segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dez do dez de dois mil e dez

Eu não escrevo este post às 10:10 mas até que seria sugestivo. Domingo muito especial, este. Em Roma, no Vaticano, com missa solene, tivemos a abertura do Sínodo para a Igreja Católica presente no Oriente Médio, que tem como tema orientador 'Comunhão e Testemunho' a partir da palavra de Atos dos Apóstolos 4,32a: 'os irmãos tinham uma só alma e um só coração'.


Somente daqui a cem anos teremos uma data com a mesma repetição numérica de hoje e até lá o que se espera é o milagre da unidade interna da Igreja ser mais palpável e a externa também, especialmente com a Igreja Ortodoxa. Bento XVI tem dedicado seu pontificado à questão central da unidade em todos os níveis e não tem medido esforços para aprofundar o diálogo com os Judeus, com os Ortodoxos - inesquecível a experiência em Chipre - e também com os grupos internos, as seis igrejas 'sui iuris', ou particulares, que tem plena comunhão doutrinária com a Igreja de Roma mas que têm diferenças culturais e históricas na vivência do catolicismo, apresentando tradições e ritos próprios, que no decorrer dos séculos torna a convivência nem sempre harmoniosa.

As igrejas 'sui iuris', são a igreja greco-melquita, a maronita, a copta, a síria, a caldeia e a armênia. Cada uma tem seu patriarca, que vive em comunhão com o Papa, e nos elementos essienciais da fé no que diz respeito aos dogmas, sacramentos e doutrinas, não há distinção com a igreja romana ou latina, que é a de maior número. 


Assisti somente parte da missa mas a visão daqueles bispos paramentados segundo a tradição que representam, formando um tapete colorido de pastores que cuidam do povo de Deus, me causou forte emoção. Estes homens saíram da região mesma onde a História do Antigo e do Novo Testamento se deu e se espalhou pela face da terra e estavam todos em Roma, aos pés do Santo Padre sucessor de Pedro, unidos a ele, em comunhão, comendo do mesmo Pão e bebendo do mesmo Sangue do Senhor! A liturgia eucarística parecia antecipar visualmente o que seremos um dia, finalmente: um só coração e uma só alma sem qualquer barreira, divisão, onde Cristo será tudo em todos!


Este é o mistério da unidade que só Deus pode fazer acontecer mas que é nosso dever buscar com abertura e humildade de coração, onde estivermos, pois foi desejo explícito de Jesus, como seu testamento. Vivemos também comunitariamente um tempo de grande busca e exercício de construção da unidade, no interior do coração, deixando que o amor vença as divisões e, no exterior, em todas as instâncias, buscando cobrir com o manto da misericórdia e da paciência, as divisões com os irmãos.

Para mim, pessoalmente é um tempo de prova e de aprendizado. Quando contemplei ontem os bispos, reconhecendo rostos e nomes presentes, senti novo vigor e desejo de em tudo contribuir para que haja unidade e caridade na casa onde vivo, no corpo comunitário, como missão, no trabalho, também com a família, os amigos, mesmo sabendo da luta que isso representa e que dura a vida toda. Mas a força e o desejo vem da convicção de fazer parte de um único Corpo, de uma só Igreja, onde cada pequeno gesto alcança a todos. 

Tem tantas horas que a gente não concorda uns com os outros, não entende, se sente incompreendido, rejeitado, mas há a graça e o amor de Deus que aos poucos ensina a calar e a não dar resposta rápida, admitindo muitas vezes com simplcidade que não se tem resposta... É um alívio quando se descobre o quanto é preciso aprender e aprender a ouvir. É uma graça sobrenatural querer rezar mais e buscar mais o olhar de Deus sobre todas as pessoas e realidades, na oração, para não se cair em julgamentos precipitados e meramente humanos. E sobre isso o Moysés, nosso amado irmão e Fundador, tem falado insistentemente. Unidade, oração, misericórdia, a primazia da Graça para fazer do outro a primazia da vida. 


Morando na Terra Santa, em Haifa, como única missão da Comunidade Shalom que faz parte de um outro rito e tradição que é a greco-melquita, lidando com árabes cristãos, ao mesmo tempo que se tem apostolado com a comunidade de judeus católicos de língua hebraica, vejo o quanto de kenosys ainda preciso passar para de fato me inculturar, dialogar, trocar, dar e receber, para ser com meus irmãos, profecia como Carisma Shalom em Israel. Tudo é muito maior do que posso ver ou vislumbrar, mas bom é o Senhor, agricultor perfeito que conhece cada semente e cada terreno, e foi a Ele que confiei, que confiamos irrestritamente a nossa pequena, porém amadíssima vida. Se ela for do tamanho de um grão de mostarda quão frondosa não poderá ser?


Rezemos, rezemos pedindo o derrmamento abundante do Espírito Santo, Suas surpresas e inspirações, Seu novo para este Sínodo, para este tempo da Igreja e do mundo a partir do Oriente, onde tudo começou. Não nos esqueçamos que a igreja Mãe de todas as Comunidades será sempre Jerusalém, a Cidade da Paz. Como pediu o Santo Padre o Papa Bento XVI, confiemos o Sínodo e os quinze dias de trabalho à intercessão de Nossa Senhora, a Mãe de Deus, e rezemos o rosário. E mesmo no Brasil quando estamos em tempo de campanha acirrada pelo segundo turno na esperança de que vença o partido que mais opções tem de defesa da Cultura da Vida, e o Sínodo parece tão distante do que se vive, lembremo-nos de interceder e de oferecer a Jesus tudo, louvores, nossa ação de graça, palavras de amor, nossas dores e provas, as alegrias e as desilusões, a esperança, contratempos e sofrimentos também pelo Sínodo. Que nossa oração seja um eco da oração de Jesus, perfetíssima que diz: Pai, seja feita a vossa vontade!

E hoje, quando acabo de escrever este post, já dia 11 de outubro descubro que é o dia do beato João XXIII, o Papa Bom. Mais uma providencial coincidência, ele responsável pelo Concílio Vaticano II, e o primeiro a mudar o tom de tratamento com os Judeus e a chama-los a um verdadeiro diálogo baseado na fraternidade e não mais na desconfiança. Ao descobrir que hoje era dia de João XXIII encontrei o relato de mais umas de suas histórias comoventes e proféticas que podem iluminar o tratamento dos padres sinodais reunidos em Roma, oremos para isso. Conta-se a crônica que no primeiro encontro que teve como Papa com um rabino, no princípio dos anos 60, João XXIII desceu do lugar mais acima onde estava sentado, se aproximou e disse com simplicidade: 'eu sou João, seu irmão'.

Um comentário:

SILVANA PEDRINI disse...

Olá, tenho acompanhado seu blog, me sinto mais perto de Deus aqui. Amo o carisma Shalom, até frequentei algumas vezes a casa que havia em Baixo Guandu, no ES. Conheci alguns missionários, alguns tive a graça de receber em minha casa. Um tempo inesquecivel em que eu buscava minha verdadeira vocação. O tempo passou, casei-me, tenho 1 filho, mas continuo em busca desta vocação, rsrs. Tenho muita saudade dos missionários (as) que conheci, não tenho mais noticias deles, em especial uma missionária chamada Cléia. (vc a conhece?).
Graça e Paz em seu coração!

Silvana Pedrini
@silpedrini