terça-feira, 10 de março de 2009

A tenda

Sendo Quaresma, a primeira vivida em Israel, percebo que o Espírito Santo me empurra para um compromisso mais efetivo na vida de oração. Efetivo em tempo e em qualidade. Tenho muita consciência de que isso é graça de Deus que precisa ser correspondida, concretamente, no lado de cá da via de mão dupla que é a amizade com o Senhor. Igual ao jejum para o qual damos todas as desculpas para escapulir, também o tempo calmo e longo em oração, sem celular e outros apetrechos, é sempre o primeiro a ser sacrificado na vida agitada que levamos...mas se não deu hoje, amanhã tentamos novamente. O Senhor nos espera sempre.
Os textos da liturgia diária, o ofício das leituras têm me falado muito ao coração. Antes me incomodava a quantidade de palavras e textos e reflexões. Hoje me comovo e vejo esta abundância com outros olhos: é como se nos fosse oferecido, diariamente, um banquete com vários pratos que fazem bem e causam deleite, dos quais posso provar todos ou somente me deter em um ou em quantos quiser. É o banquete da Palavra de Deus oferecida a cada dia de maneira nova. É banquete não é comida de boteco, nem prato-feito que alguém preparou e dá a comer. Cada um se serve, cada um saboreia e repete, se quiser. Não sei se pode parecer um desrespeito tremendo dizer assim, mas a Palavra de Deus a cada dia nos vem oferecida de várias maneiras como num self-service de primeiríssima qualidade, cuja porta de entrada está sempre aberta.
Um dos manjares que saboreei neste fim de semana foi a homilia do Pe. David, da Pastoral Católico-Hebraica em Haifa. Ao nos explicar sobre a oferta de Abraão ele nos contou uma coisa interessantíssima: que Isaac era adulto e deveria ter por volta de 37 anos quando esta história se passou. Ele não explicou porque no texto bíblico diz menino, mas eu um dia, se conseguir tirar essa dúvida, conto no blog, prometo. O que importa é que ao caminharem por três dias a pé, pai e filho, para o sacrifício, eles prefiguravam os três dias de agonia de Jesus. A palavra usada traduzida como faca, é na verdade um utensílio doméstico, também de corte, mas que remete ao corte do pão, o pão partido, aquilo que Jesus viria a ser milhares de anos depois: o Pão Vivo a ser 'comido' por nós.
O padre disse que este tempo de Quaresma é o tempo do 'Eis-me aqui!' de Abraão, e que assumindo estas palavras em oração nós também fazemos a oferta de nossas vidas ao Senhor, sejam quais forem as circunstâncias que estejamos vivendo. Eis-me aqui! Eis-me aqui para fazer a tua vontade!
A leitura da Transfiguração em plena Quaresma é para nos lembrar qual é o nosso destino depois de toda e qualquer cruz e morte. S.Pedro, muito espontâneo e tomado de temor e tremor diante de tão grande glória manifestada em Jesus, ladeado por Elias e Moisés, quis construir ali tendas. Hoje porém, nós sabemos que a única e verdadeira tenda que existe é a Cruz do Senhor. E repetiu: a Cruz do Senhor é a nossa tenda!
Penso que nessa Quaresma o Espírito me chama e ensina a ficar sob este mistério, o mistério da tenda da nova aliança, a Cruz de Jesus, e ali encontrar sombra e proteção, vida e esperança, sentido e paz, refúgio e segurança, perdão e misericórdia... ali encontrar Alguém e nele a mim mesma, a minha verdadeira face e toda a beleza.
Shalom!

Um comentário:

Anônimo disse...

amiga Elena,
obrigada pelas suas palavras que ajudam os irmãos, através de seu blog. Hoje, aprendi mais sobre o significado do sacrifício de Abraão. Deus a abençoe.
meu abraço
Mercedes