridade para interferir nos processos de armazenação e distribuição e doação dos alimentos, e nem tampouco permitir nem que seja no restrito raio de ação que temos, começando por nós mesmos.

Na Comunidade onde moro o povo brinca que na minha mão todas as sobrinhas da geladeira  e da semana viram sopa. E quando me perguntam o que tem dentro eu costumo dizer: 'prova! se tiver bom eu conto! se não tiver, não precisa saber porque você não vai comer mesmo...'. E assim a gente tenta viver mais coerentemente a pobreza abraçada e a gratidão pela generosidade do Senhor que nos cobre de mimos além de nos dar o essencial. Ele não falha, sua Providência paterna não falha, a má distribuição dos bens e dons concedidos por Deus, indiretamente, pelas mãos humanas via a liberdade de cada e das estruturas criadas pelas pessoas é que geram tantas e tantas injustiças e disparates.

E meu desabafo fica por conta destes dados estatísticos que  li no blog do Prof. Felipe Aquino da Canção Nova, que me fizeram desejar escrever e pensar a respeito do desperdício e da necessidade de pedir ao Senhor a graça de vivermos na moderação que nos permita usufruir de tudo sem exageros. Vejam só os dados que copiei e parem para pensar se não dá comer melhor, partilhar mais e educar as pessoas para esta mentalidade. Também vale  tentar responder às duas perguntas feitas pelo Professor que nos deixam ver que o problema não é a super população do mundo, o problema é outro...
Desperdício de alimento

A Revista VEJA , ed. 2217; ano 44, n.20 de 18/5/2011, pg. 66, PUBLICOU:

"No mundo há um desperdício de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos anualmente, o que equivale a 1/3 da produção global".

Comentário: se considerarmos que uma pessoa consuma cerca de 1,o kg de alimento por dia, daria para alimentar 1,3 trilhão de pessoas em um ano, ou 3,560 bilhões por dia durante um ano. Considerando que o mundo tem cerca de 6,2 bilhões de pessoas, só esse desperdício daria para manter mais da metade da população do mundo comendo durante um ano!...
Conclusão:

NÃO HÁ FALTA DE PRODUÇÃO NO MUNDO!

O que falta então?

Há motivo para o controle drástico da natalidade?

Agora o convite:

Fiquei muito grata ao Senhor por ler que o Papa Bento XVI na semana passada, para comemorar os 150 da unificação italiana, consagrou o país à Nossa Senhora! Que coisa mais linda, que voz mais profética, que passo mais corajoso de fé! Acolher a Mãe de Deus na própria vida de discípulo obedecendo ao desejo de Jesus 'Eis aí tua Mãe!' e abandonar-se irrestritamente àquela que é o próprio espelho da Igreja, é a maior segurança para ser todo de Jesus, ser santo e fazer a diferença neste mundo tão sofrido, sem amor e sem sentido. 

Ser como ela, amar como ela, contar com o Amor e a Presença de Nossa Senhora não há melhor caminho. Daí que ao ver esta 'propaganda' pensei em divulga-la já que acredito que aja outras pessoas que comigo e como eu estejam se preparando para se consagrarem ou renovarem sua consagração à Nossa Senhora no Domingo de Pentecostes, e que gostariam de saber do convite. Acho que vale a pena dar uma olhada neste video, assinar a petição para um ano mariano para que não somente a Itália mas todo o mundo seja mais uma vez consagrado à Virgem Santíssima. 

E hoje, Festa da Visitação, que Nossa Senhora visite com sua intercessão nossas casas e famílias, visite as mulheres, de todos os estados de vida, principalmente as mães, jovens e nem tão jovens, e nos faça sentir na alma e nas entranhas a presença de Jesus que Ela sempre traz e leva consigo. Tem um autor francês que diz que onde está Maria Santíssima há um Pentecostes, uma manifestação, uma epifania do Espírito Santo. E isso não é romantismo, isso é a dinânima da vida de Deus unida eternamente na carne e na vida humana pela vida e na vida da Virgem de Nazaré.

ANO MARIANO: Petição Eletrônica ao Papa!

Católicos do mundo inteiro tem suplicado ao Santo Padre Bento XVI a graça de um ANO MARIANO em 2012-2013, pelos 300 anos da publicação do maravilhoso "Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem", de S. Luis Maria Montfort, onde ele ensina como fazer a CONSAGRAÇÃO TOTAL a Santísima Virgem!

O "Tratado" sempre foi muito recomendado pelo Servo de Deus João Paulo II. Foi por esta Consagração que ele assumiu o lema o de pontificado "Totus Tuus" ("Todo Teu", todo de Maria!).

No Ano Mariano, uma onde imensa de Consagrações poderia ser feita em toda a Igreja!

Assista o vídeo do Pe. Paulo Ricardo sobre a Petição:


Para assinar a Petição Eletrônica:



Pedimos que, por favor, este vídeo e esta petição seja massivamente divulgada por todos via e-mail, listas de discussão, sites, blogs, twitter, orkut, facebock, etc. Para conhecer mais sobre a Consagração Total a Santíssima Virgem:

http://www.reinodavirgem.com.br/virgemmaria/14perguntas.html

Extraído de

http://cormariaeonline.blogspot.com/2011/03/ano-mariano-peticao-eletronica-ao-papa.html

Amanhã tem mais, se Deus quiser! Mês novo notícias novas! Shalom!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Está tudo bem

Tem gente que anda preocupada com o meu sumiço semana após semana. Agradeço pelo amor manifestado nos emails recebidos, pela vontade de saber mais de mim por pura amizade...De fato ando muito cansada e passei esta última semana fazendo uma tradução de última hora para ajudar um irmão de Roma que estava organizando uma reunião de autoridades da Comunidade, chamda Regional, que deve ter começado hoje à noite. Esta tradução me roubou o restinho de tempo livre que tenho a noite. Ainda faltam 5 páginas que tentarei mandar amanhã. Hoje preferi descansar minha cabeça escrevendo este post com jeito de diário e de email, meio desabafo e partilha para falar com meus leitores e amigos. 

O texto, do italiano para o português, me deu um pouco de trabalho porque nem dicionário eu tenho, mas foi verdadeira pérola do Amedeo Cencini, dom da providência divina para me ajudar a viver este tempo que vivo. O texto fala sobre a crise na vida dos consagrados. Como enfrentar a crise de maneira saudável e inteligente, quais critérios escolher para que ela não se perca em seu valor de desafio e de crescimento, e seja encarada somente como inimiga e fonte de dor. Crise é para ser vivida com verdade, com critérios espirituais e muita vontade de crescer no auto-conhecimento e no conhecimento de Deus. Nem todo mundo tem coragem de abraçar uma crise e simplesmente passa por cima dela ou vive-a por cima, na supercialidade.

Não sei se estou em crise porque meio adoentada e cansada - continuo tossindo principalmente à noite e não há o que fazer - ou se meu organismo está gritando porque estou em crise. Não há dúvida que vivo o fim de um ciclo, pelo menos sinto assim, completando três anos de missão em junho, e me vejo avaliando, ponderendo dentro e fora de mim tudo o que foi feito e alcançado. Esta avaliação não deixa de ser dolorosa porque exige transparência, aceitação dos limites, um olhar sincero de gratidão quando olho para trás e esperança quando olho para frente, sendo que o processo acontece simultâneo. No coração, porém, as avaliações não acontecem como dados estatísticos, frios, elas têm a carga das minhas emoções, do meu olhar feminino sensível, da minha humanidade tantas vezes exigente, da minha sede de liberdade na vontade de Deus. Jesus está perto, bem perto, mas o tempo que vivo é de poda e purificação, de limpeza, de adubar as raízes e cortar os excessos, de enxergar-me melhor para melhor ver o Senhor. Sinto que preciso de férias, como quem vai para uma estufa, assim como vão as orquídeas para dar mais brotos ressurgindo para um novo ciclo, uma nova fase, de mim mesma como missionária, como consagrada, como flor. 

Agradeço o carinho de quem entende e reza pelos missionários, por mim pessoalmente, com tanta amizade em Deus. Gente que só me conhece virtualmente sem saber o tom da minha voz ou a força do meu abraço, mas que acompanha as batidas do meu coração, parte dos meus pensamentos nas simples experiências humanas-espirituais que vivo como leiga missionária em Israel partilhadas às vezes com tanta subjetividade neste blog. Gente que testemunha meu desejo sincero de evangelização com as palavras e com a vida, sempre apontando para o coração de Jesus ressuscitado, fonte da paz, fonte do Espírito. Vivo hoje a certeza de que sou como Tomé e preciso ainda mais tocar o coração de Jesus e nele permanecer sendo, simultaneamente, pescadora de Tomés no desejo de que mais pessoas façam a minha mesma experiência contínua de morte e de ressurreição encontrando o Amor vivo de Deus, encontrando o seu Shalom.
Eu estou bem, eu vou sobreviver e vou tentar em meio à crise escrever com mais frequência até poder dar a boa notícia que vou tirar férias!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A primavera e os aviões

Finalmente a primavera manifestou-se exuberantemente e os jardins a canteiros estão floridos e verdinhos. Há rosas por todas as partes e as mais maravilhosas para mim são as violetas tom que eu nunca tinha visto. Coisa mais linda! E enquanto eu escrevo ouço aviões-caça passando sobre minha cabeça e ontem aproximadamente neste mesmo horário, ouvimos a sirene que toca em tom oscilante, sinal de que haverá bombardeio e que a cidade está em guerra. De vez em quando o Ministério de Segurança de Israel faz esses treinos para a população se lembrar como é. No rádio e na televisão foi amplamente divulgado que ninguém se preocupasse. Na semana anterior no feriado e dia de Memorial pelos mortos no Holocausto (Shoah) houve também às 10 uma sirene tocando por dois minutos ininterruptamente. Tudo e todos pararam e se levantaram. Eu estava na aula de hebraico e junto com os colegas me levantei, fechei os olhos e intercedi por todos os mortos no Holocautos. Mas tive a impressão que só eu rezei, os demais simplesmente fizeram silêncio pois como são todos russos e filhos do comunismo não tem fé ou se a tem, ortodoxa, escondem porque para o país eles são judeus e não russos ortodoxos com ascendência judaica, que é o que lhes dá credencial para emigrarem para Israel.

Ando meio cansada e a bronquite não me deixa. Os pulmões estão limpos, tomei antibiótico bem direitinho e não tenho febre mas a 'tosse de cachorro' não me deixa e o peito continua cheio. De noite é um horror! Ontem tomei leite queimado para ver se ajudava. Acabei com dor de barriga pela quantidade de açúcar... mas resolvi acolher o conselho do Fra Biagio, médico e amigo que me atendeu no Hospital em Nazaré e descansar um pouco mais o corpo. Ontem e hoje vim mais tarde para o trabalho para poder dormir um pouco mais e amanhã farei o mesmo. Tem que ter paciência, eu sei, e também aprender a reconhecer os limites que o corpo impõe, gritando por mais calma. Acho que estou precisando de férias e precisando ver o povo de casa, o povo das minhas raízes...  Deixo tudo nas mãos de Deus e vejo que Ele já está dando os sinais da Sua providência pois soube esta semana, e esta é uma grande novidade a ser partilhada, que posso sair do país. O advogado me ligou dizendo que após a devolução do meu passaporte após 9 meses de retenção, e a renovação do meu visto até 31 de dezembro de 2011, o Ministério de Imigração me permitia sair de Israel em caso de necessidade, mesmo o processo policial ainda estar em andamento. Claro que eu terei que lhes dar satisfação de saíde e retorno para não parecer fuga, mas agora eu posso sair quando quiser! Bendito seja Deus! Que incrível experiência de liberdade, mesmo que ainda parcial, e que gratidão a todos que me sustentaram todo este tempo com suas orações. Além do mais a gente ve que o Senhor está no comando. Eu estou a espera de seus mimos e providência por causa do seu grande amor. E quando vejo as flores e o azul do céu entendo que o amor de Deus não se cansa de manifestar.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Um Convite Especial

Antes de fazer o convite queria partilhar notícias que recebi do Egito, de Cairo, da parte do Frei Patrício Schiadini, ocd, tão amado e amigo da Comunidade Shalom, de Minas Gerais e Caratinga, do Brasil inteiro. Ele contou que o ataque às duas igrejas católicas do rito copta no sábado passado foram terríveis e que representam a ação de extremistas muçulmanos e não da grande maioria da população muçulmana que bem convive com os cristãos. Que todo o empenho dele, Frei, dos carmelitas e da Igreja é de continuar apaziguando os corações, enquanto exigem ação das autoridades competentes. É necessário continuar semeando a oração, o perdão, a paz para que a fácil onda da vingança não se alastre e o rio de sangue e morte se alastre. O Reino de Deus continua a ser plantado no amor e no perdão, na paz e no diálogo entre os cristãos e os muçulmanos e é necessário que o mundo interceda e não desperdice uma oferta, um sacrifício sequer, nem tampouco deixe de oferecer louvor, ação de graças pela presença do Senhor que está com o seu povo, no Egito, fortalecendo-os na prova.

Não adianta da nossa parte somente lamentar ou ficar horrorizado ou somente analisar. É necessário clamar a força e a ação do Espírito Santo sobre o coração dos cristãos e dos que têm autoridade, sejam ou não cristãos, para que as forças malignas sejam vencidas e a força do pecado seja vencida e a vontade de Deus que é a salvação de todos os homens aconteça, se encarne. Estamos em pleno tempo pascal! É tempo de intensas graças espirituais! A nossa oração e comunhão espiritual é fundamental, tão importante e crítica como foi na experiência da primeira comunidade cristã de Jerusalém intercedendo enquanto S.Pedro estava preso, como se le nos primeiros capítulos de Atos dos Apóstolos.

Lembremo-nos de colocar esta intenção na missa diária, peçamos aos sacerdotes que rezem pelos cristãos e pela Igreja Católica do Egito e de todo o Oriente e África, enfim, nossa força vem da oração e da vida sacramental. É dom do alto! É dom de Deus dado abundantemente a quem busca e pede.

E ninguém melhor para nos ajudar nesta grande missão de intercessão e evangelização e santificação para que o Reino de Deus venha e se encarne no coração de todos nós e de muitos outros, do que Nossa Senhora. Em momentos chave da Humanidade a Mãe do Senhor se manifestou e interferiu e ela somente deseja que nós vivamos a plenitude de vida que Jesus veio nos dar e já nos deu. A vida abundante, a liberdade baseada na Verdade, a Paz. E ela, como Esposa do Espírito e Rainha da Paz pode nos ensinar, e muito, a trilhar este caminho da vontade do Senhor com menos complicações e mais consolações mesmo nas provas e purificações.

O convite, enfim, é para nos consagrarmos a Nossa Senhora pelo 'metódo de S.Luiz Grignon de Monfort' que nos pede 33 dias de preparação segundo o livrinho que é fácil de ser encontrado em qualquer livraria católica. Se começarmos hoje completaremos os dias e poderemos nos consagrar a ela em Pentecostes e é este o meu convite a todos os amigos, amigas, irmãos, irmãs, curiosos, friends, seja lá quem for, que por providência divina acessar este post do blog nesta data. Não há festa mais mariana e mais plenamente pascal que Pentecostes! Não há maior necessidade neste mundo para a Nova Evangelização do que da presença, ação e impulso do Espírito Santo, e quem melhor do que a Esposa do Espírito, a cheia de Graça, para nos levar por este caminho?

Eu por formação são meio aversa à pieguices e devocionismos e confesso que tive certa resistência ao método mas, ao ver o fruto de santidade e de conversão radical, além do testemunho eloquente, por exemplo, na vida da Maria Emmir, co-fundadora e irmã tão amada da Comunidade Shalom, resolvi dar uma olhadinha e ler o livrinho há seis anos atrás. E mesmo tendo que fazer todo o filtro de uma linguagem do século XVIII toda em vós, segunda pessoa do plural, muito rebuscada, encontrei no própria explanação do santo homem de Deus o segredo da consagração a Nossa Senhora e o porquê que me convenceu e converteu o coração: viver em plenitude o batismo recebido para pertencer irrestritamente a Jesus Cristo, enfim, para que sermos santos segundo os planos do Senhor. Como somos chamados à santidade por vocação então, porque não tentar e abraçar? Assim fiz minha primeira consagração em 2006, em Fortaleza, em Pentecostes e assim, sucessivamente tenho renovado a cada ano esta pertença a Nossa Senhora para pertencer sem medidas ao Pai, a Jesus e ao Espírito Santo.

A cada ano convido alguém para participar e este ano já chamei dois irmãos de missão, o Thiago e a Raquel, para se unirem a mim e resolvi escrever no blog. Convite feito! Vale a pena demais ser Totus Tuus! Será que Totus Tuus lembra alguém? Que ele da eternidade nos ajude e interceda por nós e que ninguém de trelas às tentações que virão fortes dizendo 'deixa para depois, para você se preparar melhor', ou, 'agora não dá tempo, você nem tem o livrinho', ou já no meio da preparação: 'você tem rezado tão mal e se preparado tão mais ou menos, Nossa Senhora merece algo melhor... comece novamente ano que vem'. Nada disso. Não, não e não. Nos consagramos à Virgem Santíssima, porque queremos ser como ela, porque precisamos dela, porque queremos ser mais livres dos pecados que nos prendem. Nos consagramos como filhos e filhas, ainda doentes, fraquinhos, miseráveis, necessitados, com letra maiúscula NECESSITADOS. Com sinceridade de coração, é claro, não é uma brincadeira, é uma consagração de vida, há que ter coragem, mas o que importa é fazer o melhor que pudermos, conscientes de que estamos nos consagrando para ficarmos melhor e não porque estamos prontos.

Enfim, se alguém aceitar o convite deixe um bilhetinho no comentário do blog porque assim a gente reza uns pelos outros nesta experiência maravilhosa de comunhão dos santos enquanto Nossa Senhora começa a interceder ainda mais fortemente por nós para que em Pentecostes, como ela, sejamos repletos e renovados pelo Espírito Santo, o Espírito de Jesus, que o ensinou a viver, a sofrer e o levou a cumprir com perfeição a vontade do Pai, até ressuscita-lo dos mortos. Que o mesmo possa acontecer conosco, pela misericórdia do Senhor e pela intercessão de Nossa Senhora. Amém!

domingo, 8 de maio de 2011

Depois do sumiço, Aleluia!

Não teve escapatória: com tantas emoções pascais acabei doente. Gripe forte, erisipela, pressão alta novamente depois de um ano - já estou medicada não se preocupem - e, agora uma tosse forte com jeito de bronquite me deixou sem condições físicas e mentais para escrever. Pode até parecer um paradoxo que a alegria da ressurreição tenha me deixado doente, não é isso, mas talvez, somente um acúmulo de fortes emoções, tensões e correrias que fazem parte da vida missionária.

Achei muito providencial que a morte do Bin Laden tenha acontecido no dia da beatificação do Papa João Paulo II na oitava da Páscoa, dia da Divina Misericórdia, primeiro de maio. Se foi verdade ou não que ele foi pego naquele domingo, há quem duvide e ninguém sabe. Há quem acredite que ele já tinha sido morto há tempos e que somente agora o Obama para poder se reeleger fez esta grande encenação política, inclusive sepultando o corpo no mar. Que o Senhor tenha misericórdia da alma do Bin Laden e faço minhas as palavras prudentes e justas do Santo Padre Bento XVI através do porta-voz do Vaticano:

Bin Laden "teve a gravíssima responsabilidade de difundir divisão e ódio entre os povos, causando a morte de inúmeras pessoas, e de instrumentalizar as religiões para esse fim". Porém, "frente à morte de um homem, um cristão não se alegra jamais", destaca a nota. Ele "reflete sobre a grave responsabilidade de cada um diante de Deus e dos homens, e espera e se empenha para que tal situação não seja ocasião para um crescimento posterior do ódio, mas da paz". 

Este exercício evangélico de perdão e de respeito com todos as pessoas é uma graça conferida na Caridade de Cristo Jesus. Somente participando e aprendendo com Jesus na ação de metamorfose do coração e conversão do pensamento pela ação do Espírito Santo é que se pode amar o não amável, perdoar o imperdoável, interceder pelo inimigos... Quando eu penso no Kadafi e o que esta acontecendo na Líbia minhas entranhas se contorcem. Na Síria então, sem comentários... O Senhor que está Vivo e que doou à cada homem a liberdade e a paz, a vitória sobre o pecado, a morte e todo sofrimento fruto do pecado, enquanto põe os inimigos como escabelo de seus pés, como diz o salmista, e prepara a Esposa para a sua segunda volta gloriosa e definitiva, continua sendo crucificado em cada realidade humana que vive nos frutos da carne e sob inspiração maligna. Daí nosso chamado à evangelização e à intercessão contínua, a viver a santidade para que o Reino de Deus se expanda e a salvação seja experimentada e conhecida e no mundo haja esperança e paz. Não posso, não podemos desistir e nem tampouco achar que o outro lado é mais forte.

Quando a gente ve pela televisão aquele mar de gente em Roma - um milhão de poloneses e outro milhão de gente do mundo inteiro - louvando o Senhor e se alegrando pela beatificação de João Paulo II, a gente ve o quanto a Igreja está viva, o quanto o Espírito do Senhor a guia e inspira e conduz, o quanto a santidade de um homem é capaz de interferir no destino da Humanidade! E é bom aprendermos o seu segredo: vida de oração intensa, mergulhada em Deus, diária, apaixonada, vida sacramental também intensa e apaixonada, principalmente a Eucaristia bem celebrada e vivida e a confissão semanal. (Este dado partilhado por um dos seus assessores mais próximos me desconcertou. Já pensou se todos os bispos e sacerdotes, consagrados, leigos e religiosos, pelo menos estes, usufruissem do sacramento da reconciliação toda semana? A Igreja teria outro rosto e frescor, outra leveza, humildade). Há muito o que aprender com JP II, muito. Ele que conseguiu apontar Cristo Jesus novamente como a razão da esperança de todo homem, seu verdadeiro rosto e identidade, apontando o Cristianismo como a esperança da Humanidade que se via iludida por ideologias que não deram em nada. Quando eu vejo meus colegas russos de aula de Hebraico, na faixa dos 60 criados como ateus, sem nenhuma experiência de Deus e do seu amor, sem nenhuma noção de quem eles são verdadeiramente, me dá uma tristeza tão grande pelo desastre do comunismo, cheio de grandes quimeras, perdição de muitos. 

Como Comunidade Shalom nascida aos pés de João Paulo II esta beatificação tem ainda um valor mais caro e precioso. Se antes já se contava com a intercessão dele como um verdadeiro pai quanto mais agora que a Comunidade se prepara para celebrar os 30 de anos existência, mais se precisará de sua intercessão do Céu para que possamos ser aquilo que o Senhor espera de nós em frutos de santidade, de castidade - um coração indiviso onde Deus é o primeiro amor -, de vida de oração, de contínua e total oferta de vida em cada um dos seus membros. A gente sabe que a maior de todas as tentações - e ela é bíblica e evidente na vida do povo de Israel - é desanimar, é achar que não vai dar conta, é olhar para a Cruz - uma tortura - e não para Jesus na Cruz. Se o olhar fixa-se na Cruz a tentação é o desespero, se o olhar fixa-se em Jesus, encontra-se a companhia perfeitíssima no sofrimento, encontra-se o Amor, toca-se em Jesus, Deus e Homem, sofrido e humilhado e Nele todas as realidades humanas de dor e sofrimento. E em Jesus e Sua Palavra e Presença é possível ter paciência, ter força, perdão, coragem e experiência de amor em meio à dor. Mas este encontro e esta mudança de perspectiva só acontece na oração, é dom do Espírito Santo, é vida da graça... Que o Senhor nos renove neste tempo pascal em toda a Comunidade, em toda a Igreja este dom preciosíssimo da oração pessoal, da prioridade à oração, ao estar com Jesus, com o Pai, com o Espírito Santo, o dom da contemplação, do silencio, do recolhimento, do saborear a Sua Palavra e fermentar o mundo... Olhando para o segredo de João Paulo II a gente entende que sem oração não dá. Que ele nos ajude neste caminho e nesta maravihosa aventura de sermos discípulos, almas esposas, intercessores, sinais de amor e de serviço, de esperança, de paz para tantos que sofrem porque não conhecem o Senhor. 

Abaixo resolvi partilhar umas fotos meio antigas mas sempre belas pois sei que todos apreciam ver os lugares santos.

Aproximadamente 15 mil pessoas de todo o país e do mundo todo foram particpar da Domingo de Ramos em Jerusalém. Eu fui pela primeira vez e amei! Esta é a vista que se tinha do mar de pessoas que participaram da procissão que parte de Betânia - isso mesmo, onde moravam Lázaro, Marta e Maria - e segue até a Jerusalém antiga, fazendo o mesmo caminho que Jesus fez.



O povo carregando palmas. Esta é a visão dos que estavam à minha frente, na foto anterior, os que estavam atrás.

 

As pessoas dançando e cantando já dentro da Jerusalém velha, enquanto esperavam a palavra do Patriarca Latino, no fim da procissão.


Meninas árabes bem lindinhas!


Antes de começar a procissão de Ramos, que sai à tarde, nós estivemos no túmulo de Lázaro em Betânia e estes dois faziam parte do grupo de peregrinos. Ele sudanês e ela filipina. Impressionante a força do amor de Cristo Jesus e da fé Católica!


Antes da procissão também fomos ao Jardim das Oliveiras e ao Getsêmâni contemplar a oração de Jesus abraçando a vontade do Pai no ápice do Seu amor e liberdade por amor à Humanidade. Num dia como este a gente silencia e contempla e também reza de todo coração, unindo o pequeno sim, porém, importante sim, ao perfeitíssimo e absoluto sim do Senhor. E é claro, não deixa de interceder por todas as pessoas que contam com a nossa oração.


Duas muçulmanas que acompanhavam a procissão da porta de casa. Na hora da foto esta gringa resolveu entrar na foto... fazer o que?

 

Uma carmelita bem idosa vai para a porta do Carmelo de Jerusalém para ver a procissão de Ramos. Lindinha demais!

 

Agora é a vez de um muçulmano! E ele ouviu o povo cantando e aclamando Hosana ao Filho de Davi!

 

Uma menina francesa no cangote do pai!

 
Dois soldaods israelenses responsáveis pela segurança de olho na multidão que cantava a todos pulmões!

Eu estava bem próxima do grupo de seminaristas salesianos que era dos mais animados, com violão, flauta, tambor, cantando em italiano, inglês, hebraico. Este era um dos seminaristas africanos que fazia parte do grupo.

 

A porta do Carmelo de Jerusalém! Fico pensando no quanto a oração destas religiosas sustenta os cristãos e a Igreja de Israel

 

Meu grupo de companheiros, faltando o Pietro, voluntário italiano, que tirou a foto. Todos do Muhraqa: Pe.Jose, Charbel e Omar, sobrinho do padre.


Crianças nascidas em Israel, filhas de imigrantes filipinos, na sua maioria, mas também alguns vindos da Etiópia, do Sudão e de outros países africanos. Todos vestidos de s.francisco.


Nem precisa de legenda!

 

Essa tampouco. O muçulmano da foto anterior ficou de pé na frente do mosteiro beneditono de Jerusalém!
Claro que mais uma gringa teve a mesma idéia que eu!

 

Mais gente na direção da entrada de Jerusalém!


Entrada de Jerusalém velha! Foi uma grande emoção cantar
 Hosana ao Rei Jesus!

E no dia das Mães - saudades da minha! - que melhor presente do que uma
foto da Silvinha nos braços da mãe?
Shalom!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O Senhor está vivo, Ele ressuscitou!

Em Jesus temos toda esperança! Ele é a minha esperança! Passei desde ontem com o coração ligado em todos os que estão em grande sofrimento nestes dias ao redor do mundo e num misto de alegria e tristeza, de enorme gratidão e renovação de oferta irrestrita da minha vida e sofrimento pelo sofrimento da Humanidade, passei esta Páscoa. Só sei que tudo me aponta Jesus, o Cordeiro imolado, seja a dor seja o amor. Talvez a simplicidade das palavras do Santo Padre Bento XVI sejam as mais humildes e verdadeiras, as quais partilho assumindo-as para mim: 

"No nosso coração, há alegria e sofrimento; na nossa face, sorrisos e lágrimas. A nossa realidade terrena é assim. Mas Cristo ressuscitou, está vivo e caminha conosco. Por isso, cantamos e caminhamos, fiéis ao nosso compromisso neste mundo, com o olhar voltado para o Céu. Boa Páscoa a todos!”

Partilho aqui as palavras da homilia do Pe.David Neuhaus, sj, proferidas hoje na celebração pascal com todas as comunidades de católicos de língua hebraica que anualmente nesta data, em Jerusalém. Quem não souber inglês, que use o google translator e viva este tempo pascal saboreando as quatro palavras que ele escolheu como aquelas que traduziriam o tríduo pascal e o domingo de Páscoa, e que me pareceram sábias e bem apropriadas: quinta-feira santa AMOR, sexta-feira santa, REPARAÇÃO, sábado santo, SILÊNCIO e domingo de páscoa, ALEGRIA.

Four words for the Easter season

Sunday, 24 April 2011 06:13

Father David proposes a reflection on four central words connected to the celebration of the central mysteries of the life of Christ, celebrated in the Church during the Triduum and on Easter Sunday.
 
Holy Thursday: love
 
The central experience on this day is to participate in the Eucharist and experience Jesus’ love as he gives us his body and blood. During the last supper that Jesus shares with his disciples, he gives them bread and wine to eat to nourish them with his very life, his body and his blood. The act of feeding is one of the most intimate acts of love as can be seen when a mother nurses her child. Israel experienced this in the Wilderness with the gift of manna, God coming to nourish His own in a place of nothingness. Jesus comes in the last supper to feed the disciples with his own life, a life poured out for them. This gift of love is for them despite the fact that they are weak, confused and afraid. One of them will betray him, one of them will deny him and all will abandon him, and despite his knowledge of their fragile humanity, he pours out his life for them on the eve of the violent taking of his life by others.
 
This gift of love, the gift of his life, is complemented with his stooping down to wash their feet. They are clean as they sit down to eat but their feet must be constantly washed by him as they tread on in their world of darkness and fragility. In his stooping down, Jesus reaches deep into the reality of his all too human disciples and seeks to lift them up with him into the Kingdom of his Father.
 
In Gethsemane, that same night, Jesus gives perfect expression to his willingness to do his Father’s will, to lead his Father’s children back home.
 
Good Friday: atonement
 
The central experience of this day is to contemplate the Crucified one. The people of Israel were commanded to celebrate a day of Atonement once a year, when the high priest made sacrifices to expiate his own sins, the sins of the priests and those of the people and thus renew the covenant with God.
 
Jesus’ life is taken from him with cruel violence and yet it is a life he has already given of his own free will, a life given for all. He is put to death because of sinners but he freely sacrifices himself to reconcile us with God. His obedience unto death, a brutal death on a cross like a common criminal, brings us back into the embrace of the Father from whom we have been separated by sin.

Gazing on the Crucified one, I am called to realize that he is hanging there through no fault of his own. I must awaken to the stark reality that is for my sins that he hangs there. It should be I hanging there in his place. As I gaze on him, I mourn not only for him but for myself and for all humanity, submerged in darkness, sin, fear and death. We have chosen death over life.
 
We have put him to death. It is this fundamental awakening to who I am, to who Jesus is, to who God is, who so loved me that He sent His only son, that brings me back to the embrace of the Father. Jesus’ saving act is his awakening me from my slumber. I together with all sinners who believe in him are born anew in the blood and water that gush from his wounded side. This is the at-one-ment with God that Jesus realizes in his death on the cross.

Holy Saturday: quiet

The central experience of this day is quiet, the quiet that comes from the end of activity, the quiet that anticipates new beginnings. As Sabbath approaches, Jesus is laid in a tomb. Silence descends with the Sabbath and yet this is a Sabbath under the shadow of death. Is this the end of the story? Has death swallowed up once again the hope that good will triumph? Holy Saturday is spent in prayer and silence, reflecting on the story until now. This is the day in which the Church experiences a real “Shabbat”, the quiet and calm which are foundations of the spiritual life.
 
On this day, we must reflect on the image in which we were created – God’s own image. This image destines us to be children of God the Father. We must reflect on how He led us out of slavery into freedom, out of darkness into light, out of nothingness into life. On this day we can reflect on how the “image of God” is what unites us with all His children, called to be one people in a Kingdom of peace, His kingdom. This God of Creation, this God of Salvation… surely He will be victorious over death and raise His son from the tomb… Surely this will be a Saturday of light…
 
Easter Sunday: joy

The central experience is the discovery of the empty tomb and the experience of amazement that transforms into joy. There is an “after”… ! Despite the human logic that leads to a dead end – an end in darkness, sin, fear and death, God’s fidelity assures that there is an “after”. God does not accept the end that our human weakness imposes on the story of our lives. God opens up the story again in order to accomplish the promises that he has made.
 
Death has been vanquished through Jesus’ obedience unto death. Sin has failed and fear is no more. Jesus is risen, the sure sign of God’s fidelity and ultimate victory!
 
The joy that characterizes Easter Sunday is the joy of new beginnings. This is the eighth day, the first day of a new creation in which slavery, sin, fear and death have no place. With Christ’s rising from the dead, his disciples stand at the portal of the new reality of the Kingdom.

The next seven weeks of the Easter season will be a time to prepare to receive the Spirit that Jesus will bestow on his Church at Pentecost.

Que não falte AMOR = a própria presença do Espírito Santo, Ele que ressuscitou Jesus dos mortos, no nosso coração!

Hamashiah Kam! Be emet Kam Halleluya!

(Em hebraico = o Senhor ressuscitou! verdadeiramente ressuscitou Aleluia!)

sábado, 16 de abril de 2011

JMJ - WYD - Eu estava lá!

Estava vendo as notícias no www.h2o,news esta semana, e um dos videos fazia uma retrospectiva sobre a Jornada Mundial da Juventude e o Papa João Paulo II. Muito emocionantes as imagens e a revolução que representou cada JMJ em cada país onde ela aconteceu. De repente me caiu a ficha de que eu participei da primeira Jornada Mundial da Juventude - que ainda não tinha esse nome - em 1985 em Roma! Meu Deus! Eu estava lá! E como um filme de final de feliz com partes de suspense e muitas experiências de fé, eu me lembrei de tudo e resolvi contar aqui no blog, com muita emoção e gratidão, como testemunho.

1985 foi o Ano Internacional da Juventude criado pelo Papa João Paulo II após seu primeiro grande encontro com os jovens em Roma no ano anterior, 84, no seu grande afã de ir ao encontro dos jovens para anunciar-lhes Jesus e desafia-los à santidade feliz. Uma geração de santos de calça jeans! Que imagem mais fantástica e apropriada. Nesta época eu morava no Rio de Janeiro com a família - mãe e irmãos pois meu pai havia falecido em 82 - e trabalhava como professora de inglês e de religião para crianças. Frequentava o grupo Bom Pastor, hoje Comunidade Bom Pastor, na paróquia de Nossa Senhora de Copacabana. Esta era a minha vida e eu era completamente engajada na vida da igreja e do grupo de oração. Também namorava o Afonso Marra, pessoa muito especial que também participava do grupo de oração e de todas as atividades evanfelizadoras comigo. Éramos muito amigos além de namorados. 

Não sei exatamente em que mês surgiu o convite para que as paróquias e as comunidades brasileiras mandassem os jovens para participar deste encontro mundial em Roma, que contaria com palestras, um encontro com o Santo Padre e uma oportunidade ímpar de ver gente do mundo todo. Seriam cinco dias em setembro, ou uma semana, não tenho mais certeza. Porém, como ir? Mesmo timidamente eu e mais duas pessoas do grupo - Laura Beatriz e Margarida - ou simplesmente Laurinha e Guida,  começamos a nos movimentar e a desejar ir, fazendo contas e planos... parecia impossível. Não havia dinheiro que desse conta nem quem nos ajudasse. Me lembro que rezamos e que a Palavra de Deus nos apontava com clareza que o Senhor abriria as portas. Mas como Deus parece ser especialista em roteiro de thriller - com todo respeito -  quando tudo parece enrolado e sem saída e a gente só tem mesmo a fé na Sua Palavra, Ele manifesta a Sua Vontade e inebria os corações com Sua fidelidade. Me lembro bem, faltavam somente duas semanas para a viagem quando todas as portas se abriram. O Fernando (que da eternidade deve se lembrar disso com alegria) mais o Hugo, dois grandes irmãos e amigos da Comunidade Bom Pastor, resolveram adotar a nossa causa quando souberam que não havia mais saída e moveram as pessoas do grupo de oração a nos ajudarem já que nós éramos servas e representaríamos todo o grupo Bom Pastor e a juventude católica do Rio de Janeiro. Nosso desejo de participar não era um capricho e nossa ida representava um testemunho da vitalidade da Igreja do Brasil. Estas palavras simples mas cheias de sabedoria atingiram o coração das centenas de pessoas que a cada segunda-feira há 35 anos lotam a paróquia e, de doação em doação, a soma foi alcançada. E mais: ainda nos deram um dinheirinho extra para uns presentinhos. Muito lindo é que a Guida conseguiu a doação da passagem pela Alitália e o funcionário que lhe entregou a passagem em nome da empresa aérea era latino americano - argentino? mexicano? - e se chamava Jesus! Nós quase morremos de tanto rir. Assim é Deus, tem alegria e bom humor.

A viagem em si foi inesquecível e não me lembro bem do número mas éramos aproximadamente 200 jovens. Uma das impressões mais fortes foi a experiência de catolicidade, de universalidade, da Igreja, do povo de Deus, ao ver tantos belos rostos humanos diferentes do meu em cores e jeitos. Na missa de encerramento, na hora do Pai-Nosso me emocionei tremendamente pois a minha frente, me lembro como numa fotografia registrada na memória, estava um africano, atrás de mim um asiático, japonês, à minha direita uma irlandesa ruivíssima e à minha esquerda uma peruana de cabelos negros e jeito indígena. E era o amor de Jesus, o batismo em Sua morte e ressurreição que nos fazia um só corpo e uma só coração. Era Ele a fonte do nosso amor e de nossa unidade na mais bela e desconcertante diversidade. 

Uma outra pessoa que foi nos visitar foi o Cardeal Josef Suenens amigo pessoal do Papa João Paulo II e pessoa chave no Concílio Vaticano e nos primórdios da Renovação Carismática. Um velhinho adorável de olhar sorridente, magro e alto que passeou no meio dos jovens com a maior simplicidade e nos falou expontaneamente sobre a Igreja e a vida da fé. Não me lembro mais da ordem das palestras, me lembro bem do efeito que este retiro, congresso, encontro, aventura, desafio, um pouco de cada coisa, deixou em mim. Os fatos se entrelaçam mais pelo efeito causado do que pela cronologia com que aconteceram. Também estava lá o José Prado Flores um dos primeiros leigos líderes da Renovação Carismática a estudar teologia, mexicano, que nos deu o testemunho sobre vocação e estado de vida, de como o Senhor o guiou até o matrimônio certo impedindo que ele se casasse com a pessoa errada. Causou-nos forte impressão ele contar sobre a simplicidade de seu casamento e por ter preferido à festa com muito glamour, ir à Caná em Israel e casar-se na presença dos pais dele e da noiva mais o sacerdote, como testemunhas.

Lembro-me do rosto de alguns outros brasileiros que compunham a comitiva mas não me lembro dos nomes. Era gente de Foz do Iguaçu. Tinha gente de S.Paulo também. Havia um padre de Campinas. Não posso deixar de contar que no avião, sentado exatamente atrás de mim estava o primeiro shalomita que conheci: um jovem bem magro e tímido representando os jovens católicos cearenses e a Comunidade Shalom ainda embrionária. Não era o Moysés. Era o Carmadélio, que saía do Brasil pela primeira vez e se encantava com tudo que via. Me lembro demais desse nosso primeiro contato. Este grupo de brasileiros resolveu juntar os trocados, alugar um ônibus e ir à Medjugorje quando acabasse o Congresso. Para tal façanha o primeiro passo era guardar todos os pães italianos e frutas - peras e maçãs - que nos serviam no café da manhã para servir de jantar e termos que pagar somente uma refeição por dia. E assim fizemos. Alugamos um ônibus e fomos de Roma até Pescara onde pegamos um navio destes enormes que transporta automóveis e ônibus, atravessamos o mar Adriático em plena tempestade a noite inteira - pense numa aventura! -e chegamos à antiga Iugoslávia. Passamos dois dias inteiros em Medjugorje e fomos a primeira peregrinação de brasileiros a esta vila visitada por Nossa Senhora. A vila era simplesmente uma vila sem qualquer infraestrutura e nos hospedamos na casa de uma família comum que por telefone contatamos pedindo acolhida. Graças a Deus as pessoas em Medjugorje falam italiano e por isso a comunicação foi possível. Conhecemos os videntes ainda bem jovens e só fizemos rezar e rezar e rezar. A atmosfera de santidade do local e das pessoas era contagiante e os testemunhos que nos contaram das famílias onde ficamos hospedados também era notável. Muita piedade, muita oração, jejum e vidas reconciliadas. Havia uns 60 padres do mundo todo celebrando a eucaristia, uma atrás da outra, alternando somente a língua. Testemunhamos a libertação de uma jovem mulher italiana atormentada pelo demônio que foi impressionante. Os padres que estavam na nossa excursão, um brasileiro e um panamenho, é que tiveram que intervir por conta da experiência de oração de libertação que tinham pela realidade de seus países. Eu, a Guida e outros brasileiros ficamos na porta da sala da sacristia onde acontecia a oração de libertação rezando o terço e afastando as crianças curiosas e espantadas com a cena. Vimos depois da oração esta mulher confessar-se e comungar e rezar com fisionomia transfigurada de amor e gratidão pelo que Jesus tinha feito. Estávamos presentes na missa das 18h - que era a hora das aparições - e me lembro que que a experiência era como se o tempo tivesse parado. A igreja lotadíssima em adoração profunda diante do mistério de Deus manifestado na presença da Santíssima Virgem. Como éramos jovens deixaram que sentássemos nos degraus ao lado do altar e a gente só fazia chorar inebriados de mir. A palavra Mir que é Paz lavava os corações de todos os presentes. Vale notar que coincidentemente quem estava em Medjogorje peregrinando nesta mesma data e que cantaram lindissimamente à capela uma música de ação de graças nesta missa especial, para Jesus e para Nossa Senhora foi o Gen Rosso, dos Focolare. Que missa inesquecível!

Me lembro que na primeira manhã que eu e a Guida saímos da casa onde estávamos hospedadas, pegamos uma ruela na direção errada e nos perdemos. Quem serviu de anjo da guarda e nos encontrou na estrada e nos fez voltar para a direção certa foi um jesuíta, Pe. Robert Faricy que fazia parte da delegação do Vaticano que estudava, ou estuda ainda, só Deus sabe, a veracidade das aparições de Medjugorje. Até hoje não sei se ele também se perdera como nós ou simplesmente estava caminhando e rezando contemplando os campos verdes enfeitados de árvores enormes com folhas alaranjados de outono, verdadeiramente lindos, da região onde estávamos. Sei que nessa aventura quase chegamos à Dubrovinik. Por causa da presença do Pe.Robert pudemos assistir em inglês a uma palestra com direito a perguntas como numa entrevista sobre as aparições marianas, sobre a postura prudente da Igreja e o porquê de cada coisa. Foi mais um presente de Deus. Sem contar que este mesmo jesuíta também estivera no Congresso de jovens conosco em Roma tendo sumido no último sem ninguém saber o que tinha acontecido. Nós descobrimos.

Em Roma as noites eram livres com temas culturais e os jovens de cada continente faziam uma apresentação artística. Não precisa nem dizer que os brasileiros deram show e fizemos todo mundo dançar, cantar, louvar, sair do lugar... Foi neste Congresso que pela primeira vez ouvi os mexicanos cantarem a música 'Los Animalitos' que fala da Arca de Noé que anos depois o Pe.Marcelo Rossi ia traduzir e fazer o Brasil inteiro cantar.

Uma das primeiras atividades culturais que tivemos, todos os jovens do Congresso, foi visitar Assis que era ainda bem simples sem tantos aparatos turísticos que passou a ter depois da década de 90. A turma de brasileiros conseguimos sem saber direito como, celebrar uma missa em português na tumba de S.Francisco. O fato de ver seus amigos e primeiros discípulos enterrados todos juntos, ao seu redor, bem próximos me deu forte experiência de amor fraterno, do chamado ao amor fraterno sincero. Para mim além da Porciúncula, da beleza da cidade, da vista, e do sobressalto tememdo dar de cara com Francisco quando virasse a esquina daquelas ruas de pedra medievais, o convento de Clara e rezar diante do Crucifixo que falou com Francisco me marcaram a alma. Na época eu havia aprendido uma versão em inglês de uma célebre oração do Poverello e quando me ajoelhei diante do Crucifixo, estava baixei os olhos e achei a oração escrita em todas as línguas para que os peregrinos rezassem. Nem precisa dizer que eu chorei para me acabar e cantei baixinho a música que até hoje sei de cor que diz assim: 

Most High and glorious God, bring light to the darkness of my heart,
give me right faith, certain hope and perfect charity,
oh Lord give insight and wisdom
so I might always discern your holy and true will 

E o encontro com o Papa João Paulo II? Aconteceu ou não? Logo no segundo dia recebemos a triste notícia de que ele não poderia mais nos encontrar por causa de um sério problema no sul da Itália - creio que na Sicília, por conta da Máfia, que estava no auge daquela operação conhecida como Mãos Limpas - que o obrigaria a viajar. Todo mundo murchou. No dia seguinte, porém, mais um recado: no último dia do congresso o Santo Padre nos receberia em sua capela privada, dentro do Vaticano, para a missa das 6 horas da manhã. Quase ninguém dormiu de tanta ansiedade. Quem tinha roupa típica foi à caráter, quem não tinha, vestiu-se o melhor que pôde. Passamos por segurança e revista rigorosa, um a um, e nos sentamos numa capela linda, em silêncio, com muita reverência pelo inusitado e pelo privilégio do convite. Quase que se ouvia os corações baterem de emoção e de ansiedade para ver o santo Padre de pertinho. Ele entrou pelo lado e celebrou a eucaristia com a maior serenidade e concentração. Profunda interiorização. Não sei dizer se havia outros padres co-celebrando pois nossa atenção era toda em João Paulo II. Sei, porém, que dois jovens seminaristas de SP, que trabalhavam com o 'Fradão' na recuperação de aditos de drogas, foram escolhidos para servir o altar. Eles quase enfartaram de tanta alegria. Fico me perguntando onde eles estarão hoje em dia... Um se chamava irmão Wagner.

No fim da missa para a nossa surpresa e delírio, João Paulo II se levantou e antes de sair resolveu nos dirigir umas palavrinhas espontaneamente em italiano. Foi bem curtinho, mas jamais vou me esquecer de duas coisas: primeiro que ele nos disse que rezava diariamente pelos jovens do mundo todo pois sabia que nos jovens estava a esperança e o futuro da Igreja, que nós então tivéssemos certeza de que estávamos presentes em sua oração e em seu coração. Se era assim quando ele estava no mundo, deve continuar do mesmo jeito no Céu! E, em segundo lugar, o Santo Padre nos fazia um convite pessoal: se queríamos nos comprometer com ele na evangelização do mundo. Foi uníssona e audível a resposta - a essa altura já não havia mais tanto silêncio - e todos nós levantamos a mão. Foi então que alguns assessores nos distribuíram um presente pessoal do Papa: uma cruz de metal, prateada, cópia do seu báculo, que mostra Jesus como uma seta apontando para ser lançado ao mundo, que nós erguemos segurando-a firmemente na mão, selando nosso compromisso com a evangelização do mundo!

Enquanto escrevo isso sinto forte emoção e gratidão pois esta cruz me acompanha todos estes anos. Enquanto escrevo tenho-a diante dos olhos. Como me arrependo pelo tempo da minha vida que eu esqueci do meu compromisso ou deixei-o em segundo plano e como amo a Deus por Ele jamais ter me 'demitido' da missão! Este Ano Internacional da Juventude aconteceu há 25 anos atrás, bodas de prata portanto, e se eu pouquíssimo ou nada fiz até agora, diferentemente de outros jovens, agora adultos que têm dado sua vida na Igreja e para a Igreja, peço ao Senhor que as bodas de ouro sejam comemoradas com as mãos menos vazias...

Também preciso testemunhar que ao ouvir a longa e muito boa entrevista dada pelo Moysés, Fundador da Comunidade Shalom ao Professor Felipe Aquino na TV Canção Nova no princípio de abril deste ano, me ocorreu uma pergunta importante: se eu saberia dizer quando o carisma shalom me havia sido comunidade por graça do Espírito Santo. Fiquei seriamente em dúvida já que minha história de salvação e de missão é marcada por várias etapas, mas vejo que Deus veio em meu auxílio e ao me levar a fazer memória das Jornadas Mundiais da Juventude e ao me lembrar deste encontro e desta missa com o santo Padre, Beato João Paulo II, eu constatei e entendi que foi em Roma, em setembro de 85 que a semente do carisma foi plantada em meu espírito e de lá nunca foi arrancada porque os chamados do Senhor são irrevogáveis, porque Ele é fiel e jamais volta atrás em suas eleições.

Se eu vou a JMJ em Madri em 2011 comemorar as Bodas de Prata e testemunhar o ardor e o amor pela evangelização? Seria bom demais, mais ainda se o Carmadélio também fosse, ambos agora de cabeça branca e o coração mais jovem do que nunca, sempre de jeans... Mas fora a brincadeira, seria um sonho mas estou na mesma situação de anos atrás, quando tudo começou, precisando de um milagre. O que importa é a vontade de Deus e Ele querendo tudo pode acontecer. Que o Beato e amado Papa João Paulo II interceda nesta intenção e por estes quarentões e cinquentões que o conheceram e se comprometeram com a evangelização do mundo na JMJ. Qie ele nos ajude a cumprir até o fim aquilo que prometemos. Que ele também interceda por todos os jovens que estão se preparando para ir à Espanha sem medir esforços. Que a presença de todos os que forem seja um grito forte de amor que acorde o mundo para a realidade e presença de Jesus Cristo! Amém! Shalom! Beato João Paulo II, rogai por nós!