terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

De Mãos Dadas

Quem já não fez a experiência de segurar a mão firme de alguém e se sentir seguro e protegido? As mãos são várias, vida afora, do pai, da mãe, de um amigo, de um padre, um irmão, uma irmã, do marido, de um grande amor, de uma tia, e as experiências também múltiplas, mas o efeito inconfundível mesmo que silencioso e discreto, dura para sempre. Há também, claro, a mão de Deus, que se faz presente pela mão das pessoas, mas que se apresenta firme e amorosa e real, mesmo que não física, pela graça da oração por ação do Espírito Santo, principalmente quando se reza com a Palavra de Deus. A mão de Deus que nos toma...

Partilho uma experiência que tive nesta semana que passou e o faço com o intuito de apresentar um 'manjar delicioso' no desejo que pode adoçar a alma e o coração de alguém, dando-lhe esperança. Falo do Evangelho de S.Marcos, capítulo 8, quando Jesus cura aos poucos a cegueira de um homem levado à sua presença pelos amigos. É uma cena preciosa e cheia de detalhes também preciosos.

Quando a gente reza frequentemente com a Lectio Divina aprende a fazer um verdadeiro exercício de garimpagem. E colhe ouro, diamante, predas de inestimável valor. É como se aprendêssemos a ver o que com os olhos meramente físicos e da razão não pudesse ser percebido nem visto, muito menos tocado, se não for por pura graça da ação do Espírito Santo na alma humana. É o encontro com uma voz que fala, a Voz, o Amor vivo que alcança o coração e que se esconde na Palavra que é Jesus mesmo... A graça maior da Lectio é esta aproximação orante da Bíblia, que une cada um com todos aqueles que rezam como Corpo de Cristo, como Igreja, unindo-os ao próprio Senhor que fala e transforma as vidas! 

É triste saber que é possível ler a Bíblia e até estuda-la - fazer teologia - sem que se conheça e ame de quem dela se fala no Antigo e no Novo Testamento, sem amar o Messias, Jesus Cristo Nosso Senhor. E o Santo Padre Bento XVI tem alertado sobre isso e sofrido como grande teólogo que é, por aqueles que 'criam uma teologia' distante da Tradição e das diretrizes da Igreja que existem somente para não sermos enganados nem por nós mesmos nem pelo inimigo de nossas almas, o eterno insuflador da independência e da soberba que cegam e matam.

Voltando ao cego... Rezei estes dias com um detalhe do evangelho de Marcos que muito me falou ao coração. É o versículo 23, a primeira parte, que relata que Jesus tomou o cego pela mão, levando-o separadamente para longe do tumulto para estar com ele a sós e o curar em etapas. Este gesto, ser levado pela mão me tocou imensamente. Talvez naquela cena bíblica esta etapa tenha durado poucos minutos mas na vida de quem sofre de outras cegueiras talvez dure mais tempo. Fiquei pensando nas situações concretas da minha vida interior e exterior, como por exemplo na longa espera para que o julgamento do acidente de moto se resolva e eu possa ter meu passaporte devolvido, ou nas fraquezas de temperamento ou nas concupiscências ainda tão vivas em mim à espera de mais graça de conversão e mudança de vida, ou mesmo na vida das pessoas por quem intercedo e que parecem estar na mesma, enfim, em todas estas situações e em muitas outras, continuo cega, não vejo, nem sem bem para onde estou andando, porém, sei para quem eu dei minha mão! Este foi o grande rhema iluminador! Sei quem segura a minha mão e a minha vida, sei quem me guia, sem quem me curará a cegueira, mesmo que paulatinamente, sei quem me fará as perguntas certas na hora certa para que eu perceba o processo da cura e seja ainda mais confiante.

Sei que na vida muitas pessoas têm sido instrumento para que eu conhecesse e encontrasse com Jesus olho no olho, coração a coração, vida com Vida e esta experiência continuará sempre acontecendo e se tornará também recíproca já que eu também me tornei instrumento e testemunha deste amor - não é exatamente isso que estou fazendo neste blog neste exato momento? - mas é com Ele pessoalmente que meu relacionamento é chamado a crescer e a se aprofundar. Em Jesus eu fui criada e para Ele voltarei um dia, na eternidade e é para Ele que toda vida pe direcionada. Minha mão tem que encontrar a Dele.

Neste texto do Evangelho tive mais uma vez a certeza de que mesmo na cegueira circunstancial e temporária, ninguém caminha sozinho, eu não estou sozinha. Jesus nos dá a mão e é Ele quem nos leva e guia para a Luz, para a cura, para a liberdade e a santidade, para a libertação e a paz. Quanto durará este percurso? Por quanto tempo ainda permanecerei cega sem ver a luz? Não sei, só sei que quem me leva é Deus, suas promessas são provadas pelo fogo de milhares e milhares de gerações, sua Palavra é viva e Ele está comigo, Ele está no meio de nós como respondemos em Português quando celebramos a Eucaristia. Caminho de mãos dadas com Jesus e por isso confio, e por isso louvo e espero porque é Ele quem me quer curar, quem me quer amar e comunicar a sua infinita felicidade e beleza. 

Como resistir e ficar calado? Não dá! Temos mesmo é que sair aos quatro ventos como fez aquele ex-cego, e seguir dando as mãos às pessoas, ajudando-as a dar a mão a Jesus e a tocar seu coração.

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